Supremo Tribunal Federal

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1 AGRAVO DE INSTRUMENTO MINAS GERAIS RELATORA AGTE.(S) ADV.(A/S) AGDO.(A/S) PROC.(A/S)(ES) : MIN. ROSA WEBER :INDÚSTRIA DE MÓVEIS PYA LTDA :MARCELO TOSTES DE CASTRO MAIA :UNIÃO :PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL Vistos etc. Contra o juízo negativo de admissibilidade do recurso extraordinário, exarado pela Presidência do Tribunal a quo, maneja agravo de instrumento Indústria de Móveis Pya Ltda. Insurge-se contra o óbice da Súmula 279 do STF. Registra, na minuta do agravo, que o Presidente do Tribunal ultrapassou os limites do juízo de admissibilidade quando apreciou o mérito do recurso, ao afirmar que a questão ofenderia a Súmula 279 do STF, de competência do Supremo Tribunal Federal. Diz que foi atendido o requisito do prequestionamento da matéria constitucional e não pretende reexaminar fatos e provas, mas a correta aplicação ao dispositivo constitucional aplicável à especie. Na minuta, sustenta que o recurso extraordinário reúne todos os requisitos para sua admissão. Contraminuta (fl. 651). É o relatório. Decido. Preenchidos os pressupostos extrínsecos. Para tanto, reproduzo o teor da decisão agravada: Trata-se de recurso extraordinário interposto com fundamento no art. 102, III, a, da Constituição Federal, contra acórdão da Oitava Turma deste Tribunal (fls. 507/511), cuja ementa tem o seguinte teor: PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. ARREMATAÇÃO. ERRO NO LAUDO DE AVALIAÇÃO. PREÇO VIL. I - Dispõe o art. 694, do CPC que, "assinado o auto pelo Juiz, pelo escrivão, pelo arrematante, e pelo porteiro ou pelo leiloeiro, a arrematação considerar-se-á perfeita,

2 acabada e irretratável" (art. 694, CPC), só podendo ser reformada após esse prazo se ficar caracterizada a existência de vício de nulidade; se não for pago o preço ou se não for prestada a caução; quando o arrematante provar, nos 3 (três) dias seguintes, a existência de ônus real não mencionado no edital. II- In casu ocorreu vício de nulidade, erro na avaliação e o não cumprimento da determinação judicial que mandou reavaliar os imóveis. Ademais, o preço pelo qual foram arrematados os bens pode ser considerado vil, eis que corresponde a cerca de 30% (trinta por cento) do valor constante da avaliação. III- Agravo de instrumento provido. 2 - Foram rejeitados os embargos declaratórios opostos pela recorrente (fls. 536/540). 3 - Preliminarmente, passo ao exame do atendimento ao disposto no 2 do art. 543-A, do CPC, na redação da Lei n /2006, forte na lição do excelso Supremo Tribunal Federal, in verbis: EMENTA: (...) II. Recurso extraordinário: repercussão geral: juízo de admissibilidade: competência. 1. Inclui-se no âmbito do juízo de admissibilidade - seja na origem, seja no Supremo Tribunal - verificar se o recorrente, em preliminar do recurso extraordinário, desenvolveu fundamentação especificamente voltada para a demonstração, no caso concreto da existência de repercussão geral (C.Pr.Civil, art. 543-A, 2 ; RISTF, art. 327). (...) 4. Assim sendo, a exigência da demonstração formal e fundamentada, no recurso extraordinário, da repercussão geral das questões constitucionais discutidas só incide quando a intimação do acórdão recorrido tenha ocorrido a partir de 03 de maio de 2007, data da 2

3 publicação da Emenda Regimental n. 21, de 30 de abril de (Grifei). (AI-QO / RS, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, DJ p. 37). 4 - Assim, verifico, na petição de apelo extremo, que a recorrente cumpriu a exigência de demonstração formal e fundamentada da repercussão geral das questões discutidas no recurso extraordinário, disciplinada no art. 543-A do Código de Processo Civil, introduzido pela Lei n / Desse modo, prosseguindo ao exame dos demais aspectos atinentes ao juízo de admissibilidade, inseridos na competência desta Presidência, verifico que a recorrente alega violação ao art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal. Sustenta que o acórdão recorrido, ao decidir pela anulação da arrematação, contrariou o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. 6 - O recurso não merece prosperar. Diferente do que sugere a recorrente, observo que o art. 5, inciso XXXVI, da Constituição Federal, tido por violado, não foi objeto de apreciação pelo acórdão recorrido. Na ausência de prequestionamento, incide o veto das Súmulas n s 282 e 356 do colendo Supremo Tribunal Federal. 7 - Ademais, a demanda foi decidida com força no exame do conjunto fático-probatório contido nos autos, bem como na análise da legislação infraconstitucional. Nestes casos, a jurisprudência é no sentido de aplicação da Súmula 279 da Excelsa Corte, pois, o exame de normas infraconstitucionais para verificar possível contrariedade à Lei Maior não legitima a interposição do recurso extraordinário que, para sua admissibilidade, exige lesão direta e frontal à Constituição Federal, não a indireta ou reflexa. 8 - Nesse sentido, destaco o seguinte aresto: EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DA ARREMATAÇÃO. PREÇO DO BEM AVALIADO. IMPOSSIBILIDADE DA ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL E DO 3

4 REEXAME DE PROVAS (SÚMULA 279). OFENSA CONSTITUCIONAL INDIRETA. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. (AI AgR, Relatora: Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 21/10/2008, DJe-236 DIVULG PUBLIC EMENT VOL PP RT v. 98, n. 882, 2009, p ). Pelo exposto, não admito o recurso extraordinário (fls ). Por seu turno, ao adequado enfrentamento das questões suscitadas, transcrevo as razões de decidir adotadas pela Corte de origem, quando do exame do agravo de instrumento veiculado pelo ora agravante: Com efeito, a r. decisão ora agravada, encontra-se assim fundamentada, verbis: Às fls. 439, o Exequente, INSS, pede a anulação da arrematação, com suporte no artigo 694, I e 692 do CPC, dizendo que no imóvel penhorado existem construções que não foram avaliadas, apesar de ter sido deferido pedido da correspondente avaliação. DECIDO. 1. De início, cabe esclarecer que a penhora incidiu somente sobre o terreno (fls. 64, 76v, 227/228). 2. Além disto, o exequente não indica qual seria a nulidade ocorrida; limita-se a apontar, genericamente, o artigo 694, I, do CPC. 3. De mais a mais, às fls. 385, o próprio exequente declarou-se contra o pedido de anulação da arrematação formulado pelo Banco Santander. 4. Indefiro, pois, o pedido de fls. 439/440. (fls. 479). Dispõe o art. 694 do CPC que assinado o auto pelo Juiz, pelo escrivão, pelo arrematante, e pelo porteiro ou pelo leiloeiro, a arrematação considerar-se-á perfeita, acabada e irretratável (art. 694, CPC), só podendo ser reformada após esse prazo se ficar caracterizada a existência de vício de nulidade; se 4

5 não for pago o preço ou se não for prestada a caução; quando o arrematante provar, nos 3 (três) dias seguintes, a existência de ônus real não mencionado no edital. Verifica-se que, in casu, a empresa Indústria de Móveis Movearte Ltda foi vencedora do leilão, em 29 de dezembro de 2003, tendo a Carta de Arrematação sido expedida em 03 de novembro de 2004, em nome da arrematante, no valor total de R$ ,00 (quinhentos e quarenta e seis mil reais), divididos em 60 parcelas de R$ 9.100,00 (nove mil e cem reais) mensais iguais e sucessivas, reajustadas mensalmente pelo índice da Taxa SELIC, tendo sido paga a 1ª parcela no ato da arrematação (fls. 320 e 423). O leiloeiro informou que o auto de Penhora e Avaliação feito pelo Oficial de Justiça refere somente ao valor do imóvel (terreno) não estando incluída a avaliação das benfeitorias e edificações ali existentes (fls. 314). Assim sendo, o MM. Juiz a quo deferiu, no dia 29 de dezembro de 2003, o pedido formulado pelo leiloeiro aos fls. 314/315 para determinar a avaliação das edificações pelo mesmo oficial avaliador. Todavia, os imóveis foram arrematados no mesmo dia, isto é, 29 de dezembro de 2003, tendo o Oficial de Justiça Avaliador informado, em 12 de janeiro de 2004, que verbis: Certifico que em cumprimento ao presente mandado, dirigi-me ao endereço: Lagoa Santa, às 10:00 horas, onde deixei de proceder à avaliação retro. Tendo em vista que esta Oficial de Justiça não tem as qualificações técnicas para avaliar as edificações existentes no imóvel, considerando que as entendo [sic] que as construções são de grande porte, sendo necessário conhecimento específico em estruturas e fundações. Portanto é necessário uma pessoa qualificada para uma avaliação de tal envergadura. Isto posto, devolvo o presente mandado à Secretaria para os devidos fins (fls. 338). Destarte, quer me parecer que, in casu, ocorreu vício de nulidade, erro na avaliação e o não cumprimento da 5

6 determinação judicial que mandou reavaliar os imóveis. Ademais, o preço pelo qual foram arrematados os bens pode ser considerado vil, eis que corresponde a cerca de 30% (trinta por cento) do valor constante da avaliação. Tal entendimento já manifestado por este Tribunal, em diversos julgados, verbis: PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS. VIA ADEQUADA. ARREMATAÇÃO. PREÇO VIL. NULIDADE. 1. A arrematação por preço vil, constitui uma das causas de nulidade da execução fiscal, legitimando a oposição dos competentes embargos, o que se encontra em perfeita consonância com o disposto no art. 746, do CPC. 2. A arrematação feita com violação da norma prevista no art. 692, do CPC, é nula, pleno jure, ensejando sua desconstituição, nos próprios autos, até mesmo de ofício, ou em embargos à arrematação, não constituindo empecilho a assinatura do ato de arrematação pelo juiz. 3. Apelação e remessa oficial, tida por interposta, não providas. (...) Ante o exposto, dou provimento ao agravo de instrumento (fls ). Nada colhe o agravo. O exame de eventual ofensa aos preceitos constitucionais indicados nas razões recursais, consagradores dos princípios da proteção ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada, bem como ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa (art. 5º da Lei Maior), demanda, em primeiro plano, a interpretação das normas infraconstitucionais aplicáveis à espécie, de tal modo que, se afronta ocorresse, seria indireta, o que não atende à exigência do art. 102, III, a, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência deste egrégio Supremo Tribunal Federal, verbis: 6

7 "RECURSO. Extraordinário. Inadmissibilidade. Alegação de ofensa ao art. 5º, XXII, XXIII, XXIV, LIV e LV, da Constituição Federal. Violações dependentes de reexame prévio de normas inferiores. Ofensa constitucional indireta. Matéria fática. Súmula 279. Agravo regimental não provido. É pacífica a jurisprudência desta Corte, no sentido de não tolerar, em recurso extraordinário, alegação de ofensa que, irradiando-se de má interpretação, aplicação, ou, até, inobservância de normas infraconstitucionais, seria apenas indireta à Constituição da República, e, muito menos, de reexame de provas" (STF-AI-AgR /SP, Relator Ministro Cezar Peluso, 1ª Turma, DJ ). "Recurso extraordinário: descabimento: acórdão recorrido, do Tribunal Superior do Trabalho, que decidiu a questão à luz de legislação infraconstitucional: alegada violação ao texto constitucional que, se ocorresse, seria reflexa ou indireta; ausência de negativa de prestação jurisdicional ou de defesa aos princípios compreendidos nos arts. 5º, II, XXXV, LIV e LV e 93, IX, da Constituição Federal." (STF-AI-AgR /SE, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, 1ª Turma, DJ ) "CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO: ALEGAÇÃO DE OFENSA À C.F., art. 5º, II, XXXV, XXXVI, LIV e LV. I. - Ao Judiciário cabe, no conflito de interesses, fazer valer a vontade concreta da lei, interpretando-a. Se, em tal operação, interpreta razoavelmente ou desarrazoadamente a lei, a questão fica no campo da legalidade, inocorrendo o contencioso constitucional. II. - Decisão contrária ao interesse da parte não configura negativa de prestação jurisdicional (C.F., art. 5º, XXXV). III. - A verificação, no caso concreto, da existência, ou não, do direito adquirido, situa-se no campo infraconstitucional. IV. - Alegação de ofensa ao devido processo legal: C.F., art. 5º, LIV e LV: se ofensa tivesse havido, seria ela indireta, reflexa, dado que a ofensa direta seria a normas processuais. E a ofensa a preceito constitucional que autoriza a 7

8 admissão do recurso extraordinário é a ofensa direta, frontal. V. - Agravo não provido" (STF-RE-AgR /SP, Relator Ministro Carlos Velloso, 2ª Turma, DJ ). "TRABALHISTA. ACÓRDÃO QUE NÃO ADMITIU RECURSO DE REVISTA, INTERPOSTO PARA AFASTAR PENHORA SOBRE BENS ALIENADOS FIDUCIARIAMENTE EM GARANTIA DE FINANCIAMENTO POR MEIO DE CÉDULA DE CRÉDITO À EXPORTAÇÃO. DECRETO-LEI 413/69 E LEI 4.728/65. ALEGADA AFRONTA AO ART. 5º, II, XXII, XXXV E XXXVI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Questão insuscetível de ser apreciada senão por via da legislação infraconstitucional que fundamentou o acórdão, procedimento inviável em sede de recurso extraordinário, onde não cabe a aferição de ofensa reflexa e indireta à Carta Magna. Recurso não conhecido" (STF-RE /DF, Relator Ministro Ilmar Galvão, 1ª Turma, DJ ). Não há, portanto, como assegurar trânsito ao extraordinário, consoante também se denota dos fundamentos da decisão que desafiou o recurso, aos quais me reporto e cuja detida análise conduz à conclusão pela ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República. Nego seguimento ao agravo de instrumento (CPC, art. 557, caput). Publique-se. Brasília, 27 de setembro de Ministra Rosa Weber Relatora 8