INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS FALÁCIAS ARGUMENTATIVAS (PARTE II)

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Transcrição:

INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS FALÁCIAS ARGUMENTATIVAS (PARTE II)

9. MÉTODO INDUTIVO (CASO PARTICULAR PARA REGRA GERAL) Consiste em utilizar, de maneira incorreta, a razão indutiva, enunciando uma regra geral a partir das exceções. É uma falácia que se configura quando o autor parte de dados particulares, suficientemente constatados, para chegar a uma verdade geral/universal não contida nas partes examinadas. A falácia do raciocínio indutivo se materializa nos textos em que é aplicada uma exceção quando na verdade deveria ser adotada a regra geral. Observe os exemplos abaixo: Se considerarmos analfabeto aquele que não consegue ler e produzir um pequeno texto, há no Brasil muito mais de quarenta milhões de pessoas nesta condição. Se a Cannabis Sativa for autorizada para o tratamento de determinadas doenças, então deveria ter o seu uso totalmente descriminalizado no Brasil.

10. FALSO AXIOMA É o argumento por meio do qual é atribuído status de axioma a muitas sentenças ou máximas, que são na realidade verdades relativas, aparentes. O falso axioma ocorre quando se utilizam frases de efeito impactantes, retóricas muito respeitadas apenas como estratégias de convencimento, de persuasão do interlocutor. Um bom exemplo de axiomas que se contradizem está em alguns provérbios. Observe: Ruim com ele, pior sem ele e Antes só do que mal acompanhado ; Longe dos olhos, perto do coração e O que os olhos não veem o coração não sente.

11. FALSO DILEMA (FALSA DICOTOMIA) Consiste em apresentar dois estados alternativos como sendo as únicas possibilidades quando, na verdade, existem outras mais. Trata-se de um pensamento binário (preto ou branco) que não contempla variáveis, condicionantes e contextos nos quais existiriam mais do que as duas possibilidades apresentadas. É uma falácia argumentativa, porque, sob a inocente aparência de um argumento lógico, esconde-se um raciocínio ardiloso que subverte o debate honesto e racional. Observe um exemplo do uso deste tipo de falácia: Numa campanha para conseguir apoio ao seu Plano, que iria diminuir os direitos fundamentais do cidadão, o presidente advertiu os senadores e deputados que ou estavam do seu lado ou estariam do lado dos inimigos do País..

12. FALSA ANALOGIA É uma inferência injustificada, obtida com base nas semelhanças entre dois itens ou tipos de itens. É uma inferência baseada no raciocínio por analogia e se justifica pelo número e pela força das semelhanças ou dessemelhanças conhecidas entre os itens comparados. Então, se houver poucas semelhanças ou poucas dessemelhanças, não se justificam as inferências baseadas na comparação. Isso caracterizaria a falsa analogia. Observe o exemplo: Um colégio é como um quartel, em que o diretor é o comandante, os professores desempenham o papel de oficiais e os alunos são soldados e, por isso, devem ser disciplinados.

OBSERVAÇÕES: A falsa analogia é uma das falácias mais difíceis de identificar, já que todos nós, desde crianças, construímos nossos raciocínios em torno de analogias. É um argumento muito utilizado pelos defensores e detratores do aborto, do programa brasileiro Mais médicos e de muitos outros assuntos polêmicos.

13. FALSA CAUSA (Non Causa Pro Causa) É a falácia que consiste em estabelecer como causa de um fato aquilo que imediatamente o preceda no tempo. Neste caso, pelo fato de os dois eventos ocorrerem em sequência há a impressão de que um seja naturalmente a causa do outro. Este erro consiste em ignorar a possibilidade de que a sua aparente conexão seja somente uma coincidência. Observe: Achocolatados industrializados provocam dores de cabeça em crianças. As crianças da creche tomaram achocolatados e muitas começaram imediatamente a sentir dor de cabeça.

OBSERVAÇÕES: Outra variação deste argumento falacioso (falsa causa) é o chamado "non sequitur" (não se segue, "nada a ver"), por meio do qual a conclusão nada tem a ver com a premissa. Por exemplo, quando alguém diz Iremos vencer a batalha, porque Deus é bom. Quando levada ao extremo, a falsa causa tornase uma forma de superstição: Usei amarelo no Reveillon e não fiquei sem dinheiro durante o ano. De agora em diante, sempre usarei amarelo na passagem do ano..

GLOSSÁRIO AXIOMA é uma verdade inquestionável, universalmente válida, que é utilizada como princípio na construção de uma teoria ou como base para uma argumentação. DIALÉTICA é a arte de dialogar, de debater, persuadir ou raciocinar. Caracteriza o debate de ideias diferentes, em que um posicionamento é defendido e contradito logo depois. Para os gregos, a dialética consistia em separar os fatos e dividir as ideias para poder debatê-las com mais clareza. PREMISSAS são afirmações que expressam as razões ou evidências (verdadeiras e relevantes) para dar sustentação à conclusão do assunto em debate. SOFISMA é um raciocínio concebido com o objetivo de aparentar uma verdade que esteja de acordo com as regras da lógica, mas que, na prática, apresenta uma estrutura interna defeituosa, inconsistente e deliberadamente enganosa.

FALÁCIAS são defeitos de argumentação que enfraquecem o texto e que podem ser utilizados de forma deliberada ou não. Elas apresentam duas características: São bem comuns nos discursos e podem ser bem persuasivas; São difíceis de identificar, dada a sutileza de seu uso e sua proximidade com os argumentos verdadeiros. OBSERVAÇÃO: Não confunda mentira com falácia. A mentira é uma informação falsa e a falácia é um argumento falso, uma falha num argumento ou um argumento mal direcionado. A mentira é um desvio ou erro proposital sobre fatos. A falácia é uma tentativa de persuadir o interlocutor promovendo um engano (ou desvio), por meio da apresentação de informações que não respeitam uma lógica correta ou honesta.