PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA GABINETE DO DESEMBARGADOR JOSÉ RICARDO PORTO ACÓRDÃO AGRAVO DE INSTRUMENTO N 001.2010.009.721-9/001. Relator : Des. José Ricardo Porto, Agravante : Pedro Vieira Pereira. Advogado : Francisco Nunes Sobrinho. Agravado : Hiper Botnpreço S/A. Advogado : Veruska Maciel Cavalcante e Sérgio Alberto Ribeiro Bacellar. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO. NÃO COMPARECIMENTO DO PROMOVENTE E RESPECTIVO PATRONO. APRESENTAÇÃO DE ATESTADO MÉDICO POSTERIORMENTE. AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO DA ENFERMIDADE (CID). PROVA INSUFICIENTE. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO DEMONSTRADO. DESPROVIMENTO DO RECURSO INSTRUMENTAL. - Não há como reconhecer o atestado médico apresentado como meio hábil a justificar a ausência do autor à audiência, uma vez que fora apresentado em momento inoportuno, em afronta ao previsto pelo 1 do art. 453 do Código de Processo Civil. - "Deve constar no corpo do atestado o Cid. Código Internacional de Doenças, pois não é qualquer atestado que deve merecer a confiança do Juiz. Atestado incompleto não pode prevalecer perante a justiça. O Juiz não está obrigado a deferir todos os requerimentos para a realização de provas. (..)." (TJPB; AC 2002.005250-7; Campina Grande; Terceira Câmara Cível; Rel. Des. João Antônio de Moura; Julg. 19/08/2002; DJPB 28/08,2002). - "Rejeitada preliminar de nulidade de sentença por cerceamento de defesa, posto que o envio da petição por parte da apelante, dando conta de seu estado de saúde, se deu em momento posterior ao início da audiência, da qual as advogadas das partes foram devidamente intimadas. Outrossim, o atestado médico da apelante não serve para também justificar a ausência da advogada, que poderia ter comparecido e requerido a redesignação. (...). Provimento negado." (TJES; AC 30099080803; Segunda Câmara Cível; Rel. Des. Subst. Fernando Estevam Bravin Ruy; DJES 14/09/2011; Pág. 42). VISTOS, relatados e discutidos os autos acima referenciados. AC O RD Aa Primeira Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, conhecer e negar provimento ao Agravo de Instrumento.
RELATÓRIO Trata-se de Agravo de Instrumento com Pedido de Efeito Suspensivo interposto por Pedro Vieira Pereira, contra decisão de fls. 06, que indeferiu requerimento de redesignação de audiência, nos autos da "Ação de Indenização por Danos Materiais e Morais" movida em face do Hiper Bompreço S/A. No decisum agravado, o MM. Juiz a (pio, rejeitou o pleito de remarcação de audiência de instrução e julgamento, a qual o recorrente nem o seu patrono compareceram. Na oportunidade, o Magistrado justificou sua posição afirmando que a declaração de impedimento de comparecimento à audiência deve ser feita antes do seu início. Ademais, o atestado médico apresentado (fls.29) não justificaria a ausência do promovente, uma vez que não indica a patologia (doença) - sofrida. Em suas razões (fls. 02/05), o agravante afirma que o entendimento proferido fere o princípio do devido processo legal e da ampla defesa, pois o problema de saúde ocorreu momentos antes do início do declinado ato processual, só sendo possível apresentar o atestado médico após o ato. Ademais, quanto à ausência de indicação da doença (CID). defende a inexistência de obrigatoriedade de tal informação. Ao final, requer liminarmente a suspensão do decisório combatido, de forma a impedir o julgamento da ação. No mérito, pugna pelo provimento do recurso. Pedido de efeito suspensivo deferido às fls. 32/35. Contrarrazões apresentadas (fls. 40/46). Informações não fornecidas (vide certidões de fis.74 e 84). Parecer pelo desprovimento da súplica (fls.87/88). É o relatório. VOTO Exmo. Des. José Ricardo Porto Infere-se dos autos que o recorrente não compareceu a audiência de instrução e julgamento designada no processo principal, e realizada em 10 de agosto de 2011, não avisando o seu patrono acerca do motivo do impedimento, conforme orienta o artigo 453, 1, do Código de Processo Civil'. Segundo informa a peça recursal, a ausência acima citada teria se dado pelo fato de o agravante ter padecido de um "problema sério de saúde, sendo levado às pressas para um 1 Art. 453. A audiência poderá ser adiada: I - por convenção das partes, caso em que só será admissivel uma vez; [1- se não puderem comparecer, por motivo justificado, o perito, as partes, as testemunhas ou os advogados. I o Incumbe ao advogado provar o impedimento até a abertura da audiéncia; não o fazendo, o juiz procederá à instrução. Ag. Instrumento n 001.2010.009721-
dos hospitais de Campina Grande-Pb, onde após receber um tratamento médico e passar por um período de repouso, foi orientado pelo médico, que deveria ficar afastado de suas atividades por um período de 02 (dois), tudo conforme Atestado Médico nos autos" (fls. 03). Diante do ocorrido, apenas em 15 de agosto de 2011 foi apresentado atestado médico, tendo o ora requerente solicitado o aprazamento de uma nova audiência, o que foi indeferido pelo julgador originário, dando ensejo a inconformação em apreço. Pois bem, analisando a situação fática apresentada, a justificativa autoral só deve ser considerada acaso demonstrada cabalmente a excepcionalidade ventilada. No entanto, não são poucas as razões que me fazem concordar com a conclusão do Magistrado a quo Primeiramente, verifico que o laudo que justificaria a ausência do autor, apesar de lavrado no mesmo dia do ato judicial, fora apresentado 05 (cinco) dias depois da sua realização, o que leva a concluir pela preclusão, tendo em vista que deveria ser fornecido ao Juizo, ou ao menos comunicado, no mesmo dia. Sobre o assunto, segue a jurisprudência: "JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DA PARTE RÉ NA AUDIÊNCIA. APRESENTAÇÃO DE JUSTIFICATIVA TARDIA. REVELIA ADEQUADAMENTE DECRETADA. EFEITOS. PRELIMINAR DE NULIDADE REJEITADA. INDENIZAÇÃO DE DANO MORAL RAZOÁVEL E PROPORCIONAL RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. I. A juntada de justificativa da ausência ao ato formal deve ocorrer antes ou no momento da audiência. Na hipótese, foi realizada após a prolação da sentença, dando causa à preclusão. A par da justificativa tardia, o atestado juntado àfl. 32 não serviria ao propósito da recorrente, haja vista o entendimento consolidado de que não é aceitável justificativa "baseada em atestado médico lacônico" (apelação cível no juizado especial 20050111051540acj DF; relator. Jesuíno rissato). Preliminar de nulidade rejeitada. (...)." (TJDF; Rec 2011.01.1.137248-3; Ac. 581.453; Terceira Turma Recurso] dos Juizados Especiais do Distrito Federal; Rela Juíza Sandra Reves \lasques Tonussi; DJDFTE 26/04/2012; Pág. 175). "CONSUMIDOR. REPARAÇÃO CIVIL. AQUISIÇÃO DE M4. ()UDU DE COSTURA. VÍCIO DE QUALIDADE - PRODUTO BARULHENTO. REVELIA. JUSTIFICATIVA DE AUSÊ.VCIA APRESENTADA APÓS PROLAÇÃO DE SENTENÇA EM TEMPO EXCESSIVAMENTE SUPERIOR AO AFASTAMENTO POR MOTIVO DE SAÚDE. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO VERIFICADO. DECADÊNCIA. Impõe-se levantar os efeitos da revelia em face da justificativa de ausência à audiência, conforme atestado médico que sugeriu afastamento de um dia (folha 23). Todavia, impossível anular a sentença por cerceamento de defesa, porquanto justificativa foi apresentada após prolação da sentença em tempo excessivamente superior ao afastamento sugerido. (..)." (MS; RecCv 50245-39.2011.8.21.9000; Porto Alegre; Primeira Turma Recursal Cível; Rel, Des. Leandro Raul Klippel; Julg. 26/01/2012; DJERS 31/01/2012). Ag. Instrumento n 001.2010.009
"APELAÇÃO CÍVEL. ALIMENTOS. AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO. AUSÊNCIA INJUSTIFICADA DO AUTOR. EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO. IMPOSSIBILIDADE. SENTENÇA REFORMADA. 1. No caso em comento, o autor, ora apelante, não compareceu à audiência de conciliação e julgamento, embora devidamente intimado. 2. O rito da ação de alimentos é especial e previsto pela L. 5.478/68, cujo art. 6 prevê que a audiência é de conciliação e julgamento, onde deverão fazer-se presentes as partes, independentemente de intimação e de comparecimento de seus representantes. 3. Não há como reconhecer o atestado médico de fl. 173 como meio hábil a justificar a ausência do autor à audiência, uma vez que fora apresentado em momento inoportuno, ou seja, dois dias após a realização do ato, em afronta ao previsto pelo 1 do art. 453 do CPC. 4. O processo não poderia ter sido extinto sem julgamento de mérito, mas arquivado, de forma, inclusive, a contemplar o principio da economia processual (art. 7, L. 5.478/68) V. Recurso conhecido e provido. Sentença reformada." (TJCE; APL 5816-76.2000.8.06.0112/1; Terceira Câmara Cível; Rel. Des. Washington Luis Bezerra de Araújo; DJCE 17/06/2011; Pág. 53). "APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DIVÓRCIO LITIGIOSO. Requerida devidamente citada que não apresentou contestação. Decretação da revelia. Posterior intimação para comparecimento das partes à audiência de instrução e julgamento. Apresentação de atestado médico pleiteando o adiamento do ato após aberta a audiência. Pedido rejeitado nos termos do art. 453 inciso II e 1 0 do CPC. Sentença mantida. Recurso conhecido e improvido. Decisão unânime. (..)." (TJSE; AC 2007215439; Ac. 3029/2008: Primeira Câmara Cível; Rel. Des. José Alves Neto; DJSE 30/05/2008; Pág. 9). Somado ao fato acima, cumpre destacar que o elemento probatório fornecido não informa a enfermidade (CID) pela qual passou o recorrente, situação que enfraquece sua alegação. Ora, se o interessado afirma ter sofrido uma enfermidade, chegando a ser internado em casa de saúde, o mesmo poderia perfeitamente informar o mal sofrido, seja através de atestado, ou mesmo através de cópias dos prontuários hospitalares, o que não ocorreu no caso. Os precedentes a seguir corroboram com a situação ora levantada: "AÇÃO DE COBRANÇA RÉU NÃO COMPARECEU NA AUDIÊNCL4 DE INSTRUÇÃO DESIGNADA, PARA A QUAL HAVIA SIDO ADVERTIDO DA PENA DE CONFISSÃO. Confissão fida corretamente aplicada - Petição e atestado médico sem Cid apresentado após a audiência - Insuficiência - Não interposição do agravo retido em conformidade com a disposição do 3 do art. 522 do código de processo civil - Preclusão - Desnecessidade de menção na sentença a propósito de questão já decidida e sobre a qual não foi interposto o competente recurso inexistência de nulidade - Ausência de argumento suficiente em razões recursais que possam alterar o julgamento - Recurso improvido." (TJPR; ApCiv 0624781-4; Matelândia; Sexta Câmara Cível; Rel. Des. Prestes Mattar; DJFR 19/04/2010; Pág. 186). "RECURSO INOMINADO. Pedido de restituição de valores. Honorários de advogado. Audiência de instrução. Ausência de ambas as partes à.4g. Instrumento n 0972i-9/00J 4 \
solenidade. Indeferimento da justificativa do autor, pelo fato de que o atestado médico não constava o "Cid" da enfermidade. Deferimento da justificativa da autora..decretação da revelia. Sentença descontituida, anulando-se o feito, até a audiência de instrução. Deram provimento ao recurso." (TJRS; RCiv 71002079606; Porto Alegre. Primeira Turma Recursal Cível; Rel. Des. Leandro Raul Klippel; Julg. 19/11/2009; DJERS 26/11/2009; Pág. 157). "APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO EM PRÉDIO URBANO C/C ORBIGAÇÃO DE FAZER. DIREITO DE VIZINHANÇA. FALTA DE REPAROS EM PRÉDIO CONFINANTE. DANOS MATERIAIS SOFRIDOS. INDENIZAÇÃO DEVIDA. OBRIGAÇÃO DE FAZER. CONSERVAÇÃO DE PRÉDIO VIZINHO. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. APELO. AUDIÊNCIA REALIZADA EM DL1 DE SÁBADO, BEM COMO INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE ADIAMENTO COM BASE EM ATESTADO MÉDICO. AUSÊNCIA DE CONTRADITÓRIO, FACE A NÃO REALIZAÇÃO DE PERÍCIA OU VISTORIA. CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. DESPROVIMENTO. Os atos processuais realizados nos finais de semana, através dos mutirões feitos pelo Poder Judiciário deste Estado, são por demais necessários, pois a população necessita de uma prestação jurisdicional mais célere, o que está ocorrendo com o funcionamento normal da justiça paraibana nos fins de semana. Deve constar no corpo do atestado o Cid. Código Internacional de Doenças, pois não é qualquer atestado que deve merecer a confiança do Juiz. Atestado incompleto não pode prevalecer perante a justiça. O Juiz não está obrigado a deferir todos os requerimentos para a realização de provas. Ao firmar seu convencimento, pode o magistrado dispensar a produção das demais provas, julgando o feito com base nos documentos constantes dos autos. Desprovimento do recurso." (TJPE; AC 2002.005250-7; Campina Grande; Terceira Câmara Cível; Rel. Des. João Antônio de Moura; Julg. 19/08/2002; DJPB 28/08'2002). Além da motivação acima, constato Que o próprio advogado do aqravame também não esteve presente à audiência realizada, tendo em vista que o mesmo poderia informar a impossibilidade do comparecimento de seu constituinte, cabendo ressaltar que a ausência deste não justifica a não participação daquele aos atos processuais, conforme salienta o aresto abaixo: "PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO MONITORIA. REJEITADA PRELIMINAR DE NULIDADE DE SENTENÇA POR CERCEAMENTO DE DEFESA. PETIÇÃO PROTOCOLIZADA APÓS O INÍCIO DA AUDIÊNCIA. AUSÊNCIA DE JUSTICATIVA PARA O NÃO COMPARECIMENTO DA ADVOGADA DA PARTE. INEXISTÊNCIA DE PROVA DE MÁ FÉ DO POSSUIDOR DOS CHEQUES. PARTICULARIDADES QUE MO PODEM SER OPOSTAS CONTRA TERCEIRO DE BOA FÉ. RECURSO CONHECIDO. PROVIMENTO NEGADO. 1. Rejeitada preliminar de nulidade de sentença por cerceamento de defesa, posto que o envio da petição por parte da apelante, dando conta de seu estado de saúde, se deu em momento posterior ao início da audiência, da qual as advogadas das partes foram devidamente intimadas. Outrossim, o atestado médico da apelante não serve para também justificar a ausência da advogada, que poderia ter comparecido e requerido a redesignação. (..). Provimento negado." (TJES; AC 30099080803; Segunda Câmara Cível; Rel. Des. Subst. Fernando Estevam Bravin Ruy: DJES 14/09/2011; Pág. 42). Ag. Instrumento n 001.201 001 5
Ante o exposto, não enxergo o cerceamento de defesa alegado pelo recorrente, devendo o decisório impugnado ser mantido. Diante dessas considerações, DESPROVEJO o recurso. É como voto. Presidiu a sessão o Excelentíssimo Desembargador José Ricardo Porto. Participaram do julgamento, além deste relator, o Exmo. Dr. Leandro dos Santos (Convocado para integrar a 1 Câmara Cível, em razão da aposentadoria do Exmo. Des. Manoel Soares Monteiro) e o Exmo. Dr. Aluízio Bezerra Filho (Juiz convocado para substituir o Exmo. Des. José Di Lorenzo Serpa). Alcoforado. Presente à sessão a Procuradora de Justiça Dra. Sônia Maria Guedes Sala de sessões da Primeira Câmara Cível "Desembargador Mário Moacyi Porto" do Egrégio Tribunal de Justiça do E ado da Paraíba, em João Pessoa, 02 de outubro de 2012. Des. José RE,1/04 e 3111 (R) Ag. Instrumento n 001.2010.009721-9/001 6
TRIBUNAL DE JUSTIÇA Diretoria Judiciária Registrado (.,rn