2º Semestre de Aluno: Renata de Novaes Rezende. Ciclo IV Quarta-feira (manhã) Título: Uma breve reflexão sobre o filme Divertida Mente
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- Gilberto Arantes Antas
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1 2º Semestre de 2015 Aluno: Renata de Novaes Rezende Ciclo IV Quarta-feira (manhã) Título: Uma breve reflexão sobre o filme Divertida Mente O filme Divertida Mente, que tem como título original Inside Out, me fez pensar em algumas questões psicanalíticas, e algumas destas inquietações me motivaram a escrever. A começar pelo título, que se fosse traduzido do inglês traria uma visão mais direta: de dentro para fora ou do avesso do que se passa na mente de Riley e é o tema principal do filme. A história começa com o nascimento da personagem olhando para seus pais e os vendo sorrir para ela. É neste momento que o sentimento da Alegria tem a primeira aparição em sua vida, sendo uma cena marcante da ligação de afeto eles. Deste momento em diante, a construção da estrutura psíquica da personagem vai se compondo a partir das experiências vividas, e no interior de sua mente estão cinco sentimentos: Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Repulsa, cada um compondo um personagem. Para cada um destes sentimentos experiências são armazenadas como traços de memórias, as mais preciosas constituindo memórias base definidoras do seu psiquismo. Algumas são esquecidas e pouco usadas, e com o tempo são descartadas para um lugar profundo da mente, e seus maiores medos vão para o inconsciente local ao qual não se tem acesso. Nos escritos de Sigmund Freud Sobre os mecanismos psíquicos do esquecimento, ele ressalta que não existe este fato de esquecer, mas as memórias que trazem dor são reprimidas. Ao invés de desaparecerem, tais memórias podem ser trazidas para a consciência por meio de sonhos e associação livre. Como exemplo do
2 filme, a memória do difícil primeiro dia de aula de Riley foi recuperada pela Alegria quando ela esta queria que a personagem acordasse. Ainda falando de sonhos, o filme mostra uma fábrica de sonhos como uma produção cinematográfica. Fragmentos de memórias e emoções são usados nesta fábrica de sonhos, em contextos diversos para produzir scripts estranhos e incomuns. Uma mistura do primeiro dia de aula de Riley é feita com uma cena em que ela aparece sem roupas em frente aos seus colegas. Segundo Freud, os sonhos dão prosseguimento às ocupações e interesses da vida de vigília por meio de pensamentos oníricos ocultos. Estes só dizem respeito ao que nos parece importante e nos é de grande interesse. O conteúdo do sonho expressa os pensamentos oníricos numa forma alterada pela distorção. Por motivos ligados ao mecanismo de associação, o processo onírico acha mais fácil obter controle do material de representações recente ou indiferente, que ainda não foi requisitado pela atividade de pensamento da vigília; e, por motivos de censura, ele transfere a intensidade psíquica daquilo que é importante, mas objetável, para aquilo que é indiferente. Na infância de Riley se formam "ilhas de lembranças", estruturas que sustentam sua personalidade e que, por circunstâncias da vida, na passagem da infância à adolescência, são abaladas e precisam ser reinventadas, reconstruídas. Cada uma destas ilhas foi construída por momentos significativos que compartilhou com familiares e amigos durante sua vida. Neste ponto, podemos pensar na identificação, que segundo Freud (1921), consiste na mais remota expressão de laço emocional com outra pessoa. De maneira regressiva, é produto para uma vinculação de objeto libidinal por meio de introjeção do objeto no ego, e também pode surgir com qualquer nova percepção de uma qualidade comum partilhada com alguma outra pessoa que não é objeto de instinto sexual. Quanto mais importante essa qualidade comum é, mais bem-sucedida pode
3 tornar-se essa identificação parcial, podendo representar assim o início de um novo laço. No filme, a Alegria parece ser a líder, e mantém os outros sentimentos por perto, relembrando suas importantes funções ao longo da vida da personagem, como quando a Repulsa impede que Riley seja intoxicada por uma comida supostamente nova para ela; o medo a mantém alerta para situações de perigo; a raiva a protége de outras pessoas em alguns momentos; porém sempre busca um destino que exclua as memórias tristes e acaba por produzir uma confusão de sentimentos. Tudo vai bem na vida de Riley até que seus pais decidem mudar de cidade, e todas as expectativas criadas por ela até sua chegada caem por terra uma a uma. A Alegria tenta fazer com que Riley transforme seus medos e incertezas em possibilidades, mas eventualmente esta tentativa fracassa. Seus pais, que a viam como a menina sorridente, não compreendem a mudança de atitude da filha e nem os conflitos que se passavam advindos de suas angústias, e sua mãe sugere a Riley que seu sorriso ajudará o pai a passar por este período de mudança, colocando uma pressão externa para eliminar a tristeza. Com todas as mudanças em sua vida e sua dificuldade em adaptar-se a um novo ambiente e novas pessoas, deixando pra trás suas amizades e lugares que gostava, a Tristeza toma conta de seus dias sem que este sentimento possa ser expresso por ela. Como consequência, Riley se afasta de seus pais, amigos e escola, e resolve fugir de casa e voltar para sua cidade natal, onde acreditava que poderia reviver os sentimentos e momentos que agora considerava perdidos. Podemos então pensar na questão do prazer e desprazer. Consistindo o desprazer no aumento da quantidade de excitação e o prazer o seu oposto, ao decidir fugir de casa e retornar para sua antiga cidade, Riley buscava eliminar todo o desprazer advindo de sua mudança de casa e de sua não adaptação. Segundo Freud, o Princípio do Prazer é um método primário de funcionamento por
4 parte do aparelho mental, que busca a autopreservação. A maior parte dos desprazeres é perceptiva: percepção de uma pressão dos instintos insatisfeitos ou percepção externa do que é aflitivo em si mesmo ou que excita expressões desprazeirosas no aparelho mental. A reação dessas exigências instintuais e ameaças podem ser dirigidas pelo Princípio de Prazer ou pelo Princípio de realidade pelo qual o Princípio do Prazer é alterado. Sob influencia dos instintos de autopreservação do ego, o Princípio de Prazer é substituído pelo Princípio de realidade, que não abandona a intenção de obter prazer, exige e efetua o adiamento da satisfação, o abandono da possibilidade de obtê-la e a tolerância temporária do desprazer como uma etapa do caminho para o prazer. O Princípio de Realidade faz com que possamos participar da cultura e possamos viver de forma integrada. Desta forma, podemos pensar que ao entrar em contato com seus sentimentos mais profundos e assim decidir voltar para sua casa e não mais fugir o Princípio de Realidade se sobrepôs. No momento em que esta decisão é feita pela personagem, ela começa a fazer uma elaboração e reflexão dos seus sentimentos, não mais negando-os. A dificuldade da personagem em dar nome e consistência àquilo que não se consegue colocar em palavras pode ser observada também em um ataque de birra de "dentro para fora", que permite identificar o sentimento que está no fundo desta cena. A multiplicidade de sentimentos que são vivenciados em uma mesma situação é mostrada no filme com o exemplo de sentimentos de Alegria e Tristeza, porém sua infinidade pode ser muito maior, de forma a poder ser visto como algo natural a todos. A relação entre Alegria e Tristeza retrata a forma como nossa cultura lida com a tristeza: ela deve ser excluída, não sentida e é muitas vezes vista como inútil. Assim, um dos pontos chave do filme é dar à tristeza um lugar de valor: um sentimento necessário, que permite refletir e dar sentido à experiência vivida.
5 Bibliografia Rio de Janeiro, (Vol V, pp ). Rio de Janeiro, (Vol XVIII, pp 113 a 179). Rio de Janeiro, (Vol XVIII, pp 17-85).
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