MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO PGT/CCR/Nº 3381/2010 INTERESSADOS: PIRELLI PNEUS S/A ASSUNTO: OUTROS TEMAS EMENTA: MEIO AMBIENTE DE TRABALHO. SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR. DOENÇA OCUPACIONAL. CONCLUSÃO DA INVESTIGAÇÃO. Denúncia de irregularidades no meio ambiente do trabalho geradoras de doença ocupacional tem relevância e necessidade urgente de aferição e conclusão baseadas em constatação de profissionais da área, por meio de laudo pericial e, não somente com base em manifestação da empresa. RELATÓRIO Trata-se de procedimento preparatório instaurado após o encaminhamento pela Subdelegacia do Trabalho em Campinas noticiando que na Pirelli Pneus S.A há desrespeito a normas de saúde do trabalhador, além do excesso de jornada. A empresa juntou documentos ao longo da investigação que foram submetidos à perícia da PRT 15ª Região, fls 363/367, em 29 de abril de 2009. Os documentos são antigos, os mais novos datam do ano de 2006. Da análise dos laudos, ainda restam irregularidades a corrigir, como a condição ergonômica, exposição a substância cancerígena (nitrosamina) e a negro de fumo, exposição ao calor e ao ruído. Apontou ainda itens cuja aferição precisa ser periódica, como a exposição a benzeno, tolueno, xileno e nafta.
O Centro de Referência em Saúde do Trabalhador CEREST, da Prefeitura de Campinas informaram, fls 433/434, que desde 1999 o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador - CRST de Campinas atende trabalhadores da Pirelli com doenças relacionadas ao trabalho. Em diversas inspeções foram detectados riscos à saúde do trabalhador, dentre eles o risco ergonômico, exposição ao calor e excesso de jornada de trabalho o que acarretam diagnóstico de LER e lombalgias de esforço. Informa ainda que foram impedidos de realizar seu trabalho de vistoria nas instalações da empresa e que o trabalhador paciente do Centro foi demitido logo após o incidente. A empresa foi chamada para esclarecimentos e alegou o fim das irregularidades, fls 511/517. Justificou a demissão do empregado como exercício do poder diretivo do empregador e que a área de trabalho e as suas condições sofreram várias mudanças desde os laudos estudados. Afirmam que a jornada excessiva não existe mais. Apresentaram planilha de melhorias (Volume 1, Anexo 4) onde refutam o laudo pericial do Analista Processual da PRT. O Procurador do Trabalho Guilherme Duarte da Conceição promoveu o arquivamento do feito (fl. 519/522) entendendo que foram tomadas as providências necessárias para regularizar as atividades da empresa e que as novas denúncias referem-se a irregularidades do ano de 2006 cujos danos deverão ser apurados individualmente. 2
Após intimado, o CEREST, fls 529/531, apresenta recurso à decisão de arquivamento esclarecendo que as denúncias novas tratam do ano de 2009 e dentre elas incluem falta de emissão de CAT, irregular emissão de atestado médico e demissões arbitrárias. Em despacho, fls 533/534 o Procurador do Trabalho oficiante mantém o arquivamento argumentando que as novas denúncias caracterizam assédio moral e que as denúncias que dizem respeito ao meio ambiente de trabalho foram comprovadas pela empresa quando refutou o laudo do Analista Pericial. Certidão exigida pelo Parágrafo Único do Art. 10-A da Resolução 69/207, presa à contracapa. VOTO Embora tenha sido apresentada documentação pela empresa considero prematuro o arquivamento. O que se depreende dos autos é que há prática continuada de descumprimento de normas de saúde e segurança na empresa investigada. Foram feitas denúncias de risco ergonômico, exposição ao calor e excesso de jornada de trabalho o que acarretam diagnóstico de LER e lombalgias de esforço como herniações de disco intervertebral, tendinites, epicondilites e neuropatias. Essas denúncias foram duplamente confirmadas por laudo do CEREST, fls 432/434 e laudo pericial da PRT 15ª Região, fls 363/367. 3
A empresa investigada, em novembro de 2009, juntou farta documentação alegando que foram operadas várias alterações para a melhoria das condições de trabalho e no maquinário (volume 1, anexo 4). Porém, em março de 2010, data do recurso, o CEREST reiterou as irregularidades referentes à conduta da empresa em relação aos trabalhadores adoentados. Some-se a isso que o fim das irregularidades foi constatada por documentação apresentada pela empresa e que não foram submetidas à apreciação dos especialistas analistas periciais. Tais fatos não asseguram cumprimento satisfatório de todas as irregularidades denunciadas. A declaração do CEREST pode significar que ainda há excessiva exposição a agentes nocivos à saúde do trabalhador, principalmente com base nas críticas apontadas no laudo de fls 363/367: há irregularidades das condições ergonômicas, exposição a substância cancerígena (nitrosamina) e a negro de fumo, exposição ao calor e ao ruído. Apontou ainda o CEREST outros itens que dependem de aferição precisa e periódica, como a exposição aos benzeno, tolueno, xileno e nafta. A atuação ministerial precisa ser preventiva para que irregularidades futuras sejam evitadas. Conforme manifestação do órgão de saúde do trabalhador da Prefeitura de Campinas há ainda trabalhadores que padecem de males profissionais em decorrência das condições oferecidas pela Pirelli Pneus S.A, o que justifica nova fiscalização/inspeção minuciosa. Ao menos os documentos 4
apresentados deveriam ter sido submetidos a análise do especialista da PRT. Assim, diante da gravidade da persistência das irregularidades denunciadas, da provável existência de outras irregularidades em outros estabelecimentos, entendo conveniente o prosseguimento das investigações. Diante do exposto, NÃO HOMOLOGO a promoção de arquivamento Deixo, no momento, de aplicar o inciso II, 4º, Art. 10, Resolução nº69/07, devendo a designação atender às práticas da Regional. Brasília, 28 de abril de 2010. Maria Aparecida Gugel Coordenadora da CCR 5