Conjuntura Macroeconômica Semanal
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- Laura Jardim Salazar
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1 Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos Conjuntura Macroeconômica Semanal 17 de julho de 2015 Esperamos queda do PIB de 2,1% em 2015 e estabilidade em 2016 Igor Velecico Atualizamos nosso cenário para a economia brasileira em 2015 e Esperamos contração do PIB de 2,1% em 2015 (ante projeção anterior de queda de 1,8%), enquanto projetamos estabilidade para Parte da estimativa do PIB de 2016 é explicada pela continuidade da queda do PIB no ao longo de Esperamos queda de 1,3% do PIB no segundo trimestre, 0,8% no terceiro trimestre, e não descartamos novo recuo (ainda que modesto) no quarto trimestre. Com isso, a herança estatística para 2016 é negativa em cerca de 0,6%. Isso significa que, para que o PIB de 2016 fique estável em relação a 2015, o crescimento médio por trimestre (em 2016) deverá ser de 0,25%, ou 1% em termos anualizados. CONJUNTURA MACROECONÔMICA SEMANAL Outro ponto importante é a discussão existente no mercado de trabalho. Hoje se admite que a taxa de desemprego (medida pela PME2) migre para 10% nos próximos 12 a 18 meses. Entendemos que esse cenário é possível, mas apenas com a rápida normalização da taxa de participação. De todo modo, a forte contração da atividade deve gerar uma alta relevante na taxa de desemprego: esperamos desemprego médio (PME) de 6,8% em 2015 e de 8,5% em 2016 (nossa projeção anterior era de 8,2% para a média de 2016). Com isso, o desemprego deve atingir 9,1% em dezembro do ano que vem. Estabilização da economia chinesa do segundo trimestre não garante recuperação no restante do ano Fabiana D Atri As preocupações com a China motivadas pela forte correção do mercado acionário do país cresceram bastante recentemente. Contudo, a Bolsa de Shanghai mostrou alguma melhora nos últimos dias, depois das significativas intervenções do governo, que chegaram até a suspender a negociação de metade das ações listadas na bolsa local. Somado a isso, os indicadores econômicos divulgados nesta semana trouxeram notícias mais positivas. O crescimento de 7,0% do PIB no segundo trimestre, sustentado pela melhora das exportações, da produção industrial e da atividade do setor financeiro, reduz parcialmente os riscos de uma desaceleração mais expressiva, ainda mais quando levamos em conta a sinalização do governo, comprometendo-se com o crescimento e a estabilidade do sistema financeiro. Mesmo assim, parece precipitado apostar em uma retomada mais forte, diante das fragilidades presentes na economia chinesa. Com isso, mantemos nossa projeção de crescimento do PIB de 6,5% em Importante entender que o comportamento recente do mercado acionário chinês tanto na alta como na baixa não tem ligação direta com o desempenho da economia. De fato, era claro o descolamento da bolsa dos fundamentos macroeconômicos (o PIB já está muito mais fraco que o sugerido pela bolsa, além da deflação que persiste no atacado). Além disso, esse rally de quase um ano induzido pelo governo como uma forma de restaurar a confiança e oferecer uma forma alternativa de financiamento às empresas e de investimento às famílias e aos investidores não conseguiu impulsionar a atividade econômica, que seguiu desacelerando. Entendemos, assim, que os impactos da correção do mercado acionário sobre a atividade são limitados. Mesmo assim, é importante monitorar os próximos passos do governo, já que há espaço para a bolsa continuar caindo (uma correção total ao redor de 50% em relação ao pico pode ser esperada). 1
2 Esperamos queda do PIB de 2,1% em 2015 e estabilidade em 2016 Igor Velecico Atualizamos nosso cenário para a economia brasileira em 2015 e Esperamos contração do PIB de 2,1% em 2015 (ante projeção anterior de queda de 1,8%), enquanto projetamos estabilidade para Parte da estimativa do PIB de 2016 é explicada pela continuidade da queda do PIB no ao longo de Esperamos queda de 1,3% do PIB no segundo trimestre, 0,8% no terceiro trimestre, e não descartamos novo recuo (ainda que modesto) no quarto trimestre. Com isso, a herança estatística para 2016 é negativa em cerca de 0,6%. Isso significa que, para que o PIB de 2016 fique estável em relação a 2015, o crescimento médio por trimestre (em 2016) deverá ser de 0,25%, ou 1% em termos anualizados. A velocidade requerida pareceria pequena se os indicadores de confiança não estivessem ainda em território altamente contracionista e os estoques perto das máximas históricas. De fato, conforme comentamos em publicação 1 anterior, a sensação térmica do crescimento continua abaixo dos dados de PIB mesmo em relação ao recuo de 2,1% projetado para este ano. Para que o crescimento no ano que vem fique em torno da estabilidade, há a necessidade de uma relevante melhora nas expectativas tanto dos empresários como consumidores. A leitura de que a estabilidade da confiança no patamar atual é benigna para a atividade (porque parou de cair) está errada. O que se estabilizou foi a velocidade de queda do PIB, e não o PIB. 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0-0,5-1,0-1,5-2,0-2,5-3,0 dez-98 1,1 jun-99 FGV - situação atual (nível) PIB (a/a) 1,0 dez-99 0,5 jun-00 dez-00 jun-01-2,3 dez-01 jun-02 5,3 dez-02-1,4 jun-03 dez-03 jun-04 dez-04 jun-05-0,9 dez-05 jun-06 dez-06 jun-07 1,4 dez-07 jun-08-2,4 dez-08 jun-09 9,6 dez-09 jun-10 dez-10 jun-11 dez-11 Nível de confiança compatível com estabilidade do PIB em ,2 0,5 jun-12 dez-12 jun-13 dez-13 jun-14-2,5 dez-14 jun-15-1,2-2,9 dez-15 jun-16 dez-16 10,0 9,0 8,0 7,0 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0-1,0-2,0-3,0-4,0-5,0 Nível de confiança e variação interanual do PIB Fonte: FGV, IBGE Cenário Doméstico Na ótica da demanda, a forte queda do PIB neste ano deverá ser marcada por um recuo expressivo de 2,5% do consumo das famílias, de 9,0% dos investimentos e de 7,0% das importações. A demanda doméstica, seja via aperto monetário e fiscal (incluindo o parafiscal), ou via fatores não econômicos, vem se retraindo muito mais fortemente do que o PIB, e fortalecendo a convicção de uma redução expressiva da inflação em Conjuntura econômica do dia 26 de junho de
3 Demanda PIB 2,7% 0,1% -2,1% 0,0% Consumo 2,9% 0,9% -2,5% -0,5% Investimento 6,1% -4,4% -9,0% 1,5% Governo 2,2% 1,3% -1,0% 1,0% Exportações 2,1% -1,1% 5,0% 2,0% Importações 7,5% -1,0% -7,0% 2,0% PIB (variação anual) ótica da demanda Fonte: IBGE Elaboração e projeção: BRADESCO Na ótica da oferta, o PIB industrial deve registrar retração de 3,5%, queda bem mais modesta do que a de 7% esperada para a produção industrial. Parte disso se deve à forte expansão da indústria extrativa (de cerca de 8% em 2015). Já o desempenho do PIB do setor de serviços deve seguir de perto o consumo das famílias, e mostrar contração de 2% em 2015 e ligeira queda em Oferta PIB 2,7% 0,1% -2,1% 0,0% Agropecuária 7,9% 0,4% 2,5% 2,0% Indústria 1,8% -1,2% -3,5% -0,5% Serviços 2,5% 0,7% -2,0% -0,1% PIB (variação anual) ótica da oferta Fonte: IBGE Elaboração e projeção: BRADESCO Outro ponto importante é a discussão existente no mercado de trabalho. Hoje se admite que a taxa de desemprego (medida pela PME 2 ) migre para 10% nos próximos 12 a 18 meses. Entendemos que esse cenário é possível, mas apenas com a rápida normalização da taxa de participação. De todo modo, a forte contração da atividade deve gerar uma alta relevante na taxa de desemprego: esperamos desemprego médio (PME) de 6,8% em 2015 e de 8,5% em 2016 (nossa projeção anterior era de 8,2% para a média de 2016). Com isso, o desemprego deve atingir 9,1% em dezembro do ano que vem. Para o desemprego calculado pela PNAD contínua (lembrando que a pesquisa da PME será desativada no ano que vem), esperamos uma elevação proporcional, saindo, em termos dessazonalizados, dos atuais 8% (maio) para 8,7% e 10,3% em dezembro de 2015 e 2016, respectivamente. 15,0 14,0 13,0 12,0 PNAD contínua PME filtrada e IBGE NAIRUs Taxa de desemprego PME e PNAD contínua, e NAIRUs 11,0 10,0 10,3 Cenário Doméstico 9,0 8,0 7,0 6,0 Se o cenário de retorno da taxa de participação da PME se concretizar, o desemprego medido pela PME seria ajustado para cima (em algo próximo a 1 p.p.), mas provavelmente nada ocorreria com o desemprego da 6,7 9,1 8,7 8,1 7,8 7,5 5,0 4,7 4, ,5 Fonte: IBGE Elaboração e projeção: BRADESCO PNAD contínua. Isso porque as taxas de participação das pesquisas divergiram desde 2014 e, como enfatizamos recentemente, preferimos utilizar os dados da PNAD contínua do que os da PME. Dessa forma, 2 Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE 3
4 caso a aceleração do desemprego (PME) seja advinda da PEA 3 (apresentando crescimento entre 2 e 3% em Taxa de participação PME vs PNADc termos anualizados, por exemplo), não leremos isso como afrouxamento adicional do mercado de trabalho. 58,5 58,0 57,5 57,0 57,3 PME PNAD contínua 57,0 57,1 57,3 57,4 61,6 57,6 61,4 57,3 61,2 61,0 61,0 60,9 62,0 61,5 61,1 61,0 60,5 Taxa de participação (população economicamente ativa/população em idade ativa) PME e PNAD contínua 56,5 56,0 56,4 56,7 56,6 56,3 56,7 56,8 56,6 56,2 60,0 59,5 56,0 55,5 55,6 59,0 mai/06 set/06 jan/07 mai/07 set/07 jan/08 mai/08 set/08 jan/09 mai/09 set/09 jan/10 mai/10 set/10 jan/11 mai/11 set/11 jan/12 mai/12 set/12 jan/13 mai/13 set/13 jan/14 mai/14 set/14 jan/15 mai/15 Fonte: IBGE Em suma, os dados de atividade correntes têm decepcionado e devem inclusive contaminar parte de Em 2015, a produção industrial deve mostrar queda de 7%, as vendas no varejo ampliado (incluindo veículos e materiais de construção) devem se contrair algo entre 3% e 4%, e a criação de vagas no Caged deve atingir um saldo negativo de um milhão de vagas (com destruição líquida de 800 mil na indústria 4, 80 mil no comércio, 70 mil nos serviços e 50 mil na agropecuária). A melhora de confiança pressupõe correção dos desequilíbrios existentes na economia brasileira. Os resultados desses desequilíbrios se manifestavam essencialmente, mas não apenas, em elevado déficit em conta corrente e na inflação persistentemente acima da meta. Essas são as válvulas de escape naturais de uma economia superaquecida, e que precisam agora se ajustar à normalidade. O melhora do déficit em conta-corrente já parece bem endereçado, com revisões constantes e crescentes para o saldo comercial para este e o próximo ano. No caso da inflação, os efeitos produzidos pelo desaquecimento da demanda tendem a demorar mais, especialmente diante do choque de custos (preços administrados) que vimos no primeiro semestre. Mas não há dúvidas de que, de maneira crescente, o efeito do hiato (negativo) sobre a inflação superará o efeito (positivo) do choque de custos, e a inflação cederá. Diante das surpresas baixistas para a atividade, estamos novamente vendo uma rodada de revisões baixistas (em diversas casas) para as expectativas de inflação de 2016, o que deve aproximar as expectativas do Focus para perto de 5% nos próximos trimestres. Cenário Doméstico 3 População economicamente ativa. 4 Incluindo o setor de construção. 4
5 Estabilização da economia chinesa do segundo trimestre não garante recuperação no restante do ano Fabiana D Atri As preocupações com a China motivadas pela forte correção do mercado acionário do país cresceram bastante recentemente. Contudo, a Bolsa de Shanghai mostrou alguma melhora nos últimos dias, depois das significativas intervenções do governo, que chegaram até a suspender a negociação de metade das ações listadas na bolsa local 1. Somado a isso, os indicadores econômicos divulgados nesta semana trouxeram notícias mais positivas. O crescimento de 7,0% do PIB China: PIB trimestral (variação em relação ao trimestre anterior, com ajustes sazonais e em termos anualizados). Fonte: Escritório de Estatísticas da China, CEIC no segundo trimestre, sustentado pela melhora das exportações, da produção industrial e da atividade do setor financeiro, reduz parcialmente os riscos de uma desaceleração mais expressiva, ainda mais quando levamos em conta a sinalização do governo, comprometendo-se com o crescimento e a estabilidade do sistema financeiro. Mesmo assim, parece precipitado apostar em uma retomada mais forte, diante das fragilidades presentes na economia chinesa. 11,0% 9,0% 7,0% 10,0% 8,7% 10,4% 9,1% 6,6% 7,4% 8,2% 8,2% 7,8% 7,4% 7,0% 9,5% 7,4% 6,6% 7,8% 7,8% 6,1% 5,7% 7,0% 6,6% 6,1% China: PIB trimestral (variação em relação ao trimestre anterior, com ajustes sazonais e em termos anualizados) 5,0% 3,0% dez/10 mar/11 jun/11 set/11 dez/11 mar/12 jun/12 set/12 dez/12 mar/13 jun/13 set/13 dez/13 mar/14 jun/14 set/14 dez/14 mar/15 jun/15 set/15 dez/15 Fonte: Escritório de Estatísticas da China, CEIC Cenário Externo A economia do país cresceu 7,0% entre abril e junho em relação ao mesmo período do ano passado, superando a expansão de 6,8% esperada pelo mercado e mantendo o mesmo ritmo registrado nos primeiros três meses do ano, compatível com meta de crescimento estipulada para este ano. Para tanto, sob a ótica da oferta, o setor de serviços avançou 8,4%, seguido pela indústria (de manufatura e extrativa) com crescimento de 6,1%, e pela agricultura, com ganho de 3,5%. Na comparação trimestral, o PIB acelerou, passando de uma alta de 1,4% para outra de 1,7% entre o primeiro e o segundo trimestre. 1 Agora, cerca de ¼ das ações ainda continuam suspensas. 5
6 China: variação interanual do PIB (ótica da oferta). Fonte: CEIC 18,0 16,0 14,7 14,0 12,0 10,0 8,0 6,0 4,4 4,0 2,0 16,1 2,7 11,9 5,4 4,2 14,5 10,5 3,0 7,4 4,5 7,6 2,8 agricultura indústria serviço 8,1 7,3 4,1 8,4 6,1 3,5 China: variação interanual do PIB (ótica da oferta) 0,0 mar/07 jun/07 set/07 dez/07 mar/08 jun/08 set/08 dez/08 mar/09 jun/09 set/09 dez/09 mar/10 jun/10 set/10 dez/10 mar/11 jun/11 set/11 dez/11 mar/12 jun/12 set/12 dez/12 mar/13 jun/13 set/13 dez/13 mar/14 jun/14 set/14 dez/14 mar/15 jun/15 Fonte: CEIC Esse resultado deve ser lido com cautela. Afinal, crescer exatamente 7,0% por dois trimestres, cumprindo a meta de expansão da economia, traz mensagens importantes. Na nossa visão, isso acaba sinalizando a disposição do governo em sustentar a confiança depois da forte correção da bolsa chinesa. Ou seja, parece-nos que o governo continua comprometido com a meta, evitando uma desaceleração mais pronunciada. De todo modo, a interrupção da desaceleração, verificada nos últimos meses, é resultado de uma combinação de fatores, dentre os quais podemos destacar: (i) o efeito dos estímulos adotados desde o final do ano passado, aliviando as condições monetárias 2 ; (ii) a retomada dos investimentos em infraestrutura e a estabilização do mercado imobiliário 3, impulsionando a indústria; (iii) a resiliência do consumo; e (iv) a contribuição bastante positiva da atividade do setor financeiro, refletindo a alta da bolsa. China: investimentos em ativos fixos por setor. Variação interanual do primeiro semestre de cada ano. Fonte: CEIC Corroborando essa tendência, a produção industrial mostrou crescimento interanual de 6,8% no mês passado, superando o registrado em maio (6,1%). As vendas nominais no varejo avançaram 10,6% no período, ficando também acima do verificado no mês anterior (10,1%). Os investimentos em ativos fixos cresceram 11,4% no acumulado do primeiro semestre, o que implica uma aceleração de quase 30% entre maio e junho, sugerindo uma retomada das obras de infraestrutura. As exportações também deram sinais positivos, ao crescerem 2,8% em junho em relação ao mesmo período do ano passado, revertendo uma sequência de três meses seguidos de retração. As importações, por sua vez, reduziram seu ritmo de queda, com recuo interanual de 6,1% no mês passado 4. Por fim, ao longo do segundo trimestre, as concessões de crédito mostraram recuperação, puxadas pelos empréstimos bancários e com destaque para as linhas voltadas à economia real, como a emissão de títulos privados. 50,0% 45,0% 40,0% 35,0% 30,0% 47% 30% 37% 48% 34% infraestrutura indústria setor imobiliário China: investimentos em ativos fixos por setor. Variação interanual do primeiro semestre de cada ano 25,0% 20,0% 15,0% 20% 25% 18% 24% 17% 23% 19% 21% 21% 15% 16% 19% Cenário Externo 10,0% 5,0% 0,0% 6% 3% Fonte: CEIC 2 Foram 4 cortes de 0,25 p.p. da taxa de juros (tanto de empréstimo como de depósito) e 3 reduções de 0,50 p.p. do depósito compulsório para os bancos comerciais. 3 As vendas de imóveis residenciais melhoraram nos últimos meses, mas os lançamentos seguem fracos. Assim, parece-nos que o ajuste dos estoques continua em curso, mas ainda não existem vetores fortes o suficiente para que os investimentos no setor voltem a crescer. 4 No primeiro semestre, as importações ainda acumulam queda de 15,5% e as exportações cresceram 1,0% em relação ao mesmo período de % 5% 6
7 Diante desses resultados e da sinalização do governo, comprometendo-se com a estabilização do crescimento, reconhecemos que os riscos de baixa para a economia no segundo semestre se mostram menores. Essa é inclusive a leitura de grande parte dos analistas. Reforçando esse cenário, entendemos que os estímulos fiscais deverão ganhar força, levando a uma retomada dos investimentos em infraestrutura. O alívio monetário, por sua vez, deverá seguir presente 5, mas perdendo ritmo na margem, considerando os cortes de juros e de depósito compulsório já adotados, combinados com as injeções de liquidez no sistema. Em paralelo à evolução da atividade econômica, a bolsa de Shanghai chegou a cair mais de 30% em um mês, após exibir alta de 125% nos oito meses anteriores. Isso acabou levando o governo chinês a adotar uma série de medidas para evitar o aprofundamento das perdas, como redução dos juros, dos depósitos compulsórios e injeção de liquidez. Adicionalmente, mesmo com os interanual). esforços Fonte: do governo, CEIC medidas adicionais foram adotadas, como a suspensão China: PIB (total e do setor financeiro) e retorno da Bolsa de Shanghai (variação de novos IPOs, a criação de um fundo de estabilização, suspensão da negociação de quase 50% das ações das bolsas de Shanghai e Shenzhen, entre outras medidas regulatórias com o intuito de manter a liquidez e o acesso ao mercado de crédito. Importante entender que o comportamento recente do mercado acionário chinês tanto na alta como na baixa não tem ligação direta com o desempenho da economia. De fato, era claro o descolamento da bolsa dos fundamentos macroeconômicos (o PIB já está muito mais fraco que o sugerido pela bolsa, além da deflação que persiste no atacado). Além disso, esse rally de quase um ano induzido pelo governo como uma forma de restaurar a confiança e oferecer uma forma alternativa de financiamento às empresas e de investimento às famílias e aos investidores não conseguiu impulsionar a atividade econômica, que seguiu desacelerando. Essa melhora também não foi extrapolada para a bolsa de Hong Kong, que negocia ações de empresas chinesas (e que mostrou alta bem mais moderada do que a observada em Shanghai). 240% 200% 160% 19,0% 120% 17,3% 216,8% 19,1% Retorno da Bolsa PIB PIB do setor financeiro 19,2% 27% 22% 20,1% 108,8% 17% China: PIB (total e do setor financeiro) e retorno da Bolsa de Shanghai (variação interanual) 80% 14,2% 40% 0% -40% -80% 2,2% -32,2% -65,4% 15,2% 11,2% 7,1% 7% Desempenho das Bolsas da China e de Hong 5,8% Kong (número índice: 04/jan/11 = 100). Fonte: CEIC. 2% jun/04 set/04 dez/04 mar/05 jun/05 set/05 dez/05 mar/06 jun/06 set/06 dez/06 mar/07 jun/07 set/07 dez/07 mar/08 jun/08 set/08 dez/08 mar/09 jun/09 set/09 dez/09 mar/10 jun/10 set/10 dez/10 mar/11 jun/11 set/11 dez/11 mar/12 jun/12 set/12 dez/12 mar/13 jun/13 set/13 dez/13 mar/14 jun/14 set/14 dez/14 mar/15 jun/15 12% Fonte: CEIC Desempenho das Bolsas da China e de Hong Kong (número índice: 04/jan/11 = 100) Shanghai Hang Seng (Hong Kong) 196, ,5 203, ,3 137,8 152,1 Cenário Externo Fonte: CEIC ,5 97, ,7 86,3 88, /07/ /08/ /09/ /10/ /11/ /12/ /01/ /02/ /03/ /04/ /05/ /06/ /07/ /08/ ,0 16/09/ /10/ /11/ ,6 16/12/ /01/ ,3 16/02/ /03/ /04/ /05/ ,4 16/06/ /07/ Vale dizer que parte do alívio monetário é reação à baixa inflação (que leva a taxa real de juros a patamares elevados) e à saída de capitais do país (o que aumenta a necessidade de ampliar a liquidez doméstica). 7
8 Entendemos, assim, que os impactos da correção do mercado acionário sobre a atividade são limitados, tendo em vista que os ganhos vindos da bolsa têm baixa participação na riqueza das famílias e é pequeno o papel da bolsa como funding das empresas 6. De todo modo, a reação bastante tempestiva do governo, o prolongamento dessa correção e as incertezas relacionadas a ela já esperada, porém sem perspectivas claras da magnitude e da extensão traz à tona preocupações bastante conhecidas em relação à China. Preocupam-nos, de forma especial, os mecanismos que estavam por trás desse rally, que de alguma forma, expõem a saúde financeira das empresas que tomavam empréstimos usando o valor de suas ações como colateral. Além disso, os investidores também tomavam financiamento para investirem na bolsa. Somado a isso, a necessidade urgente de estancar essa correção da bolsa pressiona o governo a adotar mais medidas de estímulo, especialmente fiscais, diante da desaceleração da economia. Na mesma direção, posterga o avanço das reformas único vetor estrutural para a retomada do crescimento. Desse modo, é importante monitorar os próximos passos do governo, já que há espaço para a bolsa continuar caindo (uma correção total ao redor de 50% em relação ao pico pode ser esperada). Os mercados externos acabaram reagindo de forma negativa (e até atrasada) a esses movimentos do mercado chinês. Isso porque as preocupações de riscos sistêmicos e de liquidez voltam à tona o que nos parece exagerado nesse momento. Os riscos maiores, na nossa visão, recaem sobre a economia cuja recuperação pode ser postergada, o que ainda dá viés de baixa para nossa projeção de expansão do PIB de 6,5% neste ano. Ademais, a meta de crescimento do PIB de 7,0% dificilmente será atingida, tendo em vista também os diversos desequilíbrios ainda presentes. Isso significa dizer que o ajuste do setor imobiliário continuará em curso e não será possível sustentar a recuperação da economia através do mercado acionário. Cenário Externo 6 Como a alta da bolsa foi muito rápida, é difícil assumir que consumo já tivesse respondido a esse ganho. Além disso, cerca de 10% dos recursos das famílias são alocados na bolsa, considerando a riqueza originada no setor imobiliário. Os ganhos advindos do mercado acionário respondem por menos de 5% das fontes de financiamento das empresas. 8
9 Quadro de Projeções - PIB real Mundial e países selecionados p 2015p 2016p Países Desenvolvidos 3,0 2,8 0,1-3,6 2,9 1,6 1,2 1,4 1,8 2,0 2,1 Estados Unidos 2,7 1,9-0,3-3,5 2,4 1,8 2,2 1,9 2,4 2,3 2,5 Área do Euro 3,2 3,0 0,4-4,3 1,8 1,5-0,6-0,4 0,9 1,5 1,5 Alemanha 3,9 3,4 0,8-5,1 3,6 3,1 0,9 0,4 1,6 1,7 0,0 França 2,5 2,3-0,1-3,1 1,7 1,7 0,0 0,3 0,4 0,6 0,0 Itália 2,2 1,7-1,2-5,5 1,8 0,4-2,7-1,9-0,3 0,4 0,0 Reino Unido 2,6 3,6-1,0-4,0 1,8 0,9 0,3 1,9 2,7 2,5 2,5 Japão 1,7 2,2-1,0-5,5 4,7-0,5 1,5 1,5 0,0 1,0 1,0 Países Emergentes 8,2 8,6 6,2 2,8 7,4 6,3 5,1 5,0 4,4 4,0 4,6 China 12,7 14,2 9,6 9,2 10,4 9,3 7,7 7,7 7,4 6,5 6,2 Coréia 5,2 5,1 2,3 0,3 6,3 3,6 2,0 2,8 3,3 3,5 3,5 Rússia 8,2 8,5 5,2-7,8 4,3 4,3 3,4 1,3 0,6-4,0-1,0 Índia 9,6 9,7 8,2 6,4 9,7 7,5 5,1 4,5 5,2 7,5 7,5 América Latina 5,7 5,8 4,3-1,3 6,1 4,5 2,9 2,9 1,4 0,4 1,5 Brasil 4,0 6,0 5,0-0,2 7,6 3,9 1,8 2,5 0,1-2,1 0,0 Argentina 8,4 8,0 3,1 0,1 9,1 8,6 0,9 3,0 0,5 0,0 0,1 Chile 5,7 5,2 3,3-1,1 7,5 4,8 5,4 3,6 1,9 2,9 3,7 Colômbia 6,7 6,9 3,6 5,8 4,0 6,6 4,0 4,7 4,6 3,5 3,0 México 5,1 3,2 1,2-6,2 5,1 4,0 3,9 1,1 2,1 2,5 3,1 Peru 7,8 8,9 10,1 1,1 8,4 6,5 6,0 5,6 2,7 3,0 4,7 Mundo 5,2 5,4 2,9-0,6 5,4 4,1 3,4 3,4 3,4 3,1 3,6 Fonte: FMI Elaboração e (p) projeção: BRADESCO Quadro de Projeções Macroeconômicas Externas 9
10 Quadro de Projeções Macroeconômicas - Ano base Quadro de Projeções Macroeconômicas Domésticas ATIVIDADE, INFLAÇÃO E JUROS (1): A partir de 2012 com dados calculados de acordo com a nova metodologia da Pesquisa Mensal de Emprego. Atualizado com dados até 17/julho/2015 Fonte: Dados oficiais para números efetivos Elaboração e (*)projeção: BRADESCO * 2016* PIB (%) 4,0 6,0 5,0-0,2 7,6 3,9 1,8 2,7 0,1-2,1 0,0 Agropecuária (%) 4,8 3,2 5,5-3,8 6,8 5,6-2,5 7,9 0,4 2,5 2,0 Indústria (%) 2,0 6,0 3,9-4,8 10,4 4,1 0,1 1,8-1,2-3,5-0,5 Serviços (%) 4,4 5,8 4,8 1,9 5,8 3,4 2,4 2,5 0,7-2,0-0,1 Consumo Privado (%) 5,4 6,3 6,4 4,2 6,4 4,8 3,9 2,9 0,9-2,5-0,5 Consumo da Adm. Pública (%) 3,6 4,1 2,1 2,9 3,9 2,2 3,2 2,2 1,3-1,0 1,0 Investimento (FBKF) (%) 6,1 12,0 12,7-1,9 17,8 6,6-0,6 6,1-4,4-9,0 1,5 Exportações Bens e Serviços Não Fatores (%) 4,8 6,2 0,4-9,2 11,7 4,8 0,5 2,1-1,1 5,0 2,0 Importações Bens e Serviços Não Fatores (%) 17,8 19,6 17,0-7,6 33,6 9,4 0,7 7,6-1,0-7,0 2,0 PIB (R$) - bilhões (Preços Correntes) PIB (US$) - bilhões População - milhões 187,3 189,5 191,5 193,5 195,5 197,4 199,2 201,0 202,8 204,5 206,1 PIB per capita - US$ Produção Industrial - IBGE (%) 2,7 5,9 3,1-7,1 10,2 0,4-2,3 2,0-3,3-7,0 0,0 Taxa de Desemprego Aberto (30 dias) - IBGE (1) 10,0 9,3 7,9 8,1 6,7 6,0 5,5 5,4 4,8 6,8 8,5 Vendas no Comércio Varejista - Restrita (%) 6,2 9,7 9,1 5,9 10,9 6,7 8,4 4,3 2,2-1,0 1,0 IPCA - IBGE (%) 3,1 4,5 5,9 4,3 5,9 6,5 5,8 5,9 6,4 9,0 5,2 IPC - FIPE (%) 2,5 4,4 6,2 3,7 6,4 5,8 5,1 3,9 5,2 8,9 5,2 IGP-M - FGV (%) 3,8 7,8 9,8-1,7 11,3 5,1 7,8 5,5 3,7 6,6 5,5 IGP-DI - FGV (%) 3,8 7,9 9,1-1,4 11,3 5,0 8,1 5,5 3,8 6,7 5,5 Taxa Selic (final de período) % 13,25 11,25 13,75 8,75 10,75 11,00 7,25 10,00 11,75 14,25 11,50 Taxa Selic nominal (acumulado 12 meses) % 15,08 11,85 12,48 9,92 9,78 11,62 8,48 8,21 10,91 13,27 12,94 Taxa Selic real / IPCA (acumulado 12 meses) % 11,6 7,1 6,2 5,4 3,7 4,8 2,5 2,2 4,2 3,9 7,3 Taxa Selic real / IGP-M (acumulado 12 meses) % 10,8 3,8 2,4 11,8-1,4 6,2 0,6 2,6 7,0 6,3 7,0 EXTERNO, CÂMBIO, RISCO E BOLSA Balança Comercial (US$ bilhões) 46,5 40,0 24,8 25,3 20,1 29,8 19,4 2,6-6,2 10,9 16,8 Exportações (US$ bilhões) 137,8 160,6 197,9 153,0 201,9 256,0 242,6 242,2 224,6 194,2 205,4 Importações (US$ bilhões) 91,4 120,6 173,1 127,7 181,8 226,2 223,2 239,6 230,9 183,3 188,6 Corrente de Comércio (% PIB) 20,7 20,2 21,9 16,8 17,4 18,5 19,3 20,2 19,4 19,4 20,0 Déficit em serviços e rendas (US$ bilhões) -37,1-42,5-57,3-52,9-70,3-85,3-76,5-87,3-99,8-79,5-78,5 Saldo em conta-corrente (US$ bilhões) 13,6 1,6-28,2-24,3-47,3-52,5-54,3-81,4-104,0-66,2-58,1 Saldo em conta-corrente (% PIB) 0,8 0,1-1,7-1,6-2,2-2,0-2,3-3,4-4,4-3,4-3,0 Investimento Direto no País (US$ bilhões) 18,8 34,3 45,1 25,9 48,5 66,7 65,3 64,0 96,9 70,0 74,2 Taxa de câmbio (final de período) R$ / US$ 2,14 1,77 2,34 1,74 1,67 1,88 2,08 2,35 2,65 3,20 3,30 Taxa de câmbio (média anual) R$ / US$ 2,18 1,95 1,83 2,00 1,76 1,67 1,95 2,16 2,35 3,07 3,25 Desvalorização nominal ponta (%) -8,66-17,15 31,94-25,49-4,09 12,58 10,86 12,81 12,96 20,75 3,12 Desvalorização nominal média (%) -10,56-10,53-5,82 8,98-9,93-4,85 16,67 10,43 9,06 30,31 6,12 Reservas internacionais (US$ bilhões) - liquidez 85,8 180,3 206,8 239,1 288,6 352,0 378,6 375,8 374,1 379,7 387,3 Dívida Externa Total Médio e Longo Prazo (US$ bilhões) 172,6 193,2 198,3 198,2 256,8 298,2 312,9 308,6 348,7 357,1 375,0 Dívida Externa / Exportações 1,3 1,2 1,0 1,3 1,3 1,2 1,3 1,3 1,6 1,8 1,8 Reservas Internacionais / Importações 0,9 1,5 1,2 1,9 1,6 1,6 1,7 1,6 1,6 2,1 2,1 Rating Soberano Moody's Ba2 Ba1 Ba1 Baa3 Baa3 Baa2 Baa2 Baa2 Baa2 - - Rating Soberano S&P BB BB+ BBB- BBB- BBB- BBB BBB BBB BBB- - - IBOVESPA - Pontos FISCAL Resultado primário do setor público (R$ bilhões) 75,9 88,1 103,6 64,8 101,7 129,0 105,0 91,3-32,5 29,9 95,4 Resultado primário do setor público (% PIB) 3,2 3,2 3,3 1,9 2,6 2,9 2,2 1,8-0,6 0,5 1,5 Resultado nominal do setor público - sem câmbio (% PIB) -3,6-2,7-2,0-3,2-2,4-2,5-2,3-3,1-6,2-5,1-3,7 Dívida Bruta do Setor Público (R$ bilhões) 1.336, , , , , , , , , , ,2 Dívida Bruta do Setor Público (% PIB) 55,5 56,8 56,0 59,3 51,8 51,3 54,8 53,3 58,9 63,5 64,2 10
11 Equipe Técnica Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivo Economia Internacional: Fabiana D Atri / Felipe Wajskop França / Thomas Henrique Schreurs Pires Economia Doméstica: Igor Velecico / Andréa Bastos Damico / Ellen Regina Steter / Myriã Tatiany Neves Bast / Ariana Stephanie Zerbinatti Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Leandro de Oliveira Almeida Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Leandro Câmara Negrão / Ana Maria Bonomi Barufi Estagiários: Thomaz Lopes Macetti / Victor Hugo Carvalho Alexandrino da Silva / Davi Sacomani Beganskas / Ives Leonardo Dias Fernandes / Henrique Neves Plens / Mizael Silva Alves O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 11
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