07 - PROPRIEDADES DIELÉTRICAS DE ISOLANTES
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1 07 - PROPRIEDADES DIELÉTRICAS DE ISOLANTES PROF. CÉSAR AUGUSTO DARTORA - UFPR CADARTORA@ELETRICA.UFPR.BR CURITIBA-PR
2 Roteiro do Capítulo: Materiais Isolantes Equações de Maxwell Macroscópicas e Susceptibilidade Dielétrica Piezo e Ferroeletricidade Polarizabilidade Atômica Propriedades ópticas de dielétricos 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 2/58
3 Materiais Isolantes De acordo com a condutividade elétrica σ em regime DC os materiais são classificados em: Isolantes: σ < 10 9 S/m. forma diamante; Exemplos: cerâmicas, carbono na Condutores: σ fica entre 10 3 e 10 8 S/m. Exemplos: metais, carbono na forma grafite; Semicondutores: σ está numa escala intermediária entre condutores e isolantes, ou seja entre 10 9 e 10 3 S/m. Um semicondutor intrínseco tem condutividades entre 10 4 e 10 2 S/m, mas sua condutividade pode ser modificada por efeito de dopagem, que será visto adiante Propriedades Dielétricas de Isolantes 3/58
4 Obtenção das Equações de Maxwell Macroscópicas A descrição das propriedades dielétricas de isolantes através de teorias clássicas é bastante concordante em vários aspectos com o experimento. Os fenômenos eletromagnéticos clássicos são descritos pelas equações de Maxwell no domínio clássico. O espaço interatômico ou intermolecular é o vácuo e assumese que todas as cargas do meio material (elétrons e núcleos) sejam puntuais. Nesse domínio são válidas as equações de Maxwell microscópicas Propriedades Dielétricas de Isolantes 4/58
5 As equações microscópicas de Maxwell são dadas abaixo: e = 1 ε 0 η, (1) b = 0, (2) e = b t, (3) b = µ 0 j + µ 0 ε 0 e t, (4) sendo µ 0 ε 0 = 1/c 2 e c a velocidade da luz no vácuo, µ 0 é a permeabilidade magnética do vácuo, ε 0 a permissividade dielétrica do vácuo e e e b são os campos elétrico e magnético microscópicos, respectivamente. η e j são as densidades de carga e corrente microscópicas. (5) 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 5/58
6 No domínio microscópico as oscilações de e e b são muito grandes. Por exemplo, no átomo à medida em que nos afastamos do núcleo positivo em direção aos elétrons, vemos grande variação do campo, inclusive com inversão de sentido, ou seja o campo adquire caráter oscilatório. Além disso, íons da rede vibram e o movimento eletrônico provoca grandes flutuações dos valores de campo EM. A média sobre grande número de partículas produz cancelamento de variações rápidas, restando apenas uma envoltória de campo. Experimentos usuais da escala macroscópica geralmente reproduzem o valor médio sobre grande número de partículas Propriedades Dielétricas de Isolantes 6/58
7 Definindo a média de uma variável qualquer a(x,t) na forma abaixo: A(x,t) = a(x,t) = V f (x x )a(x,t)dv, (6) onde f (x x ) é a função peso, podemos tomar as médias das equações de Maxwell. Dessa forma os valores médios dos campos são: E(x,t) = e(x,t) = B(x,t) = b(x,t) = V f (x x )e(x,t)dv, (7) V f (x x )b(x,t)dv. (8) 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 7/58
8 Função peso: o valor médio do campo EM para um volume macroscópico é determinado utilizando uma função peso capaz de levar em conta o campo gerado por vários átomos e moléculas simultaneamente em um volume que possa ser considerado infinitesimal para fins de medidas macroscópicas. Para cada um desses volumes de amostragem atribui-se um único valor de campo médio do campo microscópico naquele dado volume infinitesimal. A definição de volume infinitesimal deve ser tal que preserve todas as características do meio material macroscópico. A função peso mais comum seria uma constante sobre um cubo infinitesimal centrado em um certo ponto x e contendo vários átomos e moléculas, e deve se anular para fora desse cubo. Outra possibilidade é a utilização de funções gaussianas Propriedades Dielétricas de Isolantes 8/58
9 Lembrando que f (x x ) deve ser uma função de suporte compacto centrada na região de interesse, temos: e(x,t) = f (x x ) e(x,t)dv = V [ f (x x )e(x,t)]dv a(v ) [ f (x x )e(x,t)] da [ f (x x )] e(x,t)dv = [ f (x x )] e(x,t)dv, (9) onde aplicamos propriedades do cálculo vetorial e o teorema de Gauss. A função f se anula nas fronteiras do volume e além disso f (x x ) = f (x x ) Propriedades Dielétricas de Isolantes 9/58
10 Mostra-se que: e(x,t) = e(x,t) = E. (10) e(x,t) = e(x,t) = E. (11) Do mesmo modo para as médias temporais, tem-se e(x,t) = E e(x,t) =. (12) t t t Generalizando: a derivada da média é igual à média da derivada, podemos tomar a média das eqs. (1)-(4). As eqs. (2) e (3) são prontamente obtidas: b = 0 B = 0, e = b E = B t t 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 10/58.
11 As equações (1) e (4) necessitam maiores cuidados, sobretudo com relação às fontes η e j. Utilizaremos a função delta de Dirac para descrever todas as cargas como puntuais. São propriedades da função delta de Dirac: V δ 3 (x x )dv = 1 (13) V f (x )δ 3 (x x )dv = f (x) (14) Uma distribuição macroscópica contínua é o resultado da suavização da função de Dirac pelo efeito da média, ou seja, pela função peso. Vejamos: η = (cargas livres) + (cargas ligadas) 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 11/58
12 Definindo por antecipação o momento de dipolo elétrico na forma: p e = Qd (15) onde Q é a carga positiva e d é o vetor que aponta de Q para +Q, podemos escrever: η = i q i δ 3 (x x i ) + n j Q n jδ 3 (x x n d n j ) (16) O índice i denota as cargas livres sem vínculos e n j as cargas ligadas na forma atômico-molecular: x i é a posição instantânea da carga livre q i enquanto para a j-ésima carga no n-ésimo átomo, Q n j a posição é dada em relação ao centro geométrico do sistema atômico, x n Propriedades Dielétricas de Isolantes 12/58
13 O vetor de posição relativa d n j dessa carga em relação ao centro é em módulo muito menor do que o próprio valor de x n, permitindo expansão em séries de Taylor. Devemos realizar a média de (16): η = V f (x x ) ( i q i δ 3 (x x i ) + n j Q n jδ 3 (x x n d n j ) ) dv (17) Fazendo a integral sobre o volume na eq. acima nos fornece: η = i q i f (x x i ) + n j Q n j f (x x n d n j ). (18) 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 13/58
14 Para d n j de dimensões atômicas expandimos f em séries de Taylor: f (x x n d n j ) = f (x x n ) d n j f (x x n ) +... Para o que nos interessa ficamos até a primeira ordem na expansão e então: η = i q i f (x x i ) + n j Q n j f (x x n ) n j Q n jd n j f (x x n ). (19) 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 14/58
15 Utilizando p n e j = Q n j d n j (momento de dipolo elétrico da j-ésima carga na n-ésima molécular) e um pouco de álgebra obtemos a densidade de polarização dielétrica, ou simplesmente polarização: de modo que: P = n j V f (x x )p n j e δ 3 (x x n ) (20) η = ρ P, (21) ρ = i q i f (x x i ) + n j Q n j f (x x n ) Propriedades Dielétricas de Isolantes 15/58
16 O vetor de polarização P é proporcional a n j p n j e /V e podemos interpretá-lo como a densidade de momentos de dipolo elétrico. Dessa forma a média de (1) torna-se e = 1 η ε 0 E = ρ P ε 0, ou D = ρ, sendo D = ε 0 E + P Agora realizando a média de (4) temos: e b = µ 0 j + µ 0 ε 0 t B = µ 0 j + µ 0 ε 0 E t 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 16/58
17 Resta agora calcular o valor médio j. Lembrando dos conceitos básicos da eletrodinâmica: j = η i v i onde η i é a densidade de carga da i-ésima carga e v i é a velocidade instantânea dessa carga, podemos escrever: j = i q i v i δ 3 (x x i ) + n j Q j n(v n + v n j )δ 3 (x x n d n j ). (22) Os detalhes de cálculo são omitidos aqui. Definindo a dens. de corrente macroscópica: J = i q i v i f (x x i ) + n j Q j nv n f (x x n ), (23) 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 17/58
18 A magnetização macroscópica: M = n m n δ(x x n ), (24) onde m n é denominado momento de dipolo magnético da n-ésima molécula: 1 m n = j 2 Q n(d j n j v n j ). (25) obtém-se: e finalmente j = J + M + P t. (26) ( B = µ 0 J + M + P ) E + µ 0 ε 0 t t 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 18/58
19 Definindo H = B µ 0 M obtemos as eqs. de Maxwell macroscópicas: D = ρ, (27) B = 0, (28) E = B t, (29) H = J + D t, (30) juntamente com as denominadas relações constitutivas D = ε 0 E + P, B = µ 0 (H + M), (31) P = M = n j n j p n j e δ 3 (x x n ) m n j δ 3 (x x n ), (32), (33) 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 19/58
20 Efeitos do Campo Elétrico sobre os Momentos de Dipolo Elétrico Em um isolante ideal, não há cargas livres, estão todas ligadas aos respectivos átomos ou moléculas. Desse modo a corrente macroscópica J estará ausente na aplicação do campo elétrico. Haverá apenas indução de polarização dielétrica no meio material, os momentos de dipolo elétrico microscópicos presentes no meio irão se orientar, devido a ação do campo elétrico. O campo E exerce dois efeitos principais sobre um dipolo elétrico: i) distorção e/ou vibração, se o campo é variante no tempo e ii) torque e rotação até ocorrer alinhamento Propriedades Dielétricas de Isolantes 20/58
21 Momento de dipolo elétrico p e = qd, onde d é o vetor que vai da carga negativa para a carga positiva, e cujo módulo d é a distância entre elas, na presença de E: 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 21/58
22 Na presença do campo elétrico uma carga q de massa m sofre uma força F = qe Admitindo que a carga negativa esteja fixa e adotando-a como referência do sistema de coordenadas, da 2 a lei de Newton obtemos a equação de movimento para a carga +q: m d = qe mω 2 0d m τ ḋ, onde m τ ḋ é o termo dissipativo e devemos também incluir um termo de mola mω 2 0d que se opõem ao campo elétrico, pois este tende a separar as cargas. Multiplicando a equação acima por q e dividindo tudo por m temos: d 2 p e dt 2 = q2 m E ω2 0p e 1 dp e τ dt. (34) 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 22/58
23 O torque exercido pelo campo elétrico sobre o momento de dipolo tendo a carga negativa como referência é dado por: Γ = d F 1 = p e E. (35) Da mecânica clássica, sabemos que a energia potencial associada ao torque dado pela equação (35) é dada por: U e = p e E. (36) Podemos admitir que um material isolante é composto de dipolos microscópicos, que tendem a se alinhar ao campo elétrico aplicado, para minimizar a energia potencial (36) Propriedades Dielétricas de Isolantes 23/58
24 Alinhamento dos dipolos pelo campo aplicado: 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 24/58
25 A aplicação do campo E externo alinha os dipolos, que por sua vez produzem um campo interno: O dipolo de dimensões microscópicas está sujeito a um campo local microscópico, resultante da ação do campo externo, descontado o campo gerado por todos os dipolos orientados à sua volta Propriedades Dielétricas de Isolantes 25/58
26 Considerar em torno de um dado ponto da rede cristalina um volume significativo que permita definir uma polarização dielétrica P, o campo local será dado por: E loc = E E P, (37) sendo que E P = 1 ε 0 P Propriedades Dielétricas de Isolantes 26/58
27 Para uma esfera polarizada uniformemente, o resultado da eletrostática mostra que o campo interno é dado por: E P = 1 3ε 0 P. (38) No espirito de uma teoria linear, suponha que a orientação de cada momento de dipolo dependa do campo local na forma: p e = αe loc P = α υ E loc (39) onde υ é o volume da cela unitária e α é denominada polarizabilidade atômica Propriedades Dielétricas de Isolantes 27/58
28 Definindo a permissividade dielétrica ε, tal que o vetor deslocamento elétrico D e o vetor campo elétrico E se relacionem na forma: chegamos a: D = εe = ε 0 E + P P = (ε r 1)ε 0 E (40) sendo ε r = ε/ε 0 a permissividade dielétrica relativa. Utilizando os resultados anteriores temos: P = α υ E loc = α υ ( E + P ) 3ε 0 = (ε r 1)ε 0 E 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 28/58
29 Fazendo algumas manipulações algébricas chegamos à relação de Clausius-Mossotti, que relaciona propriedades mensuráveis sob o aspecto macroscópico com um fator atômico α denominado polarizabilidade: ε r 1 ε r + 2 = α 3ε 0 υ. (41) Invertendo a relação de Clausius-Mossotti, obtemos: ε r = 1 + 2α 3ε 0 υ 1 α. (42) 3ε 0 υ Definindo a susceptibilidade dielétrica na forma P = ε 0 χ e E, é fácil mostrar que χ e = ε r 1, ou ainda: χ e = α ε 0 υ 1 α 3ε 0 υ. (43) 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 29/58
30 Polarizabilidade Atômica α: Mede a formação de momento de dipolo elétrico no átomo, quando um campo elétrico é aplicado: Na ausência do campo externo a nuvem eletrônica associada a um dado íon tem distribuição esfericamente simétrica e o momento de dipolo é nulo. Ao aplicar o campo o átomo é distorcido, gerando um momento de dipolo efetivo na direção do campo aplicado Propriedades Dielétricas de Isolantes 30/58
31 O valor da polarizabilidade atômica deve ser obtido através da Mecânica Quântica, assumindo-se a interação de dipolo elétrico com o campo na forma: Ĥ dip = Ze n r n E, (44) onde r n é o operador de posição do n-ésimo elétron em relação ao núcleo no átomo e Z é o número atômico efetivo. O momento de dipolo elétrico do átomo tendo como referência o núcleo é dado por p e = Qd = e( r n ) = er n, por isso o sinal em U e = p e E está ausente acima Propriedades Dielétricas de Isolantes 31/58
32 Todavia um modelo clássico é ilustrado na figura a seguir: O modelo clássico descreve um átomo com um núcleo positivo e uma carga uniformemente distribuída na eletrosfera. Há uma força restauradora mω 2 0 r para qualquer tentativa de deformar o átomo. Pode-se incluir no modelo a dissipação (m/τ)d r/dt, por colisões Propriedades Dielétricas de Isolantes 32/58
33 Na presença de um campo elétrico E loc a 2 a Lei de Newton nos dá: d 2 p e dt 2 = q2 m E loc ω 2 0p e 1 dp e τ dt. onde p e = Ze r e q = Ze. Para campo harmônico E loc = E 0 e iωt, E 0 constante na escala atômica, podemos supor p e = p 0 e iωt. Utilizando a equação diferencial acima, obtemos: p e = Z 2 e 2 /m ω 2 0 ω2 iω/τ E loc 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 33/58
34 Utilizando a definição αe loc = p e obtemos: α = Z 2 e 2 /m ω 2 0 ω2 iω/τ (45) No limite de baixas frequências ω << ω 0 e no caso ideal e sem dissipação (τ ) tem-se α = Z2 e 2 mω 2 0. Na ressonância α diverge, desde que τ. Já para ω vemos que α = 0: as oscilações de carga para gerar momento de dipolo no átomo não conseguem acompanhar a rápida oscilação do campo, resultando em momento nulo. Tem-se que cuidar esse caso, pois a Mecânica Clássica certamente falha, devido à alta energia do fóton incidente Propriedades Dielétricas de Isolantes 34/58
35 Cálculo quântico da polarizabilidade Aqui utiliza-se a teoria de perturbações. Supondo que o estado do átomo na ausência de aplicação do campo seja ψ = C P C P Π nlmσ nlmσ, já levando em conta todos os elétrons e os coeficientes C P = ±1 possibilitam colocar ψ na forma de um determinante de Slater, o momento de dipolo elétrico do átomo é dado por p e = Ze ψ n r n ψ Propriedades Dielétricas de Isolantes 35/58
36 Ao aplicar o campo elétrico surge uma perturbação da forma: Ĥ dip = Ze n r n E, o que distorce a forma dos orbitais atômicos nlmσ. Em geral, para campos fracos e pequenas perturbações, apenas os orbitais de valência sofrerão efeitos apreciáveis Propriedades Dielétricas de Isolantes 36/58
37 Vamos supor um orbital de valência designado apenas por n = nlmσ por questão de clareza nas expressões que seguem. Utilizando o resultado da teoria de perturbações, esse orbital será afetado pela perturbação e se misturará com outros orbitais m = n 1 l 1 m 1 σ 1 : n m Ĥ = n + de n m +..., (46) m n ε n ε m n m r E n = n + Ze m +..., (47) m n ε n ε m 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 37/58
38 Desse modo obtemos: p e = Ze m n [ m r E n n r m + ε n ε m ] n r E m m r n + O(E 2 ) ε n ε m (48) Esse é o efeito Stark quadrático pois dá um hamiltoniano na forma Ĥ de = κe 2!! 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 38/58
39 Átomos e Moléculas com Momento de Dipolo Permanente Um caso especial é aquele dos átomos ou moléculas (em geral as formações iônicas) para o qual, mesmo sem campo aplicado há um momento de dipolo permanente, ou seja, : p e = Ze ψ n r n ψ = 0. Admitindo-se que esse momento tenha módulo p e e que a interação com o campo elétrico seja dada por: U = p e E = p e E cosθ, onde θ é o ângulo entre o campo elétrico e o momento de dipolo Propriedades Dielétricas de Isolantes 39/58
40 Podemos calcular o valor médio de p e sobre vários átomos, em função da temperatura, admitindo-se que em princípio a orientação deles é aleatória. Nesse caso, a função de partição é dada por: Z = 1 d(cosθ)e βp ee cosθ 1 A função de probabilidades é dada por: ρ = 1 Z e βp ee cosθ. O valor médio da projeção do momento de dipolo elétrico na direção do campo, ou seja, do valor p e cosθ será dado por: p e = p e 1 1 d(cosθ)cosθe βµbcosθ 1 1 d(cosθ)e βµbcosθ (49) 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 40/58
41 Realizando as integrais, podemos obter a densidade de polarização dielétrica média P = p e /υ = np e e tem-se o famoso resultado: P = np e L (βp e E), (50) onde L(x) é denominada função de Langevin: L(x) = coth(x) 1 x. (51) Para a temperatura T muito alta, β 0 e podemos expandir a função de Langevin em séries de Taylor: L(x) x<<1 x Propriedades Dielétricas de Isolantes 41/58
42 Nesse caso obtém-se a relação: P(E) = np2 e 3k B T E, (52) ou seja, a susceptibilidade de Langevin, χ e = P/ε 0 E, é dada simplesmente por: χ Lang = np2 e 3ε 0 k B T, (53) e verifica-se uma variação na forma 1/T para a susceptibilidade do material Propriedades Dielétricas de Isolantes 42/58
43 Ferroeletricidade: É análoga ao ferromagnetismo. Mesmo na ausência de campo elétrico externo há a formação espontânea de uma polarização dielétrica, abaixo de uma temperatura crítica. Uma aproximação de campo médio leva ao comportamento crítico na forma da susceptibilidade na forma χ e = nµ 2 3k B ε 0 (T T c ), (54) onde T c é uma temperatura crítica, abaixo da qual pode haver polarização expontânea. Piro e Piezoeletricidade: formação de momentos de dipolo elétrico pela aplicação de temperatura ou pressão sobre o material. Tem aplicações tecnológicas importantes, sobretudo a piezoeletricidade Propriedades Dielétricas de Isolantes 43/58
44 Propriedades Ópticas dos Isolantes O campo EM de uma onda plana uniforme é dado por: E = E 0 e i(kn r ωt), H = k ωµ n E, (55) onde E 0 é um vetor complexo constante, que indica a magnitude e polarização da onda e ˆn é o vetor unitário na direção de propagação da onda e r = (x,y,z); ω é a frequência angular da onda e k é o número de onda, dado por: k = ω µε c = β + iα, (56) β é a constante de fase; α é a constante de atenuação; 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 44/58
45 Em geral µ = µ 0 e define-se a permissividade dielétrica complexa: ε c = ε + i σ ω, (57) µε ( σ ) 2 α = ω (58) 2 ωε µε ( σ ) 2 β = ω (59) 2 ωε 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 45/58
46 Isolantes: σ << 1 e nesse caso α 0, ou seja, são relativamente transparentes para as ondas eletromagnéticas, exceção feita às regiões de ressonância do material (absorção de fótons em transições atômico-moleulares ou processos envolvendo fônons). Bandgap em um bom isolante: hω 0 = E G > 3eV. Somente ondas no espectro ultravioleta ou acima, ou no espectro visível por processos denominados absorção multifótons irão sentir efeitos significativos de atenuação Propriedades Dielétricas de Isolantes 46/58
47 Já foi mostrado que no modelo de Lorentz a permissividade dielétrica complexa vale: ε c ε 0 = ε r + i σ ωε 0 = 1 + ω 2 p ω 2 0 ω2 iων, (60) ε r a parcela real da constante dielétrica relativa, σ a condutividade do material, ω a frequência de operação, ω 2 p = n q q 2 /(mε 0 ) a frequência de plasma do material, ω 0 uma frequência característica de ressonância do material e ν = 1/τ a frequência de colisões, n q é a densidade de cargas q no material e m a massa das mesmas Propriedades Dielétricas de Isolantes 47/58
48 Define-se o índice de refração n(ω): n(ω) = εc ε 0 (61) A parte imaginária está associada à absorção, enquanto a parte real corresponde à caracteristicas de fase/dispersão na propagação. Meios condutores - elétrons quase livres, o que corresponde a ω 0 0 e geralmente satisfazem a condição ν >> ω para frequências abaixo do ultravioleta, o que nos dá: ε c = ε r + i σ 1 + i ω2 p ε 0 ωε 0 ων, (62) 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 48/58
49 Materiais dielétricos de poucas perdas (exemplo são as fibras ópticas - linha de ressonância estreita). O caso ideal corresponde a levar a expressão (60) ao limite ν 0 e nesse caso obtém-se: ε c ε 0 = ε r + i σ ωε ω2 p ω 2 0 ω2 + iπω2 p 2ω [δ(ω ω 0) + δ(ω + ω 0 )]. (63) Em ω = ω 0, um meio dielétrico de poucas perdas tem comportamento de um condutor, com alta condutividade efetiva. Longe das ressonâncias do material obtém-se a equação de Sellmeier (se o material tem várias frequências de ressonância ω r, somam-se sobre elas): n 2 (ω) = 1 + r ω 2 p ω 2 r ω Propriedades Dielétricas de Isolantes 49/58
50 Refletividade e Absorção Podemos escrever a constante dielétrica complexa na forma: ε c ε 0 = ε 1 + iε 2, (64) ε 1 = 1 + ω2 p(ω 2 0 ω2 ) (ω 2 0 ω2 ) 2 + ω 2 ν 2, (65) ε 2 = σ ωε 0 = ω 2 pων (ω 2 0 ω2 ) 2 + ω 2 ν 2, (66) ε 1 é uma função par em ω, ou seja ε 1 ( ω) = ε 1 (ω) enquanto ε 2 é ímpar, ε 2 ( ω) = ε 2 (ω) Propriedades Dielétricas de Isolantes 50/58
51 Podemos também determinar a condutividade do material: σ = ωε 0 ε 2 = ε 0 ω 2 pω 2 ν (ω 2 0 ω2 ) 2 + ω 2 ν 2 (67) Relacionando ε c com o índice de refração n = n 1 + in 2 temos: e obtemos a relação direta: n 2 = n 2 1 n in 1 n 2 = ε 1 + iε 2 ε 1 = n 2 1 n 2 2, (68) ε 2 = 2n 1 n 2 (69) 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 51/58
52 A refletividade R é a razão entre a densidade de potência refletida S re f l e a densidade de potência incidente S inc em uma interface plana, usualmente entre o ar e o material que se deseja avaliar: R = S re f l S inc = E re f l 2 E inc 2. Das condições de contorno das equações de Maxwell podemos mostrar que na incidência normal de uma onda na interface ar-material temos: R = n 1 n = (n 1 1) 2 + n 2 2 (n 1 + 1) 2 + n 2 2. (70) 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 52/58
53 A parte imaginária da permissividade dielétrica está associada à absorção do material, pois o campo incidente E inc induz uma corrente J = σe inc que leva à uma dissipação média de potência cuja densidade volumétrica é dada por: P dis = 1 2 σε 0 E inc 2 = 1 2 ωε 0ε 2 E inc 2 = ωε 0 n 1 n 2 E inc 2. (71) Podemos então definir a Absortividade do Material na forma: A = P dis E inc = 1 2 ωε 0ε 2. (72) 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 53/58
54 Curvas Típicas de Permissividade Dielétrica Complexa 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 54/58
55 Curvas Típicas de Refletividade e Absortividade 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 55/58
56 Algumas Curvas Experimentais 07 - Propriedades Dielétricas de Isolantes 56/58
57 Relações de Kramers-Kronig A causalidade implica uma relação entre a parte real e imaginária da permissividade complexa ε c /ε 0 = ε 1 + iε 2, denominadas relações de Kramers-Kronig, dadas abaixo: ε 1 (ω) = π P ε 2 (ω) = 1 π P ε 2 (ω ) ω ω dω (73) [ε 1 (ω ) 1] ω ω dω (74) onde P acima denota parte principal da integral(eliminando-se as singularidades onde o valor da integral diverge). Elas implicam que a medida da absortividade varrendo o espectro de frequências, diretamente associada a ε 2, permite calcular a parte real da permissividade dielétrica do meio Propriedades Dielétricas de Isolantes 57/58
58 Referências deste Capítulo [1] Ashcroft/Mermin, Solid State Physics [2] C. Kittel, Introduction to Solid State Theory. [3] C. Kittel, The Quantum Theory of Solids. [4] O. Madelung, Introduction to Solid State Theory. [5] J. D. Jackson, Classical Electrodynamics Propriedades Dielétricas de Isolantes 58/58
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