UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DE RIBEIRÃO PRETO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA JULIANA MARIA DE AQUINO

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DE RIBEIRÃO PRETO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA JULIANA MARIA DE AQUINO O efeto da famíla sobre o desempenho educaconal da crança: uma análse do ensno fundamental braslero Orentadora: Profa. Dra. Elane Toldo Pazello RIBEIRÃO PRETO 2008

Profa. Dra. Suely Vlela Retora da Unversdade de São Paulo Prof. Dr. Rudne Toneto Júnor Dretor da Faculdade de Economa, Admnstração e Contabldade de Rberão Preto Profa. Dra. Mara Chrstna Squera de Souza Campos Chefe do Departamento de Economa

JULIANA MARIA DE AQUINO O efeto da famíla sobre o desempenho educaconal da crança: uma análse do ensno fundamental braslero Dssertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Economa da Faculdade de Economa, Admnstração e Contabldade de Rberão Preto da Unversdade de São Paulo como requsto para obtenção do título de Mestre em Economa. Orentadora: Profa. Dra. Elane Toldo Pazello RIBEIRÃO PRETO 2008

Aquno, Julana Mara de O efeto da famíla sobre o desempenho educaconal da crança: uma análse do ensno fundamental braslero. Rberão Preto, 2008. 79 p. : l. ; 30 cm Dssertação de Mestrado, apresentada à Faculdade de Economa, Admnstração e Contabldade de Rberão Preto da Unversdade de São Paulo. Orentador: Pazello, Elane Toldo 1. Desempenho escolar. 2. trabalho materno. 3. característcas famlares.

FOLHA DE APROVAÇÃO Julana Mara de Aquno O efeto da famíla sobre o desempenho educaconal da crança: uma análse do ensno fundamental braslero Dssertação apresentada à Faculdade de Economa, Admnstração e Contabldade de Rberão Preto da Unversdade de São Paulo para a obtenção do título de Mestre em Economa. Aprovado em: Banca Examnadora Prof. Dr. Insttução: Assnatura: Prof. Dr. Insttução: Assnatura: Prof. Dr. Insttução: Assnatura:

AGRADECIMENTOS À DEUS, pela vda e permanênca em meu camnho. À mnha famíla, que ao longo de toda a mnha vda sempre me deram apoo, além de muta alegra. À Profª Elane, mnha orentadora e amga, por todo conhecmento proporconado e pela pacênca e dsposção em me atender. Aos companheros de mestrado na FEARP, em especal à Isabela, ao Mauríco e ao Pedro, que tenho como grandes amgos. Aos professores da Faculdade, pelas contrbuções e pelo amadurecmento proporconado. Aos partcpantes dos semnáros na FEA-RP/USP, FEA/USP, PUC-RJ e IBMEC-SP que muto contrbuíram para este estudo. Aos professores Reynaldo Fernandes e Luz Gulherme Scorzafave, pelas crítcas e sugestões dadas na banca de qualfcação. À FAPESP, pelo apoo fnancero. À FEARP / USP pela oportundade de realzar estudos avançados em cêncas econômcas. A todos, a mnha mensa gratdão.

RESUMO AQUINO, J. M. O efeto da famíla sobre o desempenho educaconal da crança: uma análse do ensno fundamental braslero. 2008. 79 f. Dssertação (Mestrado) Faculdade de Economa, Admnstração e Contabldade de Rberão Preto, Unversdade de São Paulo, Rberão Preto, 2008. Nos últmos anos a educação tem sdo alvo de mutos estudos, o que provavelmente reflete a sua grande mportânca no contexto de uma nação. A análse da questão educaconal geralmente abrange dos aspectos: o atendmento escolar e a qualdade do ensno. No que tange à nclusão escolar no Brasl, sabe-se que essa varável teve sucesso durante a últma década, entretanto, com relação à qualdade de ensno o mesmo não pode ser dto. O objetvo desta pesqusa é analsar os determnantes do desempenho escolar das cranças brasleras, tendo como foco prncpal a famíla. A abordagem do papel da famíla será realzada a partr de dos ensaos: análse do mpacto da partcpação materna no mercado de trabalho sobre o desempenho educaconal da crança e avalação do papel exercdo pela famíla em auxlar a crança nas atvdades escolares. O prmero estudo utlzará os dados de duas sub-amostras da Pesqusa Mensal de Emprego (PME), dos anos de 1986 a 1995 e de 2002 a 2006. Já na segunda abordagem, serão utlzados os dados do Sstema Naconal de Avalação da Educação Básca (SAEB), do ano de 2005, nos quas será analsado o desempenho dos estudantes das quartas séres do ensno fundamental. Em geral, os resultados ndcaram evdêncas da relevânca dos fatores famlares para os bons resultados escolares da crança, tanto pelo efeto negatvo do trabalho materno como pelo efeto postvo de algumas varáves de nvestmento e de nteração famlar. Palavras-chave: desempenho escolar. trabalho materno. característcas famlares.

ABSTRACT AQUINO, J. M. Famly effects on chld s educatonal performance: an study of brazlan elementary school. 2008. 79 f. Dssertaton (Master Degree) Faculdade de Economa, Admnstração e Contabldade de Rberão Preto, Unversdade de São Paulo, Rberão Preto, 2008. Recently, educaton has been examned by many studes, whch reflects ts great mportance n the context of a naton. The analyss of the educatonal ssue usually nvolves two aspects: school attendance and qualty of educaton. Wth regard to Brazlan school attendance, t s known that ths varable has had success over the last decade; however, the same can not be sad about de qualty of educatonal system. The am of ths research s to analyze the determnants of academc performance of Brazlan chldren, focusng on the famly. The approach wll analyze the mpact of maternal labor on chld educatonal performance and the role of the famly n chld school actvtes. The frst study uses data from two sub-samples of Pesqusa Mensal de Emprego (PME), referrng to perods from 1986 to 1995 and from 2002 to 2006. In the second approach, wll be used data from Sstema Naconal de Avalação da Educação Básca (SAEB) of 2005, where wll be examned the students performance of the fourth seres of prmary school. The results, n general, show that famly factors were relevant for chld school performance, consderng the negatve effect of maternal employment and the postve effects of some varables of nvestment and famly nteracton. Key words: learnng performance. maternal labor. famly effects.

SUMÁRIO 1 Introdução...07 2 Trabalho materno e desempenho educaconal das cranças: uma análse da probabldade de aprovação escolar...10 2.1 Introdução...10 2.2 Base de dados e seleção da amostra...15 2.3 Metodologa...19 2.4 Resultados...25 2.4.1 Característcas descrtvas e análse dos modelos logt para a amostra de 1986-1995...25 2.4.2 Característcas descrtvas e análse dos modelos logt para a amostra de 2002-2006...35 3 Avalações do papel da famíla no auxílo às atvdades escolares da crança...47 3.1 Introdução...47 3.2 SAEB...52 3.3 Modelo estrutural e composção da amostra...54 3.4 Análse prelmnar dos dados...57 3.5 Resultados das análses de regressão...61 4 Conclusões...70 Referêncas...72 Apêndces...76

7 1 Introdução Nos últmos anos, o tema educação tem sdo alvo de mutos estudos e, essa atenção especal, provavelmente, decorre dos benefícos que a escolardade acarreta, sejam eles ndvduas, socas ou pela possbldade que a educação tem de romper o cclo de pobreza entre gerações. No que tange às vantagens ndvduas advndas da educação, destaca-se sua forte atuação em determnar a renda futura dos ndvíduos. Fernandes e Menezes-Flho (2000) mostram que os retornos à escolardade no Brasl são expressvos quando comparados aos países ndustralzados e também em relação aos países latno-amercanos, embora Menezes- Flho (2001) apresente evdêncas de que tas retornos venham declnando ao longo do tempo, em vrtude do processo de expansão educaconal vvdo pelo país. Os resultados de Menezes- Flho (2001) ndcam, por exemplo, que ndvíduos com ensno fundamental completo ganham, em méda, três vezes mas que os analfabetos. E aqueles com ensno superor completo apresentam um rendmento salaral médo quase doze vezes superor ao grupo sem escolardade. Dessa forma, o autor corrobora a déa de que a educação seja um dos prncpas determnantes da desgualdade de renda no país, ntensfcando, assm, a relevânca dos estudos acerca desse tema. A educação também tem efetos mportantes sobre o crescmento e desenvolvmento econômco dos países. Essa relação se torna bem ntutva quando se observam algumas propredades advndas do desenvolvmento educaconal: a educação proporcona, por exemplo, melhoras na qualdade da mão-de-obra, que segue acompanhada de aumentos de produtvdade. Souza (1999) verfcou que a qualdade da força de trabalho braslera, medda pela proxy anos de escolardade, encontra-se, de fato, relaconada com o produto potencal do país. Na mesma lnha, Barros e Mendonça (1997) evdencam a relevânca do atraso

8 educaconal vvdo pelo país para o desempenho econômco do mesmo. Os autores mostram que tal atraso leva as taxas de crescmento a valores entre 15 e 30% nferores ao esperado e revelam anda que a elmnação do atraso educaconal tera efetos restrtvos sobre crescmento populaconal e mortaldade e mpactos postvos sobre o desempenho educaconal futuro do país. Quando se analsa a questão educaconal, dos pontos são relevantes: o atendmento escolar e a qualdade do ensno. No que tange à nclusão escolar no Brasl, sabe-se, segundo os dados no INEP, que essa varável obteve sucesso durante a últma década. De 1991 a 2000, o atendmento escolar passou de 89 para 96,4%, entre as cranças de 7 a 14 anos, e de 62,3 para 83% para cranças de 15 a 17 anos. Por outro lado, a qualdade de ensno não obteve o mesmo êxto, já que o Brasl contnua apresentando ndcadores educaconas abaxo dos padrões nternaconas. Essa desfavorável stuação pode ser observada, por exemplo, por meo do Índce de Desenvolvmento da Educação Básca (Ideb), índce desenvolvdo recentemente pelo Inep/MEC. No Brasl como um todo, o índce médo fo de 3,8 pontos, resultado bem aquém da méda 6,0 que corresponde a um sstema educaconal com qualdade semelhante à de países desenvolvdos. Tendo em vsta o mportante papel da educação em uma socedade e o cenáro nada favorável à qualdade desta no Brasl, pesqusas voltadas para o entendmento dos determnantes do desempenho educaconal ganham cada vez mas espaço e se fazem necessáras para formulações de polítcas educaconas. É nesse contexto, que este estudo propõe uma avalação do papel da famíla sobre o desempenho educaconal das cranças brasleras. Serão realzados dos ensaos relaconados à famíla. O prmero ensao foca o papel da mãe no aprendzado da crança. A déa é analsar o mpacto da partcpação materna no mercado de trabalho sobre o desempenho educaconal de seus flhos. O segundo ensao compreende uma análse do papel exercdo pela famíla em auxlar a crança nas atvdades

9 escolares. O estudo rá avalar se as relações de nteração famlar e se os nsumos escolares adqurdos pelo domcílo são mportantes para proporconar um melhor aprendzado para a crança. O prmero estudo utlzará os dados de duas sub-amostras da Pesqusa Mensal de Emprego (PME) dos anos de 1986 a 1995 e de 2002 a 2006. Já na segunda abordagem, serão utlzados os dados do Sstema Naconal de Avalação da Educação Básca (SAEB) do ano de 2005, nos quas será analsado o desempenho dos estudantes das quartas séres do ensno fundamental. O trabalho contrbu com a lteratura, prmero, porque analsa um atrbuto da famíla trabalho materno pouco explorado nos estudos brasleros sobre o tema e aborda, mnucosamente, os fatores famlares assocados ao aprendzado da crança. E também, por utlzar os dados da PME, os quas proporconarão um trabalho dferencado porque permtrá que se trabalhe com um panel de ndvíduos. Essa dssertação está organzada em três capítulos, além desta ntrodução. O capítulo 2 aborda a relação entre trabalho materno e a probabldade de aprovação das cranças. No capítulo 3, nvestga-se a relevânca dos nsumos escolares e da nteração famlar para o bom desempenho dos alunos no SAEB. O últmo capítulo é dedcado às consderações fnas.

10 2 Trabalho materno e desempenho educaconal das cranças: uma análse da probabldade de aprovação escolar 2.1 Introdução A lteratura que contempla a mportânca da qualdade de ensno tem destaque nternaconal desde a dvulgação do Relatóro Coleman, em 1966, o qual revelou com clareza o peso da orgem socal, ou seja, a mportânca das característcas famlares na determnação do desempenho escolar das cranças. Em geral, os estudos utlzam para background famlar as característcas dos pas em termos de escolardade e dade. Neste ensao, no entanto, pretende-se focar especfcamente o papel da presença da mãe no aprendzado da crança. A déa é analsar o mpacto da partcpação materna no mercado de trabalho sobre o desempenho escolar de seus flhos, especfcamente, sobre a probabldade de aprovação das cranças. A partcpação no mercado de trabalho reduz, em certo número de horas, o tempo de dedcação com o cudado dos flhos e é a partr desse mecansmo que o emprego materno pode ter efetos sobre os resultados escolares das cranças. Na lteratura, o mpacto do trabalho materno sobre o desempenho educaconal da crança tem apresentado resultados contradtóros. Essa dversdade, provavelmente, decorre da perspectva ambígua do trabalho materno, sto é, se por um lado a ausênca da mãe no domcílo pode reduzr o nível de controle, orentação e montoração dada à crança, o trabalho materno pode também estar assocado a maores rendmentos, compensando, assm, a redução no tempo gasto com a

11 crança 1. A nterpretação econômca dessa perspectva enfatza o trade-off com o qual os pas se deparam, ou seja, eles devem decdr sobre a combnação entre os recursos monetáros e temporas que serão utlzados na produção de qualdade da crança. Os estudos que abordam essa relação apresentam resultados sensíves à seleção amostral, às meddas escolhdas para representar emprego materno e desempenho escolar da crança e prncpalmente em relação à escolha das varáves de controle. Apresenta-se a segur uma revsão, não exaustva, da lteratura acerca do tema. Mlne et al (1986) analsaram o efeto de vver em famílas mononucleares, nas quas ocorre ausênca de um dos pas, e o efeto do emprego materno sobre o desempenho educaconal das cranças amercanas. Os resultados do estudo mostraram que ambas as varáves analsadas tveram efetos negatvos sobre a realzação dos alunos em letura e matemátca, entretanto, esses efetos dferram quanto à dade, raça e estrutura famlar. Para cranças da raça negra, orundas de famílas monoparentas, por exemplo, encontrou-se um efeto postvo da partcpação materna no mercado de trabalho. Os autores anda enfatzaram a escassez de dados que possbltassem a avalação de outras varáves assocadas ao emprego materno (como o grau de profssonalsmo e a atenção despendda com a crança no da a da). No estudo de Stafford (1987), o autor buscou nterpretar a relação das varáves emprego materno, fecunddade, tempo entre as datas de nascmento dos flhos e recursos famlares sobre as habldades cogntvas das cranças amercanas de escola prmára. Foram analsadas meddas de habldade cogntva como concentração, ndsposção, compreensão, retenção de nformações, capacdade de trabalhar soznho e destreza para línguas. A pesqusa se apoou em uma estrutura concetual na qual o desenvolvmento da crança é função, dentre outras varáves, do tempo que os pas despendem com o cudado dos flhos. Entre seus resultados, pôde-se constatar que o tamanho da famíla, medda pelo número de rmãos, mpactou 1 Ver a este respeto Haveman e Wolfe (1995).

12 negatvamente o desempenho do aluno. Por outro lado, recursos famlares como renda, educação, tempo despenddo pelos pas com o cudado dos flhos e tempo reduzdo da mãe no mercado de trabalho não só estão assocados a maores habldades cogntvas como também podem compensar a aparente desvantagem de ter rmãos com ntervalos pequenos de dade. O autor enfatza a exstênca de um trade-off entre a carrera da mãe no mercado de trabalho e no trabalho de casa. Porque da mesma forma que o tempo de cudado com os flhos leva ao desenvolvmento dos mesmos, a partcpação materna no mercado de trabalho também proporcona melhores resultados educaconas a partr da renda provenente deste trabalho. Desta forma, a mulher decde como dstrbur seu tempo entre o mercado de trabalho e o trabalho em casa de acordo com suas habldade para cada um dos dos afazeres. Mulheres mas produtvas no mercado não têm necessaramente a mesma vantagem no servço de casa e essas dferenças explcam suas escolhas. Kren e Beller (1988) realzaram uma análse, por raça e gênero, do efeto de vver em famílas mono parentas sobre a escolardade da cranças amercanas. Seus resultados mostraram que o efeto negatvo de crescer neste tpo de famíla (devdo à redução de recursos famlares para nvestmento em captal humano dos flhos) aumenta com o número de anos despenddos nessas famílas, é maor durante os anos pré-escolares e também é maor entre os mennos. Entre outras relações observadas, os autores destacaram a mportânca da varável que analsava a stuação ocupaconal das mães das cranças em questão. Eles observaram que mães que trabalharam fora de casa mpactaram negatva e sgnfcatvamente os resultados educaconas de seus flhos somente para o grupo de mennos de cor branca. Quanto ao número de rmãos, outra medda utlzada para captar a redução no tempo despenddo pelos pas com os flhos, essa varável teve efeto negatvo sobre a educação da crança para todos os grupos analsados, sendo seu efeto mas uma vez maor entre os mennos de cor branca.

13 Haveman, Wolfe e Spauldng (1991) realzaram uma exploração empírca dos efetos de dversas crcunstâncas famlares e econômcas vvda pela crança durante sua nfânca sobre um ndcador de sucesso na sua juventude: a conclusão do ensno médo amercano. Com esse ntuto, foram utlzados dados em panel os quas acompanharam cranças com dade gual ou nferor a quatro anos durante um período de 19 anos. Seus resultados sugerram que a educação dos pas e o trabalho materno são determnantes postvos e sgnfcatvos da conclusão do ensno médo. Por outro lado, mudar de resdênca quando crança, pertencer a famílas numerosas e ser pobre mpactaram negatvamente a probabldade de térmno do cclo. O estudo mostrou que o fato da mãe trabalhar e, desta forma, contrbur com a renda famlar, tem mpacto postvo sobre a conclusão do ensno médo somente quando o evento ocorre na adolescênca dos alunos. Por outro lado, o efeto postvo da renda é reduzdo quando o trabalho materno acontece durante a nfânca dos mesmos. Resultados semelhantes ao anteror também foram encontrados por Blau e Grossberg (1992). Anda se tratando da lteratura nternaconal, estudos mas recentes têm enfatzado os efetos adversos da volta precoce da mãe ao mercado de trabalho após o nascmento de um flho. Waldfogel et al (2002), analsando dados amercanos, encontraram efetos restrtvos do trabalho materno durante o prmero ano de vda da crança sobre os futuros resultados escolares da mesma em testes padronzados. Os efetos se mostraram negatvamente mas ntensos entre as mães que trabalharam em tempo ntegral e, por outro lado, foram menos restrtvos quando o evento ocorreu durante o segundo ou tercero ano de vda da crança. Os resultados desse estudo corroboraram aqueles encontrados por Han et al (2001). Ruhm (2002) também nvestga a relação entre emprego materno e o desenvolvmento cogntvo das cranças que expermentaram tal stuação. Seus resultados, também para dados amercanos, mostram que a partcpação materna no mercado de trabalho durante os três

14 prmeros anos de vda da crança tem efetos negatvos sobre as habldades verbas da crança aos três e quatro anos e são anda mas perversos sobre os resultados em testes de letura e matemátca aos cnco e ses anos de dade. Assm como nos estudos anterores, a maor jornada de trabalho se assoca a efetos anda mas restrtvos, sendo o efeto mas custoso para as cranças provndas de famílas completas, ou seja, que contam com a presença de ambos os pas. Utlzando dados do Reno Undo, Gregg et al (2005) também buscam dentfcar efetos adversos do emprego materno precoce sobre posterores resultados escolares das cranças. Os autores analsam, a partr de uma coorte do nco dos anos noventa, os efetos do emprego materno sobre três dferentes testes padronzados que ocorrem durante o quarto e o sétmo ano de vda da crança. Seus resultados mostram que o trabalho materno tem efetos adversos, e anda com pequena magntude, somente quando ocorre em jornada ntegral e durante os prmeros dezoto meses de vda da crança. Concluu-se também que os efetos são pores conforme aumenta o nível de escolardade das mães, e por outro lado, são menos perversos para aquelas cranças provndas de famílas monoparentas. Provavelmente, neste últmo caso, o efeto postvo advndo do trabalho da mãe mas que compensa seus efetos negatvos em função do menor tempo despenddo junto à crança. Os autores anda analsam as conseqüêncas do trabalho materno de acordo com o tpo de cudado utlzado para substtur o cudado dos pas. Nesse caso, os efetos foram mas custosos para as cranças que passaram a receber cudados de amgos, parentes ou vznhos, relatvamente àquelas que passaram a freqüentar ambentes escolares. No Brasl, a relação entre trabalho materno e desempenho educaconal tem sdo pouco explorada. Na verdade, o únco trabalho de que se teve conhecmento fo o realzado por Slva e Hasenbalg (2000), que avala a evolução das desgualdades educaconas e as mudanças nos determnantes extra-escolares do desempenho escolar. A partr dos dados da PNAD,

15 referentes aos anos de 1976, 1986 e 1998, os autores analsam um modelo de realzação escolar no qual o nível de escolarzação atngdo pelos jovens de 15 a 18 anos é predto por fatores ndcatvos da stuação socoeconômca, do captal cultural e do captal socal acessível a suas famílas. Nesse modelo, o trabalho materno representa uma das proxes de captal socal, dado que a ausênca da mãe no domcílo reduz a quantdade de tempo dsponível para o relaconamento com os flhos, dmnundo, assm, o montante de captal socal dentro da famíla. Os resultados evdencaram um comportamento não esperado para a varável de trabalho materno, o efeto desta varável se transformou de negatvo, em 1976, para postvo em 1998. Em suma, a resenha da lteratura mostrou que o efeto do trabalho materno sobre os resultados escolares da crança é uma medda que vara conforme a amostra e as varáves explcatvas empregadas. Como pôde ser observado, raça, tpo de composção famlar, período de vda da crança no qual o evento ocorre e varáves maternas como jornada de trabalho e escolardade são fatores que nfluencam fortemente o snal e até mesmo a magntude do efeto observado. Além dsso, também pôde- se constatar uma escassez de estudos brasleros que tratam dessa relação, o que dá à pesqusa proposta a oportundade de trazer resultados mportantes e necessáros para um melhor entendmento da relação entre trabalho materno e desempenho educaconal no Brasl. 2.2 Base de dados e seleção da amostra A base de dados utlzada nesse exercíco fo construída a partr da Pesqusa Mensal de Emprego (PME), IBGE. Essa pesqusa, ncada em 1980, tem como prncpal objetvo

16 produzr ndcadores do mercado de trabalho. Sua perodcdade é mensal e abrange as regões metropoltanas de Recfe, Salvador, Belo Horzonte, Ro de Janero, São Paulo e Porto Alegre. O dferencal dessa pesqusa é que ela trabalha com panés amostras rotatvos. O domcílo compreenddo na amostra é entrevstado por quatro meses consecutvos, é retrado da amostra por oto meses e retorna a ela exatamente após um ano a contar da prmera entrevsta, sendo entrevstado por mas quatro meses. Em 2001, a PME passou por um processo de revsão metodológca de forma a atualzar sua cobertura temátca e se adequar às recomendações nternaconas. As mudanças foram de porte sgnfcatvo, de forma que há uma quebra na sére hstórca da pesqusa: de 1980 a 2001 tem-se dados de acordo com a metodologa antga da PME e de 2002 em dante os dados seguem a metodologa nova da PME. Optou-se, nesse estudo, por utlzar os dados tanto da PME velha quanto da PME nova. Tal decsão se apóa nas vantagens exclusvas do uso de cada uma delas. A PME velha abrange um maor período de anos e, assm possblta a formação de amostras mas representatvas. Além dsso, o período compreenddo entre 1986 e 1995 suprme os eventuas problemas que polítcas educaconas de progressão contnuada possam ter em relação à probabldade de aprovação das cranças, dado que o desdobramento do ensno fundamental em cclos fo facultado pela Le de Dretrzes e Bases da Educação Naconal de 1996. É por essa razão, nclusve, que se optou por trabalhar apenas com anos de 1986 a 1995 da PME velha. Por outro lado, a PME nova torna possível a ncorporação de uma mportante varável referente ao passado ocupaconal da mãe, que não estava presente no questonáro antgo da PME. A seleção da amostra de nteresse seguu os procedmentos adotados em Cavalere (2000) 2. Prmeramente, só foram ncluídas as famílas cuja prmera entrevsta ocorreu entre 2 Neste trabalho o objetvo da autora era analsar a relação entre trabalho nfantl e desempenho escolar. Para sso também utlzou os dados da PME. O desenho utlzado pela autora para dentfcar o efeto causal do trabalho nfantl fo adaptado para o presente estudo.

17 os meses de março a julho do ano em questão. Essa escolha decorre do fato de que os dos prmeros meses do ano correspondem às féras escolares e, assm, não sera possível dentfcar se a crança estara freqüentando escola ou não. Por outro lado, nos meses de agosto a dezembro, parte do ano letvo já se fo e, desta forma, o desempenho escolar da crança já pode estar comprometdo por outras razões que podem não estar relaconadas ao trabalho materno. O trabalho utlza apenas as cnco prmeras entrevstas. Assm, por exemplo, se a prmera entrevsta ocorre em março, acompanha-se a famíla, em abrl, mao e junho deste mesmo ano e, em março do ano segunte. Destas famílas, só foram ncluídas na amostra cranças com dade entre 10 e 14 anos, que estvessem freqüentando escola quando foram entrevstadas pela prmera vez e que permaneceram estudando durante todas as cnco entrevstas. Além das restrções mpostas acma, somente fzeram parte da amostra aquelas cranças cujas mães estvessem fora do mercado de trabalho quando da prmera entrevsta, ou seja, cranças cujas mães fossem natvas. Vale ressaltar que foram excluídas da amostra famílas cujas mães não responderam as questões referentes à data de nascmento, vsto que nvablzaram a tentatva de garantr que as mães do domcílo entrevstado fossem as mesmas em todas as cnco entrevstas. No fnal da seleção, o mesmo procedmento fo adotado para as cranças da amostra. Foram excluídas também as cranças que não pertencam ao grupo de tratamento e nem ao de controle, a composção de tas grupos será explctada a segur. Fnalmente, foram retradas aquelas famílas que tveram seu status conjugal alterado, assm como as cranças cuja dferença de anos de escolardade entre os dos anos analsados fosse dferente de zero ou um. A tabela 1 apresenta uma síntese cronológca das etapas realzadas na composção da amostra de nteresse, assm como o número de observações presentes em cada fase da seleção.

18 Número da etapa e sua desgnação Tabela 1 Etapas da seleção amostral Nº de cranças com dade entre 10 e 14 anos Amostra: 1986-95 Nº de cranças com dade entre 10 e 14 anos Amostra: 2002-06 1ª etapa: foram seleconadas somente as cranças com dade entre 10 e 14 anos cuja prmera entrevsta ocorreu entre os meses de março a julho 74.379 17.648 2ª etapa: foram excluídas as cranças cuja mãe não respondeu as questões referentes à data de nascmento 73.252 15.580 3ª etapa: permaneceram na amostra somente as cranças que estavam freqüentando escola quando da prmera entrevsta 69.016 15.235 4ª etapa: foram seleconadas somente as cranças cuja mãe estvesse fora do mercado de trabalho quando da prmera entrevsta 36.455 6.371 5ª etapa: foram excluídas as cranças cuja mãe não partcpou de todas as cnco entrevstas 27.631 4.481 6ª etapa: permaneceram na amostra somente as cranças cuja mãe fosse a mesma em todas as cnco entrevstas (verfcação a partr da data de nascmento) 27.446 3.444 7ª etapa: foram excluídas aquelas cranças que não pertencam ao grupo de tratamento nem ao de controle 20.308 2.617 8ª etapa: foram seleconadas somente as cranças cuja mãe não teve o status conjugal alterado 20.170 2.582 9ª etapa: permaneceram na amostra apenas as cranças que estavam freqüentando escola em todas as cnco entrevstas 18.324 2.143 10ª etapa: foram excluídas as cranças cuja dferença de anos de escolardade entre os dos anos analsados fosse dferente de zero ou um 17.235 1.829 11ª etapa: foram seleconadas somente as cranças que responderam as questões referentes à data de nascmento 16.998 1.775 12ª etapa: permaneceram na amostra as cranças que fossem as mesmas em todas as cnco entrevstas (verfcação a partr da data de nascmento) 15.371 1.464 Fonte: PME Elaboração própra A partr dessa amostra, foram dentfcados dos grupos. O prmero grupo, denomnado de grupo de controle (a seção metodológca explctará essa nomenclatura), é composto por cranças cujas mães não partcparam do mercado em nenhuma das cnco

19 entrevstas observadas, sto é, eram natvas na prmera entrevsta e contnuaram natvas durante as outras quatro entrevstas. O outro grupo, que é o grupo de tratamento, é formado por cranças cujas mães passaram a fazer parte da PEA em um dos três meses subseqüentes à prmera entrevsta, contnuaram partcpando nos meses em que foram entrevstadas nesse mesmo ano, e permaneceram partcpando no ano segunte, ou seja, na qunta entrevsta. Um exemplo pode ajudar a entender. Suponha que a mãe tenha sdo observada pela prmera vez em março e que ela tenha entrado no mercado em mao (sto é, na tercera entrevsta). Se este fo o caso, para fazer parte desse grupo, ela deve ter permanecdo no mercado em junho daquele ano e deve também estar no mercado em março do ano subseqüente (ou seja, na qunta entrevsta). Desta manera, a amostra do período de 1986-1995 fo composta por 13.748 observações, das quas 1.627 representam o grupo de tratamento. E para o segundo período, 2002-2006, a amostra formada compreende 1.398 observações, sendo o grupo de tratamento composto por 211 cranças. 2.3 Metodologa A avalação do mpacto do trabalho materno sobre a probabldade de aprovação da crança se resume na análse de como tera sdo o desempenho escolar das cranças cujas mães começaram a partcpar do mercado de trabalho, caso elas não tvessem partcpado. No entanto, dado que não é possível observar as mães que partcparam do mercado na stuação de não ter partcpado, a solução é crar um grupo de controle a fm de representar tal stuação, de manera que a avalação do contrafactual exposto acma seja alcançada. Na lnguagem de avalação, o tratamento é a entrada da mãe no mercado de trabalho ; consequentemente, o

20 grupo de tratamento é formado pelas cranças cujas mães começaram a trabalhar e o grupo de controle é formado pelas cranças cujas mães permaneceram fora do mercado de trabalho. Seja Y 1 a probabldade de aprovação da crança cuja mãe começou a trabalhar e a probabldade de aprovação da crança cuja mãe contnuou fora do mercado de trabalho. Assm, o efeto da entrada da mãe no mercado de trabalho sobre a probabldade de aprovação da crança é π = Y e, o mpacto médo da entrada da mãe no mercado de trabalho Y1 0 sobre tas cranças é Π = [ Y Y T 1] E, onde T = 1 ndca que a mãe da crança entrou 1 0 = no mercado de trabalho e T = 0 ndca que a mãe não entrou no mercado de trabalho. Entretanto, como colocado acma, não é possível verfcar a mesma crança nessas duas stuações. Nesse caso, a déa é eleger um grupo de comparação que represente o grupo tratado na ausênca do tratamento. O objetvo é, então, estmar a dferença entre a probabldade de aprovação das cranças cujas mães passaram a partcpar do mercado de trabalho e a probabldade de aprovação das cranças cujas mães não entraram no mercado de trabalho, de forma que: Y 0 [ Y T ] E[ Y T = 0] = Π + { E[ Y T = 1] E[ Y T 0] } E (1) 1 = 1 0 0 0 = O últmo termo do lado dreto de (1) é uma medda do vés de seleção, representando o fato de que a probabldade de aprovação das cranças cujas mães não entraram no mercado não corresponde exatamente à probabldade de aprovação das cranças cujas mães passaram a trabalhar caso tas mães não tvessem entrado no mercado de trabalho. Em outras palavras, para dentfcar Π por meo da comparação com um grupo de cranças não-tratadas, sera necessáro garantr que E [ Y T ] E[ Y T = 0] 0 0 = 1 0 =. Esta últma condção sera atendda,

21 caso a desgnação das cranças entre tratamento e controle ( T = 0, 1) tvesse ocorrdo de forma aleatóra. Como o processo de seleção não fo aleatóro, a estratéga é utlzar um método econométrco e hpóteses de dentfcação para a estmação de Π de forma consstente. O que sgnfca dzer que a desgnação entre tratamento e controle não é aleatóra? Por exemplo, é provável que exsta uma sobre-representação de mães mas educadas entre aquelas que decdem entrar no mercado de trabalho. Assm, as cranças no grupo de tratamento devem ter, em méda, mães mas educadas. A smples comparação das médas de aprovação entre os grupos pode evdencar uma maor probabldade de aprovação entre as cranças cujas mães começaram a trabalhar. No entanto, esta dferença, certamente, deve-se, em parte, ao fato das mães do grupo de tratamento apresentarem um maor nível educaconal, vsto que um dos efetos mas bem evdencados na lteratura de educação é o efeto postvo da escolardade da mãe sobre o desempenho escolar da crança. A hpótese de dentfcação adotada é que mães que tenham as mesmas característcas observáves tenham a mesma probabldade de ngresso no mercado de trabalho. Isto sgnfca assumr que ( 1 ) Y0, Y T X e E [ Y0 X, T = 1] = E[ Y0 X, T = 0], onde denota ndependênca e X o vetor de característcas observáves. A plausbldade desta hpótese depende, portanto, da escolha de X. De qualquer forma, assumndo-se esta hpótese, obtémse: Π X = [ Y X, T = 1] E[ Y X, T = 0] E (2) onde Π X é o mpacto médo da entrada da mãe no mercado de trabalho sobre a probabldade de aprovação das cranças, condconal em X.

22 A varável dependente empregada nesse estudo é a probabldade de aprovação da crança. Essa varável fo obtda por meo da análse dos anos de estudo completos entre os dos anos consecutvos em que cada crança é observada na amostra. Desta forma, foram consderadas aprovadas as cranças cuja dferença de anos de estudo entre a qunta e a prmera entrevsta fosse gual a um. Naturalmente, foram consderadas reprovadas as cranças para as quas tal dferença fosse gual a zero. Em função da característca bnára dessa varável, os resultados econométrcos são obtdos a partr de modelos logt. Com relação ao vetor de característcas X, foram ncluídas as seguntes varáves: relatvas às cranças: gênero, dade, atraso escolar 3 e partcpação no mercado de trabalho (trabalho nfantl); relatvas à famíla da crança: se a crança resda com ambos os pas, número de rmãos com dade gual ou nferor a quatorze anos, número de rmãos maores de qunze anos, renda famlar per capta na prmera entrevsta e varação da renda famlar per capta entre a qunta e a prmera entrevsta (sem nclur a renda orunda do trabalho da mãe caso esta tenha entrado no mercado de trabalho); relatvas ao pa da crança: escolardade e uma dummy para dentfcar se o pa era empregado em tempo ntegral; relatvas à mãe da crança: dade, escolardade e uma dummy para dentfcar se a mãe tnha trabalhado nos últmos doze meses anterores a prmera entrevsta; foram ncluídas também dummes para cada uma das regões metropoltanas e dummes para os dferentes anos e meses da PME. 3 Para o cálculo da varável de atraso escolar, fo necessáro construr prmero a escolardade deal para as cranças da amostra. De acordo com os crtéros utlzados, estara em stuação adequada em termos de escolardade, por exemplo, o estudante, que completasse dez anos até julho de um determnado ano e, que estvesse naquele ano, freqüentando a quarta sére do ensno fundamental, ou seja, que tvesse três anos completos de estudo. Racocíno análogo pode ser aplcado para as demas dades. Calculada a escolardade deal, a varável atraso escolar se resume na dferença entre os anos de estudo completos que sera esperado para sua dade e os anos de estudo efetvamente concluídos pela crança

23 Dentre as varáves relatvas à crança, destaque deve ser dado ao atraso escolar e à condção de trabalho. A varável de atraso escolar deve estar captando o efeto fxo ndvdual de cada crança que não é observável nos dados, vsto que é bascamente uma varável do hstórco escolar de cada crança. Isto é, representa as attudes passadas de cada crança com relação à escola: um maor atraso pode refletr uma maor dfculdade com os estudos ou até mesmo um menor nteresse. As evdêncas empírcas mostram uma relação negatva entre atraso e desempenho escolar, logo, se houver qualquer correlação entre essa varável e a nserção da mãe no mercado de trabalho, o mpacto estmado sera envesado sem o seu controle. A varável de trabalho nfantl deve estar correlaconada com as condções fnanceras da famíla. Quanto menor a renda da famíla maor a probabldade da crança estar trabalhando, o que pode afetar seu desempenho escolar, já que o trabalho reduz o tempo dsponível para o estudo extra-escolar e anda pode prejudcar o aluno em sala de aula, em vrtude do cansaço causado 4. Por outro lado, uma menor renda famlar pode levar também a uma maor partcpação dos outros membros da famíla, nclusve da mãe. Assm, é mportante condconar as estmatvas a esta varável, porque caso contráro seu efeto negatvo sera captado pela varável de nteresse, sto é, pela varável que dentfca o tratamento. Com relação às característcas da famíla, o destaque fca para a varação da renda famlar per capta. Suponha que haja entre a prmera e a qunta entrevsta um choque negatvo sobre a renda da famíla, causado, por exemplo, pela perda do emprego do pa. Isto pode levar uma parte das mães para o mercado de trabalho. Por outro lado, esta queda da renda famlar pode também afetar o desempenho educaconal das cranças. Assm, se não houver um controle para esse choque, parte de seu efeto será erroneamente dentfcado como 4 Esse resultado é bastante ntutvo e bem conhecdo na lteratura, podendo ser observado, por exemplo, no estudo de Cavalere (2000) e Kassouf (2002).

24 um efeto negatvo da entrada da mãe no mercado de trabalho sobre o desempenho escolar das cranças. É por esta razão que a amostra fo restrta apenas às famílas que não tveram alteração de status conjugal entre as entrevstas. Quanto às característcas paternas, a déa é que essas varáves por exemplo, a jornada de trabalho dos pas sejam relaconadas tanto com a probabldade de aprovação da crança como com a entrada da mãe no mercado de trabalho. Por fm, com relação às característcas das mães, o destaque será para a varável de passado ocupaconal. Pode ser que o fato de a mãe começar a partcpar do mercado, e desta forma se ausentar do ambente domclar, tenha efetos restrtvos sobre o desempenho escolar das cranças somente num prmero momento, até que as cranças se adaptem a essa nova rotna famlar. Desta forma, quanto mas recorrente para a mãe for o evento entrar no mercado de trabalho, menos custoso será para a crança, já que esta estará mas habtuada aos momentos de ausênca da mãe. Esta nformação sobre o passado ocupaconal da mãe, no entanto, não exste no questonáro da PME velha e, assm, somente estará presente nos exercícos referentes à amostra do período 2002-2006. Já as varáves de dade e escolardade são característcas que refletem a produtvdade das mulheres e que, portanto, devem estar correlaconadas com a nserção da mãe no mercado de trabalho. Com relação aos demas controles, para os quas não foram fetos comentáros específcos, a déa é sempre a mesma: são varáves que afetam o desempenho escolar das cranças e que são correlaconadas com a entrada da mãe no mercado de trabalho, ou seja, com a desgnação das cranças entre tratamento e controle. Assm, se tas controles não forem consderados haverá correlação entre a varável de nteresse e o erro, envesando as estmatvas.

25 2.4 Resultados Esta seção fo dvdda em duas subseções a fm de facltar a exposção. A prmera apresenta os resultados obtdos a partr dos dados da PME velha e, a segunda, os obtdos a partr dos dados da PME nova. Para cada um dos exercícos, apresenta-se prmeramente uma descrção dos dados e, em seguda, os resultados propramente dtos. 2.4.1 Característcas descrtvas e análse dos modelos logt para a amostra de 1986-1995 As característcas da amostra analsada estão apresentadas na tabela 2. As médas das varáves são acompanhadas dos respectvos erros padrão, medda que ndca a precsão das estmatvas. Além dsso, também foram realzados testes de dferença de médas no ntuto de verfcar se as dferenças exstentes entre os grupos são estatstcamente sgnfcatvas, ou não. Em relação às característcas ndvduas da crança, pode-se observar que a varável dade não apresentou dvergênca entre o grupo de controle e o grupo de tratamento. As cranças da amostra têm, em méda, doze anos de dade. Por outro lado, a varável referente ao atraso escolar, o gênero e a proporção de cranças que partcpam do mercado de trabalho dvergram entre os dos grupos analsados: as cranças que compõem o grupo de tratamento estão mas dstantes da escolardade deal e a proporção de trabalhadores nfants neste grupo representa o dobro daquela verfcada para o grupo de controle. Entre as característcas famlares número de rmãos de zero a quatorze anos, número de rmãos de qunze ou mas anos, estrutura famlar e renda famlar per capta todas, sem

26 exceção, foram, em méda, estatstcamente dferentes entre os grupos. Em méda, o grupo de tratamento tem uma maor quantdade de rmãos com dade entre zero e quatorze anos e menor quantdade de rmãos maores de qunze anos. Além dsso, tanto a renda como a proporção de famílas completas apresentaram valores nferores para este grupo. Esse últmo resultado é bastante ntutvo, já que é de se esperar que o chefe de famílas monoparentas, nesse caso as mães, tenha maor necessdade de sar para o mercado em busca de renda. Quanto à varação proporconal da renda, observa-se que enquanto as famílas do grupo de controle tveram uma varação negatva de 22,5%, para o grupo de tratamento a queda representou 26% do valor da renda 5. Em relação às característcas dos pas das cranças, a proporção de pas trabalhando em tempo ntegral é superor no grupo de controle, assm como maor é o nível de escolardade dos mesmos para esse grupo. Quanto às característcas maternas, é possível observar que tanto a educação como a dade da mãe, fatores produtvos mportantes, apresentaram dvergêncas em relação aos grupos em questão: as mães que começaram a partcpar do mercado de trabalho são mas novas e têm menor escolardade. Por últmo, com relação à regão de resdênca das cranças, observa-se que as dferenças não são sgnfcatvas para as regões metropoltanas de Belo Horzonte, Porto Alegre e Recfe. Por outro lado, a proporção de cranças do grupo de tratamento é maor na regão metropoltana de Salvador e menor na regão de São Paulo. Em suma, as característcas da amostra, em sua maora, apresentaram dvergêncas entre os grupos analsados, destacando-se as varáves de renda famlar e de trabalho nfantl, o que enfatza a necessdade de condconar as estmatvas nestas característcas. 5 Anda que o comentáro faça referênca à varação proporconal da renda das famílas, vale destacar que a tabela descrtva apresenta os valores médos das varações brutas. O cálculo da varação proporconal méda da renda, assm como o desvo dessa estmatva, não fo realzado de forma dreta devdo à exstênca de valores nulos da renda ncal das famílas.

27 Tabela 2 Característcas descrtvas dos grupos: méda e desvo-padrão (DP) Amostra: 1986-1995 Varáves Grupo de controle Grupo de tratamento Méda DP Méda DP Dferenças sgnfcatvas para nível de confança de 95% Idade da crança 11,91 1,40 11,92 1,39 Sexo masculno 0,53 0,50 0,50 0,50 * Trabalho nfantl 0,02 0,16 0,04 0,20 * Atraso escolar 1,34 1,38 1,51 1,41 * nº de rmãos de 0 a 14 anos 1,72 1,49 1,87 1,51 * nº de rmãos de 15 ou mas anos 0,87 1,30 0,63 1,05 * famíla completa 0,94 0,24 0,89 0,31 * renda famlar ncal per capta 100,10 152,52 64,87 92,92 * da renda famlar per capta -22,49 164,53-16,86 81,48 % de pas trabalhando em tempo 0,90 0,30 0,85 0,36 * ntegral Educação do pa 4,88 4,54 4,28 3,97 * Educação da mãe 4,05 3,88 3,81 3,62 * Idade da mãe 39,71 7,74 37,93 6,64 * Resdênca em Salvador 0,12 0,32 0,15 0,36 * Resdênca em Belo Horzonte 0,22 0,42 0,24 0,43 Resdênca em São Paulo 0,23 0,42 0,19 0,39 * Resdênca em Porto Alegre 0,12 0,32 0,12 0,32 Resdênca em Recfe 0,14 0,34 0,14 0,35 Resdênca em Ro de Janero 0,17 0,38 0,14 0,35 * Número de observações 12.121 1.627 Fonte: PME (1986 a 1995) Elaboração própra A estmação da probabldade de aprovação da crança em decorrênca da partcpação materna no mercado de trabalho fo realzada, ncalmente, a partr de quatro modelos logt. O prmero modelo nclu somente a dummy do grupo de tratamento. No modelo 2 foram nserdas as característcas das cranças e de sua famíla. O tercero modelo compreende, além das varáves já ncluídas nos modelos anterores, a varável que dentfca a renda famlar per capta ncal e anda a varável que controla a varação da renda famlar, exclusve a renda da mãe, de forma a controlar eventuas choques que possam ter efetos sobre o processo

28 educaconal da crança. No modelo 4, característcas paternas foram acrescentadas ao modelo anteror. Para este últmo modelo, a amostra restrngu-se às cranças provenentes de famílas completas. A tabela 3 apresenta os efetos margnas, referentes aos modelos menconados acma, calculados para ndvíduos de característcas méda da amostra. Em relação à dummy de tratamento, a varável de nteresse desse estudo, pode-se observar que seus efetos margnas foram estatstcamente sgnfcatvos nos três prmeros modelos. Os resultados dos exercícos de regressão mostram que o fato de uma crança fazer parte do grupo de tratamento prejudca suas chances de aprovação, em méda, em 2,3 pontos percentuas. Em outras palavras, pode-se dzer que a partcpação materna no mercado de trabalho tem efeto negatvo, porém de pequena magntude sobre o desempenho escolar das cranças. Com relação ao últmo modelo, o qual nclu característcas paternas da crança, pode-se observar um efeto restrtvo da dummy que dentfca pas com emprego em tempo ntegral. Para essas cranças, a probabldade de aprovação fca reduzda em 4 pontos percentuas. E quanto à dummy de tratamento, apesar de apresentar snal negatvo, assm como nos modelos anterores, o resultado não fo estatstcamente dferente de zero. Dentre as varáves de controle, algumas estmatvas merecem ser destacadas. Como se pode observar, cranças que partcpam do mercado de trabalho apresentaram, em méda, um por desempenho escolar. Todava, esse resultado não se mostrou sgnfcatvo estatstcamente. Com relação à varável de defasagem dade-sére, é possível notar que o aumento do número de anos de atraso escolar da crança tem mpacto negatvo sobre a chance de aprovação da mesma. Em méda, o aumento de um ano na defasagem reduz a probabldade de aprovação em 2,5 pontos percentuas 6. Anda com relação à defasagem dade-sére, é 6 Leon e Menezes-Flho (2002) realzaram, também a partr da PME, uma análse dos ndcadores e determnantes da reprovação, avanço e evasão escolar condconal à reprovação para quartas e otavas séres do

29 nteressante destacar que essa varável pode estar captando o efeto, por exemplo, da varável de escolardade da mãe. Honda (2007) traz evdêncas postvas dessa correlação, mostrando que a educação da mãe tem efetos negatvos sobre o atraso escolar de seus flhos. Anda em relação às característcas da crança, a probabldade de aprovação dmnu com a dade e é menor entre os mennos. Por outro lado, vver em famílas completas aumenta a probabldade de ser aprovado, em méda, em 3 pontos percentuas. Tabela 3 Impacto do trabalho materno sobre a probabldade de aprovação das cranças efetos margnas dos modelos logt amostra: 1986 a 1995. Vr. Dependente = Probabldade de Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4 Aprovação Cranças cujas mães -0,039*** -0,026** -0,023* -0,016 partcparam do mercado (0,012) (0,013) (0,013) (0,013) Característcas da crança Trabalho nfantl -0,038-0,038-0,042 (0,025) (0,025) (0,027) Anos de atraso escolar -0,026*** -0,025*** -0,023*** (0,003) (0,003) (0,003) Sexo masculno -0,064*** -0,064*** -0,067*** (0,008) (0,008) (0,008) Idade -0,010*** -0,010*** -0,014*** (0,003) (0,003) (0,003) Característcas da famíla da crança Famíla completa 0,039** 0,032* (0,017) (0,017) Nº de rmãos com dade -0,009*** -0,007** -0,007** <= 14 (0,003) (0,003) (0,003) Nº de rmãos com dade > -0,003-0,003-0,002 15 (0,004) (0,004) (0,004) Varação da renda famlar 0,0001** 0,0001* per capta (0,0001) (0,0001) Renda famlar per capta 0,0002*** 0,0001** ncal (0,0001) (0,0001) contnua ensno fundamental e terceras séres do ensno médo braslero. Esses autores também trouxeram evdêncas de que menores são as chances de aprovação entre os estudantes com maor atraso escolar.

30 Vr. Dependente = Probabldade de Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4 Aprovação Característcas do pa da crança Pa com emprego em -0,041** tempo ntegral (0,019) Anos de estudo 0,005*** (0,001) Característca da mãe da crança Idade -0,0002-0,0002-0,0001 (0,001) (0,001) (0,001) Anos de estudo 0,008*** 0,006*** 0,003** (0,001) (0,001) (0,002) Outros controles Dummes para RM Sm Sm Sm Dummes para os anos e meses da PME Sm Sm Sm Observações 13.748 13.748 13.748 12.838 Obs. do tratamento 1.627 1.627 1.627 1.447 Pseudo-R² 0,0006 0,034 0,035 0,036 Wald χ² 10,21 559,21 565,35 545,99 Prob > χ² 0,0014 0,0000 0,0000 0,0000 conclusão Nota: desvo padrão robusto entre parênteses. *** sgnfcatvo a 1% ** sgnfcatvo a 5% * sgnfcatvo a 10% Para se ter uma déa da magntude do efeto do trabalho materno, optou-se por calcular também o efeto do tratamento sobre as cranças tratadas. Para tanto, a partr dos coefcentes dos modelos estmados, fo obtda a probabldade de aprovação para cada crança da amostra. A partr daí, fo calculada uma méda dessas probabldades, restrtas às cranças do grupo de tratamento. Em seguda, novamente apenas para as cranças do grupo de tratamento, foram obtdas estmatvas da probabldade de aprovação consderando que a dummy de tratamento fosse zero e, uma méda dessas novas probabldades fo calculada. Dessa forma, o mpacto do trabalho materno sobre o desempenho escolar da crança fo obtdo por meo da dferença entre essas duas médas, sendo o nível de sgnfcânca obtdo va bootstrap.

31 Consderando como exemplo o modelo 3, o qual resultou na estmatva -0,022, podese conclur que, cranças tratadas teram sua probabldade de aprovação aumentada de 65,7 para 67,9%, caso não fossem tratadas. Ou seja, o mpacto do trabalho materno sobre a probabldade de aprovação da crança é negatvo e tem uma magntude de 2,2 pontos percentuas. A tabela 4 apresenta o efeto tratamento sobre tratados para os quatro modelos estmados. Modelos Tabela 4 Efeto médo do tratamento sobre tratados Amostra: 1986 a 1995 Probabldade méda de aprovação dos tratados Probabldade méda de aprovação dos tratados caso não tvessem sdo tratados Estmatvas Modelo 1 0,657*** 0,696*** -0,039*** (0,011) (0,004) (0,012) Modelo 2 0,657*** 0,683*** -0,026** (0,011) (0,005) (0,013) Modelo 3 0,657*** 0,679*** -0,022* (0,011) (0,005) (0,012) Modelo 4 0,669*** 0,685*** -0,016 (0,012) (0,005) (0,013) Nota: desvo-padrão estmado va bootstrap *** sgnfcatvo a 1% ** sgnfcatvo a 5% * sgnfcatvo a 10% Para testar a robustez das estmatvas, propôs-se analsar os efetos do trabalho materno para dferentes meddas de tratamento. Para tanto, trabalhou-se com quatro meddas dferentes de tratamento, que serão explctados a segur, utlzando sempre a composção de varáves do modelo 3, apresentado anterormente. Anda que o modelo 4 apresente em sua composção varáves referentes aos pas das cranças, e que por esta razão seja o mas completo dos modelos, optou-se por trabalhar com o modelo 3 para não se ter perdas em termos de grau de lberdade. A amostra da PME velha, não apresenta problemas quanto a sua dmensão, todava, o mesmo não ocorre para a amostra mas recente. Dado que se pretende comparar os resultados das duas amostras, trabalhar com um maor número de