Desafios para a tributação da renda e do patrimônio: Pejotização, lucros e dividendos e justiça fiscal Isaias Coelho* Seminário Unafisco Nacional Os Desafios para o Próximo Governo: Justiça Fiscal e Combate à Sonegação e à Corrupção São Paulo, 2 de agosto de 2018 *Opiniões são de responsabilidade do palestrante e não necessariamente refletem a posição do CCiF
2 Tributação da Renda
Brasil avançou muito na tributação da renda 3 Bases amplas, alíquotas moderadas Tributação em base corrente (fonte, antecipações) Uso de normas internacionais de contabilidade Integração dos ganhos de capital no IR Tratamento preferencial de pequenos negócios Declaração de bens, direitos e dívidas Administração tributária sofisticada e respeitada
... mas resta muito espaço para melhorias 4 Principais problemas: Grande hiato entre as taxas efetivas e as taxas nominais (vazamentos, tratamentos preferenciais...) Progressividade frustrada: isenções beneficiam preponderantemente pessoas de alta renda Poucos pagam IR (limite de isenção supera o salário médio da economia) Tributação da renda empresarial em base universal tornou-se insustentável (Brasil é único país que permanece neste modelo) Recente reforma tributária dos EUA coloca novos desafios ao Brasil e a outros países participantes das cadeias econômicas globais
A questão da tributação dos dividendos e lucros distribuídos 5 O lucro (renda líquida empresarial) pode ser tributado: (1) Só quando obtido (regime de competência) (2) Só quando distribuído (regime de realização) (3) Quando obtido (IRPJ) e quando distribuído O regime (1) é adotado por Brasil, Bolívia, Camboja, Cazaquistão, Cingapura, Egito, Honduras, Jordânia, Kosovo, Líbia, Malásia, Maurício, Myanmar, Namíbia, Santa Lúcia, Seicheles, Timor Leste, Trinidad e Tobago e outros 7 (El Salvador, Guatemala, Paraguai, Peru, România, Tunísia, Ucrânia) adotam taxa de 5% O regime (2) é adotado em ECU, GEO, LTV O regime (3) é adotado em grande número de países, geralmente com sistema de integração para eliminar ou mitigar a dupla tributação
Acredite se quiser: O sistema brasileiro de tributação de dividendos é inteligente 6 Porque Permite antecipar receita tributária, já que tributa na cabeça Não introduz distorção na decisão de reinvestir ou distribuir Evita a complexidade dos regimes de integração do IR de pessoa jurídica e pessoas físicas
Mas o sistema brasileiro de tributação de dividendos é um incompreendido 7 Muitos analistas não percebem a unidade de interesse entre a empresa e seus acionistas, e consideram a não tributação dos dividendos distribuídos como privilégio inaceitável Entidades nacionais e internacionais que comparam os níveis de tributação tratam o Brasil como país de tributação empresarial muito elevada, sem analisar o sistema como um todo Alguns estudos apontam que muitos investidores internacionais, ao decidir sobre investimentos no exterior, levam em conta a taxa nominal do IRPJ, não a taxa efetiva ou a tributação total empresa + acionista
Ademais, o sistema brasileiro de tributação de dividendos tem um pecado capital 8 Que é: Não veio com um regime de franquia O objetivo sempre foi tributar o lucro só quando obtido, o que livraria (franquiaria) de tributação a sua distribuição A isenção dos lucros distribuídos pressupunha que eles tivessem sido tributados quando obtidos Se o lucro distribuído superar o lucro tributado, gera-se dupla não tributação -- a não ser que: Lucros que pagaram IRPJ sejam franquiados, com sua distribuição sendo isenta de imposto Lucros que não pagaram IRPJ (não franquiados) fiquem sujeitos a tributação na fonte (ou na PF) na distribuição é esta a raiz do problema da pejotização!
Pejotização, reforma americana e outros alvoroços A reforma Trump, ao reduzir a taxa federal do IR corporativo de 35% para 21%, força a redução de taxas de IRPJ ao redor do mundo Brasil fica entre os países de maior taxa nominal A pejotização ofende os critérios de equidade e isonomia, clamando por reforma das regras de IR Sistema de franquia é, nesta altura, difícil de introduzir Regimes de tributação simplificada (lucro presumido, Simples Nacional) têm limites de receita muito generosos, que não se encontram em outros países A fragmentação da atividade econômica na era digital torna cada vez mais difícil distinguir renda do trabalho de renda empresarial 9
Possíveis linhas de solução 10 É preciso resistir à tentação de soluções simplistas como a de reduzir taxas dos impostos sem ponderar o impacto sobre as contas públicas Para melhorar a percepção da tributação empresarial e obviar o problema da pejotização, uma linha de solução podia consistir em migrar do modelo (1) para o modelo (3): Reduzindo a taxa conjunta do IRPJ+CSLL (de até 34%) para, digamos, 20%; Ao mesmo tempo, criando IR sobre todas as formas de distribuição de lucros e dividendos com taxa de, digamos, 20% (é preciso fazer as contas para evitar perder receita)
Obrigado! -- e vamos à discussão! isaias.coelho@ccif.com.br