Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete do Desembargador Marcos A. Souto Maior

Transcrição

1 Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete do Desembargador Marcos A. Souto Maior DECISÃO APELAÇÃO CIVEL N /001 CUITEGI RELATOR: Juíza Maria das Neves do Egito de A. D. Ferreira APELANTE: Município de Cuitegi, representado por seu Prefeito Constitucional ADVOGADO: Humberto Trocoli Neto APELADO: Humberto de Melo Moura ADVOGADO: Paulo Costa Magalhães APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO. NÃO PAGAMENTO DO ABONO CONSTITUCIONAL DE FÉRIAS. DIFERENÇAS SALARIAIS TOMANDO POR BASE APENAS O SALÁRIO-BASE. AUSÊNCIA DE REMESSA PARA O DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. PROVIMENTO, EM PARTE, DO APELO. O adicional de férias (abono constitucional de um terço) integra a remuneração do mês de fruição das férias, estando, portanto, vinculado ao gozo. O piso "nunca inferior ao salário mínimo unificado", a que se refere a Súmula 27 do TJ- PB, está ligado a remuneração e não apenas ao salário base. O 52 do art. 475 CPC traz uma exceção ao -tema tratado no caput do mesmo. Segundo este parágrafo, está sujeito ao duplo grau de jurisdição as decisões contra a Fazenda Pública que ultrapassem o valor de 60 (sessenta) salários mínimos.

2 VISTOS, e t c., O Município de Cuitegi, representado por seu Prefeito Constitucional, devidamente representado nos autos, interpôs apelação, inconformado com a decisão da Juíza de Direito da Comarca de Pilões, que julgou parcialmente procedente o pedido, para condenar o apelante ao pagamento, ao apelado, das férias simples mais os terços constitucionais referentes aos períodos de 1998/1999, 1999/2000 e 2000/2001; diferenças salariais existentes entre o salário-base e o saláriomínimo legal, do período de 20 de fevereiro de 1998 à abril de 1998, o mês de maio de 1999 e de abril de 2000 até novembro de 2000; e o 13 salário dos exercícios de 1998, 1999 e 2000, tudo corrigido monetariamente e acrescidos do juros de mora. Irresignado, o apelante interpôs Apelação Cível (fls. 57/60), visando à reforma do decisum, alegando que o apelado não comprovou o gozo das férias, e ainda, que o juiz a quo esteve em dissonância com a doutrina e jurisprudência ao não considerar para efeito do pagamento do salário mínimo a remuneração total do servidor mas somente o seu salário base. O apelado não apresentou contra-razões. Insvdo a se manifestar (fls. 69/71), a dota Procuradoria de Justiça opinou pelo provimento em parte do recurso'voluntário. É o relatório Decido. A matéria aqui tratada dispensa maiores delongas, porquanto plenamente pacificada por esta Corte de Justiça, comportando a análise meritória monocrática, na forma permissiva do art. 557 do CPC. Nesse diapasão, e a teor das prescrições do citado art. 557 do CPC, o relator poderá analisar e pôr fim ao recurso, quando manifestamente improcedente. Iii casu, trata-se de recurso que visa negar direitos de prestador de serviço que comprovadamente faz jus a postulação materializada na exordial. À luz do 5 10 do art. 557, temos que é permitido ao.ç relator, inclusive, dar provimento ao recurso quando o mesmo esteja em manifesto confronto com a jurisprudência da Corte Superior, quanto mais negar provimento, o que dispensa maiores delongas. Vejamos, então, o que prescreve o art. 557, do CPC:

3 "Art O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. P-A Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso. Mesmo assim e a título meramente ilustrativo, vejamos o seguinte entendimento jurisprudencial: "Esta disposição permite que o relator aprecie, inclusive, o mérito do recurso, desde que manifestamente improcedente (p. ex., recurso manifestado contra jurisprudência pacífica, embora não sumulada)": stj-2 a Turma, Ag DF, rel. Min. Ari Pargendler, j , negaram provimento, v.u., DJU , p , RT 738/432, RTJE 157/ Trata-se de apelação cível em que o Município apelante,,- afirma que o Juízo a guo houve-se em desacerto ao acolher o pedido relativo ao pagamento dos títulos atrasados. Primeiramente afirma que o juízo a guo esteve em dissonância com a doutrina e jurisprudência ao não considerar para efeito do pagamento do salário mínimo a remuneração total do servidor, mas somente o seu salário base. ter sumulado que:.- Apesar do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba já "é obrigação constitucional do Poder Público, remunerar seus servidores, ativos e inativos, com piso nunca inferior ao salário mínimo unificado, instituído por lei federal (Súmula 27f TJ-PB)" O STJ já entendeu que tal piso se refere à remuneração e não ao salário base do servidor. Observemos o seguinte julgado:

4 "ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. PISO SALARIAL. EQUIPARAÇÃO. CONTRAPRESTAÇÃO MENSAL. FIXADA NO DECRETO /2000. IMPOSSIBILIDADE. VALOR EQUIVALENTE À REMUNERAÇÃO TOTAL. VENCIMENTO-BÁSICO. VINCULAÇÃO. SALÁRIO MÍNIMO. VEDADAÇÃO CONSTITUCIONAL. INEXISTENQA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. RECURSO DESPROVIDO. I-(...) II- A contraprestação.mensal estabelecida no art. 1 da norma local como valor mínimo devido ao servidor público estadual compreende vencimento-básico acrescido das vantagens vencimentais e a remuneração total dos recorrentes é superior ao montante ali instituído". (RMS /RJ, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em , DJ p. 383) Visto isso, só podemos afirmar que as diferenças salariais merecem ter como referência a remuneração total do recorrido e não apenas o vencimento base. O Município alega, ainda, que nã9 deve o pagamento do terço constitucional visto não existir nos autos nenhuma prova de que o apelado as tenha gozado. O adicional de férias (abono constitucional de um terço) integra a remuneração do mês de fruição das férias, estando, portanto, vinculado ao gozo. Em situações excepcionais, onde o gozo das férias não mais é possível, permite-se a percepção do adicional sem que tenha havido fruição. É inadmissível a concessão de férias (e, portanto, de adicional de férias) por ente a que o servidor não mais esteja vinculado. No caso apresentado, não houve qualquer comprovação de que o autor gozou das férias cujo adicional pleiteia. Portanto, o autor não pode ter sua pretensão atendida. Com relação ao outro ponto trazido na apelação qual seja: a anulação da sentença por não ter ocorrido a remessa necessária, nos moldes do art., 475 CPC não podemos dá procedência. Isto porque reza o 5 2 do mesmo artigo: "Não se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenação, ou o direito controvertido, for de valor certo não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, bem como no caso de procedência dos embargos do devedor na execução de dívida ativa do mesmo valor."

5 ' Se - observarmos o caso dado, a importância não ultrapassa os sessenta salários mínimos (a soma do principal cobrado não atinge aquele valor). Deste modo, por tudo que foi exposto, dou provimento, em parte, à apelação, para excluir das verbas pleiteadas o terço de férias e ter como referencia à diferença salarial a remuneração total do recorrido e não apenas o vencimento-base. Intimações necessárias. 1 1 Cumpra-se. João Pessoa, 16 de maio de Juíza Maria das Neve R Égito de A. D. Ferreira ora PGAC r

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