EMBRIAGUEZ EXCLUSÃO DE COBERTURA Seminário Direitos & Deveres do Consumidor de Seguros Desembargador NEY WIEDEMANN NETO, da 6ª. Câmara Cível do TJRS
Introdução O contrato de seguro, regulado pelos artigos 757 e seguintes do Código Civil, tem como objeto principal a cobertura do risco contratado, evento futuro e incerto, mediante o pagamento do prêmio. O segurador apenas estará desobrigado ao pagamento da indenização caso comprovado o dolo ou a má-fé do segurado, ou ainda quando restar configurado o agravamento do risco.
AGRAVAMENTO DO RISCO Nos termos do art. 768 do CC, o segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato. O agravamento deve possuir uma relevância capaz de romper o equilíbrio contratual, ou seja a proporção entre o risco assumido e o prêmio pago, equação esta que apenas pode ser resolvida com a análise do caso concreto.
CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO E EMBRIAGUEZ Principalmente em relação ao seguro automotivo, em virtude das mudanças atuais no CTB, a discussão em torno da questão da embriaguez ao volante, tornou-se mais acirrada. No dia 20/12/2012 entrou em vigor a Lei nº 12.760 que alterou o CTB Lei 9.503/1997. A nova lei inovou no sentido de dobrar a multa prevista como penalidade para aquele que dirige sob a influência de álcool, de acordo com a nova redação do art. 165. A redação anterior deste artigo previa o mesmo período de suspensão do direito de dirigir, no entanto a multa era a metade daquela agora prevista, o que demonstra a intenção do legislador de dispensar tratamento mais rígido aos motoristas que dirigem embriagados ou sob efeito de substância psicoativa.
CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO E EMBRIAGUEZ Os pontos mais relevantes ao tema que hoje abordamos é a nova redação do artigo 276 do Código de Trânsito Brasileiro, que determina que qualquer concentração de álcool por litro de sangue ou por litro de ar alveolar sujeita o condutor às penalidades citadas e o novo art. 277 que estabelece que a aferição da embriaguez ou influência de outra substância psicoativa que determine dependência poderá ser feita por teste, exame clínico, perícia, exame clínico ou procedimento, que serão oportunamente disciplinados pelo Contran.
SEGURO AUTOMOTIVO E EMBRIAGUEZ Em que pese a nova lei tenha reduzido a zero a tolerância e facilitado a prova da embriaguez, tratando-se de seguro automotivo a questão da embriaguez deve ser analisada caso a caso, pois nem sempre o fato de o motorista ter ingerido bebidas alcoólicas pode ser tido como agravamento intencional do risco a dar ensejo à perda do direito à garantia, não podendo ser aplicado no contrato civil o rigor previsto legislativamente para a esfera penal e administrativa. Entendo que a obrigação indenizatória da seguradora apenas restará afastada uma vez comprovado que o condutor do veículo segurado estava sob efeito de álcool no momento do sinistro e que o sinistro foi decorrente deste consumo. Apenas preenchidos estes requisitos estaremos diante de uma circunstância real geradora de agravamento dos riscos, capaz de ensejar a perda do direito ao seguro.
SEGURO AUTOMOTIVO E EMBRIAGUEZ Ou seja, nem sempre a embriaguez importa em agravamento do risco objeto do contrato, pois nem sempre é a causa determinante do acidente. Para livrar-se da obrigação securitária, a seguradora deve provar que a embriaguez causou, efetivamente, o sinistro. Ou seja, além da comprovação da embriaguez deve ser comprovado que esta situação tenha sido a causa do sinistro. Assim, a circunstância de o condutor do veículo segurado apresentar dosagem etílica capaz de dar ensejo a infração administrativa ou penal, não basta para excluir a responsabilidade da seguradora pela indenização prevista no contrato.
JURISPRUDÊNCIA 3º GRUPO DE CÂMARAS CÍVEIS DO TJRS Embargos infringentes. Seguros. Ação de cobrança. Seguro de veículo automotor. Negativa de pagamento da cobertura securitária. Alegação de embriaguez e agravamento do risco. A embriaguez do motorista somente conduz à perda da indenização securitária se for robustamente comprovada e se for determinante para a ocorrência do sinistro. Inocorrência de comprovação de que o sinistro tenha sido decorrente do estado etílico. A embriaguez excludente do seguro deve ser devidamente comprovada pela seguradora para o afastamento da cobertura. Não caracterização do agravamento do risco. Embargos acolhidos. Unânime. (Embargos Infringentes Nº 70040498420, Terceiro Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ney Wiedemann Neto, Julgado em 01/04/2011)
JURISPRUDÊNCIA STJ AGRAVO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. SEGURO. RESPONSABILIDADE. EMBRIAGUEZ DO SEGURADO. AGRAVAMENTO DO RISCO POR PARTE DO SEGURADO. AFASTAMENTO. - A embriaguez do segurado, por si só, não exime o segurador do pagamento de indenização prevista em contrato de seguro de vida, sendo necessária a prova de que o agravamento de risco dela decorrente influiu decisivamente na ocorrência do sinistro. - Agravo não provido. (AgRg no REsp 57290/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/12/2011, DJe 09/12/2011)
PARECER DA PROCURADORIA FEDERAL JUNTO À SUSEP Cumpre dizer que no Parecer N 26.522/2007, da Procuradoria Federal junto à SUSEP, quanto aos seguros de danos em que o bem segurado é veículo automotor, este mesmo entendimento foi exarado. Citado parecer não envolveu apenas os seguros automotivos, mas também de pessoas e de danos em geral, sendo que quanto a estes a SUSEP considerou ser VEDADA A EXCLUSÃO DE COBERTURA na hipótese de sinistros ou acidentes decorrentes de atos praticados pelo segurado em estado de insanidade mental, de alcoolismo ou sob efeito de substâncias tóxicas.
SEGURO DE VIDA E EMBRIAGUEZ Nos seguros de vida, a questão da embriaguez pode aparecer tanto em um acidente de trânsito ou em qualquer outra circunstância em que o segurado esteja em estado de embriaguez quando da ocorrência do sinistro. Nestes casos o entendimento jurisprudencial vem se firmando no sentido de que para o afastamento da obrigação de indenização no seguro de vida não basta que se comprove o estado de embriaguez, deve ser demonstrado que o segurado o tenha feito de propósito, intencionalmente, visando agravar o risco contratado.
SEGURO DE VIDA E EMBRIAGUEZ A situação aqui abordada pode ser equiparada a um caso de suicídio, em que a seguradora apenas é isenta do dever de indenizar no caso da devida comprovação da premeditação. Somente calcado em prova segura a respeito pode-se concluir que o segurado tenha, deliberadamente, agido de modo a aumentar os riscos do seguro formalizado. Ou seja, mesmo que o falecimento tenha se dado, por exemplo, em acidente de trânsito quando dirigia sob o efeito de álcool, para que seja excluída a obrigação de indenizar é necessário que o segurado tenha agido de má-fé, objetivando, conscientemente, a violação do contratado, não sendo suficiente, porquanto a mera conduta imprudente para tanto.
JURISPRUDÊNCIA DO TJRS Apelação cível. Seguros. Ação de cobrança. Seguro de vida. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos contratos de seguro. Embriaguez. Acidente de trânsito. Inexistência de comprovação do agravamento do risco. Ônus da seguradora. A embriaguez do segurado, por si só, não enseja a exclusão da responsabilidade da seguradora prevista no contrato. A perda da cobertura está condicionada à efetiva constatação de que o agravamento de risco foi condição determinante na existência do sinistro. Pedido de exclusão do outro genitor por indignidade. Descabimento. Inexistência de configuração dos requisitos dos arts. 1.814 e 1.815 do Código Civil. Majoração dos honorários advocatícios. Compensação da verba honorária. Possibilidade. Súmula 306 do STJ. Apelo da autora parcialmente provido e apelo da ré não provido. (Apelação Cível Nº 70044172930, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ney Wiedemann Neto, Julgado em 27/10/2011)
JURISPRUDÊNCIA DO TJRS APELAÇÃO CÍVEL. SEGUROS. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DE VIDA. SINISTRO. EXCESSO DE VELOCIDADE. EMBRIAGUEZ DO CONDUTOR. AUMENTO DO RISCO. 1. Cerceamento de defesa não caracterizado. O juiz é o destinatário das provas, sendo seu dever indeferir a produção das inúteis ou protelatórias, a teor do disposto no art. 130 do CPC. No caso concreto, é desnecessária a produção da prova testemunhal, diante dos elementos probatórios constantes nos autos. 2. Restando comprovado que o condutor do veículo ingeriu bebida alcoólica, encontrando-se em estado de manifesta embriaguez e transitando em velocidade superior à permitida pela via por ocasião do acidente de trânsito, é lícita a negativa de pagamento da indenização por parte da seguradora, conforme previsão contratual expressa. Caso em que restou evidenciado o nexo de causalidade entre estado etílico do segurado e o acidente de trânsito que ocasionou a sua morte. Precedentes. RECURSO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70051530707, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel Dias Almeida, Julgado em 28/11/2012)
F I M Muito obrigado pela atenção!