Transporte Aéreo 26 de agosto de 2015 Depois do bom resultado do primeiro semestre, o transporte aéreo entra em desaceleração em resposta ao enfraquecimento da economia e à depreciação do real Regina Helena Couto Silva Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos A demanda por voos internacionais apresentou resultados bastante positivos no primeiro semestre deste ano, a despeito do câmbio mais depreciado e da piora do mercado de trabalho. Esse movimento, em grande medida, pode ser decorrente da antecipação de compra de passagens pelos consumidores diante da perspectiva de depreciação do real, lembrando também que muitas viagens são programadas com antecedência de seis a oito meses, o que ocorreu quando o contexto econômico estava mais favorável. A demanda por voos domésticos já vem caindo desde o início do ano, refletindo a piora do cenário econômico e o Doméstico Internacional No ano até junho 4,7% 13,1% Em 12 meses até junho 4,9% 10,3% fraco desempenho da demanda corporativa. Ainda assim, no acumulado do ano até junho, a demanda está crescendo. Daqui para frente, deveremos observar recuo da procura por voos domésticos e internacionais, diante da desvalorização cambial, da moderação da atividade econômica e dos ajustes do consumo das famílias. Diante disso, estimamos que o segmento fechará o ano com estabilidade na demanda por voos domésticos e alta de 8,5% por voos internacionais. Para o próximo ano, nossa expectativa é de recuo de 5,2% nos voos domésticos e de 3,8% nos voos internacionais, em continuidade do movimento observado neste ano. Demanda por voos domésticos e internacionais 2014 5,8% 4,9% Número de Passageiros Transportados por Km em voos domésticos Fonte: Anac Elaboração e Projeção: Bradesco 2015* 0,1% 8,5% 2016* -5,2% -3,8% Elaboração e (*) projeção: BRADESCO Número de passageiros transportados por km em voos domésticos e internacionais Elaboração e projeção: BRADESCO 100.000 90.000 80.000 70.000 60.000 56.863 49.713 50.000 45.750 40.566 40.000 35.566 30.000 25.506 27.604 27.680 26.027 29.149 22.660 20.761 22.031 23.517 19.367 20.000 16.268 14.845 10.000 0 2000 Tráfego doméstico Tráfego internacional No primeiro semestre do ano, a demanda por voos domésticos e internacionais no Brasil cresceu 6,6% ante o mesmo período do ano passado. A procura por voos internacionais avançou 13,1%, ao passo que os voos domésticos apresentaram elevação de 4,7%. O câmbio mais depreciado parece ainda não ter influenciado de forma significativa a procura 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 70.279 93.365 93.453 87.047 88.243 88.593 81.462 31.637 30.422 23.711 26.354 26.440 29.153 2010 por viagens internacionais. Porém, analisando os gastos dos brasileiros no exterior, divulgados pelo Banco Central, notamos que, na primeira metade de 2015,o gasto líquido dos brasileiros no exterior somou US$ 10 bilhões, o que representa um recuo de 20,1% ante o gasto do mesmo período do ano passado. Notícias divulgadas na mídia apontam 2011 2012 2013 2014 2015* 2016* 1
que os consumidores estão buscando alternativas às viagens internacionais, como encurtar o tempo da viagem, alterar o destino de cidades norte-americanas por europeias, trocar por destinos domésticos e buscar descontos e facilidades na forma de pagamento. Prova dos descontos é que, no ano até agosto, os preços das passagens aéreas, medidos pelo IPCA, caíram 49%. A demanda por voos internacionais acelerou desde meados de 2013. Entre 2011 e 2013, o crescimento médio mensal, considerando os dados dessazonalizados, Elaboração: Bradesco foi de 0,3%, passando para uma média de 0,8% no período Demanda por voos domésticos e internacionais - Média Móvel trimetral da série com ajuste sazonal - Fonte: Anac mais recente. Nos últimos três meses, terminados em junho, a demanda acelerou para uma expansão média mensal de 2,7%. Essa aceleração na ponta pode indicar que os consumidores anteciparam a decisão de viagem diante da perspectiva de elevação do dólar. Importante lembrar também que muitas viagens são programadas com antecedência de seis a oito meses, ou seja, boa parte do fechamento das viagens ocorreu quando o contexto econômico estava mais favorável. Daqui para frente deveremos observar desaceleração da demanda por voos internacionais, diante da desvalorização cambial e da piora do cenário econômico. 8.500 8.000 7.500 Demanda - Doméstico Demanda - Internacional 7.446 7.566 2.383 7.720 8.198 2.709 2.606 2.491 2.529 7.366 2.800 2.700 2.600 2.554 2.500 7.439 2.400 Demanda por voos domésticos e internacionais - média móvel trimestral da série com ajuste sazonal 7.000 6.933 2.300 6.500 2.124 6.245 2.210 2.182 2.200 2.100 6.000 dez/10 fev/11 abr/11 jun/11 ago/11 out/11 dez/11 fev/12 abr/12 jun/12 ago/12 out/12 ago/15 out/15 dez/15 fev/16 abr/16 jun/16 ago/16 out/16 dez/16 2.000 De forma complementar, as viagens internacionais corporativas que respondem por 60% da demanda ganharam relevância para os brasileiros nos últimos doméstica. Vale a pena citar que a base de comparação anos, influenciadas pelas condições favoráveis do é muito baixa, tendo em vista que no primeiro semestre mercado consumidor. Nos últimos dez anos, foram do ano passado houve pouca procura corporativa por emitidos 17,8 milhões de passaportes, um salto viagens em razão da realização da Copa do Mundo de relevante ante os 1,6 milhão existentes em 2004. Futebol. Desde meados de 2013 até o início deste ano, Segundo a Anac 1, a frequência de voos entre Brasil e a procura por voos domésticos crescia em média 0,6% EUA avançou de 124 para 300 entre 2007 e 2014. Entre ao mês, passando para um recuo médio de 1% desde os principais destinos estão Miami, Orlando e Nova York. dezembro de 2014. Movimento parecido vem ocorrendo nos hotéis brasileiros, já que a taxa de ocupação caiu Já as viagens domésticas estão num movimento 5,9% entre janeiro e maio ante o mesmo período do SERVIÇOS DE ALOJAMENTO E ALIMENTAÇÃO PRESTADOS contrário, em queda, refletindo as condições adversas do ano passado, segundo dados da FOHB 2. A pesquisa ÀS FAMÍLIAS VARIAÇÃO ACUMULADA EM 12 MESES (%) cenário econômico que leva as empresas a adiarem ou de serviços do IBGE também mostra desaceleração dos cancelarem eventos e reuniões, impactando as viagens serviços de alojamento e alimentação. 12,5 11,5 10,5 9,5 8,5 7,5 6,5 5,5 4,5 11,5 jan/13 10,1 mar/13 10,4 mai/13 10,3 11,0 jul/13 set/13 nov/13 10,7 jan/14 11,6 11,5 mar/14 mai/14 jul/14 set/14 10,2 nov/14 9,1 jan/15 mar/15 7,1 mai/15 5,0 Serviços de alojamento e alimentação prestados às famílias variação acumulada em 12 meses (%) Fonte: IBGE 1 ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil 2 FOHB - Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil 2
Nesse aspecto, vale citar o volume de carga transportada por vias aéreas que caiu 4% no ano até junho, ante o mesmo período do ano passado, refletindo o enfraquecimento da atividade econômica. De forma complementar, a produção industrial do País acumula queda de 6,4% no ano. Taxa Média de Ocupação no Brasil - em % - Fonte: FOHB Elaboração: Bradesco Cabe citar também que o transporte aéreo ganhou forte participação entre as modalidades de viagens de passageiros, em detrimento do transporte rodoviário de longa distância. Assim, comparativamente, entre 2004 e 2014, segundo dados da Anac, o transporte aéreo passou de uma participação de 30% para 63%, enquanto o rodoviário passou de 70% para 37% no mesmo período. Esse processo foi favorecido pela expansão do consumo das famílias, decorrente dos fortes ganhos salariais somados às facilidades de pagamento e ao barateamento das passagens aéreas via promoções. 70,0% 68,0% 67,7% 68,7% 67,5% 67,3% Taxa média de ocupação de hotéis no Brasil - em % 66,0% 64,9% 64,0% 63,4% 65,3% 65,9% 65,1% 64,6% 63,7% 62,0% 62,2% 62,2% 60,0% 60,7% jan/09 mar/09 mai/09 jul/09 set/09 nov/09 jan/10 mar/10 mai/10 jul/10 set/10 nov/10 jan/11 mar/11 mai/11 jul/11 set/11 nov/11 jan/12 mar/12 mai/12 jul/12 set/12 nov/12 jan/13 mar/13 mai/13 jul/13 set/13 nov/13 jan/14 mar/14 mai/14 jul/14 set/14 nov/14 jan/15 mar/15 mai/15 Fonte: FOHB Para os próximos meses, a demanda por voos deverá continuar em queda, em resposta à piora do mercado de trabalho e à redução do poder de compra das famílias, como efeito da queda real dos salários. O dólar mais valorizado deverá limitar a demanda por Gastos dos Brasileiros no Exterior - 2000-2016 - Fonte: Banco Central - Elaboração: e projeção :Bradesco voos internacionais e a atividade econômica fraca deverá continuar contendo as viagens corporativas. Estimamos recuo de 26,6% dos gastos dos brasileiros no exterior neste ano e novo recuo de 1,8% no próximo ano. 27.000 24.000 21.000 18.000 15.000 25.342 25.567 22.233 21.264 18.758 18.421 16.420 Gastos dos Brasileiros no Exterior (US$ milhões) 2000-2016 12.000 10.962 10.898 9.000 6.000 3.000 0 3.894 3.199 2.396 2.261 2.871 2000 2001 2002 2003 2004 4.720 2005 5.764 2006 8.211 Estimamos que a demanda por passagens aéreas nacionais deverá continuar caindo nos próximos meses, num ritmo um pouco mais forte do que o verificado até agora, refletindo a piora das condições do mercado de trabalho, o baixo índice de confiança do consumidor e o enfraquecimento da atividade econômica. Dado que nos primeiros seis meses do ano a demanda por voos nacionais cresceu 4,7% 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015* 2016* Fonte: Banco Central Elaboração e projeção: BRADESCO contra o mesmo período do ano passado, cuja base de comparação foi baixa, a desaceleração nos meses à frente deverá levar o resultado do ano a uma estabilidade ante o ano passado. A demanda por voos internacionais, que vinha crescendo nos últimos meses, deverá passar a um movimento de queda daqui para frente, já que boa parte das viagens realizadas até agora foram fechadas alguns 3
meses atrás, quando o cenário econômico e o câmbio estavam mais favoráveis. Mesmo assim, o resultado do ano ainda deverá ser positivo, com expansão em torno de 8%, dado que no primeiro semestre a alta foi muito forte, de 13,1%. Para o próximo ano, a acomodação da economia e dos rendimentos, somada à continuidade de ampliação do desemprego e da valorização do dólar, deverá limitar a retomada do transporte aéreo. Estimamos recuo de 5,2% da demanda por voos domésticos e de 3,8% de voos internacionais. Os voos domésticos ainda deverão ser mais influenciados pela necessidade das empresas em controle de custos e pelo menor dinamismo da APROVEITAMENTO NAS LINHAS DOMÉSTICAS E INTERNACIONAIS DO BRASIL ACUMULADO 12 MESES atividade. As redes de hotéis também deverão observar continuidade de recuo da ocupação. Some-se a isso, que em agosto de 2016, as Olimpíadas que serão concentradas no Rio de Janeiro, deverão afetar o desempenho da rede hoteleira das demais cidades. No tocante à oferta de assentos, as empresas de transporte aéreo estão se ajustando ao cenário de desaceleração. Prova disso, é que as taxas de aproveitamento dos voos que historicamente giravam em torno de 70%, estão nos níveis de 82%. Nos últimos doze meses encerrados em junho, enquanto a demanda por voos domésticos cresceu 4,9%, a oferta cresceu menos, 2,3%. A demanda por voos internacionais cresceu 10,3% no período, enquanto a oferta cresceu 8,2%. 86,0% Doméstico Internacional 81,0% 76,9% 77,3% 76,0% 75,6% 71,0% 71,4% 70,8% 76,2% 70,9% 79,8% 82,9% 82,2% 80,4% Aproveitamento nas linhas domésticas e internacionais do Brasil acumulado 12 meses 69,5% 66,0% 67,6% 67,4% 61,0% 63,7% 63,5% 60,0% 56,0% abr/03 jun/03 ago/03 out/03 dez/03 fev/04 abr/04 jun/04 ago/04 out/04 dez/04 fev/05 abr/05 jun/05 ago/05 out/05 dez/05 fev/06 abr/06 jun/06 ago/06 out/06 dez/06 fev/07 abr/07 jun/07 ago/07 out/07 dez/07 fev/08 abr/08 jun/08 ago/08 out/08 dez/08 fev/09 abr/09 jun/09 ago/09 out/09 dez/09 fev/10 abr/10 jun/10 ago/10 out/10 dez/10 fev/11 abr/11 jun/11 ago/11 out/11 dez/11 fev/12 abr/12 jun/12 ago/12 out/12 Um aspecto favorável ao transporte aéreo brasileiro é o programa de concessão de aeroportos, anunciado no PIL (Programa de Investimento Logístico), devendo trazer benefícios como a melhora de serviços voltados ao turismo e ao transporte de cargas, ajudando a descentralizar o tráfego aéreo, hoje muito concentrado no Sudeste Elaboração: do Bradesco País. O NÚMERO DE PASSAPORTES (ESTOQUE) 2003-2014 - em unidades Fonte: Polícia Federal - programa, com investimentos estimados em R$ 8,5 bilhões, prevê mais quatro aeroportos no Sul e Nordeste a serem leiloados no 1º trimestre de 2016. Serão os aeroportos de Pinto Martins em Fortaleza (CE), Luis Eduardo Magalhães em Salvador (BA), Hercílio Luz em Florianópolis (SC) e Salgado Filho em Porto Alegre (RS). 20.000.000 18.000.000 16.000.000 14.000.000 12.000.000 10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 0 713.578 2003 17.840.908 15.705.920 13.574.808 11.631.438 9.536.849 7.949.189 6.766.660 5.131.737 3.904.349 2.794.409 1.576.850 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Número de passaportes (estoque) - em unidades 2003-2014 Fonte: Polícia Federal 4
Variação Acumulada em 12 meses das passagens aéreas no IPCA - Fonte: IBGE Elaboração: Bradesco Variação Acumulada em 12 meses das passagens aéreas no IPCA 80,0% 60,0% 40,0% 68,3% 68,0% 46,1% 20,0% 20,4% 13,9% 24,0% 22,7% 25,2% 0,0% 3,2% -2,1% -20,0% -13,1% -15,5% -14,8% -24,2% Fonte: IBGE -40,0% ago/10 out/10 dez/10 fev/11 abr/11 jun/11 ago/11 out/11 Perfil Setorial O transporte aéreo responde por 0,4% do volume de carga transportada e por 9% do transporte de passageiros (segundo a PAS Pesquisa Anual do IBGE, pelo critério de receita); Os gastos com combustíveis (querosene de aviação) representam 40% do custo do transporte aéreo. Do total de querosene para aviação consumido internamente, 20% é importado; Viagens corporativas representam 60% das viagens. O principal fator determinante é o nível de atividade da economia. A sazonalidade das viagens corporativas é mais forte no 3º trimestre do ano, quando há maior concentração de eventos e reuniões para planejamento estratégico para o ano seguinte; Viagens de lazer representam 40% das viagens e os fatores determinantes da demanda são: renda, emprego, condições de financiamento e câmbio. Os meses com maior movimento de passageiros no transporte aéreo são os meses férias dezembro, janeiro e julho. A demanda por viagens internacionais é ligeiramente maior no 1º semestre do ano, ante as viagens nacionais, com uma diferença de dois pontos percentuais acima. dez/11 fev/12 abr/12 jun/12 ago/12 out/12 ago/15 5
Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivo Economia Internacional: Fabiana D Atri / Felipe Wajskop França / Thomas Henrique Schreurs Pires Economia Doméstica: Igor Velecico / Andréa Bastos Damico / Ellen Regina Steter / Myriã Tatiany Neves Bast / Ariana Stephanie Zerbinatti Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Leandro de Oliveira Almeida Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Leandro Câmara Negrão / Ana Maria Bonomi Barufi Estagiários: Davi Sacomani Beganskas / Henrique Neves Plens / Mizael Silva Alves / Gabriel Marcondes dos Santos / Wesley Paixão Bachiega O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 6