UM ESTUDO COMPARATIVO DA EMPATIA ENTRE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS

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Transcrição:

Polêm!ca, v. 17, n.1, p. 73-81, janeiro, fevereiro e março 2017- DOI: 10.12957/polemica.2017.28299 73 UM ESTUDO COMPARATIVO DA EMPATIA ENTRE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS Rachel Shimba Carneiro Doutora em Psicologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pesquisadora e Docente no Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM). E-mail: rachelshimba@unisuamdoc.com.br. Pedro Paulo Pires Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com sanduíche pela University of Maryland - School of Public Health. Professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). E-mail: ppires85@gmail.com. Tatiane Parrine dos Reis Estudante de graduação do curso de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM). E-mail: tatianeparrine@gmail.com. Araceli Pereira dos Santos Estudante de graduação do curso de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM). E-mail: cellypereira@gmail.com. Orlando Ferreira de Andrade Estudante de graduação do curso de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM). E-mail: orlando_psi@yahoo.com.br. Resumo: A empatia refere-se à capacidade de compreender o ponto de vista e os sentimentos da outra pessoa, de uma forma que a pessoa que fala se sinta realmente compreendida pela que ouve. Essa habilidade promove autocontrole, especialmente em momento de conflito e até mesmo fortifica os vínculos interpessoais. O presente estudo teve por objetivo comparar o nível de empatia entre 139 estudantes do curso de psicologia e 94 do curso de engenharia civil em uma universidade privada do Rio de Janeiro. A partir da análise dos dados obtidos no Inventário de Empatia (IE), pode-se verificar diferença estatisticamente significativa nos seguintes fatores: flexibilidade interpessoal (Grupo dos Estudantes de Psicologia: 30,78±6,24; Grupo dos Estudantes de Engenharia 27,33±6,96; p < 0,001) e sensibilidade afetiva (Grupo dos Estudantes de Psicologia: 35,88±4,98; Grupo dos Estudantes de Engenharia 33,93±5,48; p = 0,009), observando-se val ores médi os mais elevados no Grupo dos Estudantes de Psicol ogia. Com base nesta pesquisa, pretende-se ampliar

Polêm!ca, v. 17, n.1, p. 73-81, janeiro, fevereiro e março 2017- DOI: 10.12957/polemica.2017.28299 74 medidas preventivas de atuação do psicólogo na orientação dos estudantes universitários através de palestras sobre a empatia, programas para desenvolver a habilidade empática e grupo de reflexão para ampliar o conhecimento da mesma. Palavras-Chave: Estudantes universitários. Habilidades sociais. Psicologia. Engenharia Civil. A COMPARATIVE STUDY OF EMPATHY AMONG COLLEGE STUDENTS Abstract: Empathy refers to the ability to understand the views and feelings of the other person in a way that the person speaking feel really understood by what you hear. This ability promotes self-control, especially in times of conflict and even strengthens interpersonal ties. This study aimed to compare the level of empathy among 139 undergraduate students of psychology and 94 of the Civil Engineering course at a private university in Rio de Janeiro. From the analysis of data obtained in this Empathy (IE), it can be seen statistically significant differences in the following factors: interpersonal flexibility (Group of Psychology Students: 30.78 ± 6.24; Group of Engineering Students 27 33 ± 6.96; p <0.001) and emotional sensitivity (Group of Psychology Students: 35.88 ± 4.98; Group of Engineering Students 33.93 ± 5.48; p = 0.009), observing values higher average in the Psychology Students Group. Based on this research, we intend to expand preventive measures psychologist's role in guiding college students through lectures about empathy, programs to develop empathic ability and focus group to increase knowledge of it. Keywords: University students. Social skills. Psychology. Civil Engineering. Introdução A empatia é um fenômeno que tem, cada vez mais, atraído a atenção de estudiosos do comportamento humano e de educadores em geral. Esta habilidade social representa a capacidade de entender e expressar apoio ao outro, indicando atitudes que mostram compreensão e sentimentos (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2001). Rogers e Kinget (1977) defendem que a habilidade empática é quando a pessoa se coloca verdadeiramente no lugar do outro, ou seja, vê o mundo como o outro o vê. Já Falcone (1999, p. 24) afirma que a empatia caracteriza-se pela habilidade em compreender, de forma acurada, os sentimentos e a perspectiva da outra pessoa, bem como de transmitir entendimento de tal maneira que esta se sinta verdadeiramente compreendida e acolhida. Tal definição mostra que a empatia não quer dizer sentir pelo outro, e sim sentir com o outro. A definição da empatia articula três aspectos que agem continuamente: o cognitivo, o afetivo e o comportamental. O componente cognitivo representa as ideias, pensamentos, crenças, conhecimento que se tem sobre o objeto social. O componente afetivo é entendido pela capacidade do indivíduo de experimentar fenômenos afetivos (emoções, sentimentos, motivações, interesses, paixões e valores) e o componente comportamental compreende por uma junção de componente cognitivo e afetivo como provocadores de comportamentos (FALCONE, 1998). Bolsoni-Silva et al. (2009) ressaltam que tal habilidade é fundamental no meio acadêmico, permitindo aos estudantes universitários se prepararem para novas etapas da vida.

Polêm!ca, v. 17, n.1, p. 73-81, janeiro, fevereiro e março 2017- DOI: 10.12957/polemica.2017.28299 75 Além disso, os autores afirmam que a empatia é fundamental para obter qualidade nas interações sociais. Argyle, Bryant e Trower (1974) acrescentam que a importância das habilidades sociais na formação de estudantes universitários tem se relacionado não só ao ajustamento acadêmico e ao desempenho profissional, mas também ao bem-estar psicológico dos estudantes. Por outro lado, em uma revisão feita por Falcone et al. (2008), foi encontrado que as deficiências em empatia estão associadas a distorções na percepção, assim como problemas de regulação e autocontrole emocional, favorecendo o comportamento agressivo. Dentro deste contexto, percebe-se a necessidade das universidades desenvolverem, nos cursos, matérias voltadas para o ensino sobre habilidades sociais. Este aprendizado seria essencial no decorrer da formação acadêmica e para o mercado de trabalho, os quais envolvem relações interpessoais (GERK, CUNHA, 2006). O principal objetivo das universidades deveria ser a formação integral do aluno, conforme propõem Gerk e Cunha (2006): A universidade deve hoje [...] assumir responsabilidades para com os graduados e mercado de trabalho e na reorganização dos processos de formação deslocando o enfoque da 'aquisição de conhecimento' para a 'aquisição de competência'. Entre as competências, está seguramente à competência social e, para atingi-la, há que se desenvolver o repertório de habilidades sociais (p. 183). Nesse sentido, os estudantes universitários durante a formação acadêmica deveriam desenvolver a habilidade empática para melhor exercer a sua função e proporcionar qualidade de vida aos que os procuram profissionalmente (FALCONE, 2000). A partir de uma revisão feita na literatura, foram encontrados poucos estudos envolvendo o tema empatia em universitários. Se por um lado alguns autores (BANDEIRA et al., 2006; FALCONE, 2000; KESTENBERG, 2013) destacam a relevância da habilidade empática nos cursos de psicologia e enfermagem, por outro lado, os estudantes do curso de engenharia civil são munidos de uma aprendizagem acadêmica de desenvolvimento do pensamento sistêmico quantitativo com cálculos, simulações e projetos (CREMASCO, 2009). Para Colenci (2000), existe uma deficiência na educação universitária do curso de engenharia no Brasil, em que se estabelece um ensino de excelente técnica e carece de disciplinas sobre formação humana, tornando os profissionais incapazes de compreender o ponto de vista do outro. Para Lovelock e Wright (2001), as habilidades sociais como ouvir, observar de modo a compreender, entender e assimilar as necessidades e perspectivas dos clientes deveriam ser

Polêm!ca, v. 17, n.1, p. 73-81, janeiro, fevereiro e março 2017- DOI: 10.12957/polemica.2017.28299 76 características dos engenheiros, ou seja, o engenheiro necessita perceber a existência de outras atitudes, sentimentos, perspectivas e opiniões adversas da sua, o profissional deve ser hábil para identificá-las e compreendê-las (MAÑAS, 1999). Dentro deste contexto, o objetivo do presente estudo foi comparar a habilidade empática dos estudantes de psicologia com a dos estudantes de engenharia civil em determinado lócus. Método Participantes Participaram da pesquisa 94 estudantes de Engenharia Civil (77 do sexo masculino e 17 do sexo feminino) e 139 de Psicologia (23 do sexo masculino e 116 do sexo feminino) de uma universidade privada do Rio de Janeiro. Material Instrumentos Nesta pesquisa, foi utilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o Inventário de Empatia de autoria de Falcone et al. (2008). O Inventário de Empatia caracteriza-se como um instrumento de autorrelato, que corresponde a uma medida construída e validada no contexto brasileiro, onde as respostas às perguntas são do tipo Likert, com cinco opções, variando desde nunca até sempre e é constituído de 40 itens, os quais são categorizados em quatro fatores: Tomada de Perspectiva (TP percepção acurada do estado interno de outra pessoa); Flexibilidade Interpessoal (FI capacidade para aceitar diferentes pontos de vista); Altruísmo (AL motivação para ajudar sem interesse em obter nada em troca) e Sensibilidade Afetiva (SA compartilhar sentimentos dos outros). Procedimentos A partir da aprovação do presente estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa, os pesquisadores entregaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e aplicaram o Inventário de Empatia nos estudantes dos cursos de Psicologia e Engenharia. A pesquisa foi realizada nas salas de aula de forma coletiva e em um momento que não atrapalhassem as

Polêm!ca, v. 17, n.1, p. 73-81, janeiro, fevereiro e março 2017- DOI: 10.12957/polemica.2017.28299 77 aulas. O presente estudo contempla as diretrizes da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde Análise estatística Em relação à análise dos dados, foram calculados os valores de médias aritméticas e desvios padrão dos fatores: (1) Tomada de Perspectiva, (2) Flexibilidade Interpessoal, (3) Altruísmo e (4) Sensibilidade Afetiva tanto no Grupo de Psicologia como no Grupo de Engenharia Civil, com valores do teste t de Student e sua significância. Resultado e Discussão Foi avaliada a empatia através dos quatro fatores que compõe o Inventário de Empatia: (1) Flexibilidade Interpessoal, (2) Sensibilidade Afetiva, (3) Altruísmo e (4) Tomada de Perspectiva. No fator Flexibilidade Interpessoal (FI), o grupo 1 representado pelos estudantes de psicologia está no percentil 50 (30,78±6,24) e o grupo 2 representado pelos estudantes de Engenharia Civil está no percentil 30 (27,33±6,96) quando comparados aos dados normativos. Os estudantes de psicologia obtiveram maior média, o que sugere uma maior dificuldade dos estudantes de engenharia em aceitarem pontos de vista diferentes e uma tendência a se aborrecerem facilmente em situações de conflito de interesses. Isso leva a entender que os estudantes de engenharia tendem a fazer mais julgamentos e tem dificuldades em aceitar comportamentos, atitudes e pensamentos dos outros, os quais são muito diferentes ou provocadores de frustração. As discussões em grupo são recorrentes na vida acadêmica de estudantes de psicologia, o que pode estar associado ao maior desempenho empático destes. Parrat-Dayan (2007 apud PINHO, FERNANDES, FALCONE, 2011) ressalta a importância da atividade discursiva para o desenvolvimento da flexibilidade cognitiva. Segundo Goleman (2001), é de suma importância que o indivíduo saiba entender suas próprias emoções de forma que tenha capacidade de aceitar opiniões e convicções opostas, em vez de interferir com ela de modo agressivo ao interlocutor. Controlar a própria emoção perante atitudes e pensamentos dos outros, os quais são muito diferentes ou provocadores de frustração, é saber manejar, liderar, resolver, aceitar, solucionar discordância e fazer menos julgamentos e críticas em determinadas situações sociais.

Polêm!ca, v. 17, n.1, p. 73-81, janeiro, fevereiro e março 2017- DOI: 10.12957/polemica.2017.28299 78 Em relação ao fator Sensibilidade Afetiva (SA), foi verificado que o grupo 1 se encontra no percentil 60 (35,88±4,98) e o grupo 2 no percentil 40 (33,93±5,48). O grupo 1 apresentou maior média, o que reflete nos estudantes de psicologia um maior cuidado em relação às necessidades dos outros quando comparados aos alunos de engenharia. Essa característica tem sido considerada como relevante para uma boa convivência e, portanto, adaptativa, pois proporciona maior vínculo com outras pessoas. O fator sensibilidade afetiva é relativo ao componente afetivo da empatia; através de seus itens avalia-se a preocupação dos estudantes com os efeitos do próprio comportamento sobre o bem-estar do outro. No fator Tomada de Perspectiva (TP), o grupo 1 está no percentil 60 (42,54±6,95) e o grupo 2 está no percentil 50 (40,94±7,21) quando comparados aos dados normativos. Esse fator compreende a capacidade de entender a perspectiva e sentimentos da outra pessoa, principalmente em situações nas quais ocorre conflito de interesses (FALCONE et al., 2008). Os estudantes dos dois grupos apresentaram uma capacidade mediana de enxergar o mundo pelos olhos do outro, colocando-se no lugar deste, percebendo e compreendendo seu modo de pensar e sentir. Em uma revisão feita por Pinho, Fenandes e Falcone (2011), foi encontrado que a vivência acadêmica possivelmente exerce um impacto sobre a empatia em um nível cognitivo. Na comparação entre os dados no fator Altruísmo (AL) (grupo 1: 28,32±5,16 versus grupo 2: 28,37±6,70, ambos no percentil 90), foi observado que os estudantes dos dois grupos apresentaram habilidades para sacrificar os próprios interesses com a finalidade de beneficiar ou ajudar alguém. O fator altruísmo está relacionado com o componente afetivo da empatia. De acordo com Pinho, Fenandes e Falcone (2011), indivíduos com nível superior, completo ou incompleto, apresentaram níveis mais elevados de altruísmo quando comparados a indivíduos com escolaridade média completa. Para verificar a diferença da empatia entre os estudantes de psicologia e os de engenharia civil, foi realizado o teste t de Student. O teste t de Student evidenciou diferença estatisticamente significativa nos seguintes fatores: flexibilidade interpessoal (Grupo dos Estudantes de Psicologia: 30,78±6,24; Grupo dos Estudantes de Engenharia 27,33±6,96; p < 0,001) e sensibilidade afetiva (Grupo dos Estudantes de Psicologia: 35,88±4,98; Grupo dos Estudantes de Engenharia 33,93±5,48; p=0,009), observando-se valores médios mais elevados no Grupo dos Estudantes de Psicologia.

Polêm!ca, v. 17, n.1, p. 73-81, janeiro, fevereiro e março 2017- DOI: 10.12957/polemica.2017.28299 79 Tabela 1: Comparação dos fatores do Inventário de Empatia entre estudantes de psicologia e de engenharia civil Grupos Média Desvio Teste T Valor de p aritmética padrão TP Estudantes de Psicologia Estudantes de Engenharia FI Estudantes de Psicologia Estudantes de Engenharia AL Estudantes de Psicologia Estudantes de Engenharia AS Estudantes de Psicologia Estudantes de Engenharia * Significativo no nível de 0,05. 42,54 6,95 40,94 7,21 1,6 0,111 30,78 6,24 27,33 6,96 3,706 0 28,32 5,16 28,37 6,7-0,055 0,95 35,88 4,98 33,93 5,48 2,652 0,009 Algumas disciplinas da psicologia já abrangem o tema habilidades sociais e isso pode ter contribuindo para um maior nível da habilidade empática nos estudantes de psicologia quando comparados aos estudantes de engenharia. Outros estudos são necessários para analisar os fatores que podem desenvolver a habilidade empática em estudantes universitários. Conclusões O presente estudo pretendeu cooperar na discussão sobre a empatia, fazendo uma comparação da mesma nos estudantes universitários. Apesar das evidentes contribuições da empatia para a vida profissional e relacional, poucos são os estudos com propostas de intervenções voltadas para o desenvolvimento e promoção desta habilidade (RODRIGUES et al., 2014).

Polêm!ca, v. 17, n.1, p. 73-81, janeiro, fevereiro e março 2017- DOI: 10.12957/polemica.2017.28299 80 A partir desta pesquisa, pretende-se construir programas para o desenvolvimento da empatia a fim de promover a habilidade empática, bem como qualidades nas interações sociais. O aumento não só de habilidades técnicas, mas também de um desempenho socialmente competente contribuirá para uma maior qualificação dos acadêmicos e que estes tenham relações profissionais mais satisfatórias e gratificantes. A amostra de participantes desta pesquisa, não concede que as reflexões aqui distendidas sejam universalizadas a todas as categorias de estudantes de psicologia e engenharia civil e a todas as regiões do país. Dessa forma, é importante que novos estudos sobre Empatia sejam realizados. Referências ARGYLE, M.; BRYANT, B. M.; TROWER, P. Social skills training and psychotherapy: A comparative study. Psychological Medicine, v. 4, n. 2, p. 435-443, 1974. BANDEIRA, M.; DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. (Orgs.). Estudos sobre habilidade sociais e relacionamento interpessoal. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. BOLSONI-SILVA, A. T.; LEME, V. B. R.; LIMA, A. M. A.; COSTA-JUNIOR, F. M.; & CORREIA, M. R. G. Avaliação de um Treinamento de Habilidades sociais (THS) com universitários e recém-formados. Interação em Psicologia, Curitiba, v. 13, n. 2, p. 241-251, 2009. COLENCI, A. T. O ensino de engenharia como uma atividade de serviços: a exigência de atuação em novos patamares de qualidade acadêmica. Dissertação (Mestrado) Curso de Engenharia de Produção, Universidade de São Paulo: São Carlos, 2000. CREMASCO, M. A. A responsabilidade social na formação do engenheiro. 2009. Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/dezembro/dia-do-engenheiro-3.php>. Acesso em: 30 mai. 2011. DEL PRETTE, A.; DEL PRETTE, Z. A. P. Psicologia das relações interpessoais: vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes, 2001. FALCONE, E. M. O. A avaliação de um programa de treinamento da empatia com universitários. Tese de doutorado não publicada, Curso de Pós-Graduação em Psicologia Clínica, Universidade de São Paulo, São Paulo: SP, 1998.. A avaliação de um programa de treinamento da empatia com universitários. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 23-32, jun. 1999.. Habilidades sociais: para além da assertividade. In: WIELENSKA, R. C. (org.). Sobre comportamento e cognição: questionando e ampliando a teoria e as intervenções clínicas e em outros contextos. São Paulo: Set Editora Ltda, 2000. v. 6. FALCONE, E. M. O. et al. Inventário de Empatia (I.E.): desenvolvimento e validação de uma medida brasileira. Aval. psicol., Porto Alegre, v. 7, n. 3, p. 321-334, dez. 2008.

Polêm!ca, v. 17, n.1, p. 73-81, janeiro, fevereiro e março 2017- DOI: 10.12957/polemica.2017.28299 81 GERK, E.; CUNHA, S. M. As habilidades sociais na adaptação de estudantes ao ensino superior. In: BANDEIRA, M.; DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. (Orgs.). Estudos sobre habilidades sociais e relacionamento interpessoal. 1. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. GOLEMAN, D. Trabalhando com a inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. KESTENBERG, C. C. F. A habilidade empática é socialmente aprendida: um estudo experimental com graduandos de enfermagem. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, v. 21, n. 4, p. 427-433, 2013. LOVELOCK, C; WRIGHT, L. Serviços: marketing e gestão. São Paulo: Saraiva, 2001. MAÑAS, A. V. Gestão de tecnologia e inovação. 2. ed. São Paulo: Editora Érica, 1999. PARRAT-DAYAN, S. A discussão como ferramenta para o processo de socialização e para a construção do pensamento. Educação em Revista, Belo Horizonte, n. 45, p. 13-23, jun. 2007. PINHO, V. D.; FERNANDES, C. S.; FALCONE, E. M. O. A influência da idade e da escolaridade sobre a experiência empática de adultos. Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 456-471, maio-ago. 2011. RODRIGUES, M. C.; PERON, N. B.; CORNÉLIO, M. M., FRANCO, G. R. Implementação e avaliação de um Programa de Desenvolvimento da Empatia em estudantes de Psicologia. Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 14, n. 3, p. 914-932, 2014. ROGERS, C. R.; KINGET, G. M. Psicoterapia e Relações Humanas. Belo Horizonte: Interlivros, 1977. Recebido em: 03/05/2016. Aceito em: 02/01/2017.