TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL Agravo de Instrumento nº 0005022-49.2014.8.19.0000 Agravante: Município de Três Rios Agravado: Gabriel Estanislau da Rocha Alves Relator: Des. Elton Leme AGRAVO DE INSTRUMENTO. OBRIGAÇÃO DE FAZER. MENOR IMPÚBERE. FORNECIMENTO DE VACINA. DOENÇA RESPIRATÓRIA. TUTELA ANTECIPADA DEFERIDA. PRESENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS. APLICAÇÃO DO VERBETE 59 DA SÚMULA DO TJRJ. MULTA DIÁRIA COMPATÍVEL COM OS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. DECISÃO MANTIDA. 1. Interposição de recurso contra decisão singular que concedeu a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional para garantir o fornecimento, pelo ente estatal, de vacina necessária ao tratamento de doença respiratória que acomete o menor impúbere, diante da presença dos requisitos autorizadores, entendidos como a plausibilidade do direito alegado e a probabilidade de dano, com prescrição médica descrevendo a necessidade do tratamento. 2. Pretensão deduzida que encontra amparo constitucional, consoante o disposto nos artigos, 5º, caput, 196 e 198, II, da Constituição Federal. 3. Responsabilidade solidária dos entes na garantia do direito à saúde. Aplicação da Súmula 65 do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. 4. Princípios da reserva do possível e da impessoalidade não violados. 5. Decisão que não se mostra
teratológica, contrária à lei ou à evidente prova dos autos. Aplicação do verbete da Súmula 59 do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. 6. A urgência no fornecimento do tratamento obsta a dilatação de prazo fixado pelo juízo singular. 7. Multa diária proporcional ao objetivo das astreintes, pois confere cunho coercitivo à decisão judicial. 8. Recurso a que se nega seguimento, nos termos do art. 557, caput, do CPC. DECISÃO Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão proferida pelo Juízo da 2ª Vara da Comarca de Três Rios que, em ação de obrigação de fazer, deferiu o pedido de antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional para que o réu, ora agravante, forneça ao autor, menor impúbere representado por sua genitora, a vacina Imunoderm, mencionada no laudo médico, no prazo de dez dias, sob pena de multa diária no valor de R$ 100,00 e em crime de desobediência. Em suas razões, sustenta o agravante, em resumo, a inexistência de fumus boni iuris quanto ao fornecimento da vacina postulada, pois o agravado é portador de alergia respiratória e o médico que prescreveu o medicamento indica que este necessita de tratamento de imunoterapia. Afirma que a rede do SUS contempla uma gama de medicamentos para a patologia do agravado. Ressalta que a medicação prescrita não tem eficácia comprovada nos tratamentos com imunoterapia e, por ser comercializada diretamente no consultório do médico, não está disponível na rede do SUS. Alega que a vacina não possui registro na Anvisa e que isso impossibilita sua
aquisição pelo agravante. Menciona a ausência de caráter emergencial. Salienta que a multa imposta afigura-se onerosa. Acrescenta que não se pode admitir a aquisição de tal medicamento em prol de uma só pessoa, em detrimento da aquisição de vários medicamentos indispensáveis à saúde outras. Postula a atribuição de efeito suspensivo. Dessa forma, requer a reforma da decisão agravada, revogando-se a antecipação da tutela. É o relatório. Passo a decidir. Para a concessão das tutelas de urgência faz-se necessária a comprovação de seus requisitos autorizadores, entendidos como a verossimilhança das alegações e o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação. Destaca-se que a concessão da tutela antecipada é feita por meio de cognição sumária, com análise superficial dos elementos probatórios. Por certo, no início do processo, não se pode exigir uma prova robusta ou tampouco uma análise aprofundada dos fatos, o que apenas será possível com a posterior dilação probatória. Sob essa perspectiva, restaram comprovados os requisitos para a concessão da tutela antecipada, entendidos como o fumus boni iuris e o periculum in mora. As alegações formuladas pela parte autora na inicial são verossímeis, denotando a probabilidade do direito alegado pelo agravado,
preenchendo assim o requisito do fumus boni iuris, sob a leitura dada pelo artigo 273 do CPC, a respeito da necessidade de ser submetido ao tratamento de imunoterapia, por ser portador de alergia respiratória, conforme laudo apresentado por médico conveniado ao SUS. Cumpre destacar que a pretensão deduzida encontra amparo constitucional, consoante o disposto nos artigos 5º, caput e 196, da Constituição Federal. Desse modo, demonstrado que o menor sofre de alergia respiratória grave, é necessário o fornecimento pelo Poder Público da vacina adequada à sua especial condição. Salienta-se que não há impedimento para que o agravante, dando cumprimento à decisão judicial, forneça o medicamento ao autor, haja vista a necessidade de preservar a vida da parte, conforme indica o atestado médico acostado ao pedido. Ressalte-se a solidariedade entre os entes públicos, por força da regulamentação prevista na Lei nº 8.080/90, conforme verbete sumular nº 65, deste Tribunal de Justiça. Nesse passo, o periculum in mora, interpretado como probabilidade de dano irreparável ou de difícil reparação, é inquestionável. Isso porque diante do quadro clínico mencionado na petição inicial pela parte, torna-se induvidosa a necessidade da internação.
Observe-se que somente o profissional médico pode atestar se o medicamento pretendido é o recomendado para o tratamento de saúde do paciente, sendo irrelevante o fato de não figurar na listagem padronizada da Anvisa. Logo, não é outra a conclusão possível sobre o primeiro requisito, sendo inegável a possibilidade de dano irreparável não somente à saúde, mas à preservação de sua própria vida do agravado. Do mesmo modo, não há que se falar em violação ao princípio da impessoalidade, tendo em conta que a decisão recorrida impôs condenação ao agravante ao fornecimento de medicamento necessário ao tratamento da doença que acomete o agravado, menor impúbere, sem que a parte seja beneficiada em detrimento de outras pessoas, notadamente porque a garantia constitucional se estende a todos aqueles que necessitem de sua proteção. Ademais, o serviço público de assistência à saúde deve ser integral, nos termos do art. 198, II, da Constituição Federal, descabendo restrições que delimitem o fornecimento de medicamentos necessários ao tratamento de saúde do administrado. Igualmente, a Lei nº 8.069/90 que promove a proteção integral da criança e do adolescente estabelece no seu art. 4º que é dever do Poder Público assegurar com absoluta prioridade a efetivação dos direitos
referentes à vida e à saúde, dentre outros. Assim, o pleito de revogação da antecipação dos efeitos da tutela não merece prosperar, haja vista a possibilidade de dano à saúde da parte autora caso não seja fornecido o tratamento necessário, afigurando-se razoável, na hipótese, o prazo fixado. conforme o seguinte julgado: Nesse sentido é o posicionamento deste Tribunal de Justiça, AGRAVO INTERNO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU SEGUIMENTO AO RECURSO, NOS TERMOS DO ART. 557, CAPUT, DO CPC. RECURSO DE AGRAVO INTERNO DE MÉRITO PRÓPRIO, ORA DIALOGANDO COM OS REQUISITOS GENÉRICOS DA APLICAÇÃO DO ART 557 DO CPC, ORA COM O PRÓPRIO MÉRITO DO RECURSO ORIGINÁRIO. ESSÊNCIA INFRINGENTE DO RECURSO DE AGRAVO INTERNO - NECESSIDADE DE LEVAR AO COLEGIADO DECISÃO MONOCRÁTICA PROFERIDA PELO RELATOR - DECISÃO UNIPESSOAL QUE DEVE SER MANTIDA JÁ QUE PREENCHEU OS REQUISITOS PARA A SUA APLICAÇÃO. NO MÉRITO - PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER AGRAVO DE INSTRUMENTO - ANTECIPAÇÃO DE TUTELA DEFERIDA - PARTE AUTORA COM
DIAGNÓSTICO DE RINITE ALÉRGICA - PEDIDO DE FORNECIMENTO DE VACINA DESSENSIBILIZANTE SUBLINGUAL COM ALERNÉGICOS INALÁVEIS - DIREITO À VIDA E À SAÚDE - DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA - NECESSIDADE COMPROVADA - AUSÊNCIA DE PROVA QUE REFUTE A ALEGAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA - VERBETE N.º 65, DESTE EGRÉGIO TRIBUNAL RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ENTRE OS ENTES DA FEDERAÇÃO - PLEITO RECURSAL DE AUSÊNCIA DE VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES AUTORAIS - MANUTENÇÃO DE DECISÃO - INCIDÊNCIA DA SÚMULA 59 TJRJ - DECISÃO QUE SE MANTÉM. RECURSO PRINCIPAL QUE RESTOU ASSIM SUBEMENTADO: "1. Decisão que deferiu a antecipação de tutela, para que a parte ré forneça a vacina requerida no prazo de dez dias, sob pena de busca e apreensão de valores. 2. Preenchidos os requisitos para a tutela antecipada, visto que há prova inequívoca dos fatos arrolados na inicial, bem como verossimilhança da alegação da parte e fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação. 3. Parte autora com diagnóstico de rinite alérgica, necessitando com urgência de vacina dessensibilizante sublingual com alernégicos inaláveis. 4. Direito à saúde que está intimamente ligado ao princípio da dignidade da pessoa humana (arts. 1º, III e 5º, da CRFB/88). 5. A Carta Magna, em seu artigo 196, atribui ao Estado lato sensu o dever de
assegurar à coletividade o direito à saúde. 6. A matéria apreciada no presente recurso é inclusive objeto do verbete nº 65 da Súmula deste Egrégio Tribunal de Justiça, que reconheceu a solidariedade entre a União, os Estados e os Municípios na garantia do direito à saúde. 7. Incidência do Enunciado nº 6 do Aviso nº 51/2006 do Encontro de Juízes de Fazenda Pública deste Estado, in verbis: " Descumprida a ordem judicial de entrega de medicamentos serão ordenadas as seguintes providências: (a) busca e apreensão; (b) multa pessoal da autoridade responsável pelo cumprimento da obrigação, nos termos do art. 14, parágrafo único, do Código de Processo Civil; (c) extração de peças para o Ministério Público, pelo crime, em tese, de prevaricação, sem prejuízo da apuração de possível prática de ato de improbidade administrativa". 8. Precedentes jurisprudenciais desta E. Câmara e do Tribunal. 9. Aplicação da súmula 59, do TJRJ, haja vista que a decisão não é teratológica e nem contrária a prova dos autos." NEGA-SE PROVIMENTO AO AGRAVO INTERNO. (grifo nosso) (0002055-65.2013.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - DES. MARCELO LIMA BUHATEM - Julgamento: 21/08/2013 - QUARTA CÂMARA CÍVEL). Além disso, consoante disposto na Súmula 59 deste Tribunal, somente se reforma a decisão concessiva ou não da antecipação de tutela,
se teratológica, contrária à Lei ou à evidente prova dos autos. Isso porque as decisões relativas à antecipação de tutela subordinam-se a juízo de aferição do magistrado na causa, como ressaltado na exposição de motivos da súmula acima transcrita. No tocante a alegação de prazo exíguo para o cumprimento da antecipação da tutela deferida, o pleito de dilação do prazo não merece prosperar. Isso porque, o laudo médico aponta a urgente necessidade da submissão do menor agravado ao tratamento prescrito pelo médico, tornandose induvidosa a possibilidade de dano à saúde da parte. Assim sendo, o fornecimento do medicamento recomendado deve ser realizado no prazo fixado pelo juízo singular. Por fim, com relação à multa diária no valor de R$100,00, aplicada pelo juízo monocrático, nos termos do art. 461, do CPC, diante da hipótese versada nos autos, sua fixação se mostra adequada e proporcional ao objetivo das astreintes, sendo hábil a cumprir o seu cunho coercitivo, que, neste caso, é induzir ao cumprimento da obrigação de fornecer os medicamentos, sendo certo que valor inferior implicaria em, de forma transversa, estimular o descumprimento da decisão judicial. Portanto, nada há para reparar na decisão recorrida. Outrossim, dispõe de forma cogente, o artigo 557, caput, do CPC que o relator negará seguimento a recurso manifestamente
inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou do Tribunal Superior. do artigo 557, caput, do CPC. Por todo o exposto, nego seguimento ao recurso, nos termos Rio de Janeiro, 26 de março de 2014. Des. Elton M. C. Leme Relator