NUTRIÇÃO DA CRIANÇA ATLETA



Documentos relacionados
Necessidades Nutricionais Antes, Durante e Depois do Exercício

NECESSIDADES NUTRICIONAIS DO EXERCÍCIO

PADRÃO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS ADULTOS NOS PERÍODOS PRÉ E PÓS-CIRURGIA BARIÁTRICA

Bases Metodológicas do Treinamento Desportivo

Consumo de açúcar, sal e gorduras

PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIO AERÓBIO

RESPOSTAS RENAIS A UMA DIETA HIPERPROTEICA

Diferentemente dos adultos, os atletas jovens necessitam de um aporte energético e de nutrientes para dois objetivos: Crescimento e desenvolvimento.

Tópicos da Aula. Classificação CHO. Processo de Digestão 24/09/2012. Locais de estoque de CHO. Nível de concentração de glicose no sangue

XVIII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 19 a 23 de outubro de 2009

NUTRIÇÃO ESPORTIVA. Nutr. Graziela Beduschi

Ao meu avô que está sempre presente nos momentos importantes e decisivos. À Ana Marisa (a minha bóia de salvação) e à Susana pela sua disponibilidade

NUTRIÇÃO ESPORTIVA Graziela Beduschi

Aleitamento Materno Por que estimular?

Preciso saber para fazer render

Bebida hidratante. suplementação

Nutrientes. E suas funções no organismo humano

Nós precisamos de beber água para sobreviver!... A. água representa cerca de 60 a 70% do peso corporal e é. do organismo ocorram adequadamente.

SEMANA ,44 km PLANILHA DE TREINO. Semana de treino para melhora da capacidade pulmonar.

A CIÊNCIA DOS PEQUENOS JOGOS Fedato Esportes Consultoria em Ciências do Esporte

Doenças do Comportamento. Alimentar

Profª Graziela Beduschi

Fenilcetonúria Tratamento e Acompanhamento Nutricional

A importância da Albumina Sérica no processo de cicatrização de feridas

Atividade Física. A atividade física aumenta a sensibilidade à insulina e a capacidade de absorver os nutrientes.

TÍTULO: CONHECIMENTO E UTILIZAÇÃO DE BEBIDAS ISOTÔNICAS POR PRATICANTES DE ATIVIDADE FÍSICA

Suplementos na Atividade Esportiva Maria Helena Weber CRN 2075

A importância da alimentação no desempenho esportivo e competitivo

ROTULAGEM DE ALIMENTOS

JORNALZINHO DA SAÚDE

Dia Mundial da Diabetes - 14 Novembro de 2012 Controle a diabetes antes que a diabetes o controle a si

Prescrição Dietética

OS 5 PASSOS QUE MELHORAM ATÉ 80% OS RESULTADOS NO CONTROLE DO DIABETES. Mônica Amaral Lenzi Farmacêutica Educadora em Diabetes

Malhar em jejum é nova 'modinha' para perda de gordura Sex, 20 de Dezembro de :38 - Última atualização Sex, 20 de Dezembro de :11

Manter este produto em local fresco, seco e ao abrigo de luz solar.

NUTRIÇÃO ESPORTIVA. Thiago Onofre Freire

PROTÉICO-CALÓRICACALÓRICA. Prof a. Dr a. Andréia Madruga de Oliveira Nutrição p/ Enfermagem 2009/2

NUTRIÇÃO NA ADOLESCÊNCIA

Nutrição PADRÃO DE RESPOSTA

ILSI Brasil Workshop Estilos de Vida Saudáveis: Nutrição e Saúde da Mulher. A mulher que faz esporte Tânia Rodrigues

O seu consumo deve ser integrado num estilo de vida activo e saudável, no âmbito de uma alimentação completa, variada e equilibrada.

Tipos de Diabetes e 10 Super Alimentos Para Controlar a Diabetes

A MULHER ATLETA GRUPO DE MEDICINA ESPORTIVA DO I.O.T. WAGNER CASTROPIL

AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE MACRONUTRIENTES ANTES, DURANTE E APÓS A ATIVIDADE FÍSICA DE FREQUENTADORES DE UMA ACADEMIA EM SÃO PAULO

FISIOLOGIA DA HIDRATAÇÃO:

ATIVIDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA 3º E.M.

1. INTRODUÇÃO RASTREIO E AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL INTERVENÇÃO NUTRICIONAL...9


O SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL PARA ATLETAS PORTADORES DE PARALISIA CEREBRAL

A criança, o adolescente e a prática de atividades físicas

Prof. Kemil Rocha Sousa

O ATLETA VEGETARIANO Priscila Di Ciero - Nutricionista

Minerais e Vitaminas como Fontes Ergogênicas. Magnésio, Zinco, Cálcio e Vitaminas B1 e B6.

EPIDERMÓLISE BOLHOSA NUTRIÇÃO. Andréa Gislene do Nascimento Nutricionista Chefe Serviço de Nutrição e Dietética 16 de agosto de 2014.

IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO E DA HIDRATAÇÃO DO ATLETA Isabela Guerra

Anexo I - Questionário

AUTOR: Jansen Ramos Campos SESI/DR/PB

Congregação das Filhas do Amor Divino

Atributos do Tênis de Mesa

Fundada em Gestão Comportamental. Educação para a saúde Gestão de crise

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO ESPORTIVA APLICADA À SÁÚDE, ESTÉTICA E DESEMPENHO FÍSICO

MANEJO DE BOVINOS DE CORTE Confinamento. Prof : Ricardo Alexandre Silva Pessoa

Processo de envelhecimento

Osteoporose Prevenção e Tratamento

SAL. Sistema de Planeamento e Avaliação de Refeições Escolares. Newsletter n.º16 Dezembro 2012

RESPOSTA RÁPIDA 147/2014 Peptamen Junior, fibra em pó, equipos

O PAPEL DO FERRO SOBRE A NUTRIÇÃO E A SAÚDE

RESUMOS SIMPLES...156

PESQUISA DE ORÇAMENTO FAMILIAR - POF. Prof. Dra. Aline Mota de Barros Marcellini

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE MENINOS DA CIDADE DE AMPARO - SÃO PAULO

ANÁLISE FUNCIONAL DO FITNESS

Como nosso corpo está organizado

Procedimento Operacional Padrão (POP) Divisão de Nutrição e Dietética. Atendimento de Nutrição na. Setor: Unidade de Tratamento Dialítico

Alimentos: diet, light, açúcar e adoçantes

QFase REVISTA TJ 11. Tiago Elias Junior. Volume 02 julho/2014 Ano 1 Bebedouro SP. Redator chefe. Experiências. Bebe da Semana. Obesidade infantil

COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE ATLETAS NO PRÉ TREINO DE UMA CIDADE DO INTERIOR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Zinco quelato. Identificação. Peso molecular: Não aplicável. CAS: Não aplicável

O Volume Do Treinamento No Futsal

INTRODUÇÃO. Diabetes & você

Doenças do Comportamento Alimentar. Filipe Pinheiro de Campos

Nutrição no tratamento da AIDS

PERFIL NUTRICIONAL E CONSUMO DE MACRONUTRIENTES POR CORREDORES DA CIDADE DE MARINGÁ, PR

Praticando vitalidade. Sedentarismo. corra desse vilão!

Como prescrever o exercício no tratamento do DM. Acad. Mariana Amorim Abdo

PROGRAMA DE 4 DIAS DE TREINO DE FORÇA PARA MULHERES

Mais em forma, mais veloz, mais forte, mais alongado: Programa de Desenvolvimento de Cárdio Precor

Criança nutrida & criança Vitaminada

Dietas Caseiras para Cães e Gatos

Apresentamos a seguir dois formatos possíveis para o projeto:

boas práticas da indústria

DISTÚRBIOS ALIMENTARES

RESOLUÇÃO - RDC Nº. 18, DE 27 DE ABRIL DE Dispõe sobre alimentos para atletas.

Beba água e tenha mais saúde! Nutricionistas: Dra. Antónia Campos Dra. Ana Marques

Características da Carne de Frango

Reabilitação fisioterapêutica do idoso com osteoporose

Sybelle de Araujo Cavalcante Nutricionista

ALIMENTAÇÃO DE CORDEIROS LACTENTES

TÍTULO: AVALIAÇÃO DE UM PROGRAMA ESPECÍFICO DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADOLESCENTE DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, VIÇOSA MG.

Transcrição:

NUTRIÇÃO DA CRIANÇA ATLETA Graziela Beduschi Graduação em Nutrição - UFPR Mestrado em Ciências da Nutrição (Nutrição Esportiva) - Wollongong University AUS Curso de Nutrição Esportiva AIS Camberra AUS

Crianças & adolescentes Crianças: 5 a 12 anos Adolescentes: 13 a 18 anos (National Health & Medical Research Council, 1995)

Crescimento & maturação Processos complexos, considerar: Efeito do treinamento físico; Efeito da Ingesta Alimentar; Considerar histórico familiar de taxa de crescimento e maturação Considerar se baixa estatura; Considerar se retardo no crescimento; Considerar retardo na maturação. * Risco treinamento físico intenso associado a plano dietético hipocalórico

Crescimento & maturação Monitorar mensalmente Identificar atletas jovens de risco; Treinamento intenso prolongado e dietas restritas Foco: ginastas e bailarinas Monitorar anualmente Medidas antropométricas; Estágio de maturação; Saúde óssea (distúrbios menstruais e fraturas); Status nutricional; Sintomas de distúrbios alimentares e imagem corporal

Evidências Científicas Atletas jovens, pais, treinadores, nutricionistas, médicos, fisioterapeutas, psicólogos... Riscos e benefícios em optar por ser um jovem atleta profissional Redução da estatura adulta (Mansfield & Emans, 1993) Atraso da menarca, disfunção menstrual, amenorréia, baixa densidade óssea, maior risco osteoporose no futuro (Micklesfield et al, 1998; Keen & Drinkwater, 1997) Anorexia nervosa associada a osteopenia (Greenspoon et al, 1999)

Necessidades Nutricionais Pais, atletas jovens, equipe multidisciplinar,... Encorajar adoção de hábitos alimentares saudáveis; Adequar necessidades nutricionais para crescimento, processo de maturação e performance esportiva satisfatória Tendência de basear-se nas recomendações para crianças e adolescentes saudáveis, não específicas, como RDIs e RDAs Ingestão dietética adequada durante primeira e segunda infância e adolescência + necessidade energéticas adicionais para treinamento (American Dietetic Association 1996c, 1996d)

Necessidades Nutricionais Considerações Balanço energético negativo ( TMB) severo e prolongado não é recomendado; situações perda rápida de peso corporal Consequências Baixa estatura, atraso na puberdade, disfunções menstruais, má saúde óssea, imunodepressão, alta incidência de lesões e risco de distúrbios alimentares (Thompson, 1998)

Necessidades Nutricionais Ativ idade Alpinismo Basquete - competitivo Caminhar * Campo - 3.5milhas/h (5.6Km/h) * Asfalto - 3.5milhas/h (5.6Km/h) Canoagem Correr (1 milha = 1.6 Km) * 5milhas/h (8Km/h) * 10milhas/h (16Km/h) * 12milhas/h (19.2Km/h) Dança Esqui aquático Esquiar neve - declive Futebol Futebol Americano Handebol Judô, karatê Natação Pular corda Remo - competição Squash Tênis competitivo Kcal/min 10.0 9.0 TMB Crescimento (sexo e idade) 7.0 Atividade física (gasto específico para5.6 3.0-7.0 modalidade) 10.0 (WHO, 1985) 20.0 25.0 5.0-7.0 8.0 8.0-12.0 9.0 13.3 10.0 13.0 6.0-14.0 10.0-15.0 15.0 10.0 11.0

Necessidades Nutricionais Faltam estudos para a população de jovens atletas (Thompson, 1998) Tabela com recomendações de proteínas (g/dia) e energia (J/dia) de diferentes países, para atletas jovens envolvidos em atividade leve a moderada de treino:»»»»» Austrália RDI= recommended dietary intake Reino Unido DRV= dietary reference value EUA RDA= recommended dietary allowance Canadá RNI= recommended nutrient intake WHO/FAO/UNU (Cobiac, 1997)

Gasto Energético Gasto energético estimado para atletas adultos; Jovens atletas apresentam menor eficiência metabólica e motora; Conseqüentemente gasto energético subestimado em relação ao atleta adulto; Meninas apresentam maior gasto energético na corrida e caminhada quando comparado com mulheres (Haymes et al, 1974) Crianças de 6 a 8 anos necessitam 20 a 30% mais oxigênio por unidade de massa corporal que adultos (Daniels, 1978)

Proteína RDIs adultos: 0,75 0,8g/kg RDIs atletas adultos (força): 1,6-1,7g/kg/d RDIs atletas adultos (endurance): 1,2-1,4g/kg (Lemon, 1998) Inexistente valores específicos para atletas jovens! Jovens atletas (5 a 18 anos) apresentam maior (Lemon, 1998) necessidade protéica (crescimento) que adultos; Lemon (1998) sugere 1,2 a 2g/kg/d ~ 15 a 17%

Proteína National Nutrition Survey, 1995 (AUS): consumo protéico de crianças normalmente atinge 2 a 3x as RDIs p/ PTN Risco: atletas vegetarianos e atletas com baixo aporte calórico objetivando alta ingestão de carboidratos.

Carboidrato RDIs adultos: 55 a 70% Riddell (1999) sugere = adultos ~ 55% Ativ. Intensidade moderada (1h/d)= 5-7g/kg/d Ativ. Intensidade intensa (3h/d)= 7-10g/kg/d Ativ. Intensidade extrema (vários dias)= 10-12g/kg/d Recomendação média = 6-10g/Kg/d Encorajar CHO no pré-treino (mín 30g) (Burke & Deakin, 2000)

Carboidrato Benefícios comprovados de dietas rica em CHO no aumento da performance; Considerar resposta e tolerância; Dietas hiperglicídicas (CHO loading)?? Snacks e bebidas ricas em açúcares * Cárie (Sank, 1999) Desidratação, squeezes, géis de CHO, boca seca *

Lipídios Atletas jovens boa capacidade de utilizar gordura como fonte de energia durante exercício; Justificado pelo alto índice de gliceróis circulantes, alta captação de ácidos graxos e menor coeficiente respiratório (Macek & Vavra, 1981; Delamanche et al, 1992; Martinez & Haymes, 1992).

Lipídios Crianças (5 a 12 anos) <35% (10% saturada) Adolescentes (13 a 18 anos) <30% (<10% saturada) (National Health & Medical Research Council, 1995) Crianças e Adolescentes 30-39% (O Connor, 1994) Atenção para dietas ricas em gorduras e pobres em carboidratos (comprometimento da performance)

Vitaminas Suprir necessidades diárias: dietas normo a hipercalóricas Checar folato e B6 Dietas hipocalóricas Checar folato e vit E e vit A (Burke & Deakin, 2000)

Minerais Suprir necessidades diárias: dietas normo a hipercalóricas Checar Ferro Cálcio (800-1000mg/d; 1500mg/d -amenorr) Zinco Risco: vegetarianos, atletas amenorréicas, atletas com deficiência de Ferro e em dietas restritas.

Termoregulação & Hidratação Mecanismo de termorregulação é menos eficiente que em adultos; Maiores riscos: hiponatremia, hipotermia e hipertermia; Taxa de sudorese 2,5 vezes menor que em adultos ( produção de suor/gland)

Termoregulação & Hidratação A hidratação é fundamental na termorregulação; Atenção para categorias de peso: práticas de desidratação, diuréticos, laxantes, etc. Sports Medicine Australia Guidelines (1997) para reposição hídrica de crianças e adolescentes

Hidratação & Treino Sports Medicine Australia Guidelines (1997) Idade ~10 anos ~15 anos Horário 45 min antes ativ. 20 min durante ativ. + breve após ativ. 45 min antes ativ. 20 min durante ativ. + breve após ativ. Volume (ml) 150-200 75-100 Livre até urinar 300-400 150-200 Livre até urinar

Hidratação & Treino Líquidos com carboidratos Líquidos com eletrólitos + carboidratos Melhor aceitabilidade entre jovens Estimulam consumo de água Adultos A partir de 50 de atividade intensa 4 a 8% CHO (rápido esvaziamento gástrico) 30 a 60g CHO/h Frio (15 a 22 C) Frutose + glicose + sacarose (Grau A, evidência 2)

Considerações finais Não existem Recomendações específicas publicadas para crianças ou adolescentes referentes a aporte energético, protéico, glicídico e lipídico.

Considerações finais Educação nutricional (individual, grupo, familia)

Considerações finais Educação nutricional (individual, grupo, familia)

Considerações finais Educação nutricional (individual, grupo, familiar) Cuidados com dietas restritivas ( n de kcal) Atenção para suplementação sem orientação Monitorar crescimento e desenvolvimento Atenção distúrbios alimentares e menstruais Suplementação Ca (amenorréia + 6 meses)

Considerações finais Pré-treino: CHO (mín 30g ou 1g/kg/1h pré) + líquidos (150 a 400ml) Emulsões lipídicas (sem comprovação em adultos) Durante treino: Líquidos 75 a 200ml a cada 20min; CHO (6%) e eletrólitos acima 50min (ativ. Intensa, adultos) Pós-treino imediato: CHO + líquidos Proteína no pós-treino (adultos)

Referências Australian Institute of Sport. AIS Program 2001. In Australian Sports Web. www.ais.org.au/nutrition/supppolicy.htm Rev Bras Med Esporte Vol 9. N 2 Mar/Abr.2003 Burke L and Deakin M. 2000. Clinical in Sports Nutrition. 2 nd Edition. Sydney: Mc Graw-Hill. Williams MH. 1999. Facts and fallacies of purported ergogenic amino acids supplements. Clinics in Sports Medicine. 18(3):63349.

MAIORES INFORMAÇÕES E-mail grazielabeduschi@pop.com.br