Comércio e desenvolvimento

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Transcrição:

Comércio e desenvolvimento Globalização comercial e vulnerabilidade externa 1

Sumário 1. Exportação de commodities 2. Substituição de importações 3. Integração regional 4. Globalização comercial e vulnerabilidade externa 5. Comércio e setores dominantes 6. Negociações multilaterais 7. Síntese 2

Bibliografia básica R. Baumann, O. Canuto e R. Gonçalves Economia Internacional. Teoria e Experiência Brasileira Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2004, cap. 5. 3

4

5

1. Exportação de commodities : problemas 1. baixa elasticidade-renda da demanda por produtos primários 2. elasticidade-preço da demanda desfavorável 3. absorção dos benefícios do progresso técnico 4. estruturas de produção retrógradas concentração / excedente / poder 6

Exportação de produtos primários: problemas (cont.) 5. efeitos negativos: concentração da riqueza e da renda grandes propriedades (vazamento / mercado interno) 6. restrição externa: commodities volatilidade de preços / instabilidade da receita de exportação 7. transmissão internacional dos ciclos econômicos 8. maiores barreiras de acesso ao mercado internacional 7

Exportação de produtos primários: problemas (cont.) 9. escalada tarifária 10. menor valor agregado 11. dumping ambiental: custos e riscos crescentes 12. dumping social: custos e riscos crescentes 8

Alguma evidência empírica recente a) Brasil: peso das commodities b) Elasticidades-preço e renda c) Produtos agrícolas: baixo dinamismo d) Produtos agrícolas: maior protecionismo e) Commodities: escalada tarifária f) Commodities: MNTs g) Commodity: valor agregado e cadeia produtiva h) Commodity: dumping ambiental i) Commodity: dumping social 9

10

a) Brasil: Participação dos 10 principais produtos de exportação (%) 11

Exportação: categoria de uso 80,0 70,0 67,1 Part. % 2015-17 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 BENS INTERMEDIÁRIOS (BI) 15,7 BENS DE CONSUMO (BC) 8,4 8,6 COMBUSTÍVEIS E LUBRIFICANTES BENS DE CAPITAL (BK) 0,1 BENS NÃO ESPECIFICADOS ANTERIORMENTE 12

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15

b) Evidência: elasticidades EUA: Elasticidades das importações Grupo de produtos Є preço da demanda Є renda da demanda Matéria-prima -0,18 0,61 Alimentos -0,21 0,30 Alimentos processados -1,40 1,28 Semimanufatur ados -1,83 1,11 Manufaturados -4,05 2,63 Total -0,88 1,42 (Houthakker e Magee, 1969, p. 21) 16

c) Produtos agrícolas: baixo dinamismo 17

d) Produtos agrícolas e animais: maior protecionismo 18

e) Escalada tarifária: couro 19

f) Protecionismo: Medidas não tarifárias Ex.:carne bovina 20

g) Cadeia produtiva e valor agregado: couro 21

h) Dumping ambiental e pecuária 22

i) Dumping social e pecuária 23

Commodities => maior vulnerabilidade externa estrutural 24

No entanto... Será que, no Brasil, foi descoberta a teoria do padrão ótimo de comércio internacional? Marco Aurélio Garcia: Estratego do governo Lula Entrevista: Por SINAL, Sindicato Nacional dos Funcionários do BACEN, Ano 3, No. 13, p. 20-27, maio 2005. 25

2. Substituição de importações Argumento da indústria nascente Longo prazo Relembrando: os países atualmente desenvolvidos (PADs) recorreram a políticas industrial, comercial e tecnológica intervencionistas a fim de promover as indústrias nascentes. (Chang, 2006, p. 210) 26

2.1 Argumento da indústria nascente A proteção gera resultados positivos no longo prazo Geração de vantagem comparativa setor específico dimensão temporal Vantagem comparativa dinâmica economias de aprendizado economias de escala 27

Economias de escala (Q) e economias de aprendizado (t) 28

2.2 ISI: Política comercial Importante instrumento Pró-ativo: strategic trade policy e ISI Impactos significativos renda emprego BOP distribuição desenvolvimento etc. 29

Protecionismo, indústria nascente nos PADs países atualmente desenvolvidos (Chang, 2006, p. 114) 30

ISI: Pontos a favor acumulação de capital economias de escala economias de aprendizado vantagens comparativas dinâmicas (sequência) necessária para romper com o modelo centro-periferia upgrade do padrão de comércio 31

ISI: Problemas ineficiência alocativa ineficiência técnica baixa contestabilidade ineficiência sistêmica concentração de riqueza e renda 32

ISI: problemas... Vulnerabilidade externa na esfera produtiva (ETs) Vulnerabilidade externa na esfera financeira Estado contaminado Governança - seletividade: temporal e setorial/produto 33

3. Integração regional eficiência alocativa restruturação produtiva economias de escala economias de aprendizado diversificação do comércio exterior balanço de pagamentos conjuntura internacional desfavorável 34

Razões não-econômicas cultural política segurança => acordos bem sucedidos: objetivos políticos 35

Questão central Qual é a importância da integração regional na América do Sul para o desenvolvimento de longo prazo do Brasil? 36

Hipótese 1: Brasil a política interna e externa do Brasil deve ter como objetivo fundamental a construção do espaço econômico e político sul-americano, sem qualquer pretensão hegemônica, com base na generosidade decorrente das extraordinárias assimetrias entre o Brasil e cada um dos seus vizinhos Samuel P. Guimarães, Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes. 2006. 37

Hipótese 2: Brasil o Brasil deve se integrar em si mesmo a integração regional é um objetivo secundário e que se realiza na dimensão bilateral Reinaldo Gonçalves, O Brasil e o Comércio Internacional, 2000. 38

4. Globalização comercial e vulnerabilidade externa estrutural liberalização e desregulamentação: reduz policy space maior contestabilidade (defesa comercial) desindustrialização reprimarização (problemas das commodities) maior integração das economias (multiplicador de comércio exterior, maior dependência em relação à demanda externa) transmissão internacional dos ciclos e crises (quantidade, preço, receita e concorrência) 39

Brasil - Grau de abertura e crescimento real do PIB: 1951-2008 (média móvel 5 anos) (Fonte: Ipeadata) 16,0 14,0 9,0 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 1951-2,0 1953 1955 1957 1959 1961 1963 1965 1967 1969 1971 5,2 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 PIB - var. real anual Grau de abertura PIB - var., média Grau de abertura, média 2003 2005 2007 Pós-1980: Grau de abertura aumenta, crescimento cai 40

Brasil: economia muito aberta em função da dependência significativa em relação à demanda externa (X) (fonte: Ipeadata) Exportações - bens e serviços - contribuição no crescimento do PIB - var., 1991-2008 2,5 2 1,5 1 0,5 0-0,5-1 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Média: 1991-9 Média 2003-2008 = 41,4% (sobre variação PIB) 41

5. Comércio e setores dominantes Agronegócio Bancos Empreiteiras 42

Algumas questões de Economia Política Financiamento de campanhas eleitorais Alocação de recursos Fortalecimento de oligarquias locais Consolidação de estruturas de produção e de poder próprias do subdesenvolvimento 43

6. Negociações multilaterais Trade-off: autonomia de política e acesso a mercado tratamento preferencial 44

45

46

OMC (Doha): posição brasileira Expressa, em grande medida, os interesses do agronegócio 47

Exemplo 1: Suspensão negociações julho 2008 produtos agrícolas Tema: produtos agrícolas: liberalização e salvaguardas para surto de importações (proteção do pequeno produtor) De um lado: Estados Unidos, EU, Brasil e alguns outros países De outro: China, Índia, Venezuela, Bolívia e mais de 100 países 48

Exemplo 2: produtos industriais Tema: redução das tarifas sobre produtos industriais (cortes maiores para países em desenvolvimento) De um lado: EUA, Brasil e alguns outros De outro: Argentina, Índia e muitos países em desenvolvimento 49

Negociações comerciais multilaterais e autonomia de política: OMC, Rodada Doha O Globo,. 27/07/2008, p. 34 50

7. Síntese Cada caso é um caso: comércio pode ser Freio Motor Epifenômeno Auxiliar Variável central: estratégias e políticas do Estado nacional 51

Rejeitando o livre comércio (Chang, 2006, p. 114) 52

Entretanto... Cuidado com o protecionismo não garante o desenvolvimento pode prejudicar o desenvolvimento Mas, pode ser elemento importante se combinado com outras políticas e aplicado em condições específicas, ex.: Seletividade e temporalidade Estado: não capturado pelos setores beneficiados diretamente 53

Experiência histórica brasileira Brasil: 1820-1930 Economia primário-exportadora café, cacau, açúcar, borracha, algodão Impulsos de industrialização passiva Comércio subdesenvolvimento 54

Experiência Brasil: ISI (1930-1979) Criação de estrutura industrial sofisticada/truncada Ineficiência sistêmica Pouca geração de emprego Concentradora de riqueza e renda Vulnerabilidade externa: esfera produtiva, tecnológica e financeira 55

Entretanto, Muito cuidado com o protecionismo que reproduz subdesenvolvimento (modernização excludente/desenvolvimento do subdesenvolvimento) 56

Brasil: 1980-2008 Modernização Agronegócio/pecuária/mineração Reprimarização das exportações Fragilidade do setor industrial Ineficiência sistêmica Política econômica externa: caudatária 57

Modelo Liberal Periférico: 1990-... Liberalização esferas comercial, produtiva, tecnológica e financeira privatização e desregulação vulnerabilidade externa estrutural capital financeiro como setor dominante 58

MLP (1990...): Resultados medíocres e vulnerabilidade externa estrutural 59

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Obrigado! 61