Supremo Tribunal Federal

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1 AGRAVO DE INSTRUMENTO SÃO PAULO RELATOR : MIN. LUIZ FUX AGTE.(S) :CONSLADEL - CONSTRUTORA E LAÇOS DETETORES E ELETRÔNICA LTDA E OUTRO(A/S) ADV.(A/S) :LEONARDO GUERZONI FURTADO DE OLIVEIRA E OUTRO(A/S) AGDO.(A/S) :COMPANHIA DE ENGENHARIA DE TRÁFEGO - ADV.(A/S) CET :LEONETE ÂNGELA CARDOSO MARTINELLI AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO ADMINISTRATIVO. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS. NEGATIVA DE TUTELA JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. REPERCUSSÃO GERAL DO TEMA. REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA. ACÓRDÃO EM CONFORMIDADE. EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO DO AJUSTE. DESARMONIA. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO E DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS STF NºS 279 E 454. PRECEDENTES. 1. O magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a decisão. A leitura do acórdão impugnado permite a compreensão da controvérsia e das premissas e fundamentos sobre os quais baseou-se o Tribunal de origem para julgar improcedente o pedido do agravado. É o que basta. 2. O artigo 93, IX, da Constituição Federal

2 exige que o acórdão ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas, tampouco que sejam corretos os fundamentos da decisão. Precedentes. 3. A jurisprudência desta Corte, analisando o tema do desequilíbrio econômicofinanceiro dos contratos administrativos, fixou entendimento segundo o qual, para se entender de forma diversa daquela a que chegou o Tribunal de origem, far-se-iam necessários o reexame do conjunto fáticoprobatório e das cláusulas contratuais do pacto firmado, o que é descabido na via estreita do recurso extraordinário, em face das súmulas STF nºs 279 e 454. Precedentes. 4. In casu, o Tribunal de Justiça de São Paulo manteve sentença para julgar improcedente pedido de reajuste de valores em contrato administrativo, sob o duplo fundamento de que o edital de licitação e as cláusulas contratuais previam o reajuste atuarial a cada doze meses, a contar da assinatura do contrato e, no que diz respeito ao conjunto fático-probatório, a instância ordinária asseverou a ausência de qualquer prova de elevação de custos ou perdas. A parte limita-se a afirmar como fundamento para a desarmonia financeira, o simples decurso do prazo entre divulgação da proposta vencedora e a assinatura do contrato. 5. Conheço do agravo, mas nego-lhe 2

3 seguimento (art. 557 do CPC e art. 21, 1º, do RISTF). DECISÃO: Trata-se de agravo de instrumento interposto com base no art. 544 do Código de Processo Civil, contra decisão que inadmitiu recurso extraordinário, sob o fundamento de que a alegação de ofensa ao texto constitucional, acaso existente, seria indireta e reflexa. Nas razões recursais, a parte agravante alega desacerto da decisão agravada, contrapondo-se, em síntese, aos argumentos do julgado. Pede, ao fim, o conhecimento do agravo e o provimento do recurso. Na origem, o recurso extraordinário foi manejado com esteio no art. 102, III, a, da Constituição da República, em face de acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo, assim ementado: Apelação Cível Ação de cobrança de diferenças inflacionárias Contrato que foi firmado em 26 de junho de 2003 com o preço a remuneração da proposta apresentada em 24 de outubro e 2001 Pedido para recebimento da diferença da remuneração decorrente da demora na celebração do contrato Edital que previa reajuste em 12 meses, a contar da assinatura do contrato Inexistência de comprovação do desequilíbrio financeiro do contrato Recurso improvido (fl. 709). Os embargos de declaração foram desprovidos (fl. 723). Nas razões do recurso extraordinário, o recorrente apresenta preliminar de repercussão geral fundamentada e, no mérito, sustenta violação aos arts. 5º, LIII, LV, 37, XXI, 93, III, IX, 94 e 98, I, da Constituição Federal. Aduz, nesse sentido, que o tempo decorrido entre a homologação do certame licitatório e a efetiva assinatura do contrato administrativo teria causado desequilíbrio contratual, a justificar o pagamento de diferenças pecuniárias, pois a remuneração inicial estaria defasada, porquanto fora paga com valores de referência de um ano e oito meses antes, e a proposta vencedora estabelecera prazo de validade de 120 dias. 3

4 É o relatório. Decido. As razões do agravante não prosperam. À exceção dos arts. 37, XXI, e 93, IX, os demais temas constitucionais não foram objeto de debate e decisão no acórdão recorrido, convindo esclarecer que os embargos declaratórios não se prestam para prequestionar matéria que, embora suscitada anteriormente, não teria relevância para o deslinde da causa, certo que o prequestionamento não resulta da mera arguição das partes, mas sim do debate explícito do tema pelo Tribunal a quo (RE nº , rel. Min. Marco Aurélio, DJ de ). Incide, portanto, o óbice da súmula STF nº 282. No que diz respeito à alegada violação ao art. 93, IX, da Constituição Federal, esta Corte, ao julgar o AI nº , (Rel. o Min. Gilmar Mendes, DJe de ), reconheceu a repercussão geral da matéria relativa à nulidade de acórdão recorrido por negativa de prestação jurisdicional. Naquela assentada, reafirmou-se a jurisprudência desta Corte no sentido de que o artigo 93, IX, da Constituição Federal exige que o acórdão ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas, tampouco que sejam corretos os fundamentos da decisão. A propósito, trago à colação a ementa do referido julgado: Questão de ordem. Agravo de Instrumento. Conversão em recurso extraordinário (CPC, art. 544, 3 e 4 ). 2. Alegação de ofensa aos incisos XXXV e LX do art. 5º e ao inciso IX do art. 93 da Constituição Federal. Inocorrência. 3. O art. 93, IX, da Constituição Federal exige que o acórdão ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão. 4. Questão de ordem acolhida para reconhecer a repercussão geral, reafirmar a jurisprudência do Tribunal, negar provimento ao recurso e autorizar a adoção dos procedimentos relacionados à repercussão geral. 4

5 Ora, a leitura do acórdão impugnado permite a compreensão da controvérsia e das premissas e fundamentos sobre os quais baseou-se o Tribunal de origem para julgar improcedente o pedido do agravado. É o que basta. Como é cediço, o órgão julgador não está adstrito aos fundamentos invocados pelas partes. Ele pode aplicar o direito embasado em fundamentos diferentes daqueles aduzidos nas peças processuais, desde que dentro dos limites do pedido e suficientes ao deslinde da controvérsia. Quanto à alegação de ofensa ao art. 37, XXI, da Constituição da República, verifico que o Tribunal paulista, para negar direito ao reajuste pretendido, baseou-se no edital de licitação, que previa o reajuste contratual a cada doze meses, a contar da assinatura do ajuste e nas cláusulas contratuais, com as quais anuiu o agravante, porquanto assinou o contrato. No que diz respeito ao conjunto fático-probatório, a instância ordinária asseverou a ausência de qualquer prova de elevação de custos ou perdas, reafirmando-se como fundamento para a desarmonia financeira, o simples decurso do prazo entre divulgação da proposta vencedora e a assinatura do contrato. A jurisprudência desta Corte, analisando o tema do desequilíbrio econômico-financeiro dos contratos administrativos, fixou entendimento segundo o qual, para se entender de forma diversa daquela a que chegou o Tribunal de origem, far-se-ia necessário o reexame do conjunto fáticoprobatório e das cláusulas contratuais do pacto firmado, o que é descabido na via estreita do recurso extraordinário, em face das súmulas STF nºs 279 e 454. Confira-se os seguintes julgados: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO CONVERTIDOS EM AGRAVO REGIMENTAL. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 454 DO STF. RECURSO IMPROVIDO. 1. Os embargos de declaração opostos objetivando reforma da decisão do relator, com caráter 5

6 infringente, devem ser convertidos em agravo regimental, que é o recurso cabível, por força do princípio da fungibilidade. Precedentes: Pet ED, rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, DJ ; Rcl ED, rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, DJ ; AI ED, rel. Min. DIAS TOFFOLI, 1ª Turma, DJ ; RE ED, rel. Min. ELLEN GRACIE, 2ª Turma, DJ ). 2. A violação reflexa e oblíqua da Constituição Federal decorrente da necessidade de análise de malferimento de dispositivo infraconstitucional torna inadmissível o recurso extraordinário. 3. As cláusulas contratuais ou editalícias e a verificação de suas validades encerram reexame de norma infraconstitucional, insuscetível de discussão via recurso extraordinário, incidindo, in casu, o óbice da súmula 454 do STF, verbis: Simples interpretação de cláusulas contratuais não dá lugar a recurso extraordinário. 4. A alegação de que os valores envolvidos na causa justificam a repercussão econômica da lide se revela impertinente nesta instância extraordinária por se tratar de indevida inovação processual de questão não arguida oportunamente. 5. O requisito do prequestionamento é indispensável, por isso que inviável a apreciação, em sede de recurso extraordinário, de matéria sobre a qual não se pronunciou o Tribunal de origem, incidindo o óbice da Súmula 282 do Supremo Tribunal Federal. 6. In casu, o acórdão originalmente recorrido assentou: CONTRATO ADMINISTRATIVO EXPECTATIVA INFLACIONÁRIA NÃO CARACTERIZAÇÃO PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO OBSERVÂNCIA VERBA HONORÁRIA REDUÇÃO. A questão da expectativa inflacionária não revela ser idêntica em todos os contratos administrativos, embora sua aplicação seja conhecida; no entanto, observados determinados fatores, é possível constatar que não comporta admissão de seus efeitos, não sugerindo sua aplicação pela ausência dos efeitos. A verba honorária pode ser revista e adaptada dentro do princípio da equidade. Recurso provido em parte. 7. Agravo regimental a que se nega provimento (AI nº ED, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira 6

7 Turma, DJe de ). AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. RELAÇÃO CONTRATUAL ENTRE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PARTICULAR. ALEGAÇÃO DE DESEQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO NO PACTO FIRMADO. NECESSIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO- PROBATÓRIO E DE CLÁUSULAS DO INSTRUMENTO DE CONTRATO. SÚMULAS 279 E 454 DO STF. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA REFLEXA. AGRAVO IMPROVIDO. I - Inviável em recurso extraordinário o reexame do conjunto fático-probatório constante dos autos e das cláusulas do contrato firmado entre as partes. Incidência das Súmulas 279 e 454 do STF. II - O exame da alegada ofensa ao texto constitucional envolve a reanálise da interpretação dada pelo juízo a quo à legislação infraconstitucional que rege a matéria (Lei 8.666/1993). A afronta à Constituição, se ocorrente, seria indireta. Incabível, portanto, o recurso extraordinário. III - Agravo regimental improvido (ARE AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe de ). Ex positis, conheço do agravo, mas nego-lhe seguimento (art. 557 do CPC e art. 21, 1º, do RISTF). Publique-se. Int.. Brasília, 16 de abril de Ministro LUIZ FUX Relator Documento assinado digitalmente 7