Poder Judiciário TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO Gabinete do Desembargador Federal Geraldo Apoliano

Transcrição

1 RELATÓRIO O DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO (RELATOR): À conta de Remessa Oficial, examina-se a sentença proferida pelo MM. Juiz Federal da 2ª Vara da Seção Judiciária do Ceará, que, nos autos da Ação de Segurança nº , deferiu o(s) pedido(s) formulados por LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO, que se insurgiu contra ato cuja prática foi imputada ao PRESIDENTE DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, SEÇÃO DO CEARÁ OAB/CE. Alegou, o Impetrante, em síntese, que após ter sido aprovado no exame de ordem da OAB-CE, requereu a inscrição como advogado, estando o seu pedido de inscrição sob apreciação do Conselho Seccional daquela entidade, posto que, ao preencher o requerimento de inscrição definitiva, fez constar no formulário, a informação de que respondia a um processo criminal em uma das varas da Comarca de Fortaleza CE. Aduziu, ainda, que não seria possível condicionar o seu pedido de inscrição à deliberação por quorum qualificado de dois terços do Conselho Seccional da OAB, uma vez que ninguém desafiou qualquer impugnação ao seu pedido de inscrição na Ordem. Requereu, a final, a concessão de medida judicial que assegurasse a sua inscrição definitiva no quadro de Advogados da OAB-CE, com a conseqüente expedição da Carteira de Identidade, e do Cartão do Advogado. A liminar foi deferida, em parte; determinou-se que o Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Ceará, realizasse, no prazo de 30 (trinta) dias, a convocação imediata do Conselho Seccional para deliberar acerca do pedido de inscrição definitiva do Impetrante (fls. 202/205). A autoridade tida por coactora, ao apresentar as informações, sustentou que o Impetrante não logrou demonstrar o seu direito à inscrição definitiva, nos termos requeridos, uma vez que o respectivo pedido encontra-se pendente de apreciação perante o Conselho Seccional da OAB CE, a teor do que preceitua o art. 8º, 3º, da Lei nº 8.906/94.

2 Às fls. 209/214, o douto representante do Ministério Público Federal ofertou parecer, opinando pela concessão da Segurança. O Impetrante peticionou fl.215-, informando ter expirado o prazo estabelecido para a convocação do Conselho, sem que a autoridade coactora tivesse cumprido a determinação judicial. Requereu o exame do mérito do Mandado de Segurança. A douta Juíza que examinou a petição, então substituta da 2ª Vara- CE, determinou que a autoridade impetrada fosse intimada para, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da intimação, cumprisse integralmente a decisão liminar de fls. 202/205. Em resposta, a OAB/CE informou -fls. 222-, que o processo de inscrição do Impetrante fora apreciado na primeira sessão extraordinária do Conselho Pleno daquela entidade, realizada em 25/01/2002, onde se reconheceu a inexistência de inidoneidade, razão pela qual o processo de inscrição do Impetrante passou a seguir a tramitação regular. Às fls. 224, o Impetrante requereu a extinção do feito, por entender ter ocorrido a perda do objeto. O douto magistrado de Primeiro Grau, Titular da 2ª Vara CE, por considerar que a situação fática se consolidou no tempo, e em face da informação de que havia sido reconhecida a inexistência de inidoneidade do Impetrante, do que resultara o conseqüente seguimento regular do pedido de inscrição, ratificou a liminar, e concedeu a Segurança. Os autos foram a mim redistribuídos, em razão da aposentadoria do Desembargador Nereu Santos. É, no que importa, o relatório.

3 VOTO O DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO (RELATOR): Estou em que a douta sentença não mereça qualquer glosa ou censura. Ao meu sentir, a digna Autoridade apontada coactora, ao impedir o registro do Impetrante nos quadros da OAB/CE, fundada, tão-somente, na informação da existência de um processo criminal, pendente de decisão, no qual figurava como réu, o Impetrante, praticou ato administrativo passível de reparo, na que medida em o dito acto confrontou o princípio constitucional da presunção de inocência, tal como figura na Carta Cidadã, no artigo 5º, LVII, cujo teor, é sempre de bom alvitre ter presente: ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Em situações assemelhadas, os seguintes julgados, reforçam a tese ora esboçada: MANDADO DE SEGURANÇA - ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - RECUSA DE INSCRIÇÃO SOB FUNDAMENTO DE ENCONTRAR-SE O INTERESSADO RESPONDENDO A AÇÃO PENAL - ILEGALIDADE. 1. Se a recusa de inscrição nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB se fundamenta no fato de o requerente responder a processo criminal, ilícito é o indeferimento. 2. A Constituição Federal no artigo 5º, inciso LVII, consagra o princípio da inocência do réu até o trânsito em julgado da demanda penal e, assim, não pode em verdadeiro efeito antecipado de eventual condenação ser privado de direito. 3. Remessa desprovida. (TRF - PRIMEIRA REGIÃO, REO - FFICIO /DF, TERCEIRA TURMA SUPLEMENTAR, Decisão: 5/9/2001 D, DJ DATA: 12/11/2001 PAGINA: 203, JUIZ EVANDRO REIMÃO DOS REIS (CONV.).

4 ADMINISTRATIVO - OAB - INSCRIÇÃO DE BACHAREL - EXISTÊNCIA DE PROCESSO CRIMINAL SEM TRÂNSITO EM JULGADO - PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. A presunção de inocência é uma garantia constitucional: "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória " ( CF-88, ART-5, INC-57 ). (TRIBUNAL - QUARTA REGIÃO, AMS /PR, TERCEIRA TURMA, Decisão: 04/06/1998, DJ DATA:08/07/1998 PÁGINA: 238, Relator AMIR SARTI). Pelas razões acima expendidas, nego provimento à Remessa Oficial. É como voto.

5 PARTE A ADV/PROC PARTE R REMTE RELATOR : LUIS OLIMPIO FERRAZ MELO : FABIO ROBSON TIMBO SILVEIRA : OAB/CE - ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL SEÇÃO DO CEARÁ : JUÍZO DA 2ª VARA FEDERAL DO CEARÁ (FORTALEZA) : DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO EMENTA ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. NEGATIVA DE INSCRIÇÃO NA OAB/CE. EXISTÊNCIA DE PROCESSO CRIMINAL CONTRA O IMPETRANTE, PENDENTE DE JULGAMENTO. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. GARANTIA CONSTITUCIONAL. DIREITO AO REGISTRO. 1. É írrito o ato administrativo que obsta o pedido de registro de bacharel nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil OAB, sob o fundamento da existência de processo criminal, ainda pendente de decisão, em que o ora Impetrante figura como réu. 2. Direito ao registro, em homenagem ao princípio da presunção de inocência, segundo o qual ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Remessa Oficial improvida. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que são partes as acima identificadas. Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento à Remessa Oficial, nos termos do relatório, voto do Desembargador Relator e notas taquigráficas constantes nos autos, que passam a integrar o presente julgado. Custas, como de lei. Recife (PE), 8 de fevereiro de 2007 (data do julgamento). Desembargador Federal Geraldo Apoliano Relator.