Poder Judiciário TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO Gabinete do Desembargador Federal Geraldo Apoliano RELATÓRIO

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Carlos Eduardo Martinho Morais
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1 RELATÓRIO O DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO (RELATOR): Habeas Corpus impetrado por Anderson José Manta Cavalcanti, com pedido liminar, em favor de José Bispo dos Santos Neto, objetivando a declaração da extinção da punibilidade do Paciente, condenado por sentença transitada em julgado à pena de 02 (dois) anos de reclusão na Ação Penal nº , pela prática do crime previsto no art. 168-A do Código Penal, por ter ele, na qualidade de representante legal da empresa SERVIETROL, deixado de recolher ao Instituto Nacional do Seguro Social INSS as contribuições previdenciárias descontadas de seus empregados, no período de agosto de 2004 a março de 2005, apontando como autoridade coatora o MM. Juízo Federal da 10ª Vara da Seção Judiciária de Mossoró/RN, que determinou o início da execução da pena. Sustenta a ausência de justa causa para o prosseguimento da Ação Penal sob o argumento de extinção da punibilidade pela ocorrência da prescrição em abstrato dos crimes indicados na denúncia, afirmando que, sendo a pena em concreto fixada em 02 (dois) anos de reclusão, o lapso prescricional seria de 04 (quatro) anos, nos termos do art. 109, V, do Código Penal CP, período que teria sido ultrapassado porque a denúncia fora recebida em e a sentença publicada em , com trânsito em julgado para o MPF em Requer a concessão da liminar, com a suspensão da execução penal até o julgamento do presente habeas corpus e, ao final, a declaração da extinção da punibilidade pela prescrição da pena em concreto. As informações repousam às fls. 279/280, confirmando as informações do Impetrante a esclarecendo que a Ação Penal encontra-se em face de execução, aguardando o cumprimento da Carta Precatória expedida à Comarca de Lauro de Freitas/BA, onde reside o Paciente, para a realização da audiência admonitória. Deferi o pedido liminar fls.296/297.

2 nge A douta presentação do Parquet opinou pela concessão da Ordem, fundamentando-se em que o Paciente foi condenado à pena de 02 (dois) anos de reclusão e, tendo o recebimento da denúncia ocorrido em e a sentença sido prolatada em , já teria transcorrido o lapso temporal de 04 (quatro) anos necessário à consumação da prescrição em concreto fls. 230/231. É o Relatório. Em Mesa para julgamento.

3 VOTO O DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO (RELATOR): Averbando acendrada vênia aos que perfilham entendimentos dissonantes, penso ser o caso de conceder-se a Ordem requestada. À luz do disposto nos arts. 109, e 110, do Código Penal Brasileiro CPB, verbis: Art A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto nos 1º e 2º do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: (...) V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; Art A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente. O Paciente foi condenado por sentença transitada em julgado à pena de 02 (dois) anos de reclusão na Ação Penal nº , pela prática do crime previsto no art. 168-A do Código Penal, por ter ele, na qualidade de representante legal da empresa SERVIETROL, deixado de recolher ao Instituto Nacional do Seguro Social INSS as contribuições previdenciárias descontadas de seus empregados, no período de agosto de 2004 a março de De acordo com os documentos trazidos aos autos, a sentença transitou em julgado para a acusação ( ) e para o Paciente ( ), conforme certidão exarada em fls O lapso temporal para a extinção da punibilidade em face da prescrição da pretensão punitiva pela pena em concreto imposta ao Paciente pela prática do delito previsto no art. 168-A, do CP, no caso, 02 (dois) anos de reclusão é de 04 (quatro) anos de reclusão art. 109, V, do Código Penal.

4 Entre a data do recebimento da inicial acusatória ( ), às fls. 19, e a data da publicação da sentença condenatória ( ), às fls. 126, com trânsito em julgado para a acusação (fls. 205), teriam se passado pouco mais de 04 (quatro) anos. Ao meu sentir, está concretizada a prescrição pela pena em concreto, uma vez que, à pena imputada ao Paciente, corresponde o prazo prescricional de 04 (quatro) anos, ex vi do disposto no art. 110, do Código Penal, período que foi folgadamente ultrapassado, considerando-se o lapso temporal compreendido entre a data do recebimento da inicial acusatória ( ), às fls. 19, e a data da publicação da sentença condenatória ( ). Destarte, dúvida não resta quanto à incidência da prescrição da pretensão punitiva, que teria mesmo de ser reconhecida, com ou sem requerimento da parte beneficiada, eis que se cuida de matéria de ordem pública, que pode (e deve) ser apreciada, inclusive, de ofício, pelo julgador. Quanto à pena de multa, também deve ser considerada prescrita, dada a ocorrência da prescrição da pena privativa da liberdade, conforme o disposto nos artigos 114, II e 118 do Código Penal vigente. Em face do exposto, concedo a ordem de Habeas Corpus requerida, para declarar a extinção da punibilidade de José Bispo dos Santos Neto pela ocorrência da prescrição retroativa (pena em concreto), nos termos do art. 110, 1º e 2º, c/c o art. 109, inciso V, todos do Código Penal. É como voto.

5 IMPTTE IMPTDO (MOSSORÓ) PACTE RELATOR : ANDERSON JOSE MANTA CAVALCANTI : JUÍZO DA 10ª VARA FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE : JOSÉ BISPO DOS SANTOS NETO : DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO EMENTA PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. APROPRIAÇÃO INDÉBITA DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. ART. 168-A DO CÓDIGO PENAL. RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO RETROATIVA. PENA EM CONCRETO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. ART. 110 C/C ART. 109, 1 E 2, DO CÓDIGO PENAL. CONCESSÃO DA ORDEM. 1. 'Habeas corpus' impetrado para ver declarada a extinção da punibilidade em face da consumação da prescrição da pretensão punitiva com relação ao Paciente. 2. Paciente condenado por sentença transitada em julgado à pena de 02 (dois) anos de reclusão em ação penal que o processou e julgou pela prática do crime previsto no art. 168-A do Código Penal, por ter ele, na qualidade de representante legal da empresa SERVIETROL, deixado de recolher ao Instituto Nacional do Seguro Social INSS as contribuições previdenciárias descontadas de seus empregados, no período de agosto de 2004 a março de O lapso temporal para a extinção da punibilidade em face da prescrição da pretensão punitiva pela pena em concreto imposta ao Paciente pela prática do delito previsto no art. 168-A, do CP, no caso, 02 (dois) anos de reclusão é de 04 (quatro) anos de reclusão art. 109, V, do Código Penal. 4. Entre a data do recebimento da inicial acusatória ( ), às fls. 19, e a data da publicação da sentença condenatória ( ), às fls. 126, com trânsito em julgado para a acusação (fls. 205), teriam se passado pouco mais de 04 (quatro) anos. 5. Prescrição que tem por base a pena em abstrato, uma vez que entre a data do fato delituoso (28 de fevereiro de 2001) e a data do

6 nge recebimento da denúncia (15 de julho de 2009), transcorreu o prazo prescricional de 08 (oito) anos, ex vi do disposto no art. 109, do Código Penal CP, lapso de tempo que foi ultrapassado, tendo-se em conta o intervalo entre a data do fato delituoso ( ) e a data do recebimento da denúncia ( ). 6. A teor da Súmula 146, do Supremo Tribunal Federal, o prazo prescricional é regulado pela pena concretizada na sentença, quando não houver recurso da Acusação. Reconhecimento, da ocorrência da prescrição retroativa. Extinção da punibilidade que se declara. Habeas Corpus concedido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que são partes as acima identificadas. Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, conceder a ordem Habeas Corpus, nos termos do relatório, voto do Desembargador Relator e notas taquigráficas constantes nos autos, que passam a integrar o presente julgado. Recife (PE), 16 de outubro de Desembargador Federal Geraldo Apoliano Relator

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