ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO CONCEITO

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1 ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO CONCEITO É uma síndrome decorrente de uma obstrução intestinal, é uma afecção frequente que engloba uma grande percentagem das internações por dor abdominal. Causado pela presença de um obstáculo mecânico ou de uma alteração de motilidade intestinal que impede a progressão normal do bolo fecal. Possui duas causas principais: a obstrução mecânica (pode ser de causas intraluminares: cálculos biliares e bolo de áscaris; ou causas extraluminares: obstrução intrínseca causada por tumores, hematomas, aderências, hérnias, tumores etc.), que leva à quadros de obstrução mecânica; e distúrbio de motilidade intestinal, que leva aos quadros de íleo adinâmico ou paralítico ou neurogênico (pseudo-obstrução). As causas mecânicas podem ser classificadas em 5: 1) Alta ou baixa: o obstáculo pode estar localizado no intestino delgado proximal, ou no intestino delgado distal ou no colo; 2) Parcial ou completa: o grau da oclusão é parcial quando há oclusão incompleta da luz intestinal; 3) Aguda ou crônica: instalação abrupta ou gradual e lenta; 4) Simples ou estrangulada: está relacionado ao grau de comprometimento vascular da alça comprometida, considerando a possibilidade de isquemia e necrose da alça quando estrangulada; 5) Em alça fechada (p. ex., hérnias, volvos), quando existe obstáculo em dois níveis, impedindo tanto a progressão quanto o refluxo do conteúdo da alça; nessas condições, pode ocorrer grande distensão e sofrimento da alça. INCIDÊNCIA As obstruções intestinais podem acontecer desde a idade prematura até a nona década de vida, tendo seu pico máximo aos 50 anos. A idade do paciente torna-se importante, pois certas causas têm sua maior frequência em determinadas faixas etárias. Neonatos: atresias, o volvo, o íleo meconial, a imperfuração anal e a doença de Hirchsprung. Lactentes: invaginação intestinal, das hérnias complicadas e das obstruções por complicações do divertículo de Meckel. Adulto jovem e meia-idade: aderências, as hérnias e a doença de Crohn. Idosos: maior a possibilidade de tratar-se de neoplasias, seguida pelas aderências, hérnias, diverticulites e fecalomas.

2 São 20% dos abdomens agudos, e as principais causas são as aderências, seguida de hérnias inguinais complicadas e das neoplasias intestinais. 80% ocorrem no intestino delgado e 20% no intestino grosso. ETIOPATOGENIA Podemos enumerar: 1) Obstrução da luz intestinal: intussuscepção intestinal, íleo biliar, impactação (bário, bezoar, áscaris). 2) Doenças parietais: 2.1) Congênitas: atresias e estenoses, duplicações, divertículo de Meckel; 2.2) Traumáticas; 2.3) Inflamatórias: doença de Crohn, diverticulites; 2.4) Neoplásicas; miscelânea: estenose por irradiação, endometriose. 3) Doenças extrínsecas: aderências; hérnias; massas extrínsecas (pâncreas anular, vasos anômalos, abscessos, hematomas, neoplasias, volvo). 4) Alterações da motilidade do intestino delgado: íleo paralítico, íleo espástico, oclusão vascular. FISIOPATOLOGIA Obstrução intestinal mecânica simples Alterações fisiológicas do intestino com obstrução mecânica: acumulo de gás e líquido acima do ponto de obstrução e alteração da motilidade intestinal. Alguns autores demonstraram que o fator tóxico da obstrução intestinal mecânica é a perda de líquidos e eletrólitos por vômito e sequestro na alça intestinal obstruída. O acúmulo de líquido no interior da alça intestinal obstruída ocorre de modo progressivo. O movimento de líquidos entre a luz intestinal e o sangue ocorre de duas maneiras: absorção (movimento de líquido da luz intestinal para o sangue) e secreção (movimento de líquido do sangue para a luz intestinal). Após 48 horas de obstrução, o movimento do líquido é predominantemente do sangue para a luz, aumentando a quantidade de líquido no instestino obstruído. A composição do líquido acumulado na luz intestinal é semelhante à do plasma. O principal componente do acúmulo de líquido na alça intestinal obstruída é o aumento de secreção. Acredita-se que a distensão abdominal aumenta a secreção de prostaglandina, que, por sua vez, produz um aumento na secreção intestinal. O segmento proximal à obstrução fica repleto de líquido e eletrólitos, o que provoca mais distensão e compromete a circulação. Esse conteúdo caminha em sentido proximal, chegando a segmentos intestinais que ainda possuem a capacidade absortiva. Caso a obstrução não se resolva, esses segmentos proximais também ficam distendidos e com a circulação e a absorção

3 comprometidas. Esse processo pode comprometer todo o intestino proximal à obstrução. Outro local de perda de líquidos e eletrólitos é a parede do intestino obstruído. A parede intestinal pode ficar bastante edemaciada a ponto de perder líquido através da serosa para a cavidade peritoneal. A quantidade de líquido e eletrólitos perdidos na parede intestinal e na cavidade peritoneal depende da extensão, da congestão venosa e edema e do tempo de obstrução. A perda mais óbvia de líquidos e eletrólitos é através do vômito ou do débito da sonda nasogástrica. A soma de todas essas perdas depleta o fluido do espaço extracelular, produzindo hemoconcentração, hipovolemia, insuficiência renal, choque e morte, a não ser que o tratamento seja instituído rapidamente. O acúmulo de gás no interior do intestino constitui um evento marcante na obstrução intestinal e é responsável pela distensão, que faz parte do quadro clínico da doença. O gás do intestino delgado é composto de ar atmosférico, que, após ter sido deglutido, foi acrescido de outros gases não encontrados no ar ambiente. Assim que a obstrução ocorre, o peristaltismo intestinal aumenta como resposta do intestino a fim de resolver a obstrução. Após algum tempo, o peristaltismo contínuo é substituído por períodos intermitentes de peristaltismo aumentado, intercalados com períodos de acalmia. Os períodos de acalmia variam de acordo com o nível da obstrução. Em geral, esses períodos são de três a quatro minutos na obstrução alta e de dez a 15 minutos na obstrução intestinal distal ao nível do íleo terminal. O peristaltismo aumentado pode ser violento o bastante a ponto de traumatizar o intestino e provocar mais edema. Obstrução com estrangulamento A compressão dos vasos do mesentério é a causa da interrupção do suprimento de sangue no intestino, acarretando isquemia e necrose. É mais frequente em casos de aderências, hérnias ou volvo. À compressão das veias e à dificuldade do retorno venoso soma-se o problema do acúmulo de líquido e gás já descrito, levando a pequenos sangramentos na luz intestinal e na parede das alças. O segmento de intestino necrosado libera substâncias tóxicas na cavidade peritoneal e na luz do intestino. Os fatores que mais interferem na fisiopatologia da obstrução com estrangulamento são os seguintes: o conteúdo da alça obstruída é tóxico; as bactérias aí presentes são importantes para a produção dessas toxinas; os segmentos de intestino que não estão necrosados não participam na formação dessas toxinas; as toxinas não passam através de mucosa normal; a absorção das toxinas é mais importante do que a sua produção; e os sintomas podem estar correlacionados com a formação dessas toxinas. Obstrução em alça fechada

4 Ocorre quando uma alça está obstruída em seu nível proximal e distal, esta pode progredir rapidamente para o estrangulamento. A interrupção do suprimento sanguíneo pode ocorrer pela mesma causa que provocou a obstrução em alça fechada (aderências, hérnia ou volvo), ou simplesmente pela grande distensão da alça obstruída. A pressão no interior da alça obstruída pode atingir níveis iguais ao do sistema venoso, interrompendo o fluxo de sangue nas veias e aumentado o edema intestinal. Íleo paralítico Pode apresentar-se sob três formas: adinâmico (comprometimento da resposta neuro-hormonal relacionada ao intestino), espástico (surge em consequência de uma hiper-reatividade do intestino. Pode ocorrer na intoxicação por metais pesados, na porfiria e, às vezes, quando existe uremia) e o da oclusão vascular (incapacidade de coordenação da motilidade intestinal, em consequência da morte celular resultante da isquemia). QUADRO CLÍNICO Anamnese Dor em cólica e difusa em todo o abdome. Além da cólica, o paciente apresenta distensão abdominal, que é mais intensa quanto mais distal for a obstrução no trato digestivo. Apresenta, ainda, parada de eliminação de gases e fezes, náuseas e vômitos consequentes à obstrução. Como vimos, pode-se classificar o abdome agudo obstrutivo em alto ou baixo, e a caracterização desses tipos é feita pelos aspectos clínicos do paciente e não exatamente pelo local da obstrução. Assim, na obstrução alta, as náuseas e os vômitos precedem a parada de eliminação de gases e fezes. Já na obstrução baixa, a parada de eliminação de gases e fezes precede os vômitos, pois esses só acontecem quando todo o intestino delgado a montante da obstrução estiver distendido. Quanto à distensão, ela pode ser simétrica ou assimétrica. Na obstrução do colo esquerdo, se a válvula ileocecal for continente, teremos a distensão somente do colo, determinando um abaulamento assimétrico do abdome. Se, no entanto, a válvula ileocecal for incontinente, a distensão será universal e, portanto, o abaulamento abdominal será simétrico. Exame físico geral o Alteração no estado geral; o Desidratação (devido aos vômitos e aos sequentros de liquido nas alças intestinais); o Taquisfigmia; o Febre, em casos de complicações; o Hipotensão arterial pode estar presente em quadros prolongados; Exame físico abdominal o Distensão abdominal (simétrica ou assimétrica); o Desconforto à palpação, sem sinais de irritação peritoneal;

5 o Ruídos hidroaéreos aume32ntados em número com alteração de timbre (timbre metálico); como evoluir do processo e, portanto, com a isquemia da alça intestinal, os ruídos tendem a diminuir e, até, se tornar ausentes. DIAGNÓSTICO CLÍNICO O diagnóstico da obstrução intestinal é feito essencialmente com os dados da anamnese e do exame físico e, geralmente, auxiliado pelos métodos de imagem. O método de imagem mais frequentemente usado é a radiografia simples do abdome, realizada com o doente em posição de pé e deitado. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Aconselha-se realizar a dosagem da concentração sérica de eletrólitos, a dosagem do hematócrito, da creatinina, o estudo da coagulação e a dosagem de plaquetas e leucócitos, que são úteis para se determinar a gravidade do quadro clínico e orientar a reanimação do doente. Na suspeita de íleo paralítico, a dosagem de eletrólitos séricos pode contribuir para o esclarecimento diagnóstico. DIAGNÓSTICO POR IMAGEM As quatro perguntas que precisam ser respondidas em pacientes com suspeita de abdome agudo obstrutivo são: 1) Existe obstrução?; 2) Qual o seu nível da obstrução?; 3) Qual é a causa da obstrução? e; 4) Existem sinais de estrangulamento ou isquemia? Principais exames usados: RX e TC. RX de abdome É a principal ferramenta para o diagnóstico de abdome agudo obstrutivo. Apesar disso, para obstruções de intestino delgado, possui eficiência de 50-60%. As obstruções proximais até a metade do intestino delgado tendem a evidenciar níveis de líquido predominantemente no quadrante superior esquerdo (Fig. 8.1). Um número maior de alças dilatadas com níveis de líquido, arranjadas ao longo da raiz do mesentério, pode indicar obstrução no delgado distal ou no ceco. É de extrema importância a demonstração de sinais de obstrução e sofrimento de alça, como pregas edemaciadas, pneumatose intestinal e, eventualmente, gás na veia porta, sugerindo obstrução em alça fechada e pior prognóstico. Os padrões anormais de distribuição de gás variam conforme o ponto, o grau, o tempo de obstrução, a frequência de vômitos e a presença de sonda nasogástrica. Na obstrução gástrica, podemos observar o deslocamento inferior do colo transverso por um contorno com densidade de partes moles, devido à distensão gástrica com líquido em seu interior. O local mais comum de obstrução

6 gástrica é a região antro-piloro-duodenal. A distensão gástrica possui outras causas que não as obstrutivas. As obstruções de intestino delgado são de difícil diagnóstico por meio de radiografias simples de abdome. Radiologicamente, a característica mais importante na obstrução por bridas é a mudança súbita do calibre da alça vista no exame contrastado (ou tomografia), estando muito dilatada proximalmente à obstrução e colabada distalmente a esta. Na ausência de história cirúrgica, deve-se suspeitar de uma hérnia obstrutiva, e 95% delas são externas (inguinal, femoral, umbilical ou incisional). A presença de alça com gás abaixo dos ramos púbicos sugere hérnia inguinal como causa da obstrução. RX de abdome com contraste O trânsito intestinal com bário ou iodo e o enema opaco são exames contrastados que podem ser utilizados na investigação diagnóstica do AAO. Quando planejamos utilizar estudos contrastados com bário, devemos estar atentos para o provável nível de obstrução e iniciar a investigação por um enema opaco, caso a obstrução seja baixa, ou trânsito intestinal, no caso de obstruções altas. O estudo com bário é seguro nessas situações. No entanto, o cirurgião pode não querer alças dilatadas preenchidas com bário se tiver que realizar uma laparotomia logo em seguida ao exame radiológico. O trânsito intestinal está contra-indicado no AAO quando existe suspeita de perfuração intestinal, estrangulamento e sofrimento de alça, obstrução mecânica de longa evolução

7 ou íleo adinâmico. Nessas situações, e de uma maneira geral, os exames contrastados podem e devem ser substituídos por estudos tomográficos. Radiografias seriadas são realizadas no sentido de se alcançar o ponto de obstrução que pode ser alcançado somente após algumas horas de exame. A identificação desse ponto é crucial para definir não somente o nível da obstrução mas também a sua causa, a partir da análise dos contornos da alça intestinal ocluída. Na suspeita de obstrução colônica, o enema opaco permite não somente identificar rapidamente e com precisão o ponto de obstrução como também diferenciar as três principais causas de oclusão baixa. US A ultra-sonografia tem sido utilizada na avaliação de pacientes com AAO, geralmente combinada ao exame radiológico simples, com o intuito de distinguir um íleo paralítico de um quadro obstrutivo. Nesses pacientes, a US permite identificar alças intestinais distendidas, com níveis de líquido e aumento do peristaltismo. A US é também útil para distinguir alças dilatadas de intestino delgado de intestino grosso, através da identificação das válvulas coniventes. Uma das principais vantagens da ultrassonografia é a demonstração da presença ou não de peristalse em alças preenchidas por líquido e avaliação da espessura da sua parede. TC As principais razões pelo crescente interesse desse método no AAO são: a) na TC, não há necessidade de administração de meio de contraste intraluminal, pois o fluido retido serve com agente de contraste; b) a qualidade diagnóstica do exame independe da propulsão do conteúdo pela peristalse do intestino delgado, muitas vezes diminuída ou ausente, fato esse que reduz consideravelmente o tempo de exame, quando comparado ao trânsito intestinal; c) não é administrado bário, portanto o exame pode ser realizado com segurança mesmo na suspeita de perfuração e imediatamente antes de intervenções cirúrgicas; d) a TC permite uma avaliação panorâmica de toda a cavidade abdominal e diagnósticos alternativos e; e) a TC é o melhor método para o diagnóstico de estrangulamento de alça intestinal, fornecendo informações a respeito da perfusão da parede da alça e de sua vitalidade, através do uso endovenoso de contraste. Os principais sinais tomográficos de obstrução intestinal são a distensão de alças de delgado (acima de 2,5 a 3cm de diâmetro), presença de níveis líquido e desproporção do calibre da alça, se identificados segmentos de fino calibre. Dessa forma, é possível estabelecer o nível da obstrução e sua causa. Finalmente, a TC com contraste endovenoso permite diagnosticar isquemia e sofrimento de alça através de sinais tomográficos como a hipoperfusão ou realce persistente da parede intestinal, pneumatose intestinal, espessamento segmentar parietal e gás no sistema porta (sinal do aeroportograma, também

8 identificado à radiografia simples). Nesse sentido, a TC é o método diagnóstico mais eficaz. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL As dificuldades do diagnóstico diferencial entre outros processos abdominais agudos e a obstrução intestinal só ocorrem quando o paciente é visto tardiamente, já instalada uma complicação. Uma anamnese bem feita é a chave do diagnóstico diferencial. TRATAMENTO Clínico Na fase inicial do tratamento da obstrução intestinal, de maneira geral, a abordagem clínica se aplica a todos os doentes. Uma vez firmado o diagnóstico, deve ser tomada a decisão de operar imediatamente ou continuar sob tratamento clínico. O tratamento clínico inicia-se com a descompressão gástrica, pela passagem de sonda nasogástrica, hidratação parenteral, correção de distúrbios eletrolíticos, eventualmente presentes, e analgesia. A nutrição parenteral pode ser iniciada, caso se acredite que o doente não possa receber dieta enteral ou oral pelo menos nos cinco dias seguintes. Quando o doente tem antecedente de cirurgia abdominal e suspeita-se de obstrução por aderências, o tratamento clinico não possui muito sucesso. A ausência de melhora clínica nas primeiras 12 horas é sugestiva de insucesso do tratamento clínico e, depois de 48 horas de tratamento clínico sem resolução do quadro, as chances de resolução sem cirurgia diminuem e o índice de complicações aumenta consideravelmente. Assim, em princípio, não havendo melhora, ou havendo piora nas 12 horas iniciais de tratamento clínico, deve-se considerar a conveniência de indicar o tratamento cirúrgico. Cirúrgico Todos os doentes com diagnóstico de obstrução intestinal mecânica completa devem ser operados em condição de urgência. Outra indicação para a cirurgia de urgência é o insucesso do tratamento clínico por 24 a 48 horas. O doente deve ser sempre avaliado e, quando necessário, reanimado adequadamente para suportar a cirurgia. Deve-se ter em vista, entretanto, que a demora em realizar o tratamento cirúrgico está relacionada a aumento importante da morbidade, da mortalidade e do custo de tratamento. O tratamento cirúrgico inicialmente consiste em laparotomia exploradora. Após a revisão da cavidade, com a finalidade de diminuir a distensão abdominal, os líquidos acumulados na luz das alças devem ser ordenhados para o estômago e aspirados através da sonda nasogástrica. Essa manobra tem o intuito de facilitar a abordagem da causa da obstrução e de evitar as lesões acidentais das alças que se apresentam, muitas vezes, bastante dilatadas.

9 Existem algumas maneiras de avaliar essa viabilidade, tais como o uso de fluoresceína, da transiluminação, do azul de metileno ou do Doppler intra operatório. Na prática, nem sempre se dispõe desses recursos e, nessas situações, pode-se tentar melhorar a viabilidade de uma alça por meio da injeção de novocaína ou de papaverina na raiz do mesentério. Se persistir a dúvida, é preferível optar pela ressecção intestinal. Elementos de prognósticos Com os recursos atuais de tratamento, a mortalidade dos doentes portadores de obstrução intestinal é menor do que 10%. As sequelas mais importantes que merecem consideração são a ocorrência de obstruções intestinais repetidas no mesmo doente e a síndrome do intestino curto. REFERÊNCIAS LOPES, A. C.; REIBSCHEID, S.; SZEJNFELD, J. Abdome Agudo Clínica e Imagem, 2006. Editora Atheneu.