1 Poder Judiciário Tribunal de Justiça da Paraíba Gabinete do Des. ARNÓBIO ALVES TEODÓSIO ACÓRDÃO HABEAS CORPUS n 200.2004.020117-61003 Auditoria da Justiça Militar RELATOR : O Exmo. Des. Arnóbio Alves Teodósio IMPETRANTE : Horácio José dos Santos Filho, em causa própria HABEAS CORPUS. JUSTIÇA MILITAR. Decisão condenatória. Emissão de juízo de valor pelo juiz togado. Legalidade. Exegese sistemática dos arts. 434 e 435 do CPPM, do art. 125, 5, da Constituição Federal e art. 190 da LOJE-PB. Denegação da ordem. - A exegese sistemática dos arts. 434 e 435 do CPPM, do art. 125, 5, da Constituição Federal e art. 190 da LOJE-PB, autoriza o Juiz de Direito da Justiça Militar (antigo juiz auditor) externar seu posicionamento por ocasião do julgamento realizado pelo Conselho Especial de Justiça, até porque, além de presidir, relatar e votar, é ele quem exerce o poder de polícia e a disciplina nas sessões do colegiado. - Diante disso, não cabe falar em ilegalidade na participação do juiz togado por ocasião da sessão que julgou o réu/paciente, pois, além de legal o juízo de valor por ele emitido, nenhum prejuízo lhe adveio se foram respeitados os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, do juiz natural e do devido processo legal, bem como, foram observadas todas as normas inerentes à matéria, desde a LOJE-PB até a Norma Maior, tendo o réu inclusive interposto recurso de apelação contra a decisão do colegiado, julgado e desprovido pela Câmara Criminal em 27 de setembro de 2011. ARNOBWALVESTEU
2 Vistos, relatados e discutidos os autos acima identificados. Acorda a Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, à unanimidade, em DENEGAR A ORDEM, em harmonia com o parecer ministerial. RELATÓRIO Trata-se de Habeas Corpus, com pedido liminar, impetrado por Horácio José dos Santos Filho, sob a alegação de estar o paciente sofrendo constrangimento ilegal por parte do MM. Juiz de Direito da Auditoria da Justiça Militar. Afirma o impetrante na exordial, em resumo, que o paciente foi condenado por órgão colegiado ilegalmente composto, eis que o art. 194 da LOJE (Lei de Organização Judiciária do Estado da Paraíba) não autoriza a participação de juiz togado para compor o Conselho Especial de Justiça, mas, inobstante essa proibição, o juiz "a quo" emitiu juízo de valor no processo de n 2002004.020117-6 pela sua condenação, contaminando o colegiado e ferindo os princípios do juiz natural e do devido processo legal. Assim, aduz, não pode ser mantido encarcerado em decorrência de decisão condenatória prolatada por órgão ilegalmente formado. Requereu o deferimento da liminar para permanecer em liberdade até o julgamento do mérito do presente mandamus, a intimação pessoal de todas as decisões tomadas nestes autos para que possa exercer o direito de recorrer e que os prazos somente corram a partir da devida intimação. No mérito, pede a concessão da ordem para anular a audiência ocorrida no dia 29/06/2010 e anulação de todos os atos realizados pelo Conselho Especial de Justiça que tiveram participação do juiz togado, por violação ao art. 194 da LOJE. Juntou documentos de fl. 07. O pedido liminar foi indeferido (fl. 17). Informações prestadas pela autoridade dita coatora às fls. 22/24. Instada a se manifestar, a douta Procuradoria de Justiça, em parecer da lavra do insigne Dr. Álvaro Gadelha Campos, opinou pela denegação da ordem (fls. 26/28). É o relatório. VOTO: Exmo. Sr. Des. ARNÓBIO ALVES TEODÓSIO (Relator) Trata-se de habeas corpus impetrado por Horácio José dos Santos Filho, em causa própria, sob a alegação de estar o paciente sofrendo constrangimento ilegal tendo em vista que foi condenado por órgão colegiado ilegalmente composto, eis
que o art. 194 da LOJE (Lei de Organização Judiciária do Estado da Paraíba) não autoriza a participação de juiz togado para compor o Conselho Especial de Justiça, mas, inobstante essa proibição, o juiz "a quo" emitiu juízo de valor no processo de n 2002004.020117-6 pela sua condenação, contaminando o colegiado e ferindo os princípios do juiz natural e do devido processo legal. Pois bem, analisei detidamente as razões da impetração e entendo que o pedido deve ser denegado. O paciente Horácio José dos Santos Filho é Tenente Coronel Bombeiro Militar do Estado da Paraíba e foi julgado pela Justiça Militar, nos autos da ação penal de n 200.2004.020.117-6, em 27.04.2010, conforme consulta realizada ao sistema de controle de processos deste Tribunal, cuja decisão transitou em julgado. 3 Ao contrário do alegado pelo impetrante, o Juiz de Direito da Justiça Militar (antigo juiz auditor) pode sim externar seu posicionamento por ocasião do julgamento realizado pelo Conselho Especial de Justiça, até porque é ele quem exerce o poder de polícia e a disciplina nas sessões de instrução e julgamento, conforme lhe autoriza o 5 do art. 125 da Constituição Federal. Importa salientar que os arts. 431 e seguintes do Código de Processo Penal Militar disciplinam a sessão de julgamento e, em seus arts. 434 e 435, prevê o pronunciamento dos juízes de direito (antigo juiz auditor), in verbis: "Art. 434. Concluídos os debates e decidida qualquer questão de ordem levantada pelas partes, o Conselho de Justiça passará a deliberar em sessão secreta, podendo qualquer dos juízes militares pedir ao auditor esclarecimentos sôbre questões de direito que se relacionem com o fato sujeito a julgamento." "Art. 435. O presidente do Conselho de Justiça 'convidará os juízes a se pronunciarem sôbre as questões preliminares e o mérito da causa, votando em primeiro lugar o auditor; depois, os juízes militares, por ordem inversa de hierarquia, e finalmente o presidente. Ademais, como bem observado pela douta autoridade apontada coatora (fls. 23/24), antes de se aplicar a lei devemos fazer uma exegese sistemática para que seja levado em conta o conjunto de normas e não apenas um dispositivo isoladamente, assim, "registre-se, ainda, que a LOJE-PB reservou à Justiça Militar o Título IV do seu Livro, é dizer do art. 187 a 198, devendo em sua aplicação utilizar-se da interpretação sistemática...". Dessa forma, ao analisarmos os dispositivos da LOJE-PB sobre a matéria aqui em debate, notadamente o art. 190, resta evidente a legalidade da participação do juiz togado na sessão que julgou o paciente, pois "art. 190. Compete ao juiz de direito de Vara Militar: (...) 11- presidir os conselhos de Justiça Militar e relatar, COM VOTO INICIAL E DIREITO, os processos respectivos;..." Além disso, nenhum prejuízo adveio ao réu/paciente no referido
contraditório, do juiz natural e do devido processo legal, bem como, foram observadas todas as normas inerentes à matéria, desde a LOJE-PB até a Constituição Federal, tendo o réu inclusive interposto recurso de apelação contra a decisão do colegiado, julgado e desprovido pela Câmara Criminal em 27 de setembro de 2011. In casu, por todo o exposto, verifica-se que o impetrante/paciente não conseguiu demonstrar, livre de dúvidas, que esteja sofrendo qualquer tipo de constrangimento ilegal. Assim, DENEGO A ORDEM IMPETRADA, em harmonia com o parecer da douta Procuradoria de Justiça. Todavia, defiro tão-somente o pedido para ser intimado pessoalmente de todas as decisões tomadas nestes autos, tendo em vista encontrar-se recolhido e ter impetrado a presente ordem em causa própria. É como voto. Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Senhor Desembargador Joás de Brito Pereira Filho e dele participaram os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Arnóbio Alves Teodósio, Relator, João Benedito da Silva e Carlos Martins Beltrão Filho. Presente à sessão a Senhora Promotora de Justiça convocada Maria Salete de Araújo Melo Porto. Sala de Sessões "Des. Manoel Taigy de Queiroz Mello Filho" da Egrégia Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, em João Pessoa (PB), aos dezessete dias do mês de julho do ano de 2012. 4 De BIO ALVES TEODOSIO RELATOR
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