Balanço Econômico 2014 e Perspectivas 2015 Avaliação do setor de borracha do Rio Grande do Sul

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Transcrição:

Balanço Econômico 2014 e Perspectivas 2015 Avaliação do setor de borracha do Rio Grande do Sul São Leopoldo, abril de 2015

1. Sumário Executivo 2. A economia brasileira em 2014 O setor de borracha no contexto nacional 3. O Rio Grande do Sul em 2014 O setor de borracha gaúcho 4. Perspectivas 2

SUMÁRIO EXECUTIVO Apesar da ocorrência de dois eventos que poderiam impulsionar a economia brasileira no ano de 2014, como a realização da Copa do Mundo e as eleições presidenciais, o que se viu foi exatamente o inverso. O processo de desaceleração da atividade produtiva, que já tinha se iniciado em meados de 2013, se intensificou durante o ano passado, espalhando-se dentre os setores. Na medida em que ficava mais clara a formação de um cenário de recessão, juntamente com a piora no ambiente político, permeado de denúncias de corrupção, a confiança de consumidores e empresários caiu ao menor nível da história. E isso foi verificado em diversos setores da indústria e do comércio, e também nas regiões, como foi o caso do Rio Grande do Sul. As perspectivas para 2015, no ambiente nacional, são de um PIB em queda entre 1% e 1,5%. Tal cenário ocorre diante de uma inflação ainda pressionada, ao redor de 8% ao ano, e juros elevados, perto de 13% ao ano. Além disso, é um ano de forte ajuste fiscal, o que implica em mais choque negativo na atividade produtiva, seja com controle de gastos ou aumento de tributos. Aliás, esse deve representar mais de 2/3 de todo o ajuste fiscal proposto pelo Governo Federal. Em suma, a desaceleração da economia brasileira deve ter um curso mais acentuado nesse ano, e deve atingir, em especial, a indústria de transformação. O Rio Grande do Sul deve sofrer o impacto negativo da atividade econômica nacional, em especial com a retração da demanda industrial e a desaceleração das vendas do comércio. Além disso, mantém-se a perspectiva de dificuldades no setor externo com um importante parceiro comercial, a Argentina, mesmo diante de uma taxa de câmbio média mais desvalorizada. Nesse cenário, a indústria da borracha deve encontrar dificuldades, em especial no segmento de pneumáticos. 3

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 1ºT07 3ºT07 1ºT08 3ºT08 1ºT09 3ºT09 1ºT10 3ºT10 1ºT11 3ºT11 1ºT12 3ºT12 1ºT13 3ºT13 1ºT14 3ºT14 Balanço Econômico 2014 e Perspectivas 2015 A ECONOMIA BRASILEIRA EM 2014 O desempenho da economia brasileira no ano de 2014 apresentou o segundo pior resultado da era Plano Real. A relativa estabilidade de 0,2% sobre o ano de 2013, medido pelo PIB, reflete, em grande parte, o esgotamento de um modelo que se mostrou incapaz de gerar crescimento sustentável. Como pode ser visto no gráfico, desde 2010, que a economia mostra sinais de menor dinâmica. Em que pese a base de comparação elevada que foi aquele ano, o fato é que, desde então, estamos crescendo abaixo da média histórica, de 3%. Além disso, analisando o comportamento em 12 meses, que dá uma ideia melhor de tendência de longo prazo, o resultado recente não aponta para uma possível reversão no curto prazo. Evolução do PIB do Brasil (var % ac. no ano) (var % ac. em 12 meses) 5,0% 7,6% 3,9% 1,8% 2,7% 0,2% 4,5% 6,4% 7,6% 1,8% 2,8% -0,2% -1,3% 0,2% Fonte: IBGE O que acontece desde 2011, e que se intensificou no ano de 2014, em nada se assemelha ao verificado em 2009, quando a economia mundial foi o principal fator a limitar nosso desempenho. Na verdade a desaceleração da atividade no Brasil pode ser entendida como um processo recessivo que tem sua origem no mercado interno. Ou seja, podemos afirmar que essa é uma crise genuinamente tupiniquim. 4

Entender os fatores que nos conduziram a esse cenário irá ajudar a formular as condições mínimas para seu enfrentamento. Em resumo, há uma série de medidas que foram implementadas de maneira equivocada em várias áreas da economia. Algumas tiveram cunho macroeconômico, como forçar a manutenção de juros reais baixos por um tempo prolongado, o abandono da agenda de acordos comerciais com países desenvolvidos e o excessivo gasto público e intervenção na economia, seja via uso das instituições estatais financeiras ou então as não-financeiras e fundos de pensão. Isso apenas para citar algumas ações conduzidas no âmbito Federal No ambiente microeconômico o destaque negativo foram as diversas ações na estrutura tributária, em uma tentativa de gerar incentivos setoriais sob a alegação de formulação de uma política industrial. Se por um lado essas ações podem ser interpretadas como reconhecimento de que temos um problema estrutural que deve ser enfrentado, de outro, serviram apenas para desordenar boa parte da cadeia produtiva em vários segmentos. Isso porque eram medidas pontuais de cunho temporário, e que não permitiam o correto enfrentamento dos problemas que atingem o setor industrial nacional. O que reforça essa percepção é que toda medida adotada com esse fim deveria vir acompanhada de reduções de preços ao consumidor final para poder ter validade. Ou seja, o objetivo final era produzir aumento de consumo, e não melhora das condições de produção. Em um primeiro momento pode até ser verdade que essas ações microeconômicas na esfera tributária contribuíram para manter a competitividade setorial em um ambiente de baixa produtividade dos trabalhadores e elevados custos de capital. Isso sem falar do câmbio valorizado, que distorcia nossos meios de troca. Mas logo a seguir, ficou claro que não seria suficiente para manter taxas de crescimento sustentáveis. E, ao voltar atrás em várias delas, o resultado final foi, sem dúvida alguma, mais danosa para o setor do que se não tivesse feito essa intervenção. Como pode ser visto, foram ações temporárias, e serviram apenas para adiar um ajuste futuro necessário. E, durante seu período de vigência, criaram 5

jan/06 set/06 mai/07 jan/08 set/08 mai/09 jan/10 set/10 mai/11 jan/12 set/12 mai/13 jan/14 set/14 jan/06 ago/06 mar/07 out/07 mai/08 dez/08 jul/09 fev/10 set/10 abr/11 nov/11 jun/12 jan/13 ago/13 mar/14 out/14 Balanço Econômico 2014 e Perspectivas 2015 incertezas junto ao empresário, que por vezes adiou investimentos. Além disso, impactou no resultado fiscal do Governo Federal. Na medida em que esses elementos ficaram mais evidentes, a economia passou a desacelerar e, no momento em que passou a ser necessária uma verdadeira medida anticíclica, como uma redução de impostos, por exemplo, o Governo já não tinha mais tinha espaço diante do desequilíbrio orçamentário. Toda essa discussão foi o pano de fundo de uma estratégia mais ampla de aumentar a intervenção estatal no funcionamento da economia. Outras ações equivocadas também tiveram curso nesses anos e vieram a mostrar esgotamento ao final de 2014. Algumas estiveram relacionadas ao uso de bancos públicos em várias áreas com destaque para o financiamento imobiliário para famílias de classe baixa, sem a devida contrapartida de medida de risco. Esses foram complementados com financiamentos voltados à compra de bens duráveis e tiveram juros excessivamente subsidiados e prazos longos. Além disso, o Governo fez uso de empresas públicas com vistas a manter a inflação sob controle, o que acabou resultando em um represamento de preços que veio a se manifestar no ano passado. Variação Percentual em 12 meses Produção Industrial Vendas do Comércio 6,6% 11,9% 2,2% 9,8% 10,8% 8,4% -10,2% -3,3% -3,1% 5,2% 4,8% 2,3% Fonte: IBGE. Comércio Varejista. O resultado da combinação dessas diversas políticas citadas acima foi uma economia com menor dinâmica produtiva. Prova disso que a produção industrial teve a segunda variação negativa em um espaço de três anos e as 6

vendas do comércio tiveram a menor variação desde o início da série. No caso da indústria podemos dizer que a mesma terminou o ano de 2014 no mesmo nível de produção que o verificado no período pre crise de 2008. Tal comportamento se refletiu em uma participação do setor no PIB de 10,9%, a menor da história. E isso em um cenário de crescimento mundial e câmbio mais desvalorizado, dois pontos que poderiam ter ajudado as vendas externas e a melhora da competitividade no mercado interno. Complementando esse cenário estão as vendas do comércio que terminaram o ano em 2,3%. A despeito do crescimento verificado, é possível notar que o mesmo está desacelerando desde o final de 2010 e ainda não sinalizou o fim desse processo. Os cinco principais vetores que trouxeram o setor para esse baixo resultado foram: i) a perda de dinâmica do emprego; ii) a maior inflação que, por sua vez, contribuiu para que fosse potencializado o terceiro fator: iii) um menor crescimento da renda real. O quarto vetor negativo foi a estabilização do crédito ao consumidor, muito influenciado pelo quinto vetor, que é o elevado endividamento das famílias. A piora no cenário econômico acompanhou a deterioração da política o que, por sua vez, contribuiu para que o nível de confiança dos empresários atingisse o menor nível da série desde que começou a ser pesquisada pela CNI. O índice de confiança do empresário industrial no Brasil, em dezembro de 2014, estava em 37,5. Vale lembrar que a linha que representa um nível de confiança neutro seria de 50. Nessa pesquisa também são investigados outros itens dos quais, um dos mais relevantes, é a expectativa de demanda. Essa também atingiu o menor patamar da série ao final de 2014, situando-se em 47,8. Por estar abaixo do nível médio, de 50, sinaliza que os empresários esperam demandas menores nos próximos meses. Ou seja, a crise que atingiu a economia brasileira dá sinais de que ainda deve perdurar no primeiro semestre de 2015. 7

jan/10 jun/10 nov/10 abr/11 set/11 fev/12 jul/12 dez/12 mai/13 out/13 mar/14 ago/14 jan/15 jan/10 jun/10 nov/10 abr/11 set/11 fev/12 jul/12 dez/12 mai/13 out/13 mar/14 ago/14 jan/15 Balanço Econômico 2014 e Perspectivas 2015 Índice de Confiança do Empresário Industrial Sondagem Industrial Expectativa de Demanda 61,4 58,1 52,4 65,3 54,3 60 57,7 37,5 47,8 Fonte: CNI O comportamento da economia ao longo de 2014 esteve em linha do que esperávamos ao final de 2013. Nesse caso, destaque para a pressão da inflação, principalmente com a ocorrência de eventos como a Copa do Mundo e das eleições. Esses tiveram o poder de aumentar a demanda no setor de serviços, em especial passagens aéreas e hotéis e, com isso, contribuíram para manter os preços pressionados nas capitais. Além da perspectiva de inflação pressionada, a previsão era que a taxa de juros continuaria a aumentar, mas que experimentaria uma pausa durante os meses que antecedessem as eleições e a deterioração das contas púbicas. De fato isso aconteceu e tão logo se soube o resultado das eleições, o Copom promoveu o aumento dos juros, política essa que seguiu 2015 adentro. Além desses fatores também era clara as dificuldades que seriam enfrentadas no campo fiscal, com o Governo Federal sendo mais relapso no cumprimento das metas fiscais do ano. Porém, o resultado que se desenhou foi bem pior do que o projetado por diversos analistas, com o maior déficit primário do Plano Real. As incertezas que se desenharam no ambiente macroeconômico, sejam pela inconstância na política monetária ou o pequeno compromisso na área fiscal, contaminou o empresariado. Soma-se a esse os indícios de corrupção e 8

problemas na maior empresa estatal brasileira, o que se viu foi uma mudança de patamar na taxa de câmbio de 2,44 para perto de 3 e a piora no ambiente de negócios. Esse é o pano de fundo que se desenha para a conjuntura de 2015. Devido a expectativa de uma inflação mais pressionada durante todo o ano, um sinal claro de que a política monetária continua ineficaz, é natural que a taxa de juros siga em patamares elevados. Esses dois fatores devem contribuir para manter o processo de desaceleração do consumo das famílias, um dos vetores mais importantes do PIB nos últimos anos. Isso porque, devemos experimentar uma pequena retração na renda real e o aumento do custo dos empréstimos. Boa parte da percepção de que a crise se instalou na economia brasileira virá da piora das condições do mercado de trabalho. Desde dezembro que os indicadores de desemprego apontam taxas maiores e os números de emprego sinalizam para fechamento de vagas formais. Esse cenário só não se tornou ainda mais forte no primeiro trimestre de 2015 devido a uma combinação de fatores que suavizam o impacto da crise no mercado de trabalho. O primeiro deles é a lentidão em promover as demissões, em especial nas indústrias. Primeiro foram as reduções em horas trabalhadas, a seguir as férias coletivas, depois parte dos trabalhadores foi colocada em disponibilidade. Somente a partir da consolidação da retração da demanda que iremos experimentar mais demissões. Mesmo assim, entra em cena o segundo fator a suavizar a crise, que é o seguro-desemprego. Mesmo a mudança anunciada nas regras de concessão deve produzir um cenário de estabilidade na renda do trabalhador por pelo menos nos próximos seis meses. Tempo suficiente para garantir um choque negativo menor sobre a atividade produtiva. De qualquer forma, é natural esperar que as vendas do comércio continuem a desacelerar nos próximos meses, ajustando-se a uma nova realidade de menor renda real, menor massa de salários e preços mais acentuados para diversos produtos. 9

O pacote fiscal anunciado pelo Governo Federal deve produzir um alívio nas contas públicas, com a possibilidade de um superávit primário da ordem de 1% do PIB. Porém, há sérios riscos de não cumprimento dessa meta, e que estão relacionados ao processo de desaceleração da atividade econômica e seus impactos sobre a arrecadação e a dificuldade em aprovar, em um Congresso mais dividido politicamente, os ajustes propostos na parte de gasto, em especial as medidas de seguro-desemprego. É com base nessa avaliação, de um ano de difícil condução política e ambiente macroeconômico interno deteriorado que as projeções que são colocadas por analistas são de um PIB em queda da ordem de 1% a 1,5% em 2015. A duração e amplitude dessa crise dependem fundamentalmente de como o Governo irá conduzir a política fiscal e monetária nos próximos meses, isso sem contar com os riscos políticos com o aumento da insatisfação da sociedade. Em resumo, esse deve ser um ano difícil para a atividade produtiva como um todo. O Setor de Borracha no Contexto Nacional A desaceleração do setor de borracha no cenário nacional seguiu em linha com o comportamento verificado de setores importantes da cadeia produtiva. De um lado, a indústria de pneumáticos saiu de uma taxa de crescimento da ordem de 9,1%, a segunda maior dos últimos vinte anos, para encerrar o ano com contração de 1,0%. No agregado, as estimativas da indústria de borracha, que também contempla matéria prima e artefatos, foi uma retração de 5,1%. Esse cenário de queda da produção continuou durante os dois primeiros meses de 2015. Tanto é que a indústria de pneumáticos aumentou a retração em 12 meses para 3,2% e a indústria total de borracha para 5,7%. É a segunda retração significativa nos indicadores de produção do setor em um espaço de três anos. Um sinal claro de que a política industrial adotada no 10

jan/06 set/06 mai/07 jan/08 set/08 mai/09 jan/10 set/10 mai/11 jan/12 set/12 mai/13 jan/14 set/14 jan/06 out/06 jul/07 abr/08 jan/09 out/09 jul/10 abr/11 jan/12 out/12 jul/13 abr/14 jan/15 Balanço Econômico 2014 e Perspectivas 2015 período em nada contribuiu para melhorar o ambiente de negócios no setor de Borracha do Brasil. Evolução da Produção Industrial Pneumáticos (var % ac. em 12 meses) Borracha 4,8% 18,8% 9,1% 10,1% 21,9% -5,7% -21,1% -10,0% -3,2% -21,5% -6,0% -5,7% Fonte: IBGE Dentre os fatores que ajudam a explicar esse resultado negativo, podemos citar a queda na produção de veículos automotores e também de motos. Nesse caso, a retração na indústria de veículos atingiu, em cheio, a produção de pneus e trouxe consigo a queda na produção de outros itens do setor de borracha, mas ligados a artefatos, como correias, juntas e borracha vulcanizada. O segundo fator importante que impactou negativamente no setor de borracha do Brasil em 2014 foi a queda das exportações. Essa ocorreu em todas as três aberturas, com destaque para artefatos, com retração de 12% das exportações em dólares, e de pneumáticos, com 11,3%. Porém, em termos de valor exportado, os piores resultados ocorreram em pneumáticos, com a queda representando uma receita de US$ 248 milhões a menos sobre o verificado em 2013. Analisando o comportamento histórico da indústria podemos ver que os resultados de 2014 colocaram as exportações no mesmo patamar de 2010. 11

Evolução das Exportações no Setor de Borracha (em US$ milhões) Pneumáticos Matéria-Prima Artefatos 1.364 1.664 1.571 1.534 1.360 405 552 496 384 346 281 304 318 303 266 2010 2011 2012 2013 2014 Fonte: SECEX 2010 2011 2012 2013 2014 2010 2011 2012 2013 2014 No total, as exportações do setor de borracha do Brasil atingiram os US$ 1,9 bilhões, com queda de 11,2% sobre o resultado de 2013 e pouco acima das exportações verificadas em 2009. Esse cenário de retração das exportações ocorreu mesmo diante de uma taxa de câmbio média mais desvalorizada durante quase todo o ano de 2014. Essa saiu de um patamar médio de 2,38 em janeiro para 2,63 de dezembro. O motivo para esse pouco impacto da taxa de câmbio nas exportações é que dois dos mais importantes clientes do Brasil, a Argentina e a Venezuela, enfrentaram crises econômicas no ano de 2014, o que contribuiu para reduzir as exportações para aqueles países. Em termos de faturamento das exportações em reais, trazendo os mesmos a valor presente pelo IPCA, podemos ver que essa taxa de câmbio mais desvalorizada ajudou a compensar parte da perda da quantidade exportada. Nesse caso as exportações totais em reais passaram de R$ 5,3 bilhões para R$ 4,8 bilhões. Uma queda de 8,7% e que representou um faturamento menor com as exportações de R$ 461 milhões. Como pode ser visto, uma parte dos problemas do setor no ano passado esteve relacionada com o cenário interno, em especial na cadeia produtiva, e outra parte teve relação com o setor externo. As implicações de uma queda de demanda no mercado interno podem ser comprovadas com o 12

jan/07 ago/07 mar/08 out/08 mai/09 dez/09 jul/10 fev/11 set/11 abr/12 nov/12 jun/13 jan/14 ago/14 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Balanço Econômico 2014 e Perspectivas 2015 comportamento do consumo aparente de borracha, que teve queda de 3,8%, a maior desde a crise de 2009. E, além disso, a única desde então. O cenário de restrição do consumo aparente em 2014 não teve característica de substituição do produto nacional por importado, como pudemos verificar em outros anos. No ano passado a queda ocorreu na produção, nas exportações e também nas importações. Um sinal claro de que o setor atravessou realmente uma forte crise de demanda interna. Consumo Aparente de Borracha Var.% em 12 meses Var.% no ano 59,6% 64,9% 56,5% 64,9% 17,7% 11,1%8,3% 15,5% -0,1% 3,2% -13,3% -5,7% -13,3% -3,8% Fonte: IBGE/Funcex. Cálculos próprios. Essa percepção de piora do cenário econômico e do negócio em si foi, aos poucos, sendo captada pela pesquisa de confiança feita pela CNI com o empresário do setor de Borracha. Como é sabido, essas pesquisas são divididas em duas partes, uma que está relacionada com as condições atuais e outra com as expectativas. Ao final, a composição de ambas resulta no índice de confiança. Como pode ser visto no conjunto de gráfico, em todas é possível notar a perda de confiança do empresário do setor, a ponto de a mesma ter atingido o nível mais baixo da série histórica. A linha contínua de cor laranja representa o ponto médio de 50 para o indicador. Nesse caso, com um intervalo entre 0 e 100, sempre que o mesmo se encontra abaixo da linha de 50 significa baixa confiança e, acima de 50, uma confiança elevada. 13

jan/10 jun/10 nov/10 abr/11 set/11 fev/12 jul/12 dez/12 mai/13 out/13 mar/14 ago/14 jan/15 jan/10 jun/10 nov/10 abr/11 set/11 fev/12 jul/12 dez/12 mai/13 out/13 mar/14 ago/14 jan/15 jan/10 jun/10 nov/10 abr/11 set/11 fev/12 jul/12 dez/12 mai/13 out/13 mar/14 ago/14 jan/15 Balanço Econômico 2014 e Perspectivas 2015 Confiança do Empresário Industrial do Setor de Borracha Condições Atuais Expectativas Confiança 60,3 50,2 64,9 66 70,6 60,2 39,3 33,3 23,9 35,3 45,3 41,3 31,5 Fonte: CNI Além da pesquisa de confiança também é feita a Sondagem Industrial. Nesse são formuladas diversas outras perguntas ao empresário, e aqui mostramos apenas três, que ajudam a ilustrar o cenário atual. A primeira é a expectativa de produção. Como pode ser visto, de acordo com as respostas dos empresários do setor de borracha no Brasil, podemos concluir que a produção deve permanecer estável pelos próximos meses. Isso porque o resultado apontado está abaixo da linha média e, além disso, é o pior da série histórica. Essa avaliação corrobora com a pesquisa de estoques, onde os empresários do setor apontaram que esses se encontram acima do planejado. As implicações de uma percepção de estoques elevados vão desde redução da produção, demissões até menores investimentos nos próximos meses. Para complementar também é feita a pergunta sobre a expectativa de demanda. E, como pode ser visto, o resultado aponta para um nível médio. De um lado pode parecer positivo, mas na comparação com a pesquisa em outros meses podemos ver que esse patamar médio está bem abaixo. Em resumo, a pesquisa de confiança e a sondagem feita com os empresários do setor de borracha no Brasil apontam que o cenário econômico para o ano de 2015 não deve ser dos mais fáceis. 14

jan/10 jun/10 nov/10 abr/11 set/11 fev/12 jul/12 dez/12 mai/13 out/13 mar/14 ago/14 jan/15 jan/10 jun/10 nov/10 abr/11 set/11 fev/12 jul/12 dez/12 mai/13 out/13 mar/14 ago/14 jan/15 jan/10 jun/10 nov/10 abr/11 set/11 fev/12 jul/12 dez/12 mai/13 out/13 mar/14 ago/14 jan/15 Balanço Econômico 2014 e Perspectivas 2015 Sondagem do Empresário Industrial do Setor de Borracha Expectativa de Produção Estoques efetivo/planejado Expectativa de Demanda 59,5 54,6 58,3 60,9 55,4 66,3 58,9 29,7 28,1 39,5 48,0 44,2 38,1 Fonte: CNI Comparativamente ao que projetamos no último relatório para o ano de 2014, é possível notar que, naquele momento, já se esperava uma piora nas expectativas dos empresários do setor, em especial devido a deterioração do cenário macroeconômico. Como, desde então, notamos uma piora no cenário macroeconômico, em especial com o aumento da inflação, dos juros, dos impostos e da taxa de desemprego, é natural esperar que essa percepção negativa para o ano de 2015 se configure em menor crescimento da produção. O contraponto dessa previsão pode ser a exportação, na esteira de uma taxa de câmbio mais desvalorizada. Mas, isso irá depender de uma recuperação econômica em dois importantes parceiros comerciais do Brasil, a Argentina, que ultrapassa um período político conturbado com as eleições, e a Venezuela, envolta com problemas econômicos. 15

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2007-I 2007-III 2008-I 2008-III 2009-I 2009-III 2010-I 2010-III 2011-I 2011-III 2012-I 2012-III 2013-I 2013-III 2014-I 2014-III Balanço Econômico 2014 e Perspectivas 2015 O RIO GRANDE DO SUL EM 2014 Após o crescimento estatístico de 2013, da ordem de 6,5%, quando a economia do Rio Grande do Sul apenas se recuperou do choque negativo da seca de 2012, a atividade regional voltou a apresentar perda de dinâmica, e encerrou o ano de 2014 com crescimento de 0%. Ao analisar o comportamento acumulado em 12 meses fica nítido o movimento cíclico do PIB do Rio Grande do Sul, oscilando, nos últimos anos, entre uma expansão elevada, de mais de 7%, até uma queda de 1,8%. O que chama atenção nesse movimento é que são ciclos curtos de crescimento, mas pronunciados. Boa parte desse resultado de 2014 se deve ao fraco comportamento da economia no cenário nacional. Como é sabido, há uma forte relação entre o setor industrial gaúcho e o setor industrial nacional. Essa ocorre tanto no que diz respeito ao fornecimento de produtos intermediários para a indústria do centro do Brasil quanto de bens de capital, com destaque para máquinas e equipamentos agrícolas, ônibus e caminhões. Evolução do PIB do Rio Grande do Sul (var % ac. no ano) (var % ac. em 12 meses) 2,78% 6,65% 5,19% 6,52% 0,00% 6,0% 7,2% 6,4% -0,37% -1,39% -1,8% -1,4% 0,0% Fonte: IBGE/FEE Além disso, a perda de dinâmica no mercado de trabalho, que foi verificada no Brasil no ano de 2014, também teve curso no Rio Grande do Sul. E isso aconteceu não apenas com a virada de um cenário de geração de postos 16

de trabalho para um de fechamento de vagas, mas, também, com impactos sobre a renda real em um ambiente de inflação elevada, juros maiores, famílias endividadas e retração do crédito. O segundo fator de destaque em 2014 e que impactou a economia gaúcha, foi a crise em um dos mais importantes parceiros comerciais do Estado, a Argentina. A queda da atividade produtiva naquele país, seguida de restrições nas importações de produtos do Brasil, atingiu, em cheio o segmento exportador do Rio Grande do Sul. Nesse se enquadra, especialmente, o metal mecânico, com as exportações de máquinas e componentes agrícolas. E mesmo uma taxa de câmbio mais desvalorizada não foi o suficiente para evitar a perda de receita com a queda da quantidade exportada, resultando em menor faturamento para as empresas. Em termos setoriais, a análise do PIB mostra que, pelo segundo ano consecutivo, a agropecuária teve o melhor resultado dentre os três setores. Mesmo assim, o crescimento de 2,49% sobre 2013 foi muito menor do que os 23% de 2013 sobre o ano de 2012. Isso porque, como referido no relatório do Balanço e Perspectivas anterior, após a recuperação da produção de soja em 2013, com avanço de 92% na quantidade produzida, o espaço para crescimentos dessa magnitude ficou limitado e esse passou a ocorrer na margem, impulsionado pela produtividade. Dentre as cinco mais importantes culturas do Estado, a que teve a maior surpresa negativa foi o Trigo, com queda de 50% sobre a quantidade produzida de 2013. A produção de fumo caiu 4,2% ao passo que o milho teve ligeiro aumento de 0,8%, arroz de 1,8% e a soja de 2,2%. A indústria teve a segunda queda em três anos, e a mais intensa desde o ano de 2009. A retração de 3,2% foi puxada, em especial, pela indústria de transformação, que caiu 4,2%, o pior resultado desde a crise de 2009 contribuindo para que, nos quatro anos de 2011 a 2014, o setor tivesse resultado de -0,02% ao ano. Ou seja, podemos dizer que, nos últimos quatro anos, a indústria de transformação do Rio Grande do Sul encolheu. A surpresa negativa foi a queda de 4,13% na indústria da Construção Civil, a primeira 17

verificada no Estado desde 2009, e a maior queda da série histórica das contas regionais trimestrais do PIB do Rio Grande do Sul. Vale destacar que a baixa performance da indústria de transformação ocorreu de forma disseminada dentre os vários segmentos pesquisados. Como pode ser visto na tabela, a produção industrial no Estado caiu 4,2%, bem mais que os 3,8% verificado na média do Brasil. Algumas diferenças setoriais foram significativas, como é o caso da indústria de celulose e papel, derivados de petróleo, químicos, minerais não metálicos e metalurgia. Indústria de Transformação (Var.% no ano de 2014) Brasil RS Alimentos -1,4-1,6 Bebidas 1,1 0,1 Fumo -1,5-0,3 Couro e Calçado -4,1-5,2 Celulose, papel e produtos de papel -0,6-2,8 Derivados de Petróleo e biocombustível 2,4-1,3 Químicos -3,8-6,3 Borracha e Plástico -3,8-4,6 Minerais não-metálicos -2,7-4,2 Metalurgia -7,4-16 Produtos de metal -10,1-5,3 Máquinas e equipamentos -6-4,4 Veículos automotores -16,8-4,5 Móveis -7,4-7,3 Total -3,8-4,2 Fonte: IBGE e FEE A desaceleração das atividades produtivas no Rio Grande do Sul também atingiu o setor de serviços. A expansão de 1,25% no ano de 2014 foi a menor desde 2006 e contribuiu para reduzir a taxa média de crescimento do setor nos últimos quatro anos para 2,88%. Um resultado bem menor do que o verificado no período 2007-2010, que foi de 4,07%. Tal resultado reflete principalmente a perda de dinâmica no mercado de trabalho, com menor 18

jan/06 set/06 mai/07 jan/08 set/08 mai/09 jan/10 set/10 mai/11 jan/12 set/12 mai/13 jan/14 set/14 jan/06 set/06 mai/07 jan/08 set/08 mai/09 jan/10 set/10 mai/11 jan/12 set/12 mai/13 jan/14 set/14 Balanço Econômico 2014 e Perspectivas 2015 geração de empregos e expansão mais contida da renda real, bem como menor nível de crédito as famílias. À exceção das atividades imobiliárias e de aluguel, que teve um crescimento de 3,02% e superou o resultado de 2013, todas as demais que compõem o setor de serviços tiveram resultados menores em 2014. O destaque negativo, nesse caso, fica por conta do crescimento de apenas 0,1% no PIB do comércio e 0,99% nos transportes, armazenamento e correios. Duas variáveis que podem ser utilizadas como proxy da medida do PIB são a produção industrial e as vendas do comércio. Vale destacar que essas não são medidas de Valor adicionado, mas sim, de produção. Nesse sentido, a comparação direta com o PIB é errada. De qualquer forma sua análise é útil pois possuem periodicidade mensal e permite fazer uma análise de tendência. Sendo assim, como pode ser visto no gráfico, a queda da produção industrial já se verificava desde meados de 2014 e realmente foi bastante intensa. Produção Industrial (var % ac. em 12 meses) Vendas do Comércio (var % ac. em 12 meses) 6,4% 8,1% 10,7% 9,0% -9,5% -4,4% -5,4% -3,8% 1,7% 1,6% Fonte: IBGE Ao terminar o ano de 2014 com uma retração de 4,3%, ficou a percepção de que ciclo de queda no setor não havia encerrado. De fato, o último resultado divulgado, de janeiro de 2015, sinaliza que essa retração ainda continuou, aumentando a queda para 5,4%, a segunda maior desde a crise de 2009. 19

Já as vendas do comércio mostram dinâmica um pouco diferente. Note que a tendência de desaceleração ocorre desde o final do ano de 2010, quando essas atingiram seu máximo de 10,7%. Desde então, a despeito da ligeira alta em 2012, mês após mês o crescimento é menor, trazendo o setor para um resultado que é o pior desde 2006. O que mais chama atenção nesse cenário é que esse ciclo de queda não parece dar sinais de ter encerrado. O que corrobora com essa percepção é o baixo nível de confiança de consumidores e empresários, a inflação em trajetória de alta, juros em patamares restritivos para financiamentos e aumento da taxa de desemprego em um cenário de retração de crédito. Portanto, é de se esperar que o setor, no ano de 2015, tenha resultado pior que o verificado em 2014. O primeiro levantamento de safra para o período 2015/2016 mostra que o Rio Grande do Sul pode ter novo aumento na produção. De acordo com dados do IBGE, a soja pode atingir os 15,1 milhões de toneladas contra cerca de 14,5 milhões de toneladas na safra anterior. Já o arroz pode ter um crescimento mais tímido, de apenas 2% sobre a safra 2014/2015, podendo chegar a 8,4 milhões de toneladas. Ainda é cedo para ter um grau de certeza maior sobre essa previsão, mas é fundamental que a produção de grãos do Rio Grande do Sul não sofra outro revés de seca em um cenário onde a economia já se encontra debilitada. Se por um lado, por hora, as notícias sobre o setor agrícola são positivas, por outro, as perspectivas para a indústria não são das melhores. O ano começou com níveis de confiança baixos, tanto no Brasil quanto no Rio Grande do Sul. Além disso, esse deve ser um ano de juros elevados, o que irá contribuir para reduzir ainda mais os investimentos, em especial na compra de máquinas e equipamentos. O que reforça esse cenário de menor demanda do setor é a elevada ociosidade em que se encontra a indústria no Brasil. A perspectiva para o comércio segue essa linha, de continuidade de desaceleração das vendas pelos mesmos motivos apontados anteriormente e que colocou o setor nessa situação. 20

Para entender o quanto o cenário econômico de 2015 é delicado, podemos fazer um exercício simples de previsão do comportamento dos setores usando o efeito carregamento. Esse considera que a produção para os próximos 12 meses se mantenha estável em relação ao verificado no final de 2014. Ou seja, supondo que a economia produza a mesma quantidade produzida de acordo com a última informação disponível. Nesse caso, o PIB do Rio Grande do Sul pode encerrar o ano de 2015 com -0,2% sobre o ano de 2014. Esse resultado pode parecer pequeno, mas lembre-se que esse tipo de exercício assume que a economia não tenha nenhum choque positivo nem negativo. O que vimos no primeiro trimestre desse ano já é mais do que suficiente para acreditar que a tendência é o resultado final ficar bem pior do que essa projeção, pois, o que não irá faltar para 2015, são choques negativos sobre a economia do Rio Grande do Sul. Dessa forma, não estaria por completo fora da realidade um PIB com variação de -1,8% em 2015. O Setor de Borracha no Rio Grande do Sul Tal qual verificado no cenário macroeconômico e no ambiente setorial da borracha no Brasil, os resultados para o Rio Grande do Sul apontam para uma retração no setor durante o ano de 2014. E esse cenário foi disseminado em diversas variáveis. De acordo com os indicadores industriais da FIERGS, a queda de 1,6% no faturamento do setor veio após um crescimento recorde de 39% no ano de 2013. A despeito de esse resultado ser menos intenso que a queda de 6,2% verificado na média da indústria nacional, o ponto principal é que essa saiu de um crescimento de apenas 3,2% no ano de 2013. Portanto, uma desaceleração menos intensa do que a que ocorreu no setor no Rio Grande do Sul, que saiu de 39% para -1,6%. 21

Indicadores Industriais do Setor de Borracha (var % ac. jan-dez) Compras Industriais Faturamento Real 24,7% 17,2% 39,3% 20,6% -5,9% -6,0% -36,8% -36,3% 2009 2010 2011 2012 2013 2014-0,8% -5,7% -1,6% -14,8% 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Fonte: FIERGS O menor faturamento foi impactado, em especial, pelas vendas feitas para o mercado interno, na esteira da menor demanda dos segmentos da cadeira produtiva, como a indústria de veículos automotores. De forma geral podemos afirmar que a piora no cenário no setor no Rio Grande do Sul também atingiu as variáveis do mercado de trabalho. Porém, esse resultado não foi igual. Por exemplo, enquanto o faturamento caiu, os empregos se mantiveram em crescimento, atingindo expansão de 2,2% em 2014. Esse resultado foi bem maior que o verificado na média do Brasil, de 0,4%. Se de um lado os empregos cresceram no setor no Rio Grande do Sul, de outro, as horas trabalhadas tiveram redução, na margem, de 1%, revertendo crescimento verificado em 2013. Vale destacar que essa foi a terceira queda em um espaço de quatro anos, evidenciando as dificuldades do setor em encontrar estabilidade no ambiente de negócios, e também foi bem menor do que a retração de 3,7% verificada para a média do Brasil. 22

2009 2010 2011 2012 2013 2014 Balanço Econômico 2014 e Perspectivas 2015 Indicadores Industriais do Setor de Borracha Pessoal Empregado (var % ac. jan-dez) Horas Trabalhadas 11,0 % 7,4% 0,7% 2,2% 7,8% 3,0% -1,0% -4,3%-5,3% -9,8% -19,5% 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Fonte: FIERGS Apesar desse cenário restritivo no ano de 2014, os indicadores de utilização da capacidade instalada apontaram um maior nível médio, chegando a atingir 80 (o indicador vai de 0 a 100). Mesmo sendo maior que a média de todo o período 2009-2013, é um nível que ainda fica aquém do verificado no pré crise de 2008. Ou seja, desde então, a indústria do setor de borracha não conseguiu voltar aos níveis de utilização de antes. Nesse sentido, com a sinalização de uma ociosidade na linha de produção, pode-se afirmar que ainda há espaço para aumento no nível de utilização da capacidade da indústria antes que aconteçam novos investimentos no setor. O que chama atenção nesse cenário é que os resultados do setor se contrapõem ao resultado da indústria total no Rio Grande do Sul, que teve uma queda no nível de utilização da capacidade instalada no ano passado. Essa queda colocou o indicador no patamar de 77, mesmo nível verificado no pior momento da crise de 2008. 23

Jan-07 Aug-07 Mar-08 Oct-08 May-09 Dec-09 Jul-10 Feb-11 Sep-11 Apr-12 Nov-12 Jun-13 Jan-14 Aug-14 Jan-07 Aug-07 Mar-08 Oct-08 May-09 Dec-09 Jul-10 Feb-11 Sep-11 Apr-12 Nov-12 Jun-13 Jan-14 Aug-14 Balanço Econômico 2014 e Perspectivas 2015 Utilização da Capacidade Instalada Setor de Borracha (Grau médio) Total da Indústria 90.85 82.89 80.62 87.78 84.00 58.83 67.26 77.34 77.42 Fonte: FIERGS. Ajustados sazonalmente X-12. Os resultados das exportações de borracha do Rio Grande do Sul tiveram queda de forma generalizada em todas as atividades, em linha com o acontecido para a média do Brasil no ano de 2014. Porém, essa foi menos intensa por aqui. No total, as exportações tiveram uma retração de 8,2% quando medida em dólares. Convertendo as mesmas para reais, a queda fica menor, em 4,9% e representa uma perda de faturamento com as exportações da ordem de R$ 31 milhões. Os quatro mais importantes parceiros comerciais do Rio Grande do Sul no segmento de borracha são, pela ordem, os EUA, a Itália, Alemanha e Argentina. Dentre esses, o único país que enfrentou dificuldades econômicas foi a Argentina, um grande importador de produtos ligados a pneumáticos e matéria-prima. E foi exatamente esse comportamento do país vizinho que mais prejudicou as exportações de pneumáticos do setor no Rio Grande do Sul. A queda de US$ 22 milhões sobre o resultado de 2013 foi a maior já verificada nos últimos anos. 24

A seguir, as exportações de matéria prima, cujo principal destino são: EUA, Japão e Holanda, tiveram certa estabilidade sobre o resultado de 2013, com queda de apenas 2,4%, ou seja, US$ 3 milhões a menos. De qualquer forma esse resultado completa quatro anos de retração das exportações desse produto pelo setor, colocando o mesmo no patamar verificado em 2010. Por fim, com menor peso, estão as exportações de artefatos, tendo como principal destino os EUA e a Argentina. Em termos percentuais esse produto teve a maior queda, de 12,3%, representando US$ 1 milhão a menos em exportações. Evolução das Exportações do Setor de Borracha (em US$ milhões) Pneumáticos Matéria-Prima Artefatos 145 168 201 170 238 216 96 125 246 181 142 139 8.1 9.7 10.7 9.4 10.6 9.2 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Fonte: SECEX 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Em resumo, os resultados apontados para o setor de borracha no ano de 2014 deixam claro o impacto ocorrido do menor nível de demanda no mercado interno e a queda das exportações para importantes parceiros comerciais. Esse cenário acabou por resultar em uma retração no faturamento e das horas trabalhadas, a despeito de um aumento dos empregos no período. Esses resultados estão em linha com o ocorrido no setor no Brasil. 25

PERSPECTIVAS O cenário que se desenha para 2015 carrega, de um lado, diversos elementos que contribuem para restringir a demanda interna. Nesse caso, destaque para a inflação elevada, com implicações importantes sobre a formação da renda real; as taxas de juros altas, que irão restringir sobremaneira a oferta e a demanda de crédito na economia além de impactar diretamente no investimento e; o ajuste fiscal imposto pelo Governo Federal, que deve resultar, de um lado, em menores gastos e, de outro, em aumento de tributos que irão, com certeza, reduzir a renda disponível das famílias. Complementando esse cenário destaca-se a incerteza vigente entre consumidores e empresários. No primeiro com potencial de reduzir o consumo, uma vez que aumentou o medo do desemprego e que deve ter seu ápice em meados do ano de 2015. No segundo, os efeitos negativos sobre as decisões de investimento por parte dos empresários. Vale destacar que esse é o cenário básico, no qual a economia pode ter retração de 1% a 1,5%. Há, contudo, um componente de risco importante que é de difícil mensuração, e envolve o ambiente político. As discussões sobre impeachment, manifestações de rua, insatisfação da população que coloca a popularidade da atual presidente no menor nível histórico, são combustíveis para dificultar as ações políticas de controle da crise junto ao Congresso. Com isso, o elemento que pode fazer essa previsão de retração ser menor ou maior, é o desdobramento da crise política. A variável que deve ter reação imediata a uma piora no ambiente político é a taxa de câmbio. Apesar da expectativa de que uma taxa mais desvalorizada possa impactar positivamente na receita com exportações, o fato é que os custos econômicos de curto prazo são maiores, e devem ser no sentido de maiores pressões inflacionárias, com consequente ajuste na taxa de juros e o aumento do risco de não cumprimento das metas fiscais. De qualquer forma a desaceleração que teve curso desde 2014 atingiu fortemente o setor industrial, e assim deve permanecer durante o ano de 2015, 26

uma vez que não há perspectiva de choque positivo no horizonte. Dentre os setores que são importantes para a demanda do setor de borracha destaca-se a indústria de veículos automotores. No caso de automóveis é natural esperar uma estabilização das vendas em patamares bem mais baixos do que o verificado em anos anteriores. Os fatores que justificam essa previsão são: elevado endividamento das famílias; juros altos; prazo curto; preços maiores; menor nível de emprego; renda real menor; restrições de crédito. Já no caso da indústria de ônibus e caminhões o efeito limitador deve ser, de um lado, a restrição do PSI, por parte do BNDES e, de outro, a incerteza no ambiente empresarial. Nesse sentido, o ano de 2015 deve ser difícil para indústria de pneumáticos e de artefatos de borracha. As perspectivas para o Rio Grande do Sul em parte seguem o que deve acontecer no cenário nacional. Mesmo com o resultado positivo da safra de grãos, que contribui para manter a renda no campo, a economia do Estado não está livre de sofrer impactos negativos de parte da queda de produção do setor industrial nacional. E esse impacto deve ser mais intenso em determinadas cadeias produtivas, como máquinas e equipamentos, veículos automotores e produtos de metal. Do ponto de vista agregado, a perspectiva é que o PIB do Rio Grande do Sul tenha uma retração entre 1,2% e 1,7%. O que justifica o fato de se esperar uma retração mais intensa do que no Brasil é a maior importância do setor industrial para a matriz produtiva do Estado e a ligação que temos com a Argentina. No primeiro caso a retração dos investimentos em ambiente nacional prejudica sobremaneira o Rio Grande do Sul. E, no segundo caso, esse é um ano eleitoral na Argentina, e a crise ainda se faz presente naquele país, com poucas perspectivas de mudança no curto prazo. As previsões setoriais para o emprego sinalizam que podemos ter uma forte retração nas horas trabalhadas e no nível de emprego, se contrapondo a certa estabilidade no faturamento. O que deve sustentar essa estabilidade no faturamento são as receitas com exportações, quando medidas em reais. 27

Isso porque a retração em dólares pode ser mais que compensada por uma taxa de câmbio mais depreciada. Os fatores de risco no ambiente regional estão relacionados mais ao cenário Brasil, com a possível deterioração do clima político do que relativamente ao ambiente interno. Perspectivas para 2015 (Indústria da Borracha do Rio Grande do Sul) 2013 2014 2015 Var.% Pessoal Empregado 0.7% 2.2% -0.1% Horas Trabalhadas 3.0% -1.0% -5.8% Faturamento 39.3% -1.6% 1.1% Compras -5.9% -6.0% -17.6% Exportações (US$ milhões) Pneumáticos 238.4 216.0 208.2 Matéria-Prima 142.4 139.0 131.1 Artefatos 10.6 9.2 9.2 Total 391.3 364.3 348.5 Exportações (var.%) Pneumáticos 40% -9% -4% Matéria-Prima -22% -2% -6% Artefatos 12% -12% -1% Total 8.5% -6.9% -4.3% 28