Turma e Ano: Flex A (2014) Matéria / Aula: Direito Tributário / Aula 07 Professor: Mauro Luís Rocha Lopes Monitora: Mariana Simas de Oliveira CONTEÚDO DA AULA: Limitações do poder de tributar AULA 07 LIMITAÇÕES DO PODER DE TRIBUTAR No regime tributário a tributação vai surgindo na medida em que o ente tributante necessita de caixa, inexistindo preocupação com peculiaridades do Estado, respeito à capacidade contributiva, etc. O sistema tributário é a evolução do regime, pois é pensado, idealizado, refletindo a realidade econômica do Estado. O que mais distingue o regime do sistema, sendo este a evolução do primeiro, são os princípios que existem como pilares de sustentação, utilizados de forma a se evitar antinomias e contradições. A doutrina reconhece que desde o ano de 1965, com a EC 18\65, o Brasil tem um sistema tributário. O Direito Tributário existe para proteger o cidadão. Na época do Brasil-colônia Portugal não tinha sistema tributário, mas um regime com regras que deviam ser observadas pelos colonos. A ideia de nortear a relação entre o governo e o governado com princípios e regras no que toca a imposições tributárias surgiu por pressão dos administrados. Os princípios são as diretrizes chaves dos sistemas jurídicos. Celso Antônio Bandeira de Melo dizia que violar um princípio é muito mais grave do que violar uma regra, pois quando se viola um princípio há insurgência contra todo o sistema ao passo que violar uma regra não traz maiores danos. Por vezes a interpretação contra legem é a única forma de se salvar o sistema. As diretrizes chaves do ramo jurídico são as principais normas garantidoras dos direitos dos cidadãos frente aos abusos fiscais. Tem-se, aqui, o que se chama no Brasil de limite do poder de tributar (Aliomar Baleeiro ex-ministro do STF livro: Limitações constitucionais ao poder de tributar).
Essas limitações do poder de tributar são verdadeiras garantias individuais dos contribuintes, como se observa do caput do art.150 da CRFB\88: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) Qual a importância prática de se identificar como garantias as limitações constitucionais do poder de tributar? R.: De acordo com o art.60, IV, 4º da CRFB\88, por ser garantia individual (do contribuinte) é vedada a deliberação de proposta de emenda tendente a aboli-la. Art.60. 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: IV - os direitos e garantias individuais. O art. 150 da CRFB\88 traz um rol não taxativo de limitações do poder de tributar. Princípios constitucionais tributários Princípio da legalidade ou da estrita legalidade ou da legalidade estrita O art.5º, II, da CRFB\88 contém uma cláusula geral que já seria suficiente para se aplicar a observância da legalidade à esfera tributária ( ninguém será obrigado a fazer alguma coisa senão em virtude de lei ). Todavia, a garantia (legalidade) também está prevista no art.150, I, da CRFB\88, vedando gravame tributário ao cidadão através de instituição de novo tributo ou majoração de um tributo pré-existente sem lei. Somente a lei pode impor ônus tributário ao contribuinte. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; Deve ser considerado que a Constituição não cria tributo, mas apenas reparte o poder de tributar através da competência tributária. A União, especialmente com relação aos impostos, tem o papel importante de editar normas gerais. Ex.: O CTN tem normas gerais sobre o IPTU, ITD e ITBI; a LC 116, também da União, traz normas gerais sobre o ISSQN; a LC 87\96 tem normas gerais sobre o ICMS. Note-se que todos são atos normativos com fundamento constitucional no art.146, II, da CRFB\88: Art.146. Cabe à lei complementar:
II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar. Pode um Estado instituir ICMS com base na competência que a Constituição lhe reservou e com fundamento na LC 87\96 sem editar a sua própria lei? R.: Nem a lei complementar e nem a Constituição criam tributos. A LC, por exemplo, estipula normas gerais que uniformizam a sua cobrança. Pontes de Miranda chama as leis de norma geral de leis sobre leis de tributação, funcionando como anteparo entre leis de tributação e a Constituição. Somente através de lei pode o ente tributante instituir tributo, portanto, não basta se basear na Constituição e\ou na lei de normas gerais da União. Distinção entre lei formal e lei material: (i) (ii) Lei formal: é aquele ato normativo que tem forma de lei, sendo fruto de processo legislativo (stricto sensu); Lei material: é qualquer ato normativo que tenha comando genérico, abstrato e impessoal de conduta. Nesse sentido, um Decreto é lei em sentido material, assim como um ato normativo (lato sensu). Quando se trata da legalidade em tributação refere-se à lei formal, emanada de um processo legislativo, não bastando ser um comando genérico, abstrato e impessoal de conduta. Medida provisória vs. princípio da legalidade Em que pese a previsão do art.59, IV, da CRFB\88, a medida provisória não é fruto de um processo legislativo. A medida provisória desencadeia um processo de conversão legislativo, mas não emana dele. A explicação para a medida provisória constar do rol do art.59 é dada pelo Min. Nelson Jobim: é fruto de uma peraltice de um grupo de constituintes quando a assembleia já tinha encerrado seus trabalhos. Todavia, malgrado não ser lei formal, oriunda de processo legislativo, a medida provisória pode tratar de matéria tributária porque se equipara à lei, a teor do art.62, caput, da CRFB\88: Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
Assim, como não há vedação para que a medida provisória trate de matéria tributária, salvo em casos de reserva de lei complementar (art.146, CRFB\88); de instituição do imposto do art. 154, I, da CRFB\88; de empréstimo compulsório; de imposto sobre grandes fortunas. Medida provisória não convertida em lei. No caso de a medida provisória não ser convertida em lei, o Congresso Nacional irá dispor sobre a validade dos atos praticados enquanto estava em vigor. Se os atos forem convalidados, o contribuinte que pagou o imposto não terá direito à restituição e quem não pagou pode ser validamente cobrado. Com relação ao princípio da legalidade a medida provisória não traz problemas, ao contrário do que acontece quando é confrontada com o princípio da anterioridade (será estudado em momento oportuno). Instituição dos tributos e princípio da legalidade Em regra, a iniciativa da lei tributária é concorrente (art.61, da CRFB\88). A exceção repousa no caso de iniciativa privativa do Presidente da República quando se tratar de matéria tributária nos territórios, na forma do art.61, 1º, II, b, da CRFB\88: Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...) II - disponham sobre: b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios; (...) O que significa instituir tributos? Seria constitucional uma lei da entidade tributante nos seguintes termos: fica instituído o tributo X, cabendo à administração, através de ato próprio, dispor sobre a hipótese de incidência, a sujeição passiva, a alíquota e a base de cálculo? R.: Não, por inobservância do princípio da legalidade. A lei instituidora do tributo deve dispor sobre os elementos nucleares do tributo (art.97, CTN): fato gerador, sujeitos passivo e ativo, base de cálculo, alíquota, penalidades. Os aspectos laterais (prazo para pagamento, por exemplo) podem ser objeto de delegação à administração. Princípio da tipicidade tributária Esse princípio é derivado do princípio da legalidade.
A tipicidade tributária está prevista no art.97 do CTN (fazer remissão ao art.150, I, CRFB\88): Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: I - a instituição de tributos, ou a sua extinção; II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no inciso I do 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo; IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas; VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades. Muitas das ressalvas já estão superadas e elas serão estudadas com base na Constituição. Fazer um link com a súmula 160 do STJ. 1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua base de cálculo, que importe em torná-lo mais oneroso. 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo. Sobre o tema dos 1º e 2º dispõe a súmula 160 do STJ: E defeso, ao Município, atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual superior ao índice oficial de correção monetária. Exceção ao princípio da legalidade CRFB\88. A principal exceção ao princípio da legalidade, que é parcial, está no art.153, 1º da Art. 153. 1º - É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V. I - importação de produtos estrangeiros; II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; IV - produtos industrializados;
V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; De acordo com o referido artigo, nos casos de II, IE, IPI e IOF não é necessária a observância do princípio da legalidade no que tange às alíquotas, podendo alterá-las sem que haja lei em sentido formal. As condições e limites para a alteração da alíquota devem ser estabelecidos em lei. Geralmente o Poder Executivo utiliza-se de decreto para alterar as alíquotas dos impostos mencionados no art.153, 1º, da CRFB\88. No entanto, no julgamento do RE 225.655 o STF validou a alteração feita por portaria ministerial, já que a Constituição não prevê a competência privativa do Presidente da República, mas é importante que haja delegação de competência. EMENTA: TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. ALÍQUOTAS MAJORADAS PELA PORTARIA MINISTERIAL Nº 201/95. FACULDADE DO ART. 153, 1º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Inexistência de norma constitucional, ou legal, que estabeleça ser a faculdade do dispositivo constitucional sob enfoque de exercício privativo do Presidente da República. Limites e condições da alteração das alíquotas do Imposto de Importação estabelecidas por meio de lei ordinária, como exigido pelo referido dispositivo constitucional, no caso, pelo art. 3º da Lei nº 3.244/57. Inteiro descabimento da exigência de motivação do ato pelo qual o Poder Executivo exerce a faculdade em apreço, por óbvio o objetivo de ajustar as alíquotas do imposto aos objetivos da política cambial e do comércio exterior (art. 21 do CTN). Recurso conhecido e provido. (RE 225655, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em 21/03/2000, DJ 28-04-2000 PP-00096 EMENT VOL-01988-06 PP-01109)