Brasil e o investimento internacional
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- Giovanni Beretta
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1 Brasil e o investimento internacional 1
2 Capítulo 12 2
3 Brasil: uma economia internacionalizada Historicamente: uma das mais afetadas pelo movimento internacional de fatores de produção Fator trabalho: Brasil - quarto mais importante país receptor de migrantes entre meados do século XIX e as primeiras décadas do século XX : Brasil recebeu 3,5 milhões de imigrantes 8% do total da migração internacional nesse período 3
4 Fluxos internacionais de capitais Desde a independência política do país investimento internacional tem tido um papel de destaque na evolução da economia brasileira século XIX o comportamento da economia brasileira foi muito influenciado pelas suas relações com o sistema econômico internacional sob a hegemonia britânica 4
5 Presença inglesa no Brasil ampla e profunda refletia sistema mundial marcado pela Pax Britannica que perdurou até o inicio da Primeira Guerra Mundial Brasil foi um receptor importante do investimento internacional 1913: cerca de 80% do investimento internacional da Grã-Bretanha concentrado em sete países Brasil: 7ª posição 5
6 Brasil e a divisão internacional do trabalho Brasil também tinha papel relevante na divisão internacional do trabalho fornecedor de produtos agrícolas tropicais café, cacau e borracha 6
7 7
8 Século XX-XXI - Brasil ampla e profunda inserção no sistema financeiro internacional participação intensa no processo de globalização financeira e produtiva Evidência: posição de investimento internacional (PII) expressa a diferença entre ativo externo total e passivo externo total 8
9 PII inclui investimento direto no exterior investimentos em carteira investimentos em ações e títulos de renda fixa derivativos outros investimentos crédito comercial e empréstimos moeda e depósitos ativos de reservas reservas internacionais 9
10 PII países com os maiores PII positivas são Japão, China, Alemanha e Suíça os maiores passivos são os Estados Unidos, a Espanha, a Austrália e o Brasil 10
11 11
12 PII Brasil negativa PII negativa do Brasil de US$ 738 bilhões em ª mais negativa PII no mundo piora expressiva na situação de desequilíbrio de estoque em 2006 o país ocupava a 6ª pior posição (PII negativa de US$ 365 bilhões) em cinco anos o estoque negativo expresso pela PII mais do que duplicou 12
13 PII negativa economia brasileira caracteriza-se por extraordinário desequilíbrio de estoque, que implica elevada vulnerabilidade externa financeira 13
14 Mudança secular séculos XIX e XX: variável determinante da vulnerabilidade externa financeira do Brasil: dívida externa século XXI: situação muda em decorrência dos processos de liberalização financeira e de desnacionalização (ingresso de IED) que ocorrem a partir da última década do século XX dívida externa perde posição relativa no estoque de passivo externa da economia brasileira 14
15 PII ativo externo total é US$ 829 bilhões passivo total é US$ 1556 bilhões PII negativa de US$ 727 bilhões 15
16 PII - componentes ativo externo: reserva internacional (45% do total) passivo externo: investimento estrangeiro direto (46%) investimento em ações (23%) dívida externa (outros investimentos, US$ 196 milhões): 13% do total do passivo externo 16
17 Brasil está a descoberto passivo externo total de curto prazo: US$ 722 reservas internacionais totais: US$ 373 bilhões Brasil está a descoberto no curto prazo: aproximadamente US$ 350 bilhões evidente o desequilíbrio de estoque da economia brasileira e, portanto, sua extraordinária vulnerabilidade externa estrutural 17
18 18
19 Determinantes crescimento extraordinário do passivo externo financeiro líquido explicado, em grande medida processo de privatização, principalmente, a partir de 1998 processo de liberalização das transações financeiras internacionais 19
20 Evidência aumento da abertura da conta financeira do balanço de pagamentos com a redução dos controles sobre os fluxos internacionais de capitais Índice Kaopen é usado como indicador da liberalização financeira 20
21 21
22 Índice Kaopen do Brasil dois saltos e clara tendência de aumento primeiro salto ocorre em : a partir deste ano verifica-se tendência de elevação do grau de liberalização financeira índice do Brasil supera a mediana mundial em 2005 e é praticamente igual à média mundial em
23 Liberalização financeira eclosão da crise financeira global de 2008 provoca redução da liberalização financeira em escala global 2011: índice Kaopen do Brasil um pouco abaixo da média mundial próximo da mediana mundial 23
24 Investimento externo direto no Brasil presença do Brasil entre os dez mais importantes países de destino do IED proveniente dos principais países investidores que constituem o núcleo central do sistema econômico mundial 24
25 25
26 Profunda inserção produtiva do Brasil na economia mundial Brasil é o único país em desenvolvimento presente na lista top dos Estados Unidos, Japão e Alemanha 26
27 Profunda globalização produtiva do Brasil Brasil: 12º mais importante país receptor de fluxos de IED no mundo no período
28 28
29 IED no Brasil crescimento dos fluxos de IED no Brasil foi particularmente elevado no período processo de privatização país ocupou a 6ª posição no ranking mundial de países receptores Brasil: tem absorvido, em média, 2,6% do fluxo mundial de IED 29
30 30
31 evolução dos fluxos de ingresso de IED no Brasil acompanha a evolução destes fluxos em escala mundial fase ascendente no período queda em conjuntura internacional desfavorável, desestabilização macroeconômica do Brasil e certo esgotamento do processo de privatização fase ascendente inicia-se em interrompida com a crise global de 2008 anos seguintes: recuperação dos fluxos de IED no Brasil e no resto do mundo 31
32 Empresas transnacionais no Brasil Empresa transnacional (ET): principal agente de realização do IED Censo de Capital Estrangeiro do Banco Central do Brasil evolução quanto ao número de empresas declarantes: 1995 = = = =
33 Fato relevante desde o final do século XX os fluxos de IED têm representado uma ampla e profunda desnacionalização da economia brasileira relação entre o estoque de IED e o PIB: 1995 = 5% 2000 = 16% 2005 = 18% 2010 = 27% 33
34 Historicamente empresas estrangeiras sempre tiveram papel importante na geração de renda economia brasileira apresenta o quinto maior grau de internacionalização da produção industrial no mundo 32% da produção da indústria de transformação controlada por ETs 34
35 35
36 ETs no Brasil presença bastante significativa nas indústrias mais intensivas em tecnologia respondem por uma participação substantiva das exportações de produtos mais sofisticados em termos tecnológico 50% das exportações de manufaturados 36
37 Dinâmica do IED no Brasil no longo prazo 37
38 IED no Brasil país não tem uma política seletiva de atração de IED, com base em uma avaliação de custo-benefício abertura de setores de interesse para o capital estrangeiro (cabotagem, telecomunicações, mineração, petróleo etc.) 38
39 Instabilidade macroeconômica e investimento internacional ETs no Brasil - reações estratégicas na década perdida (anos 1980) expansão das exportações racionalização de custos demissão de trabalhadores exercício do poder de mercado lucros financeiros elevados 39
40 Grande salto de desnacionalização econômica: processo amplo, rápido e profundo de desnacionalização econômica no período crescente participação do capital estrangeiro no controle da atividade produtiva relação entre o fluxo de IED e a formação bruta de capital fixo aumentou de 2,5% em 1995 para 24,6% em
41 41
42 Cont... participação estrangeira no valor bruto da produção aumentou de 13,5% em 1995 para 24,6% em 1999 participação estrangeira no valor das vendas das 550 maiores empresas aumentou de 33,3% em 1995 para 44,7% em
43 Cont... "núcleo central" do capitalismo moderno ficou ainda mais submetido às decisões de empresas com matrizes no exterior, que têm estratégias globais de investimento, inovação e produção significativa desnacionalização em setores de nontradeables 43
44 Período do salto de desnacionalização, Cont... os maiores incrementos relativos de participação do capital estrangeiro na economia brasileira são nos serviços de utilidade pública (privatização) setor financeiro (liberalização e desregulamentação) 44
45 Processo de desnacionalização continua no século XXI menos acelerada participação das ETs no PIB aumenta de 8,6% em 1995 para 12,3% em 2000 e 14,7% em 2005 avanços das ETs são mais evidentes no comércio e na agropecuária 45
46 46
47 Desnacionalização da economia: efeitos efeito balanço de pagamentos efeito soberania nacional efeito multiplicador da vulnerabilidade externa efeito fragilidade institucional 47
48 Efeito balanço de pagamentos dois terços do valor total do ingresso de capital estrangeiro no Brasil tem sido no setor de non-tradeables - serviços de utilidade pública (energia, telecomunicações, etc.) maior propensão a importar das empresas estrangeiras uso de mecanismos de preços de transferência para encobrir remessas de recursos para o exterior 48
49 Efeito soberania nacional fontes externas de poder grau de integração do sistema matrizsubsidiárias capacidade de mobilização de recursos assimetria de informação 49
50 Efeito multiplicador da vulnerabilidade externa esfera produtivo-real: crescente controle do aparelho produtivo país pelo capital estrangeiro esfera comercial: reduz o multiplicador de rendas na medida em que as empresas de capital estrangeiro têm maior propensão a importar empresas com capital estrangeiro respondem por 49,8% das importações de bens e serviços em 2010 remuneração dos empregados não-residentes representa renda líquida enviada para o exterior 50
51 Cont... esfera tecnológica: fragiliza o sistema nacional de inovações hipótese de internacionalização das atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico não passou no teste da evidência empírica empresa estrangeira tem preferência revelada por seus fornecedores globais efeitos de spill-over tecnológico no sistema produtivo nacional tendem a se reduzir com a desnacionalizaçã Resultado: aumento da dependência tecnológica 51
52 Efeito fragilidade institucional subinvestimento institucional no CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica, Ministério da Justiça) fragilização das entidades nacionais representativas (por exemplo, FIESP) avanço do processo de deterioração institucional afeta negativamente a relação custo-benefício própria às operações de ETs em países em desenvolvimento 52
53 Internacionalização de empresas e bancos brasileiros Investimento de brasileiros no exterior (IBE) concentra-se no período perde força com a eclosão da crise global em 2008 maior parte das suas filiais e subsidiárias nos EUA e na América Latina (Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai, México, Peru, Paraguai e Venezuela) 53
54 54
55 Empresas brasileiras mais internacionalizadas segundo o número de países de atuação bancos empreiteiras empresas na indústria extrativa empresas da indústria de transformação que produzem bens intensivos em recursos naturais 55
56 Determinantes do IBE fatores específicos à propriedade (firmas) fatores locacionais específicos (países) estratégias das firmas 56
57 Caso brasileiro empresas brasileiras: estoque relativamente menor de ativos específicos (capital, tecnologia, capacidade gerencial, organizacional e mercadológica) Fatores locacionais específicos apreciação cambial política de apoio BNDES rede de proteção frente ao risco-brasil política externa 57
58 Linhas de financiamento do BNDES apoio à internacionalização da produção das empresas brasileiras JBS (setor de alimentos) BNDESPar - 13,0% do capital Marfrig (setor de alimentos) BNDESPar - 14,6% do capital 58
59 Política externa brasileira determinante importante das internacionalização das empresas brasileiras estatais (com destaque para a Petrobrás) empresas privadas (por exemplo, as empreiteiras) 59
60 Proteção frente ao risco-brasil Grande diferença taxa de retorno sobre o estoque de investimentos brasileiros diretos no exterior (IBE) Versus taxa de retorno sobre os fluxos de investimentos estrangeiros diretos (IED) no Brasil Período : taxa média de retorno sobre IED = 6,3% taxa média de retorno sobre IEB = 1,2% 60
61 Vulnerabilidade externa financeira: indicadores Exemplos relação entre o valor das reservas internacionais e o valor médio mensal das importações de bens relação entre o valor das reservas internacionais e o passivo externo total 61
62 Liquidez e reservas internacionais reservas internacionais cresceram quase 5 vezes no período reservas brasileiras praticamente decuplicaram US$ 38 bilhões no final de 2002 para US$ 370 bilhões em
63 Indicador de vulnerabilidade externa relação entre o valor das reservas internacionais e o valor médio mensal das importações de bens economia mundial: 6,2 em 2002 e 7,1 em 2012 economia brasileira: 9,1 em 2002 para 19,0 em
64 Cont... conjunto de 6 países absorveu 60% do incremento total de reservas internacionais no período China, Japão, Arábia Saudita, Rússia, Brasil e Índia 64
65 65
66 Cont... Brasil: relação entre passivo externo e reservas internacionais (4,7) - alta alta vulnerabilidade externa estrutural China está em posição muito confortável: reservas internacionais são maiores do que seus passivos externos baixa vulnerabilidade estrutural na esfera financeira internacional 66
67 Custo social das reservas internacionais vulnerabilidade externa estrutural do Brasil é ainda mais grave na medida em que as reservas internacionais têm custo social elevado reservas internacionais podem ser usadas para reduzir o passivo externo e dívida pública => custo de oportunidade 67
68 Cont... custo social das reservas custo cambial diferença entre a taxa média de retorno de ativos de estrangeiros no país e a taxa média de remuneração das reservas internacionais do país custo fiscal diferença entre o custo médio da dívida pública mobiliária federal interna (DPMFi) e a taxa de remuneração das reservas internacionais 68
69 69
70 Custo cambial taxa média de remuneração das reservas internacionais = 1,9% taxa média de retorno sobre o passivo externo total = 4,1% custo cambial: diferencial médio anual de US$ 5,7 bilhões representa 23% do superávit da balança comercial 70
71 Custo fiscal custo médio anual da dívida pública mobiliária federal interna = 11,8 retorno das reservas internacionais = 1,9% custo fiscal das reservas = R$ 47 bilhões anualmente custo fiscal das reservas 72% do resultado primário 1,3% do PIB 71
72 Fundo Soberano Gestão das reservas internacionais: focos liquidez internacional estabilização macroeconômica remuneração das reservas Fundo Soberano: mecanismo para aumentar a remuneração das reservas 72
73 Cont... Fundo Soberano do Brasil (FSB): criado em 2008 Denominação: Fundo Fiscal de Investimentos e Estabilização (FFIE) FSB: vinculado ao Ministério da Fazenda Gestão: Secretaria do Tesouro Nacional 73
74 FSB: objetivos são muito amplos promover investimentos em ativos no Brasil e no exterior formar poupança pública mitigar os efeitos dos ciclos econômicos fomentar projetos de interesse estratégico do País localizados no exterior 74
75 FSB tem múltiplos focos acumulação de capital estabilização macroeconômica, inclusive ajuste fiscal política externa Curiosidade: faltou na especificação dos objetivos a elevação da remuneração dos ativos externos sob controle do governo 75
76 Cont... FSB: constituído como fundo exclusivo multimercado registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) administradora: BB Gestão de Recursos Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários S.A. (BB DTVM) 76
77 Recursos Aporte inicial de recursos pelo Tesouro Nacional: US$ 6,1 bilhões (dezembro de 2008) Entretanto, em setembro de % do valor total de aplicações do FSB eram em ações ordinárias do Banco do Brasil 3% em operações compromissadas restante em títulos públicos 77
78 FSB Portanto, 5 anos após a sua criação o Fundo Soberano do Brasil não estava efetivamente em operação 78
79 Resumo Brasil elevado grau de internacionalização da produção via IED significativa inserção no sistema financeiro internacional Fato: Desde o final do século XIX a economia brasileira é um importante receptor de investimento internacional 79
80 Cont : Brasil ocupou a sétima posição como destino dos investimentos britânicos século XX: construção de uma economia industrial moderna no país baseou-se, em boa medida, na entrada de empresas estrangeiras 80
81 Cont... indústria de transformação no Brasil: forte presença de empresas estrangeiras (mais de 30% do valor da produção) final do século XX: grande salto de desnacionalização privatizações no setor de serviços Fato: elevada vulnerabilidade externa estrutural da economia brasileira na esfera produtiva 81
82 Cont... século XXI: profunda inserção do Brasil no sistema financeiro internacional passivo externo financeiro do país elevado 2011: Brasil 4º maior passivo externo líquido (passivo externo menos ativo externo) no mundo 82
83 Cont... Mais importantes itens do passivo externo do país investimento estrangeiro investimento em carteira (investimento estrangeiro indireto ou de portfólio) Fato: elevado passivo externo líquido é fonte de vulnerabilidade externa estrutural da economia brasileira na esfera financeira 83
84 Vulnerabilidade externa ampliada taxa de retorno do capital externo no Brasil é um múltiplo da taxa de retorno do investimento brasileiro no exterior diferencial de retorno entre o ativo externo (reservas internacionais) e o passivo externo implica elevado custo de manutenção das reservas internacionais 84
85 Capítulo 12 85
86 Obrigado! 86
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