3. Por meio da Portaria nº 91, de 30 de abril de 2004, foi autorizado o afastamento.

Transcrição

1 PARECER/MP/CONJUR/FNF/Nº / 2007 PROCESSO Nº: / EMENTA: AUTORIZAÇÃO PARA AFASTAMENTO DE SERVIDOR PARA TRABALHAR EM ORGANISMO INTERNACIONAL. ARTS. 95 E 96 DA LEI Nº 8.112/90. ATO DISCRICIONÁRIO. POSSIBILIDADE DE REVOGAÇÃO, DESDE QUE PRESENTE O INTERESSE PÚBLICO. 1. Trata-se de consulta formulada pela Secretaria de Recursos Humanos deste Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão a fim de que seja esclarecida a possibilidade de revogação por ato unilateral da Administração Pública, de portaria que autorizou o afastamento de servidor para trabalhar em organismo internacional. 2. O servidor Natanael de Carvalho Bruno solicitou seu afastamento por tempo indeterminado, com a finalidade de aceitar convite formulado pela Agência Internacional de Energia Atômica AIEA para ocupar o posto de especialista em segurança no transporte de materiais radioativos. 3. Por meio da Portaria nº 91, de 30 de abril de 2004, foi autorizado o afastamento.

2 4. Posteriormente, a Comissão Nacional de Energia Nuclear pleiteou providências no sentido de fazer o referido servidor retornar ao seu cargo de origem, justificando o pedido em grave carência de profissionais especializados no transporte de rejeitos radioativos. 5. Conforme Ofício nº 249/2006 (fls. 59) da Comissão Nacional de Energia Nuclear, o servidor já foi cientificado acerca da solicitação de retorno. 6. A Consultoria Jurídica do Ministério da Ciência e Tecnologia entendeu que a competência para revogar o afastamento competiria à mesma autoridade que o autorizou, no caso, o Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão, por força do Decreto nº 3.456/ Encaminhados os autos à SRH/MP, foi questionada a possibilidade de exigir o retorno do servidor antes de concluída a execução dos trabalhos junto ao organismo internacional, ou seja, se a portaria de revogação da autorização de afastamento estaria amparada pelo Ordenamento Jurídico. 8. No caso, cogita-se da hipótese de revogação do ato administrativo que autorizou o afastamento de servidor público para trabalhar em organismo internacional, conforme previsão contida nos arts. 95 e 96 da Lei nº 8.112/90, in verbis: Art. 95. O servidor não poderá ausentar-se do País para estudo ou missão oficial, sem autorização do Presidente da República, Presidente dos Órgãos do Poder Legislativo e Presidente do Supremo Tribunal Federal. Art. 96. O afastamento de servidor para servir em organismo internacional de que o Brasil participe ou com o qual coopere dar-se-á com perda total da remuneração. 2

3 9. O referido afastamento depende de autorização do Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão, conforme delegação de poderes prevista no Decreto nº 3.456/2000, que assim prevê em seu art. 1º: Art. 1o Fica delegada competência ao Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão, vedada a subdelegação, para autorizar o afastamento de servidor da Administração Pública Federal com a finalidade de servir em organismo internacional de que o Brasil participe ou com o qual coopere, de que trata o Decreto-Lei no 9.538, de 1o de agosto de 1946, o art. 96 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e o Decreto no 201, de 26 de agosto de Trata-se de ato administrativo discricionário, que se submete à análise de conveniência e oportunidade pela Administração Pública. 11. Neste ponto, cabe transcrever trecho da ementa de acórdão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, proferido na AC : 1. É do poder discricionário da Administração Pública conceder ou não o benefício do afastamento do servidor público para estudo no exterior Constituindo-se em ato discricionário, a autorização para afastamento do servidor para ocupar posto em organismo internacional é passível de revogação, desde que esteja presente o interesse público. 1 DJU 02/10/2002 pág

4 13. Neste sentido é a lição de José dos Santos Carvalho Filho: É o poder discricionário da Administração que constitui o fundamento do instituto da revogação. A respeito, é de anotar-se que a Administração dispõe de tal poder para rever a sua atividade interna e encaminhá-la adequadamente à realização de seus fins específicos. Dimana desse fundamento que há uma correlação entre a discricionariedade que inspira a criação do ato e a que conduz à sua revogação. É dizer: como regra, são suscetíveis de revogação os atos discricionários. Simples é a razão: como estes foram praticados à luz de certas condições de fato, pertinentes à conveniência e oportunidade, alteradas tais condições, pode ser revogado o ato. Haverá, como veremos adiante, exceções a esta regra, mas nem por isso podemos deixar de considerá-la aplicável à maioria dos casos Nesta mesma linha de entendimento, cabe citar julgado do Tribunal Regional Federal da 1ª Região na AMS : 2. Nos termos dos arts. 95 e 96 da Lei nº 8.112/90, a cessão de servidor tem natureza de ato discricionário, submetido ao crivo da conveniência e oportunidade da Administração, e configura afastamento de caráter temporário e precário, que pode ser revertido a qualquer momento, sem risco de ofensa a eventual direito adquirido. (Precedente desta Corte: AMS nº /PA, rel. Juíza Maria José de Macedo Ribeiro (conv.), 2ª Turma, DJ de 29/11/2000, p. 8.) Também admitindo a possibilidade de interrupção de afastamento de servidor público, desde que presente o interesse público, é pertinente transcrever outra decisão do TRF da 1ª Região, desta vez na AC : 2 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 14ª ed. Lumen Juris. Rio de Janeiro: 2005, pág DJ 12/2/2007 pág. 62 4

5 1. Embora insira-se na órbita do poder discricionário, a interrupção da licença para trato de interesses particulares pela Administração, nos termos do 1º do artigo 91 da Lei nº 8.112/90, deve necessariamente se dar por interesse do serviço, devendo esse ato, como todo ato administrativo, ser adequadamente motivado (TRF 1ª Região, AC /BA, Rel. Juiz Plauto Ribeiro, Primeira Turma, DJ de 07/10/1991, p.24577; TRF 2ª Região, Processo /RJ, Primeira Turma, Relator: Juiz Ricardo Regueira, DJU data: 14/03/2002, página 278) Assim sendo, havendo relevante interesse público, é possível a revogação do ato que autorizou servidor público a se afastar do país para trabalhar em organismo internacional. 17. Neste ponto, cabe transcrever trecho da obra de Celso Antônio Bandeira de Mello: O motivo da revogação é a inconveniência ou inoportunidade do ato ou da situação gerada por ele. É o resultado de uma reapreciação sobre certa situação administrativa que conclui por sua inadequação ao interesse público. É a conseqüência de um juízo feito hoje sobre o que foi produzido ontem, resultando no entendimento de que a solução tomada não convém agora aos interesses administrativos. Pouco importa que o agente entenda que a decisão anterior foi conveniente à Administração No caso em tela, os Memorandos nº 022/06 e 080/06 (fls. 42/46) explicitam com clareza as relevantes razões de interesse público que exigem o retorno imediato do servidor em gozo de afastamento. 4 DJ 30/10/2006 pág MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 21ª ed. Malheiros, São Paulo: 2006, pág

6 19. Portanto, ainda que não estejam concluídos os trabalhos a serem desenvolvidos pelo servidor público no exterior, a Administração pode revogar a autorização de afastamento, desde que o faça com a devida motivação no interesse público. À consideração superior. Brasília, 09 de maio de FELIPE NOGUEIRA FERNANDES ADVOGADO DA UNIÃO De acordo. Ao Sr. Consultor Jurídico. Em / /2007. ANA PAULA PASSOS SEVERO Coordenador-Geral Jurídico de Recursos Humanos I. Aprovo. Retornem os autos para a SRH/MP. Em / /2007. WILSON DE CASTRO JUNIOR Consultor Jurídico 6