DIREITO TRIBUTÁRIO GUIA PARA SALA DE AULA MÓDULO - 1
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- Valdomiro Galvão Botelho
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1 Roteiro 1ª aula: 1) Do que se ocupa o Direito Tributário? 2) O que é tributo? 2.1) Quantas e quais são as espécies tributárias? 2.2.1) O que as diferencia? 3) Qual o enquadramento do CTN? 4) O que distingue competência tributária de capacidade ativa tributária? 4.1) Quais as características da competência tributária? 4.2) Quem pode criar tributos no Brasil? 1. DIREITO TRIBUTÁRIO: INTRODUÇÃO Receitas Públicas (ingressos orçamentários) com a finalidade de atender às despesas públicas. CONCEITO Ramo do direito público cujo campo de abrangência é determinado pelas relações originadas entre a Fazenda Pública e os obrigados ao cumprimento das imposições estatais por meio dos tributos. Nesse sentido, é o campo do Direito que limita e define a atuação do Estado do poder tributante, os princípios e o conjunto de normas pertinentes aos tributos. Temos assim, na definição de Direito Tributário, dois elementos: o objetivo e o subjetivo. ELEMENTOS SUBJETIVOS ELEMENTO OBJETIVO O tributo é de fundamental importância para o Estado, uma vez que é por meio desse instituto que os entes federativos se mantêm, sendo um dos recursos para que possam alcançar seus objetivos. O tributo é a sua principal fonte de receita derivada estatal. 1
2 2. OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA DIREITO TRIBUTÁRIO Ocorrida a situação prevista na lei (hipótese de incidência) no mundo real, surge para o sujeito passivo o dever (obrigação) da prestação do tributo, da penalidade pecuniária ou de outro encargo acessório para o fisco. A obrigação tributária pode ser, então, principal ou acessória, conforme o seu objeto. HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA FATO GERADOR OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA SUJEITO PASSIVO SUJEITO ATIVO Objeto: Principal: tributo ou penalidade pecuniária. Acessória: prestação de fazer, deixar de fazer ou tolerar algo. A obrigação tributária é o vínculo entre o sujeito passivo, obrigado à prestação, e o sujeito ativo, titular da prerrogativa de exigir o objeto da prestação. 2.1 OBRIGAÇÃO PRINCIPAL Surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente. É classificada como uma prestação de natureza patrimonial, obrigação de dar. É uma relação jurídica que vincula uma pessoa (física ou jurídica), obrigada à prestação, ao sujeito ativo, titular da prerrogativa para exigir o cumprimento desta obrigação, em torno de um objeto que é o pagamento do tributo ou penalidade pecuniária, quando a obrigação for principal. 2
3 Nascimento: fato gerador. Objetos: pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária. Extinção: juntamente com o crédito tributário 2.2 OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA Decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela prevista no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. Pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária. A legislação tributária pode determinar obrigações acessórias. Entretanto, tem que haver permissão legal, em virtude do princípio constitucional que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em decorrência de lei. Isto é, a lei cria a obrigação e as normas infralegais podem especificar a maneira como a obrigação tem que ser cumprida. Possui natureza jurídica de obrigação de fazer ou de não-fazer. Tem como função viabilizar o cumprimento da obrigação principal, que é o interesse precípuo do Fisco. A obrigação tributária possui duas fontes: FONTE FORMAL lei ou hipótese de incidência. FONTE MATERIAL fato gerador. 3. TRIBUTO: principal receita derivada obtida pelo Estado DEFINIÇÃO Conforme dispõe o artigo 3º do CTN Código Tributário Nacional, tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA Define-se o objeto da relação jurídica tributária, que é uma prestação (obrigação de dar) de conferir determinado valor ao Estado em pecúnia. Ao fazer a ressalva em pecúnia, exclui-se a possibilidade de exigir o pagamento in natura. Tampouco o tributo pode ser exigido in labore. COMPULSÓRIA A prestação é compulsória, obrigatória, sob o prisma da origem da obrigação, pois é a lei que a impõe, ex lege. Surge, portanto, independente da vontade do obrigado. 3
4 EM MOEDA OU CUJO VALOR NELA SE POSSA EXPRIMIR A obrigação tributária pode ser quitada em moeda corrente ou em cheque, por exemplo, que exprime um valor monetário. Não se paga in natura ou in labore. A dação de imóvel em pagamento (entrega de bem distinto de dinheiro) é forma excepcional de extinção do crédito tributário, conforme estudaremos. NÃO CONSTITUI SANÇÃO DE ATO ILÍCITO O tributo não é penalidade. Não pode haver na hipótese de incidência de um tributo uma conduta ou fato ilícito. INSTITUÍDA EM LEI A prestação deve ser originada em lei e não em qualquer ato administrativo (Decreto, Portaria, Ordem de Serviço). É relevante saber que a lei deve definir os elementos para se alcançar o quantum devido: - sujeito passivo; - hipótese de incidência; - base de cálculo; - alíquota. Quanto a esta última, o Poder Executivo pode alterar dos seguintes tributos, desde que atendidas as condições e limites da lei: COBRADA MEDIANTE ATIVIDADE ADMINISTRATIVA PLENAMENTE VINCULADA A cobrança do tributo deve seguir um rito, que não pode levar em conta a conveniência ou oportunidade da Administração. Não pode, assim, haver qualquer elemento subjetivo nessa cobrança. A atividade da autoridade que cobra o tributo é ligada, presa, em sua totalidade à norma (objetiva). 4
5 3.1 ESPÉCIES DE TRIBUTOS DIREITO TRIBUTÁRIO O que define o enquadramento em cada espécie é o fato gerador da respectiva obrigação. É irrelevante para essa qualificação a denominação e demais características formais adotadas pela lei, bem como a destinação legal do produto da arrecadação (CT N, art. 4º). OBS.: CRITÉRIO A SER OBSERVADO APÓS A CONSTITUIÇÃO DE 1988 DESTINAÇAO DOS RECURSOS É RELEVANTE PARA ENQUADRAMENTO. 3. SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL Conjunto de normas que regem o Direito Tributário, envolvendo tributos federais, estaduais e municipais. O sistema tributário nacional é regido pelo disposto na Constituição Federal, Emendas à Constituição; leis complementares, leis ordinárias leis delegadas e medidas provisórias Tratados e convenções internacionais resoluções do Senado Federal Constituições e em leis estaduais, e municipais (nos limites das respectivas competências) Atos do Poder Executivo É de competência do Senado Federal a avaliação periódica da funcionalidade do Sistema Tributário Nacional, em sua estrutura e seus componentes, e o desempenho das administrações tributárias da União, dos Estados e do DF e dos Municípios. 4. COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA e LIMITAÇÕES AO PODER DE TRIBUTAR Entende-se por competência, o poder tributário juridicamente delimitado, conferido pela Constituição Federal. Não se pode confundir a competência com a capacidade tributária. Para que o princípio federativo fosse implementado, e a fim de que cada ente pudesse ser autônomo em relação aos demais, a competência tributária é imprescindível. Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. 5
6 A atribuição constitucional de competência tributária compreende a competência legislativa plena, ressalvadas as limitações contidas na Constituição Federal, nas Constituições dos Estados e nas Leis Orgânicas do DF e dos Municípios, e observado o disposto no CTN. Os tributos cuja receita seja distribuída, no todo ou em parte, a outras pessoas jurídicas de direito público pertencem à competência legislativa daquela a que tenham sido atribuídos. Em regra, a criação ou a modificação de um tributo se dá por meio de lei ordinária, contudo veremos os casos na Constituição Federal que exige lei complementar ou os casos de alteração de alíquota sem necessidade de lei, bastando ato do Poder Executivo. A competência tributária é indelegável, mas a atribuição das funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária pode ser conferida por uma pessoa jurídica de direito público a outra. A atribuição compreende as garantias e os privilégios processuais que competem à pessoa jurídica de direito público que a conferir. Não constitui delegação de competência o cometimento a pessoas jurídicas de direito privado, do encargo ou da função de arrecadar tributos, como ocorre com as instituições financeiras ou com as empresas que são obrigadas a realizar o desconto na fonte das pessoas físicas que lhes prestaram serviço. O não-exercício da competência tributária não a confere a pessoa jurídica de direito público diversa daquela a que a Constituição tenha atribuído. A competência é prerrogativa do ente, sendo improrrogável. COMPETÊNCIA CAPACIDADE ATIVA ENTES COMPETENTES: UNIÃO ESTADOS DF MUNICÍPIOS 4.1 COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR A competência para editar leis em matéria tributária é concorrente entre a União, os Estados e o DF, conforme dispõe o art. 24 da CF/1988. Art. 24 Competem à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; A competência da União limita-se a estabelecer normas gerais, não excluindo a competência suplementar dos Estados. Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender as suas peculiaridades. A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. Quanto aos municípios, a CF/1988 em seu art. 30 confere poderes para a instituição de tributos. Compete aos Municípios: III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; 6
7 SÚMULA Nº 69 do STF A Constituição Estadual não pode estabelecer limite para o aumento de tributos municipais. 4.2 COMPETÊNCIA PARA INSTITUIR A competência para criar tributos está disposta na Constituição Federal em seus artigos 145, 148, 149, 149-A. Segundo o art. 145 da CF/1988, a União, Estados, DF e Municípios podem instituir os seguintes tributos: IMPOSTOS; TAXAS; CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. UNIÃO ESTADOS E DF MUNICÍPIOS E DF I.I. I.E. I.R. I.P.I. I.OF. I.T.R. I.G.F. I.Ext. Imp Residuais I.P.V.A I.T.C.D. I.C.M.S. I.P.T.U. I.T.B.I. I.S.S.Q.N. Pelo art. 149 da Constituição Federal, é competência EXCLUSIVA da União instituir os seguintes tributos: CONTRIBUIÇÕES (ART. 149 CF/1988) o SOCIAIS PARA FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL (ART. 195) PARA OUTROS FINS (EX: ART. 212, 5º. Salárioeducação) o DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONOMICO - CIDE o DE INTERESSE DE CATEGORIAS PROFISSIONAIS OU ECONÔMICAS A Constituição Federal utilizou o termo exclusivo, mas os Estados, DF e Municípios têm competência para instituir contribuição, cobrada de seus servidores, para o custeio, em benefício destes, de regimes de previdência social, cuja alíquota não será inferior à da contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos da União (art. 149, 1º.). A EC n 39/2002 acrescentou o art. 149-A à Constituição Federal criando a contribuição sobre serviços de iluminação pública (CILP), cuja competência é dos Municípios e do DF. É facultada a cobrança dessa contribuição na fatura de consumo de energia elétrica. Por sua vez, é de competência da União a criação dos empréstimos compulsórios. 7
8 Roteiro 2ª aula: 1) Quais tributos a União pode instituir? E os Estados? E os Municípios? 2) Qual a distinção entre Competência cumulativa, residual e extraordinária? 3) O que significa não-cumulatividade? 4) Quais são as funções dos tributos? 5) Como graduar o valor do tributo devido? 6) Qual o alcance da proibição de tributo com efeito confiscatório? COMPETÊNCIA CUMULATIVA: A regra é cada ente possuir sua competência e exercê-la somente em seus limites constitucionais. Entretanto, a própria Constituição Federal admite que a União pode instituir impostos das competências dos Estados e dos municípios nos Territórios Federais, se este não for dividido em Municípios. Ao DF cabem os impostos municipais. Art Competem à União, em Território Federal, os impostos estaduais e, se o Território não for dividido em Municípios, cumulativamente, os impostos municipais; ao Distrito Federal cabem os impostos municipais COMPETÊNCIA RESIDUAL: Para a União, a competência elencada na CF/1988 para instituir impostos não é exaustiva. Contudo, para instituir outros impostos a União deve atentar para os seguintes requisitos: lei complementar; não-cumulativos. O termo cumulatividade refere-se a cálculos independentes em cada operação. Exemplo: (classificação - tributo direto e indireto) inovação em fato gerador e na base de cálculo. Art A União poderá instituir: I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição; Conforme disposto no art. 195, 4º da CF/1988, a União também possui competência residual para instituir novas contribuições sociais destinadas ao financiamento da seguridade social. Art. 195 (...) 4º - A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I. 8
9 O STF vem se posicionando no sentido de que para se instituir novas contribuições para financiamento da seguridade, não se observa a última parte do art. 154, I da CF/ REPARTIÇÃO DA RECEITA: Atenta-se que do novo imposto criado por meio da competência residual da União pertencem aos Estados e ao DF 20% do produto da arrecadação COMPETÊNCIA EXTRAORDINÁRIA: Art A União poderá instituir: II - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação. Esse imposto será suprimido, gradativamente, no prazo máximo de 5 anos, contados da celebração da paz, conforme dispõe o art. 76 do CTN. Em regra o ente competente para instituir é o competente para isentar (ISENÇÃO AUTÔNOMA), entretanto há a ISENÇÃO HETERÔNOMA para o ISS e para o ICMS (para este com efeitos restritos após a Emenda Constitucional n 42/2003). Obs.: tratados internacionais e isenção de tributos locais CONFLITO DE COMPETÊNCIA art. 146, I da CF/1988 matéria reservada à lei complementar. 5. FUNÇÕES DOS TRIBUTOS Conforme a característica principal da motivação de se criar um tributo: o o o FISCAL : são os tributos cuja característica principal é a arrecadação de valores para a Fazenda Pública, geração de recursos para o Estado. PARAFISCAL: são os tributos cuja principal função é o recolhimento de valores para manutenção de entidades ou de funções não típicas de Estado, como as contribuições destinadas ao SESI, SENAI, SENAC. A entidade fica com o produto arrecadado e o aplica em seus fins próprios. EXTRAFISCAL: a principal função desses tributos é a regulação de mercados ou atividades econômicas. Como exemplo podemos citar a CIDE. 6. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS 1ª PARTE. CAPACIDADE CONTRIBUTIVA IMPOSTOS: (classificação tributo pessoal e real) Art. 145 (...) 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. PROIBIÇÃO DE EFEITO CONFISCATÓRIO: Art Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: IV - utilizar tributo com efeito de confisco; 9
10 NESTE CASO DEIXARÍAMOS O CARÁTER TRIBUTÁRIO PARA UM CARÁTER PUNITIVO. OBS: MULTAS TRIBUTÁRIAS E O EFEITO CONFISCATÓRIO ENTENDIMENTO DO STF. 10
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