UMA BUSCA DE RENOVAÇÃO NO ENSINO DE GEOCIÊNCIAS. ^qui descrita

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Transcrição:

^qu descrta r I NOTAS < ' \ * 0 l \ UMA BUSCA DE RENOVAÇÃO NO ENSINO DE GEOCIÊNCIAS Ivan A. do Amaral * Arle B. Macedo * Celso Dal Ré Carnero * Este texto reproduz,' três palestras vnculadas ao título geral acma e proferdas na JV SEGESP, realzada em Ro Claro em 1974. Os oradores perfencem à equpe docente que está levando adante a experênca e analsada. Esta experênca educaconal vem sendo levada a efeto desde o níco de 1973, na dscplna de Geologa Geral do Departamento de Geologa Geral do Insttuto de Geocê ncas da USP. Ela envolveu até agora cerca de 1700 alunos de dferentes procedêncas (Geologa, Geografa, Cêncas Bológcas, físca, Químca e Matemátca), que a procu - ram como dscplna obrgatóra ou eletva. O curso renovado já está em sua 5 $ aplcação e tem sofrdo reformulações constantes, baseadas em análj/es fetas pela própra equpe docente responsável assm como? m dados coletados sstematcamente dos alunos. A dvulgado deste trabalho vsa a contrbur com déas e fatos concreto/ que possam colaborar na reformulações pedagógca do ensfto das Geocêncas, tanto em nível básco como profssonaltante. Parte dessa fnaldade pode fcar prejudcada, na medda em,4ue o vasto materal audovsual utlzado nas palestras, que lustrada em pormenores a experênca descrta, não tem condções /de ser reproduzdo nesta publcação. O PROGRAMA A decsão a respeto de programas e métodos a serem adotados num curso de Gfòloga Geral para o nível básco da unversdade terá que consderar uma sére de fatores, tas como as característcas da * professares do Departamento de Geologa Geral Insttuto de Geocêncas da USP. 1 De I. A, do Amaral, I t

56 BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA própra área do conhecmento, o perfl do aluno envolvdo, o papel que a dscplna desempenha dentro do contexto escolar e a realdade externa à escola com suas necessdades e problemas emergentes. Um problema crescente na época atual dz respeto à polução. O desequlíbro ecológco, ameaçando a própra natureza vva, torna-se um problema tão angustante, que passa a exgr de cada futuro técnco, pesqusador ou professor conhecmentos sufcentes dos mecansmos atuantes nos mundos físco e bológco e das condções determnantes de seu equlíbro, para que possa exercer suas atvdades profssonas de uma forma compatível com os problemas de sua realdade. No caso das Geocêncas, o seu tema genétco é a Terra. Para uma formação básca nesta área, é fundamental que o estudante adqura uma conscênca do planeta, entenddo em suas múltplas escalas, processos e nterfaces. As Geocêncas, como um todo, estudam a Terra, seus materas, seus processos * sua hstóra e ambente no espa - ço. Permtem assm uma vsão ampla e ntegrada dos fenômenos da natureza. O confronto dessas consderações norteou a equpe responsável pela dscplna Geologa Geral do I. G. da USP ao se decdr por um programa que não se crcunscrevesse ao caráter puramente geológco dos fenômenos e que tratasse os (Jversos temas com uma abor - dagem predomnantemente formatva, em que a nformação só fosse utlzada quando ntegrada num conjunto lógco que permtsse o desenvolvmento das lnhas geras dos pensamentos geológco e centífco. 1. AS METAS As déas expostas foram sntetzadas en \ quatro grandes metas propostas para o curso. \ \ Conscênca do planeta \ desenvolvmentò da compreensão dos processos terrestres em termos de causaldade, escalas e nterações, ha - bltando o ndvíduo a stuar-se neste contexto. I. Pensamento geológco compreensão dos prncípos e métodos que permtram a evolução de um conhecmento baseado essencalmente em evdêncas ndretas e caracterzado por amplas escalas de espaço e tempo. Dnâmca terrestre desenvolvmento da vsão de uma natureza em constante e permanente transformtção, dos mecansmos geras en - volvdos nas transformações e das nfrações entre as mesmas.

52: 55-68, OUTUBRO 1976 57 Interação ser vvo/ meo ambente compreensão das caracte - rístcas fundamentas das transformações naturas e das nter-relações que os seres vvos com das mantêm e análse das consequêncas da ntervenção do Homem na natureza. 2. OS OBJETIVOS GERAIS A segunda etapa fo a decomposção das metas em objetvos ou déas geras que o programa do curso devera ncorporar e organzar numa etapa fnal. As quatro metas ncas resultaram nas nove déas geras a segur resumdas: Cênca como pesqusa O todo do conhecmento centífco, em qualquer momento, representa apenas um estágo do esforço humano para compreender e explcar o Unverso. As teoras útes de hoje podem se tornar obsoletas amanhã. A cênca, portanto, deve ser apresentada como uma busca de novos e mas exatos conhecmentos sobre a Terra. Compreensão de escala Os geocentstas utlzam uma grande varedade de escalas, pensando em termos de tempo e espaço, que varam desde a evolução das pasagens, mudanças de clma e correntes oceâncas até a movmentação de íons dentro de rochas e mneras, e desde a duração do clarão de um relâmpago ou a desntegração de um átomo até a dade do Unverso. Ê fundamental, portanto, o desenvolvmento dos concetos de escala no mundo real e em modelos, bem como a capacdade de nventar e utlzar modelos tanto físcos como mentas. Prevsão Uma das fnaldades da maor parte das pesqusas centífcas é a prevsão dos processos, de suas consequêncas, de suas relações e dos eventos futuros. Em Geocêncas, é típca também a extrapolação do conhecdo para o desconhecdo, tanto no espaço como no tempo, na tentatva de nterpretações lógcas de eventos passados a partr de regstros geralmente ncompletos.. Unversdade da transformação Nada na Terra é realmente estátco, nenhuma de suas feções durará eternamente. Os materas \ terrestres estão contnuamente sofrendo modfcações de forma, pos- \ ção e composção. Algumas transformações, como a formação de \ montanhas, são extremamente lentas para os padrões humanos; outras, como a descarga de um rao ou a desntegração radoatva de um átomo, são extremamente rápdas. Fluxo de energa no Unverso A unversaldade das transfor - mações dos materas terrestres resulta de uma permanente redstrbuçâo de energa. Em um sstema, a energa tende a se dsspar, e

58 BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA um ganho de energa só poderá ocorrer se for fornecda mas energa ao sstema. Por exemplo, uma lava flundo se esfrará à medda que seu calor flur para o ar e rochas adjacentes; não poderá se reaquecer e refundr a menos que lhe seja fornecdo calor de outra fonte. Adaptação à transformação do meo Todos os sstemas natu - ras tendem a atngr um estado de equlíbro. Em cada sstema, forças em oposção geram reações que, ao fnal, levam a um equlíbro dnâmco. Uma força aplcada a um sstema em equlíbro provoca transformações que tendem a neutralzar o efeto desta força. Esta generalzação pode ser aplcada na evolução dos canas de um ro, na precptação de calcáro, na formação do solo, no soergumento e desgaste de uma cadea de montanhas, na formação de ondas no mar e em todos os demas processos terrestres. Conservação da matéra e energa no Unverso A soma de ma - téra e energa no Unverso é constante, apesar das contínuas transformações. Interações na natureza resultam em modfcações de uma forma de energa em outra, de um materal em outro e de matéra em energa e vce-versa. Sstemas terrestres no espaço e no tempo Para a compreensão de qualquer aspecto da Terra, é necessáro consderar a natureza físca, químca e bológca de suas partes e suas relações no espaço e no tempo, além de estabelecer o relaconamento das partes com o todo. Toda matéra exste no tempo e no espaço e está sujeta a transformações que ocorrem em proporções e padrões varáves. A unformdade dos processos A nterpretação do passado se torna possível se as feções observadas no arquvo terrestre são nterpretadas à luz das les naturas. Consdera-se que os mesmos processos fundamentas da físca e as mesmas reações químcas que ocorrem atualmente ocorreram de forma semelhante ao longo de toda a hstóra geológca. O geocentsta se depara freqentemente com evdêncas de fatos e processos ocorrdos há longo tempo, e grande parte do testemunho pode estar faltando. Usando dados tão lmtados, ele deve aplcar seu conhecmento das les naturas e dos processos recentes para explcar suas observações. 3. AS METAS E OBJETIVOS GERAIS TRANSFORMADOS EM PROGRAMA Como é possível depreender da análse dos tens anterores, os objetvos geras refletem bascamente as metas ncalmente propostas. Os objetvos, por sua vez, devem ser traduzdos num programa, através do conjunto de temas, da sequênca em que estes temas forem

1 52: 55-55, OUTUBRO 1976 59 propostos e da forma como forem encadeados. O ESCP (Earth Scence Currculum Project), um projeto currcular de multmeos para o ensno de geocêncas, preparado nos EUA, auxlou grandemente na obtenção de uma prmera resposta ao problema de programa para um curso desse gênero. Esse auxílo fo fruto não só da forma cudadosa e quase sngular como aquele projeto fo preparado (mas de cem especalstas de alto nível trabalhando cerca de ses anos) como também da própra vsão de geologa mpressa ao mesmo, bastante concdente com as metas e objetvos geras adotados para o nosso curso. Outro fato mportante a consderar é que qualquer renovação no ensno básco de geologa em nosso país carecera, em seus prmeros passos, de modelos útes e cudadosamente elaborados. O ESCP veo suprr esta lacuna exstente na realdade braslera. Porém, embora servndo de modelo ncal para a nossa proposta de renovação, o ESCP em seu estado orgnal mostrou-se nadequado para uma transposção dreta para a nossa realdade, mesmo em termos puramente programátcos. Isto em vsta das característcas do aluno a ser envolvdo e do tempo de duração do nosso curso, além da não-concdênca de alguns objetvos específcos. Consderando todas as metas, objetvos e premssas prevamente estabelecdos, seleconou-se um conjunto de temas e um enfoque que pudessem facltar a compreensão da natureza como um todo ntegrado e dnâmco. Esses temas foram sequencados e tratados de forma a oferecer a estrutura básca do conhecmento geológco, à qual toda sorte de nformações sobre o planeta posterormente poderá ser ntegrada e compreendda em sua real sgnfcação. 4. O PROGRAMA ADOTADO 4.1. Terra Um Planeta Dnâmco A Consttução da Terra A Idéa de Transformação Transformação e Meo Ambente Energa e os Processos Terrestres Forma e Movmentos da Terra 4. 2. O Cclo Hdrológco A Crculação Atmosférca A Agua no Contnente Energa, Umdade e Clma 4. 3. O Cclo Petrogênco Intempersmo e Erosão Formação de Montanhas Orgem e Cclo Rochas I:

60 BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA 4.4. O Passado da Terra O Tempo Geológco Reconstrução do Passado da Terra Numa prmera fase a Terra é caracterzada como um planeta em constante transformação, sua composção é descrta de manera geral e são fornecdas as bases dos mecansmos que propulsonam as transformações. Em seguda passa-se a tratar dretamente da dnâmca das três grandes esferas de materas nanmados do planeta; sto é feto apoando-se essencalmente nos dos grandes cclos de transformações: o hdrológco e o petrogênco. Após a compreensão da dnâmca terrestre, passa-se a projetar os fenômenos no tempo, estudando-se os prncípos e métodos de reconstrução do passado geológco e das prevsões sobre o comportamento da natureza. MÉTODOS E TÉCNICAS 2 Uma vez elaborado um programa, deve ser decdda a manera pela qual esse programa chegará aos alunos. Sendo a nossa prncpal preocupação fazer com que o curso seja formatvo, não nos preocupamos com que o aluno conheça os detalhes de nformação lgados aos tópcos do programa, mas que através do programa adqura noções fundamentas sobre os processos naturas e possa manpulá-las para a compreensão do planeta e sua ação sobre ele. O método que seleconamos defne o aluno como a parte fundamental atva do processo de aprendzagem, e o professor como a parte responsável pelo planejamento, orentação, avalação e fornecmento de recursos para o processo. Não nos lgamos de manera dogmátca a uma únca corrente de pscologa educaconal, mas adotamos os prncípos e técncas de uma ou outra conforme o problema prátco a ser resolvdo, preocupandonos essencalmente em centrar a aprendzagem no aluno. A análse dos problemas ddátcos tem sdo portanto dnâmca, orentada para os problemas a resolver, e não uma smples aplcação de técncas dervadas de uma doutrna nquestonável. Isso não quer dzer que não haja a aplcação de prncípos pscológcos. Ela exste, e pode ser reconhecda na análse de qualquer de nossas aulas, como na utlzada para lustração desta palestra. Repetmos, no entanto, que a técnca é escolhda vsando prncpalmente sua efcênca na solução do problema ddátco analsado. 2 De A. B. Macedo.

1 52: 55-68, OUTUBRO 1976 61 Através da análse de uma aula partcular será mas fácl vsualzar como se faz a escolha e aplcação das técncas. A sua concretzação nos recursos de ensno será estudada no trabalho a segur. A aula estudada será a nona aula do curso, que trata do tema Intempersmo e Erosão. 1. ANÁLISE DE UMA AULA Para que cada aluno possa executar as atvdades prevstas para a aula, é entregue a ele um Gua de Ada, mpresso que contém nformações e roteros para cada atvdade, bem como horáro, lsta de objetvos de aula e roteros adconas de reflexão e de estudo, para preparação para a aula segunte. Para que as atvdades possam ser desenvolvdas ao mesmo tempo em três ou quatro classes, com uma méda de cnquenta alunos por classe, o Horáro tem que ser segudo à rsca, o que em geral acontece. O Gua nclu também uma lsta detalhada de Objetvos de Aula, que por sua mportânca para a compreensão de nossa vsão de ensno é reproduzda no Anexo 1. Esses objetvos específcos de cada aula dervam dos objetvos geras que nortearam a elaboração do programa. Eles são redgdos de forma operaconal, especfcando de manera clara o comportamento que se espera do aluno após a execução das atvdades da aula. Na escolha dos objetvos a serem atngdos em classe, a abordagem escolhda prefere os objetvos mas amplos, ao nvés de um tratamento mas especalzado e nformatvo. Por exemplo, prefermos que o aluno dentfque e compreenda as transformações ocorrdas numa rocha determnada (estudada em classe), em sua passagem gradual a solo, a ensnar-lhe as dversas classfcações de solos. Esta escolha se basea em duas razões: a prmera, programátca, por consderarmos como característca fundamental de um curso básco a ntrodução aos tópcos de conteúdo através de seus aspectos mas geras; a segunda, metodológca, baseada na observação de que as noções que aprendemos podem ser decompostas em duas partes: uma parte fundamental, relaconada às operações de pensamento, e uma parte nformatva, específca. Se o aluno é'apresentado de uma vez a todo o conteúdo de uma noção, será dfícl para ele decompô-lo em suas partes consttuntes, fundamentas e específcas. Em nosso caso, prefermos apresentar em aula prncpalmente a parte fundamental, organzando as atvdades de modo que esta seja bem assmlada pelo aluno, prefervelmente em classe. Posterormente o aluno, já de posse das operações fundamentas, poderá acrescentar as nformações especí - fcas, que agora terão condções de ser bem assmladas.

62 BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA Para compreensão desta ênfase na parte fundamental, podemos utlzar a analoga com a construção de um prédo. O aluno, em abordagens de aula tradconas, é frequentemente apresentado à matéra como se ela fosse um prédo pronto, com o materal com o qual o aluno tvesse de construr um outro prédo dêntco, em seu cérebro. O aluno tera então que desmontar o prédo, dstngundo soznho o que é estrutura e o que é acabamento, e remontá-lo. Prefermos ajudar o aluno a construr, dentro da aula, uma estrutura sólda, à qual ele pode depos acrescentar o acabamento (que pode varar conforme a formação e nteresse específcos do aluno, o que não acontece em abordagens mas tradconas). O aluno, ao ncar as atvdades da aula, já deve ter um prmero contato com a matéra, através do estudo de um trecho do textobase Investgando a Terra, orentado por um rotero que lhe é entregue na aula medtamente anteror. A prmera atvdade desenvolvda na aula que estamos analsando é a assstênca a uma sequênca de dapostvos, com barração sncronzada, que vsa à motvação e levantamento dos problemas a serem nvestgados nas atvdades prátcas e debates que se seguem. A atvdade segunte é um trabalho prátco, com os alunos dvddos em pequenos grupos (quatro ou cnco alunos), para analsar as transformações sofrdas por uma rocha em sua evolução para solo. O motvo para a escolha do trabalho em grupo fo a efcênca demonstrada por esta técnca em fazer os alunos compreenderem os fundamentos das noções. É muto maor o aprendzado se o aluno é colocado numa stuação em que dscuta com outros do mesmo nível, sentndo as dferenças de opnões que podem surgr na nterpretação dos fatos da natureza. O coordenador, nesta fase do trabalho, deve auxlar os grupos, não fornecendo conclusões, mas perguntas e nformações que auxlem na compreensão do problema estudado. Esta compreensão é um fator fundamental no sucesso de qualquer técnca atva de aprendzagem, pos sem ela a nvestgação se torna smples manpulação do materal. O materal utlzado nas atvdades prátcas é mínmo, tanto por razões de custo quanto pela ênfase na compreensão de noções fundamentas, e não na manpulação de aparelhagem, que pode ser objetvo de cursos de aplcação profssonal, mas que não cabe num curso de formação geral. Os alunos são guados por um Rotero de Atvdade, que contém nstruções prátcas e perguntas a serem responddas pelo grupo, através dos resultados da atvdade prátca e da nterpretação do texto-base. A atvdade segunte é um debate em pequenos grupos sobre processos de erosão, em que os alunos trabalham utlzando fotos de regões

52: 55-68, OUTUBRO 1976 63 onde processos erosvos típcos atuam crando feções característcas. E mportante ressaltar que a aula não se destna a comentar exaustvamente cada processo de erosão (objetvo do curso de Geologa Físca, que se segue a este ), e as fotos são usadas prncpalmente para delmtar e tornar mas claro o campo de debate, que de outra forma podera se tornar amplo demas e pouco objetvo. Ao termnarem estas atvdades em pequenos grupos, os alunos se dstrbuem em grande círculo, para a realzação de debate geral. Este debate tem a fnaldade de sstematzar e aprofundar os concetos desenvolvdos durante as atvdades em pequenos grupos. É coordenado, mas não drgdo, por um professor, que apenas deve colaborar na crítca do processo de racocíno e debate. É um debate entre os alunos e não entre alunos e professor. Nos casos em que não haja uma decsão, o professor não deve dar a conclusão, mas ajudar o grupo a chegar a ela ou descobrr, através de crítca metodológca, por que não chegou. Os responsáves pelo processo de aprendzagem passam então a ser os alunos, formalzando assm uma stuação de fato que ocorre em qualquer aprendzagem. O professor pode ensnar qualquer cosa, mas o aluno só aprenderá se estver empenhado no processo. A função do professor, a nosso ver, não é transferr nformações, mas fornecer condções para que o aluno trabalhe no processo da própra aprendzagem. Deve ser um facltador de aprendzagem (fornecendo experêncas de aprendzagem, recursos, esclarecmentos), mas não um ensnador. Fnalmente, é fornecdo dentro do Gua de Aula um Rotero de Reflexão que permte ao aluno estender seu estudo além dos lmtes da aula, amplando-a e aprofundando-a. 2. COMENTÁRIOS GERAIS Os alunos são agrupados em dversas classes (três ou quatro por período), conforme os resultados de um teste de pré-avalação, consttuído de 25 questões referentes a pré-requstos ( noções de Matemátca, Físca, etc., em nível colegal e relaconados com a matéra a estudar) e 25 questões de Geocêncas. Em uma mesma classe msturam-se alunos procedentes de dversos cursos da unversdade, com resultados semelhantes de pré-avalação, sendo os pequenos grupos formados da manera mas heterogénea possível. Os resultados da préavalação são comparados com os resultados fnas, para determnação do progresso consegudo durante o curso. A avalação, dos alunos ndvdualmente e do curso como um todo, é feta vsando determnar até que ponto foram atngdos os objetvos estabelecdos quando da preparação da aula. São realza- ; 1

K 64 BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA das duas provas escrtas, com respostas abertas, e dos testes com questões de múltpla escolha. Embora as questões abertas sejam muto mas dfíces de processar e nterpretar do que os testes, elas são usadas pela rqueza de nformação que fornecem e sua exgênca de trabalho mas pessoal por parte do aluno. Nos dos tpos de provas efetua-se o estudo estatístco dos resultados, para aprmoramento dos nstrumentos de avalação e cálculo dos índces de aprovetamento. Em resumo, este é o método utlzado em aula, lustrado por uma das técncas mas aplcadas, que é a do debate em pequenos e grandes grupos. Outras técncas são também empregadas, prncpalmente relaconadas à Dnâmca de Grupo, tas como Panel de Especalstas, Entrevstas, Júr Smulado e Panel Integrado. OS RECURSOS DE APRENDIZAGEM «No planejamento do curso, uma vez defndos o programa, o método e as técncas a serem empregadas, passamos à etapa de montagem de esquemas de aula, em que foram prevstas as atvdades pré, durante e pós-aula para todo o curso. Baseada nestes esquemas, sucedeu-se a etapa do planejamento, que precede a escolha e montagem de um sstema de avalação: a seleção dos recursos dsponíves para a realzação do processo de aprendzagem. Como consequênca desta ordenação de estágos, mpunhase que a escolha de um recurso só se dara caso houvesse um ajuste com os objetvos e metas geras do curso e, mas especfcamente, com o esquema de aula preparado. Por recurso de aprendzagem entendemos todo meo materal de transferênca de nformações ao aluno ou de cração de stuações, dentro de sala da aula ou fora dela, propícas ao processo educaconal. A experênca fo feta empregando ses nstalações já mplantadas e os equpamentos dsponíves. 1. CARACTERÍSTICAS DE RECURSOS Os recursos adotados e desenvolvdos pela equpe abrangem o texto-base, os mpressos de aula, os recursos audovsuas e o materal de aulas prátcas. Excetuando-se o texto-base, cada um desses tens nclu também materal absolutamente nédto, crado pelo própro grupo. Passamos a expor resumdamente as característcas desses meos. 3 De C. D. R. Carnero.

1 52: 55-68, OUTUBRO 1976 65 O texto-base fo o lvro Investgando a Terra (1973, adaptação para o Brasl pela equpe de Geocêncas da FUNBEC, do orgnal em nglês Investgatng the Earth, do ESCP Earth Scences Curr - culum Project. Este era o únco texto dsponível em português com preocupações metodológcas compatíves com os objetvos educaconas do curso. Os mpressos de aula destnaram-se a dar ao aluno não apenas nstruções consderadas essencas, mas também orentação para a execução de atvdades dversas e para uma auto-avalação contínua. Em cada aula os alunos recebam um caderno mpresso (Gua de Aula ) contendo: nformações sobre horáros e resumo das atvdades do da; especfcação dos objetvos da aula; rotero de reflexão, com questões para complementação e rotero de estudo para preparação ndvdual com vstas à resumos de flmes e aulas expostvas; roteros de debates e nvestgações em sala de aula, contendo nclusve orentações sobre metodologa e técncas empregadas; avalação ndvdual; aula segunte. Os recursos audovsuas jamas foram empregados de forma aleatóra ou smplesmente para tornar a aula mas agradável. Assm como todos os demas, estes meos sempre tveram papés defndos a desempenhar em aula, nos quas vamos nos deter mas adante. Os prncpas tpos de recursos audovsuas usados foram: Flmes Produzdos pelo ESCP como parte ntegrante do currículo Investgatng the Earth. Fotografas dversas, lustrando stuações naturas Este Sequêncas audovsuas Totalmente produzdas pela equpe. Fo possível a montagem de sequêncas de projeção smultâneas a uma narração gravada. materal fo aplcado como uma tentatva de estmular o racocíno, na medda em que smbolzava processos naturas, cuja caracterzação e reconhecmento por evdêncas eram propostos ao aluno. Este, por vezes, partndo desse tpo de recurso, era levado a abstrações maores, procurando enten- der os processos da natureza e suas nterações. O materal prátco destnou-se a permtr expermentos e smulações em sala de aula. Pudemos contar, para tanto, com kts preparados pelo ESCP, pela equpe de Geocêncas da FUNBEC e pela própra equpe da dscplna Geologa Geral. j

I I F 66 BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA 2. FORMAS DE UTILIZAÇÃO DE RECURSOS Em lnhas geras, cada recurso seleconado devera desempenhar um dos papés sntetcamente dscrmnados a segur. Elemento de orentação: sugerndo dretrzes às atvdades propostas. Núcleo de debates: funconando como fornecedor de dados, problemas cujas respostas o própro aluno devera buscar. centralzador de atenção e elemento de sstematzação. Elemento de ntrodução e motvação: procurando caracterzar Elemento de complementação: lustrando exposções teó- Elemento de síntese: aglutnando e sstematzando déas e rcas ou oferecendo nformações ndspensáves para o prosegumento das atvdades ou para uma avalação. concetos, após uma sére de atvdades. Grande número de mpressos de aula fo escrto com trechos destnados a mostrar ao aluno como e por que realzar uma atvdade e trazer dados útes para orentação de seu trabalho. Os roteros de estudo, alguns cartazes, quadros e esquemas também tveram tal fnaldade. Técncas de motvação foram empregadas na maora das sequêncas audovsuas gravadas pela equpe e em alguns dos flmes do ESCP. A preocupação de não trazer soluções, mas apenas caracterzar problemas, é específca das técncas de motvação utlzadas, procuran - do envolver o aluno e empenhá-lo no estudo e resolução de tas questões. Como núcleo de debates, além de mpressos contendo questões e temas de solução e tratamento não medatos, fzemos uso de fotografas lustrando stuações naturas. Neste caso as fotos foram um ponto de partda para uma exploração mas profunda do tema escolhdo. Da mesma manera, as própras nvestgações, longe de terem uma fnaldade em s mesmas, deveram levar o estudante a debater com seus colegas de grupos e buscar conclusões, partndo dos dados obtdos pelos expermentos ou a eles fornecdos pelos mpressos. Estes dados, por sua vez, resultaram de outras questões ncadas, de modo que o aluno jamas procurou a nformação por s própra, mas sempre pela necessdade de prossegur no estudo. Um flme que oferecesse novas nformações aos alunos em uma stuação de mpasse em sala de aula servu como elemento de complementação, da mesma forma que uma aula expostva montada com tal objetvo ou anda questões em um rotero de reflexão ou sugestões para letura adconal.

r 52 : 55-68, OUTUBRO 1976 67 Fnalmente, pudemos valer-nos de exposções oras ou debates especalmente elaborados para trazer ao aluno uma vsão de conjunto sobre um assunto que de outro modo dfclmente podera ser observado em nível de síntese. Assm, vemos que cada recurso, além de seus atrbutos naturas, recebeu um tratamento especal no que se refere à forma de utlzação. Um mesmo recurso de aprendzagem pôde ser empregado de modos dferentes, mas que devam ser claramente especfcados, para sofrer modfcações e adaptações compatíves com os objetvos geras e específcos do curso. Neste quadro, resta nclur o elemento humano, recurso que, a par dos de ordem materal, deve estar apto a desempenhar varados 1 papés no processo educaconal, que se estendem muto além do conhecmento do conteúdo. Cabe ao professor, numa metodologa atva, exercer em sala de aula ou fora dela aqueles papés de orentação, motvação, coordenação e síntese de conteúdo encontrados nos recursos materas. Estes papés podem se superpor ou se alternar durante uma aula, de modo que cabe ao professor estar perfetamente famlarzado e convencdo dos objetvos e metas do curso, assm como estar expermentado na utlzação de cada uma das técncas, para que delas possa fazer uso adequado em cada nova stuação. Na experênca da dscplna Geologa Geral, o trenamento dos docentes se fez por etapas, em que cada ndvíduo ntroduzdo passava por uma fase de observação e análse, até que progressvamente estvesse em condções de assumr uma sala de aula. j