TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA GABINETE DO DES. ROMERO MARCELO DA FONSECA OLIVEIRA DECISÃO MONOCRÁTICA AGRAVO DE INSTRUMENTO N 200.2010.014.773-1/001 ORIGEM: 8' Vara Cível da Comarca da Capital. RELATOR: Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira. AGRAVANTE: MARES Mapfre Riscos Especiais Seguradora S/A. ADVOGADO: Armando Ribeiro Gonçalves Júnior e João da Mata de Souza Filho. AGRAVADO: Cloves José de Araújo. ADVOGADO: Leônidas Lima Bezerra. EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. SEGURO DE VIDA. AUMENTO DO PRÊMIO POR FAIXA ETÁRIA. ABUSIVIDADE. CONCESSÃO DE TUTELA ANTECIPATÓRIA. PRESENÇA DOS REQUISITOS. RECURSO A QUE SE NEGA, SEGUIMENTO, NOS TERMOS ART. 527 C/C ART. 557, CAP 1.17; DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. Mostra-se abusivo o reajuste unilateral, com ameaça de rescisão em caso de' não concordância pelo segurado. realizado em razão da mudança de faixa etária, colocando o consumidor em situação de desvantagem exagerada. Deve ser mantida a medida antecipatória suspendendo o aumento da mensalidade do seguro de vida firmado em face do evidente desequilíbrio contratual entro as partes. Vistos etc. MARES Mapfre Riscos Especiais Seguradora S/A interpôs Agravci de Instrumento contra Decisão da fl. 352/353, prolatada nos autos da Ação Ordinária de, Nulidade de Alteração Contratual c/c Indenização por Danos Morais e Materiais. coritra ela e a BANCORBRAS Empreendimentos e Participações S/A ajuizada por Cloves José de Araújo, que deferiu a tutela antecipada para determinar o restabelecimerito'.c1o contrato e a suspensão da cobrança dos valores referentes ao contrato de seguro de, vida firmado entre as partes. levando-se em conta o reajuste por faixa etária. permitindo apenas os reajustes anuais. Em suas razões, fls. 02/19, aduziu que o Agravado faz parte de um seguro de vida em grupo, tendo como estipulante a Bancorbrás, da qual é associado, sendo que em tais casos o volume de prêmios recolhidos dos segurados para um determinado período de tempo é que faz frente as suas despesas administrativas e operacionais C ao pagamento dos capitais segurados em caso de sinistros dentro do período estip'tado que. ultrapassado, é feito m novo cálculo, levando-se em consideração a faixa etária e a menor ou maior pos bilidade de ocorrência de sinistros para o novo período contratado, mantendo-se empre o equilíbrio contratual. Postulou o deferi ent do efeito suspensivo, suspendendo a Decisão atacada e, ao final, pela sua refo
É o relatório. Importa consignar que o contrato em debate está submetido ao Código. de Defesa do Consumidor, pois envolve típica relação de consumo, incidindo, na espécie, - o artigo 47 do CDC, que determina a interpretação das,aáusulas contratuais de maneira mais favorável ao consumidor. Narra a parte Autora, ora Agravada, que mantém contrato de seguro de vida com'" a parte Agravante há mais de 20 anos, relatando que o valor do prêmio em 2008 era de R$ 198.98, e que a mensalidade foi reajustada em janeiro de 2009 para R$ 482,83: e o pior, reduziu os valores das coberturas: por morte acidental de R$ 178.605,00 para R$ 119.070,00; por invalidez permanente de R$ 119.070,00 para 59.535.00, e..ainda excluiu o cônjuge da cobertura de invalidez por doença. Nos contratos em geral, exige-se que a conduta dos contratantes, tanto celebração quanto na execução do contrato, seja pautada pela boa-fé, e sobre a aplicação deste principio ao contrato. de seguro, cumpre transcrever parte dos ensinamentos de Sergio Cavalieri Filho'; que podem ser aplicados analogicamente ao contrato em análise: 4 Talvez seja o contrato de seguro aquele em que os princípios do CDC tenham mais - forte e ampla aplicação, a começar pelo princípio da boa-fé. Com efeito, se a boa-fé. corno vimos, é um dos elementos essenciais do seguro, se é a sua própria alma, sem a qual não"- existirá. então nenhum contrato prestigia mais o princípio da boa-fé que o de seguro. Relembramos apenas que a bo-fé, consagrada, no CDC como cláusula geral de conduta no seu art. 51. IV, e como princípio orientador da interpretação do art. 4 0, III, é a boa-fé objetiva, que é algo mais que a boa-fé subjeti : Boa-fé subjetiva é fato psicólógico, estado de espirito ligado a valores éticos. Boa-fé ooietiva, repetimos, é comportamento ético', padrão de conduta, tomado como paradigma o homem honrado. Indica conduta.real e respeitosa que deve pautar as relações de consumo, fonte de deveres anexos ao. contrato, além daqueles expressamente pactuados. Em suma, a boa-fé objetiva impõe um comportamento de lealdade e cooperação durante todo o contrato, mormente quando de longa duração, uma atividade de lealdade legitimamente esperada nas relações de consumo. Mas, relembre-se, essa boa-fé objetiva é bilateral, é via de mão 'dupla. pelo que gera deveres anexos para o segurador e para o segurado. A seu turno, o artigo 51, IV, do Código Consumerista, veda a estipulação de cláusula que coloque o consumidor em desvantagem exagerada. O Estatuto do Idoso, em seu artigo 15, 3, veda expressamente. a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade", dispositivo que deve ser aplicado analogicamente à hipótese dos autos. Ademais, entendo que tanto o Estatuto do Idoso como o Código de Defesa do Consumidor são aplicáveis à hipótese dos autos, independentemente de ter havi.clo a adequação dos contratos firmados entre as partes a esta legislação. Destaco que o pacto havido entre as. partes possui longa duração, renovando-se de forma automática, devendo as disposições contratuais adaptarem-se ao disposto nestes Diplomas Legais. Diante do longo histórico da contratação ocorrida entre as partes, desde 1989, não é razoável admitir reajuste de mensalidade dos planos de R$ 198,98, valor em dezembro de 2008, para RS 482,85. fl O referido reajuste mostra-se abusivo, Colocando o consum dor em situação de desvantagem exagerada em razão da troca da faixa etária,. In Programa de direito do consumidor, 2 ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 222- ")
Ainda que previsto o ïeajuste no contrato, este causa evidente deseqüilibao contratual entre as partes, sendo, portanto, abusivo e nulo, nos termos do artigo 5.1,.J\t, do CDU..* Nesse sentido, a jurisprudência Gaúcha: APELAÇÃO CÍVEL. SEGURO DE VIDA. REAJUSTE DA MENSALIDADE. FAIXA ETÁRIA. ABUSIVIDADE. APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. DEVER DE INFORMAR. REPETIÇÃO SIMPLES DOS VALORES PAGOS A MAIOR. 1. O objeto principal do seguro é a cobertura do risco contratado, ou seja, o evento futuro e incerto que poderá gerar o dever de indenizar por parte da seguradora. Outro elemento essencial desta espécie contratual é a boa-fé, na forma dó art. 422 do Código Civil, caracterizada pela lealdade e clareza das informações prestadas pelas partes. 2. A relação jurídica de seguro está submetida às disposições -do Código de Defesa do Consumidor, enquanto relação de consumo atinente ao mercado securitário. 3. O litígio em exame versa sobre o reconhecimento da abusividade da 'majoração co prêmio securitário segundo a faixa etária do segurado. 4. O acréscimo "no. pr"&tio'. securitário não indicou os critérios utilizados para determinar o reajuste emj'ato'r. tão. vultoso. Previsão de aumentos que rompeu com o equilíbrio contratual; -.'princípio elementar das relações de consumo, a teor do que estabelece o artigo 4, incix, III, do. CDC, inviabilizando a continuidade dos contratos a segurados nessa faixa etária. 5: O aumento dos preços deve ser realizado de forma eqüitativa entre os contraentes,' 'em especial nos contratos de prestações sucessivas, como é o caso dos autos. Nessa eara, com base no artigo 5J, incisos IV, X e XV, I, do CDC, reconhece-se a impropriedade do aumento da mensalidade por implemento de idade, nos moldes em que definidos - pela seguradora. 6. O seguro constitui pacto de trato sucessivo e não temporário o que implica certa continuidade nesta relação jurídica cativa. Se mantidas as mesmas condições da época da contratação, as suas disposições não devem ser alteradas unilateralmente pela seguradora, exceto se durante o período de contratação haja a ocorrência de fatos fião previsíveis, com o condão de modificar significativamente o equilíbrio conit'attia.l. 7. Havendo saldo em favor da parte devedora no contrato, admite-se a repetição simples dos valores indevidamente satisfeitos, corrigido monetariamente Pelo IGP-M e acrescidos de juros de mora de I% ao mês a contar da citação. Negado provimento ao apelo da ré e dado parcial provimento ao recurso do autor. (Apelação Cível N 70034657221, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luiz Lopes do Carito: JSIgado em 14/04/2010) APELAÇÃO CÍVEL. SEGUROS. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. AÇÃO DE MANUTENÇÃO DA APÓLICE DO SEGURO DE VIDA. IMPOSIÇÃO DE MIGRAÇÃO PARA APÓLICE COM CLÁUSULA DE REAJUSTE DE PRÉMIO EM RAZÃO DA FAIXA ETÁRIA. DESCABIMENTO. ABUSIVIDADE E ILEGALIDADE DA CLÁUSULA CONTRATUAL QUE AUTORIZA O REAJUSTE DEMASIADO DO VALOR DO PRÊMIO EM RAZÃO DA FAIXA ETÁRIA. APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. O objetivo principal do seguro é a cobertura do risco contratado, ou seja, o evento futuro e incerto que poderá gerar o dever de indenizar por parte do segurador, devendo prevalecer o elemento essencial do contrato sob a visão do princípio da boa-fé, nos termos do artigo 422 e 423 do Codig io Civil.' É ilícita a pretensão da demandada de alterar de forma unilateral as cláusulas contratuais, com a justificativa de impossibilidade de manter a primeira contratação, diante da hipótese de desequilíbrio econômico do grupo. Descabe o reajuste demasiado do valor do prêmio, em razão do implemento de idade do contratante/beneficiário, pois tal cláusula contratual, está em desacorde com as disposições do Código do. e. "Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relatiy4s ao fornecime`fic de produtos e serviços que: (...) V - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem 'o con urnidor em. desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade \ I.
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:4 Consumidor, notadamente nos artigos 47 e 51. APELO DESPROVIDO. UNANplE. (Apelação Cível N 70030878102, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça d6' RS, Relator: Gelson Rolim Stocker, Julgado em 16/12/2009) Segundo Teori Albino Zavascki 3. "atento, certamente, à gravidade do do (2.ue opera restrição a direitos fundamentais, estabeleceu o legislador,.corno pressupostos genéricos indispensáveis a qualquer das espécies de antecipação 'da' tutela, que haja prova inequívoca e Verossimilhança dá alegação. Esses dois fatores precisam concorrer para que a medida antecipatória seja concedida, ficando evidente no caso dos autos por tudo 'à que até então mostrei. Ante o exposto, nego seguimento ao Agravo dé Instrumento, com base no: art. 527 c/c art. 557, caput, do CPC, mantendo-se intacta a Decisão agravada. Comuniquem-se. Intimem-se. Diligências Legais. 9abinefe no TJ/F4 em Poão Pessoa-PB, 27. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira Relator Antecipação da Tutela, 5 edição, fl. 79
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