PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DA BAHIA SENTENÇA TIPO A 1
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- Maria das Neves Conceição Tavares
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1 SENTENÇA TIPO A 1 I. RELATÓRIO Cuida-se de ação civil pública ajuizada pelo SINDICATO DOS TRABALHADORES DO SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL-BA em face da UNIÃO FEDERAL, objetivando sua condenação ao pagamento aos substituídos de indenização pelas licenças prêmios não gozadas com valor correspondente ao número de meses de licença não gozada vezes a última remuneração, acrescido de reflexos de décimo terceiro e férias proporcionais, com valores corrigidos desde quando poderiam ser pleiteadas e acrescido de juros de mora, desde a data da citação da presente demanda (fl. 15). Aduz que a parte ré não concedeu as licenças-prêmio previstas até o ano de 1997 e tampouco as converteu em pecúnia aos servidores públicos federais que já haviam adquirido o direito para exercício e gozo referente a um ou mais períodos aquisitivos. Acrescenta que uma vez sendo publicada a aposentadoria o servidor não pode mais usufruir da licença-prêmio, não restando alternativa senão pleitear judicialmente a conversão em pecúnia, por força da responsabilidade objetiva da União em razão de dano cometido a terceiro, ex vi do art. 37, 6º da Constituição Federal de 1988, além da vedação ao enriquecimento sem causa. Afirma que o montante devido a título de indenização deve ser calculado multiplicando-se os meses de licença não fruídos, os quais são considerados como efetivo exercício, pela última remuneração percebida pelo servidor, bem como seus reflexos em férias e décimo terceiro. Por fim, antecipando eventual preliminar de prescrição, alega que o direito de conversão em pecúnia terá como termo inicial da pretensão o falecimento do servidor, ou, a concretização da aposentadoria (sic, fl. 13), esta considerada como ato de homologação pelo Tribunal de Contas da União. Anexa à inicial procuração e documentos às fls. 17/42. Regularmente citado, o réu apresenta contestação (fls. 47/59), suscitando preliminar de carência da ação por ausência de pressuposto de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo, ante a inobservância do parágrafo único do art. 2º-A da Lei nº 9.494/97 acrescentado pela Medida Provisória nº /2002, isto é, apresentação de relação nominal de seus filiados e indicação dos respectivos endereços. Invoca, ainda, a necessidade de delimitação dos efeitos da decisão aos servidores substituídos que tenham domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator, no caso a Circunscrição Judiciária de Salvador/Ba (sic, fl 52). 1 RESOLUÇÃO CJF 535/2006 E PORTARIA COGER 30/2007 Pág. 1/6
2 Argui prejudicial de prescrição quinquenal e advoga, no mérito, que o pleito de conversão em pecúnia das licenças-prêmio não gozadas, na forma como requerida, não encontra respaldo legal, uma vez que a lei só prevê a conversão em pecúnia em favor de beneficiários de pensão de servidor falecido (fl. 55). Conjetura, ainda, que os substituídos poderiam ter usufruído os períodos de licença-prêmio adquiridos, não havendo demonstração de que a Administração, em qualquer tempo, tenha negado o direito ao seu gozo. Assim é que, o servidor que optou por não gozar da licença, assumiu, consequentemente, o ônus de sua inércia. Pugna, finalmente, pela improcedência do pleito autoral. A parte autora oferta réplica às fls. 64/76. Às fls. 78/81, manifesta-se o Ministério Público Federal pela rejeição das preliminares suscitadas e, no mérito, pela procedência da pretensão deduzida. É o relatório. Decido. II. FUNDAMENTAÇÃO Tendo em vista que a matéria sub judice não requer a produção de outras provas além daquelas constantes dos autos, julgo antecipadamente a lide, nos termos do art. 355, I, do Código de Processo Civil. II.1 DA NECESSIDADE DE RELAÇÃO NOMINAL DOS SUBSTITUÍDOS., INDICAÇÃO DE ENDEREÇOS E ATA DE ASSEMBLEIA AUTORIZATIVA. DESCABIMENTO. Inicialmente, cumpre rejeitar a alegação da parte ré acerca da inobservância do parágrafo único do art. 2º-A da Lei nº 9.494/97, isto é, a exigência da apresentação pela entidade associativa da relação nominal de seus filiados, seus respectivos endereços e autorização específica. É que a apresentação da referida documentação não se apresenta como condição idônea a obstar o regular prosseguimento da demanda, conforme inteligência do art. 8º, inciso III, da Constituição da República. Nesse contexto, revela-se aplicável à espécie o entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, cujas reiteradas decisões têm reconhecido a legitimidade do sindicato para demandar em juízo a tutela de direitos subjetivos individuais de seus filiados como substituto processual, quando se cuidar de direitos homogêneos que tenham relação com seus fins institucionais, havendo previsão estatutária para tanto, veja-se: PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO COLETIVA PROPOSTA POR SINDICATO NO INTERESSE DA CATEGORIA. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. RESTRIÇÃO DOS EFEITOS AOS FILIADOS AO TEMPO DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Nos termos da jurisprudência do STJ, o ente sindical, na qualidade de substituto processual, detém legitimidade para atuar judicialmente na defesa dos interesses Pág. 2/6
3 II.2 DA PRESCRIÇÃO coletivos de toda a categoria que representa, sendo prescindível a relação nominal dos filiados e suas respectivas autorizações, nos termos da Súmula 629/STF. 2. Desse modo, a coisa julgada advinda da ação coletiva deverá alcançar todas as pessoas da categoria, legitimando-os para a propositura individual da execução de sentença. 3. Recurso Especial não provido. (REsp /RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/02/2017, DJe 17/04/2017.) No que se refere à prejudicial de prescrição quinquenal, impera destacar que o Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso repetitivo, consolidou o entendimento de que a contagem da prescrição quinquenal relativa à conversão em pecúnia de licença-prêmio não gozada nem utilizada como lapso temporal para a aposentadoria tem como termo a quo a data em que ocorreu a aposentadoria do servidor público (Informativo 496). Ressalte-se que a Corte Especial do referido tribunal estipulou que, por se tratar e ato complexo, a aposentação somente se concretiza com o registro da aposentadoria no âmbito do TCU, somente tendo início o prazo prescricional no dia seguinte à data do registro, confira-se: ADMINISTRATIVO. LICENÇA-PRÊMIO NÃO GOZADA E NÃO COMPUTADA EM DOBRO PARA FINS DE APOSENTADORIA. CONVERSÃO EM PECÚNIA. POSSIBILIDADE. JUROS. CORREÇÃO MONETÁRIA. PRESCRIÇÃO AFASTADA. 1. Em sede de recurso repetitivo, consolidou-se o entendimento de que prescreve em 5 (cinco) anos o direito de propor ação buscando o pagamento de licença-prêmio não gozada e não computada em dobro para fins de aposentadoria, sendo a data de aposentação o termo inicial de contagem do prazo. (REsp ). Preliminar afastada. 2. A Corte Especial do mesmo STJ, estipulou que por tratar-se de ato complexo, a aposentação somente se concretiza com o registro da aposentadoria no âmbito do TCU, somente tendo início o prazo prescricional no dia seguinte à data do registro. (MS/STJ ). 3. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento de que a ausência de dispositivo expresso sobre a licença-prêmio não gozada e não computada em dobro para fins de aposentadoria não retira do servidor a possibilidade de sua conversão em pecúnia, sob pena de enriquecimento sem causa da Administração Pública. 4. A verba possui caráter indenizatório, o que afasta a pretensão da União para que incida retenção de imposto de renda e contribuição previdenciária. 5. Sobre os valores apurados devem incidir correção monetária e juros de mora na forma do Manual de Cálculos da Justiça Federal, em sua versão mais atualizada. 6. Apelação da União e remessa oficial não providas. (AC / MG, Rel. DESEMBARGADORA FEDERAL GILDA SIGMARINGA SEIXAS, PRIMEIRA TURMA, e-djf1 de 29/03/2017). Desse modo, nos casos dos substituídos ou instituidores de pensão que tenham se aposentado antes de 27/06/2011, isto é, antes dos cinco anos anteriores ao ajuizamento da presente demanda, deverá se reconhecer a prescrição, no presente caso, do próprio fundo de direito, sendo inaplicável ao Enunciado de Súmula nº 85 do STJ. 2 2 Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Publica figure como devedora, quando não tiver sido negado o Pág. 3/6
4 No caso, tratando-se o presente feito de ação coletiva, proposta por sindicato, a discussão de prescrição da pretensão dos substitutos só poderá ser enfrentada individualmente no cumprimento de sentença. II.3 DO MÉRITO Observo, desde logo, que as normas referentes à licença-prêmio ora discutida foram expressamente revogadas pela Lei nº 9.527/97, originada da Medida Provisória nº Assim, até 1996, nos termos da redação original do art. 87 da Lei nº 8.112/90, os servidores públicos federais faziam jus a três meses de licença, a título de prêmio por assiduidade, com a remuneração do cargo efetivo, após cada quinquênio ininterrupto de exercício. Nesse sentido, o 2º do mesmo dispositivo assegurava aos dependentes do servidor falecido a percepção dos valores correspondentes às licenças-prêmios não usufruídas por ele, in verbis: Art. 87. Após cada qüinqüênio ininterrupto de exercício, o servidor fará jus a 3 (três) meses de licença, a título de prêmio por assiduidade, com a remuneração do cargo efetivo. (...) 2º. Os períodos de licença-prêmio já adquiridos e não gozados pelo servidor que vier a falecer serão convertidos em pecúnia, em favor de seus beneficiários da pensão. Com o advento da Lei nº 9.527/97 a licença-prêmio foi extinta, sendo substituída pela licença para capacitação. No entanto, a fim de se resguardar o direito adquirido dos servidores à utilização dos períodos de licença-prêmio já conquistados nos moldes do texto anterior, a lei posterior previu que: Art. 7º Os períodos de licença-prêmio, adquiridos na forma da Lei nº 8.112, de 1990, até 15 de outubro de 1996, poderão ser usufruídos ou contados em dobro para efeito de aposentadoria ou convertidos em pecúnia no caso de falecimento do servidor, observada a legislação em vigor até 15 de outubro de Parágrafo único. Fica resguardado o direito ao cômputo do tempo de serviço residual para efeitos de concessão da licença capacitação. Apesar de não ter havido regulamentação expressa sobre a conversão da licença-prêmio em pecúnia relativamente aos servidores que se aposentassem, conforme jurisprudência consolidada no Superior Tribunal de Justiça, é possível a conversão em pecúnia da licença-prêmio não gozada e não contada em dobro, quando da aposentadoria do servidor, sob pena de enriquecimento ilícito da Administração (AgRg no AREsp /RS, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 10/12/2013, DJe 24/03/2014). Por outro lado, o servidor que ainda estiver em atividade, não poderá usufruir da conversão em pecúnia dos próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do quinquenio anterior a propositura da ação. Pág. 4/6
5 períodos de licença-prêmio adquiridos até 15 de outubro de 1996, cabendo-lhe, entretanto, a contagem desses períodos em dobro para fins de aposentadoria. Dessa forma, e em razão da vedação ao enriquecimento sem causa, estando impedido de desfrutar o período de afastamento decorrente da licença-prêmio por assiduidade nem computados em dobro do tempo para fins de sua aposentadoria, o servidor aposentado faz jus à sua conversão em pecúnia, independentemente de previsão legal. Por fim, por se tratar de ação civil pública ajuizada por sindicato (artigo 8º, inciso III, da Constituição Federal) de âmbito estadual, em que se verifica verdadeiro caso de substituição processual, os efeitos da decisão judicial alcançam os substituídos domiciliados no Estado da Bahia. III. DISPOSITIVO Sendo assim, em face das razões expostas, afasto as preliminares suscitadas, observando quanto à prescrição que sua análise individualizada será feita no momento do cumprimento da decisão, e acolhendo o parecer da Procuradoria da República, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO, extinguindo o processo com resolução do mérito, nos termos do art. 487, I, do Código de Processo Civil, para condenar a União Federal ao pagamento da indenização correspondente à conversão em pecúnia das licenças-prêmio não gozadas e tampouco computadas em dobro para efeito de aposentadoria aos servidores inativos ou a seus sucessores, com base na remuneração devida na data da aposentação, observada a prescrição quinquenal, cujo termo inicial se inicia nesta, através de seu registro no âmbito do TCU, ou na data do falecimento do servidor. Desde logo, esclareço que, tendo em vista o caráter indenizatório e não salarial da conversão em pecúnia da licença-prêmio não gozada, sobre ela não incide Contribuição Previdenciária, segundo firme entendimento do Superior Tribunal de Justiça (AgRg no AREsp /SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 6/5/2014, DJe 18/6/2014). As parcelas atrasadas deverão ser corrigidas monetariamente e acrescidas juros de mora, a partir da citação, conforme Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal. Tendo em vista a iliquidez da sentença, a definição do percentual de honorários advocatícios sobre o valor da condenação, nos termos previstos nos incisos I a V do 3º, artigo 85, do CPC/15, somente ocorrerá quando liquidado o julgado. Na hipótese de interposição voluntária de recurso de apelação, fica de logo determinada a intimação do apelado para, querendo, contrarrazoar, no prazo de quinze dias, nos termos do art , 1º, do CPC/15. Ante eventual interposição de recurso adesivo, retornem os autos ao o apelante, nos termos do art , 2º, CPC/15. Pág. 5/6
6 Caso tenham sido suscitadas, em preliminar de contrarrazões, questões resolvidas na fase de conhecimento e insuscetíveis de impugnação via agravo de instrumento, fica, ainda, determinada a intimação da parte adversa para, querendo, manifestar-se a seu respeito em quinze dias (art , 2º, CPC/15). Cumpridas as formalidades legais, os autos deverão ser imediatamente remetidos ao Tribunal ad quem. Não havendo recurso voluntário, ou não se enquadrando a hipótese aos casos que exigem o duplo grau de jurisdição obrigatório (art. 496, CPC/15), após o trânsito em julgado, arquivem-se com baixa na distribuição e anotações de estilo. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Salvador, 19 de maio de 2017 IRAN ESMERALDO LEITE Juiz Federal da 16ª Vara Federal/SJBA Pág. 6/6
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