Palavras-chave: responsabilidade social; processo produtivo; comprometimento organizacional; ética empresarial.
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- Leandro Alcaide Angelim
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1 A RESPONSABILIDADE SOCIAL E O SEU REFLEXO NO COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL Autores: Marcos Gonçalves Juwer e Simone Aparecida Simões Rocha RESUMO Esta dissertação teve como objetivo identificar em que medida a atuação socialmente responsável da empresa influencia o comprometimento organizacional dos funcionários, como conseqüência de uma política interna de responsabilidade social. O estudo partiu da suposição de que a Empresa X desenvolve ações de responsabilidade social e cidadania empresarial voltadas para o ambiente interno e externo e que essas ações têm efeitos positivos sobre o nível de comprometimento organizacional existente dentro da empresa, tais como: o enfoque atitudinal, o enfoque instrumental e o enfoque normativo. Para verificá-la, adotou-se uma metodologia de caráter investigativo e explicativo, quanto aos fins, e de campo e bibliográfica, quanto aos meios. As respostas obtidas na pesquisa de campo, através de um questionário com 34 perguntas, para uma amostra de 100 funcionários da Empresa X, escolhidos aleatoriamente por acessibilidade, confirmaram a suposição inicial, indicando que o sucesso de qualquer ação social empresarial interna se reflete no aumento do índice de comprometimento do trabalhador com a organização. Verificou-se que o grau de comprometimento organizacional dos funcionários em relação à empresa é elevado. Palavras-chave: responsabilidade social; processo produtivo; comprometimento organizacional; ética empresarial. ABSTRACT This dissertation aims at identifying in which scale the performance of a social responsible company is a source of influence on the organizational commitment of its employees, as a consequence of an internal policy of social responsibility. This study assumed that Company X develops actions of social responsibility and business citizenship turned to 1
2 both the external and internal settings and that these actions produce positive effects on the level of organizational commitment existing in the Company, such as in the attitudinal, instrumental and normative aspects. In order to investigate this assumption, it was adopted a researching method of investigative and explicative nature, in relation to the objectives, and field and bibliographic research, in relation to the means. The answers obtained in the field research, by means of a questionnaire of 34 questions, applied to a number of 100 employees of the investigated company, confirmed the initial supposition, indicating that the success of any business internal social action reflects upon the increasing of the level of commitment of the employee with the organization. Through a comparative analysis of the results of the field research and theoretical basis related to the organizational commitment, it was verified that the degree of the organizational commitment of the employees in relation to the company is quite satisfactory. KEYWORDS: social responsibility; productive process; organizational commitment; business ethics. INTRODUÇÃO As alterações na estrutura produtiva estão a exigir uma atuação mais efetiva do Estado no sentido de adaptar o mercado de trabalho à nova realidade econômica e gerar políticas compensatórias de enfrentamento dos problemas sociais que se vêm multiplicando. Mas, hoje, o Estado falido e emperrado pela burocracia e pelos seus modelos de controle impessoal não tem mais condições de colocar a sua pesada máquina no combate à pobreza, à desigualdade e à exclusão social. É o desgaste do modelo welfare state (COELHO, 2000, p. 26). O Estado é e sempre será necessário, mas vem sendo insuficiente para resgatar a enorme dívida social existente no País. Como resposta a esse grande desafio nacional, governos, empresas e a sociedade organizam-se para trazerem novas respostas visando a um desenvolvimento sustentável que englobe tanto os aspectos econômicos como os sociais e os ambientais (vide fig.1). Os autores Melo Neto & Froes (2001a), retratam de forma clara e simples as características desta nova ordem social, ao afirmarem que ela supera em vitalidade, legitimidade e harmonia a ordem da burocracia estatal (Primeiro Setor), e a ordem econômica do mercado (Segundo Setor). Uma ordem que nasceu da desordem social vigente, e cuja expressão institucional encontra-se no Terceiro Setor (MELO NETO & FROES, 2001a, p. 5). 2
3 As empresas descobrem na responsabilidade social uma nova estratégia para se manterem em um mercado altamente competitivo e globalizado. Esse vácuo deixado pelo Estado é absorvido pelo empresariado que entende que uma empresa socialmente responsável ou consciente constitui um diferencial importantíssimo nesse novo cenário competitivo. Fig. 1 Representação dos três setores da sociedade 1º setor Ambiente: mercado Agente: firma Meta: lucro Iniciativa: privada Fim: privado Ambiente: Estado Agente: governo Meta: controle social Iniciativa: pública Fim: público Ambiente: sociedade organizada Agente: organização sem fins lucrativos Meta: qualidade de vida Iniciativa: pública Fim: público 2º setor 3º setor Fonte: SCORNAVACCA JR. et al., 1998, p. 6 Para Neves (2001), as organizações que ignorarem esse atual panorama estarão cometendo suicídio. A autora afirma que: São cada vez mais necessárias e oportunas ao mundo as ações sociais. Aqueles que estiverem atentos às tendências do mercado e à comunidade perceberão as oportunidades para o Marketing Social. Responsabilidade Social não é opção, é sobrevivência corporativa em longo prazo. Na era da globalização, uma empresa competitiva deve satisfazer os acionistas, os consumidores, a comunidade e investir na imagem dentro do novo contexto dos negócios. Não pode ser fechada, rígida e isolada (NEVES, 2001, p. 18). As organizações começam a investir em outros atributos além da tradicional política de preços e qualidade, tais como confiabilidade, serviço de pós-venda (SAC), produtos ambientalmente corretos, relacionamento ético da empresa com seus consumidores, fornecedores e varejistas, política de segurança em relação aos seus funcionários ou produtos, qualidade e preservação do meio ambiente e a busca pelo selo SA
4 Ashley (2002) e Melo Neto & Froes (2001a) apontam uma nova ótica econômica que começou a ganhar vulto entre o empresariado quando os benefícios da Ética Empresarial e da Responsabilidade Social traduzem-se, também, em resultados financeiros. O pensamento capitalista de lucratividade e de competição não desaparece. Isto se torna transparente quando Ashley (2002) afirma: O mundo empresarial vê, na responsabilidade social, uma nova estratégia para aumentar o lucro e potencializar seu desenvolvimento. Essa tendência decorre da maior conscientização do consumidor e conseqüente procura por produtos e práticas que gerem melhoria para o meio ambiente ou comunidade, valorizando aspectos éticos ligados à cidadania (ASHLEY, 2002, p. 3). Nota-se que a responsabilidade social é considerada cada vez mais como uma das principais estratégias para as empresas alavancarem o seu crescimento, aspecto esse que fica claro no artigo de Oded Grajew intitulado Negócios e Responsabilidade Social (in ESTEVES, 2000), quando o autor analisa o comportamento do consumidor mostrando que este prefere adquirir produtos de uma empresa que pratica uma política socialmente responsável. Portanto, neste cenário de reestruturação produtiva é importante considerar a qualidade do compromisso, do comprometimento e do talento dos empregados. Afinal, para se começar a implantar uma política de empresa-cidadã, tem que se começar a trabalhar dentro de casa. E por ter que começar dentro de casa, a empresa acaba lidando com a questão da própria responsabilidade social quando olha para o seu cliente interno, ou seja, o comportamento do indivíduo na organização, o comprometimento do funcionário com a empresa. O presidente do Great Place to Work 2, Lima Filho (apud Boudon 2002), garante esta visão estratégica, ao confirmar que: O primeiro passo para a implementação de um programa de responsabilidade social é gerar satisfação interna. O sucesso de qualquer ação depende do comprometimento dos funcionários, o que só pode ser alcançado a partir da transparência nas relações profissionais (LIMA FILHO apud BOUDON, 2002, p. 32). Logo, não são apenas as ações externas que tornam as empresas exemplos de boa cidadania corporativa. Antes disso, é essencial traçar estratégias que promovam a melhoria das relações de trabalho entre os funcionários. REFERENCIAL TEÓRICO O Conceito de Responsabilidade Social Quase que simultaneamente ao agravamento da realidade brasileira, cresce no mundo 4
5 todo o entendimento de que as empresas privadas podem e devem assumir um posicionamento social mais proativo, para além da geração de riquezas e postos de trabalho: é a chamada Responsabilidade Social Empresarial. Dentro desse novo papel e diante das demandas cada vez maiores, as empresas graças a sua grande capacidade de disseminar valores, conceitos e informações estão assumindo sua parcela de responsabilidade nesse processo de transformação da sociedade. Além disso as empresas descobriram a importância do marketing social. Investem em programas e projetos sociais e obtêm retorno social, de imagem e de vendas. Tornam-se empresas-cidadãs e ganham o respeito de seus stakeholders atuais e futuros. Mas, para se ter uma postura de empresa socialmente responsável, exige-se, no mínimo, uma investigação e posicionamento explícito sobre os aspectos éticos da atividade empresarial. São normas morais que se aplicam às atividades e aos objetivos da empresa comercial. Assim, dentro de uma macro visão, a responsabilidade social é toda e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade. D Ambrósio & Mello (1998) corroboram esta idéia ao afirmarem que a responsabilidade social de uma empresa consiste na sua decisão de participar mais diretamente das ações comunitárias na região em que está presente e minorar possíveis danos ambientais decorrente do tipo de atividade que exerce (D AMBRÓSIO & MELLO, 1998, p. C-8). Para Ferrell et al. (2001), a responsabilidade social refere-se ao efeito de decisões das empresas sobre a sociedade (FERRELL et al., 2001, p. 8). Ashley (2002) define responsabilidade social como: [...] o compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico, agindo proativamente e coerentemente no que tange ao seu papel específico na sociedade e a sua prestação de contas para com ela (ASHLEY, 2002, p. 6-7). Para Jaramillo & Angel apud Ashley (2002): Responsabilidade social pode ser também o compromisso que a empresa tem com o desenvolvimento, bem-estar e melhoramento da qualidade de vida dos empregados, suas famílias e comunidade em geral (ASHLEY, 2002, p. 7). Na opinião de Oded Grajew, Diretor-Presidente do Instituto Ethos apud Melo Neto & Froes (2001a): 5
6 O conceito de responsabilidade social está se ampliando, passando da filantropia, que é a relação socialmente compromissada com a comunidade, para abranger todas as relações da empresa: com seus funcionários, clientes, fornecedores, acionistas, concorrentes, meio ambiente e organizações públicas e estatais (MELO NETO & FROES, 2001a, p. 79). Para os autores a responsabilidade social corporativa vai além do apoio ao desenvolvimento de uma comunidade e preservação do meio ambiente. Para eles: É necessário investir no bem estar dos funcionários e dependentes e num ambiente de trabalho saudável, além de promover comunicações transparentes, dar retorno aos acionistas, assegurar sinergia com seus parceiros e garantir a satisfação dos seus clientes e / ou consumidores (MELO NETO & FROES, 2001a, p. 78). Para entender melhor a complexidade da responsabilidade social de uma empresa, Ferrell et al. (2001), Moreira (1999) e Wartick & Wood (2000), observam que existe quatro dimensões ou tipos de responsabilidade social, que devem ser observadas: a legal, a econômica, a ética e a filantrópica. Responsabilidade Legal A organização tem como dever cumprir as leis municipais, estaduais e federais. Responsabilidade Econômica Consiste em produzir e distribuir bens e serviços de que a sociedade necessita, bem como providenciar empregos e renda mínima aos trabalhadores. Responsabilidade Ética são comportamentos ou atividades que a sociedade espera das empresas, mas que não estão codificadas em leis. Responsabilidade Filantrópica É a obrigação final que a empresa assume com a sociedade, utilizando recursos próprios para o seu bem estar social. A atuação da empresa-cidadã amplia e completa seu papel de agente econômico e a transforma em agente social por disponibilizar os mesmos recursos usados no seu negócio, para transformar a sociedade e desenvolver o sentido do bem comum. Embora, existam empresas engajadas no processo de desenvolvimento do país e na melhoria das condições da nossa sociedade, estas três situações são as mais condizentes com a perspectiva de lucro e portanto as mais alinhadas com qualquer estratégia de competitividade e melhoria institucional da imagem, que são no fundo o que toda organização busca. Responsabilidade Social Interna 6
7 Quanto à gestão da responsabilidade social interna, os autores Melo Neto & Froes (2001a e 2001b), Neves (2001) e Grajew (1999 e 2000) afirmam que uma boa estratégia para a empresa que quer ser socialmente responsável é começar pela relação com os seus funcionários. Não há coerência em desenvolver ações sociais para o público externo se, internamente, as relações ainda são pouco trabalhadas. A partir do momento em que uma organização investe em uma política de responsabilidade social, não se concebe que esta mesma empresa não seja responsável dentro das suas quatro paredes. Ela tem que exercer uma gestão da responsabilidade social interna de forma eficaz e convincente. Segundo Melo Neto & Froes (2001a), as ações de gestão de responsabilidade social interna possuem como principais características: - investimentos no bem-estar dos empregados e seus dependentes (programa de remuneração e participação nos resultados, assistência médica, social, odontológica, alimentar e de transporte); - investimentos na qualificação dos empregados (programas internos de treinamento e capacitação e programas de financiamento de cursos externos, regulares ou não, realizados por seus funcionários com vistas a sua maior qualificação profissional e obtenção de escolaridade mínima) (MELO NETO & FROES, 2001a, p. 87). Melo Neto & Froes (2001b) alertam sobre uma possível radicalização no fato das empresas somente estarem voltadas ao estreitamento das relações com os empregados e seus dependentes. São empresas caracterizadas como low profile e são adeptas do endomarketing. Não investem em ações sociais externas porque: [...] entendem que seus benefícios já geram efeitos duradouros no âmbito da comunidade, locus natural de seus empregados e dependentes. E entendem que tais iniciativas são de natureza governamental e fogem do escopo de sua missão e visão de negócio (MELO NETO & FROES, 2001b, p ). Comprometimento Organizacional As autoras Fossá e Sartoretto (2002), pesquisaram o tema em um recente trabalho intitulado Responsabilidade Social Empresarial e Comprometimento Organizacional: Uma Relação Possível? e observam que: Os estudos sobre comprometimento organizacional têm se interessado em conhecer os preditores do comprometimento e as conseqüências de um indivíduo comprometido tanto para o alcance dos objetivos organizacionais quanto para a preservação de um nível aceitável de qualidade de vida do trabalhador. O volume de pesquisas com esta temática tem crescido nas últimas décadas nos Estados Unidos e mais precisamente nos anos 90 no Brasil (FOSSÁ e SARTORETTO, 2002, p. 3). 7
8 De acordo com a tipologia sugerida por Etzione (1974) e sumarizada por Mowday e colaboradores (1982), existem três formas de envolvimento dos trabalhadores: a) A primeira é o envolvimento moral, que relaciona a internalização das metas, valores e normas da organização; b) A segunda, o calculista, que envolve um relacionamento de menor intensidade com a organização, tendo como foco as relações de troca; c) A terceira, o alienante, que é considerado um fator negativo para a organização. Em relação ao primeiro fator, Etzioni (1974) apresenta uma idéia de comprometimento a partir de uma proposta que tem origem na crença de que as normas e valores da organização são referências para o comportamento do dia-a-dia do trabalhador. Nesse enfoque, ocorre o comprometimento através dos sentimentos revelados em prol da empresa, assim como a aceitação de crenças, identificação e assimilação dos valores que unem o trabalhador e a organização. Quanto ao estudo sobre o enfoque instrumental ou calculativo, o comprometimento é observado em função das recompensas e custos associados à condição de integrante da organização, isto é, à intenção de manter-se engajado na organização devido aos custos associados à sua saída. No tocante ao terceiro fator, o enfoque comportamental tem por base a Psicologia Social e o comprometimento é visto como a prática de um poder coativo que é encontrada nas relações de exploração O modelo proposto por Meyer, Allen & Smith (apud BASTOS et al., 1997) também se apoia em estrutura tridimensional, referindo-se a três tipos de comprometimento: afetivo, de continuação e normativo. Em um trabalho anterior, Bastos (1992, p. 292) investiga as abordagens conceituais utilizadas no estudo do comprometimento organizacional, orientadas basicamente por três fontes teóricas: as teorias organizacionais, a abordagem sociológica e a psicologia social. A partir destes três pontos levantados por Bastos (1992), Pereira (1993) elabora um quadro (figura 2), de forma a sintetizar a evolução do estudo do comprometimento organizacional. 8
9 Fig. 2 Evolução do estudo do comprometimento organizacional. TEORIAS ORGANIZACIONAIS ENFOQUE ATITUDINAL-AFETIVO Características: - Força relativa da identificação e envolvimento de um indivíduo com uma organização particular. - Forte crença e aceitação dos objetivos e valores da organização. - Desejo de exercer considerável esforço em favor da organização e forte desejo de se manter membro da organização. ENFOQUE CALCULATIVO Características: - Identificação com a organização por meio de uma relação de troca racional de benefícios, atendendo as expectativas e necessidades do trabalhador. ENFOQUE NORMATIVO Características: Totalidade de pressões normativas internalizadas pelo indivíduo para que se comporte congruentemente com os objetivos e interesses da organização. SOCIOLOGIA APLICADA À ADMINISTRAÇÃO 9
10 ENFOQUE CALCULATIVO Características: - Mecanismo psicossocial que engaja o indivíduo em linhas consistentes de atividades, resultante das recompensas e dispêndio relacionados com a condição de membro da organização, que ligam o raio de ação posterior, devido aos custos associados a agir de forma diferente. ENFOQUE SOCIOLÓGICO Características: Vínculo fortemente orientado, mediante a crença na legitimidade das relações de autoridade, que governam o controle do empregador, e a subordinação dos trabalhadores na organização. PSICOLOGIA SOCIAL ENFOQUE NORMATIVO Características: - Demonstração da subjetiva absorção das pressões normativas, internalizadas pelo indivíduo, para atuar de forma coerente aos objetivos e valores da organização. ENFOQUE COMPORTAMENTAL Características: - Vínculo desenvolvido pelo indivíduo com atos ou comportamentos, sustentando as atitudes futuras e seu próprio envolvimento, dificultando as mudanças posteriores devido as cognições relativas a tais atos. Fonte: PEREIRA, 1993, p A integralização das abordagens afetiva, instrumental e normativa é possível ao caracterizarmos os indivíduos segundo as três dimensões da seguinte maneira: empregados com um forte comprometimento afetivo permanecem na organização porque eles querem, aqueles com comprometimento instrumental permanecem porque eles precisam e aqueles com 10
11 comprometimento normativo permanecem porque eles sentem que são obrigados (ALLEN & MEYER, 1990, p. 3). Percebe-se que quanto mais uma pessoa se identifica com os valores da organização mais ela se torna comprometida. Ao contrário, uma pessoa não identificada culturalmente com a organização pode, consciente ou inconscientemente, fazer menos esforços ou esforços contrários aos objetivos organizacionais. METODOLOGIA Empresa Selecionada A Empresa X foi escolhida devido ao fato de ser uma empresa de grande porte e que tem reconhecimento, em nível nacional, como empresa-cidadã, visto ter uma forte atuação na área da responsabilidade social e incentivar os seus empregados a atuarem como voluntários em projetos sociais. Tipo de Pesquisa O presente trabalho é um estudo exploratório. Visa a verificar como os funcionários da Empresa X mostram-se influenciados em seus aspectos comportamentais e de produtividade, visto estarem envolvidos com uma organização que, externamente, exercita a responsabilidade social. O Instrumento de Coleta de Dados O instrumento de coleta de dados utilizado no estudo do comprometimento organizacional foi o instrumento aplicado por Meyer, Allen e Smith (apud BASTOS et al., 1997). O instrumento (figura 3) foi desenvolvido para se mensurar o comprometimento organizacional em três dimensões: afetiva, instrumental e normativa. As questões são do formato Likert variando numa escala de 1 a 5 (discordo totalmente a concordo totalmente). No tocante ao instrumento de coleta de dados utilizado no estudo da responsabilidade social corporativa, adaptaram-se os check-lists (figura 4) apresentados por Melo Neto & Froes (2001a). O instrumento foi elaborado para dimensionar o nível de percepção que o funcionário da Empresa X tem sobre o fato de pertencer a uma organização que desenvolve atividades na área da responsabilidade social. 11
12 Fig. 3 Indicadores de comprometimento de Meyer, Allen e Smith (apud BASTOS et al., 1997) Dimensão Código do Indicador 3 4 Indicador de Comprometimento Afetiva ACS1 ACS2 ACS3 ACS4 ACS5 Eu seria muito feliz em dedicar o resto da minha carreira nesta organização. Eu realmente sinto os problemas da organização como se fossem meus. Eu não sinto um forte senso de integração com minha organização. (r) Eu não me sinto emocionalmente vinculado a esta organização. (r) Eu não me sinto como uma pessoa de casa na minha organização. (r) Instrumental CCS1 CCS2 CCS3 CCS4 CCS5 CCS6 Na situação atual, ficar com minha organização é na realidade uma necessidade tanto quanto um desejo. Mesmo se eu quisesse, seria muito difícil para mim deixar minha organização agora. Se eu decidisse deixar minha organização agora, minha vida ficaria bastante desestruturada. Eu acho que teria poucas alternativas se deixasse esta organização. Se eu já não tivesse dado tanto de mim nesta organização, eu poderia considerar trabalhar em outro lugar. Uma das poucas conseqüências negativas de deixar esta organização seria a escassez de alternativas imediatas. 12
13 Normativa NCS1 NCS2 NCS3 NCS4 NCS5 NCS6 Eu não sinto nenhuma obrigação em permanecer na minha empresa. (r) Mesmo se fosse vantagem para mim, eu sinto que não seria certo deixar minha organização agora. Eu me sentiria culpado se deixasse minha organização agora. Esta organização merece minha lealdade. Eu não deixaria minha organização agora porque eu tenho uma obrigação moral com as pessoas daqui. Eu devo muito a minha organização. Fonte: MEDEIROS et al., 2000, p. 4 Fig. 4 Situações descritivas sobre a idéia de responsabilidade social A sua empresa desenvolve ações caráter social? A sua empresa realiza ou participa de trabalhos para ajudar a comunidade? O exercício da responsabilidade social é um diferencial competitivo para a sua empresa? Você conhece o compromisso social da sua empresa? Um fato que contribuiu para que você escolhesse trabalhar na Empresa X é o fato dela ser uma empresa-cidadã? Na sua visão, a Empresa X é realmente uma empresa-cidadã? Por quê? As ações sociais de sua empresa também estão direcionadas para problemas dos seus funcionários e de seus dependentes? Você participa de algum trabalho voluntário pela sua empresa? Você participa de algum trabalho voluntário fora de sua empresa? Gostaria que você descrevesse a importância, para você, de trabalhar em uma empresa que desenvolve ações na área Social: Fonte: Melo Neto & Froes (2001a, p. 99). Tratamento dos Dados 13
14 Os dados foram tratados utilizando-se métodos quantitativos. Considerando a metodologia de pesquisa adotada, foi privilegiado um tratamento de constante interpretação comparativa entre os sujeitos pesquisados a partir do que a organização ofereceu. De acordo com os objetivos deste estudo, buscou-se verificar, junto aos funcionários da organização, o grau de conhecimento dos projetos de responsabilidade social e cidadania empresarial desenvolvidos pela empresa e levantar o nível de comprometimento organizacional dos funcionários em relação à mesma, além de analisar a percepção dos gerentes ou responsáveis pelos setores da empresa sobre esse impacto da política de responsabilidade social no que tange o comprometimento organizacional dos seus funcionários. RESULTADOS Foram realizadas 50 questionários auto-aplicados. O perfil da amostra apresentou a seguinte distribuição por gênero: 56% de mulheres e 44% homens. Dos entrevistados, 94% têm idade compreendida entre 20 e 49 anos. O nível de escolaridade de 72% das pessoas está compreendido entre colegial completo e superior completo. Gráfico 1: Distribuição por função 40% 32% 30% 24% 20% 16% 12% 10% 4% 6% 6% 0% Aux. Adm. / Aux. Sec. Professor Cozinheira / inspetor Orient. / Ger. / Dir./ Biliotecária / Secretária Monitor / Caixa Continuo / Enc. Man. Observa-se que o número maior de profissionais respondentes foi de Professores com 32% e Auxiliares Administrativos e Auxiliares de Secretaria com 24%, totalizando 56%. 14
15 O gráfico 2, abaixo, apresenta a distribuição dos respondentes por faixa etária. Entretanto, a maior concentração ocorreu no intervalo de 20 a 49 anos, com 94% dos respondentes, o que caracteriza uma população jovem e economicamente ativa. Gráfico 2: Funcionários por faixa etária 2% 4% 26% 30% 38% Até a a a ou mais O grau de instrução com maior representatividade na amostra foi o Ensino Médio Completo / Ensino Superior Incompleto (36%), seguido do Ensino Superior Completo (28%), que somados representam 64% da amostra. Como demonstrado no gráfico 3, abaixo: Gráfico 3: Funcionários por escolaridade 40% 36% 30% 28% 20% 18% 10% 4% 8% 6% 0% Gin. Incompl. Gin. Compl. / EM Compl. EM Compl. / Sup. Incomp. Sup. Compl. Especialização Mestrado 15
16 Tabela 1 Distribuição da amostra segundo o grau de concordância com as frases referentes à dimensão afetiva Frases Escala de respostas índice 1) Eu seria muito feliz em dedicar o resto da minha carreira nesta organização ,665 2) Eu realmente sinto os problemas da organização como se fossem meus ,675 3) Eu não sinto um forte senso de integração com minha organização ,310 4) Eu não me sinto emocionalmente vinculado a esta organização ,245 5) Eu não me sinto como uma pessoa de casa na minha organização ,345 Obs.: 1- Concordo totalmente; 2- Concordo parcialmente; 3- Não concordo e nem discordo; 4- Discordo parcialmente; 5- Discordo totalmente Tabela 2 Distribuição da amostra segundo o grau de concordância com as frases referentes à dimensão instrumental Frases Escala de respostas índice 1) Na situação atual, ficar com minha organização é na realidade uma necessidade tanto quanto um desejo ,730 2) Mesmo se eu quisesse, seria muito difícil para mim deixar minha organização agora ,795 3) Se eu decidisse deixar minha organização agora, minha vida ficaria bastante desestruturada ,775 4) Eu acho que teria poucas alternativas se deixasse esta organização ,305 5) Se eu já não tivesse dado tanto de mim nesta organização, eu poderia considerar trabalhar em outro lugar ,350 6) Uma das poucas conseqüências negativas de deixar esta organização seria a escassez de alternativas imediatas ,465 Obs.: 1- Concordo totalmente; 2- Concordo parcialmente; 3- Não concordo e nem discordo; 4- Discordo parcialmente; 5- Discordo totalmente 16
17 Tabela 3 Distribuição da amostra segundo o grau de concordância com as frases referentes à dimensão normativa Frases Escala de respostas índice 1) Eu não sinto nenhuma obrigação em permanecer na organização ,505 2) Mesmo se fosse vantagem para mim, eu sinto que não seria certo deixar minha organização agora ,515 3) Eu me sentiria culpado se deixasse minha organização agora ,385 4) Esta organização merece minha lealdade ,830 5) Eu não deixaria minha organização agora porque eu tenho uma obrigação moral com as pessoas daqui ,590 6) Eu devo muito a minha organização ,715 Obs.: 1- Concordo totalmente; 2- Concordo parcialmente; 3- Não concordo e nem discordo; 4- Discordo parcialmente; 5- Discordo totalmente 17
18 Tabela 4 - Distribuição das respostas em relação às frases referentes ao desempenho da responsabilidade social corporativa Nº Frases Escala de respostas (%) Sim Não Não sei 1 A sua instituição desenvolve ações de caráter social? A sua instituição realiza ou participa de trabalhos para ajudar a comunidade? O exercício da responsabilidade social é um diferencial competitivo para a sua instituição? Você conhece o compromisso social da Empresa X? Um fato que contribuiu para que você escolhesse trabalhar na Empresa X, é o fato dela ser uma empresa-cidadã? Na sua visão, a Empresa X é realmente uma empresa-cidadã? As ações sociais da Empresa X também estão direcionadas para problemas dos seus funcionários e de seus dependentes? Você participa de algum trabalho voluntário pela sua instituição? Você participa de algum trabalho voluntário fora de sua instituição?
19 CONCLUSÃO Devido às dificuldades atuais pelas quais passam os agentes públicos, a cidadania corporativa é essencial para minimizar as desigualdades sociais deste início de século. Mas, uma empresa que incentiva a cidadania corporativa, não deve estar vinculada apenas às ações externas. Antes disso é necessário traçar estratégias que promovam a melhoria das relações de trabalho entre os funcionários. Assim, o primeiro passo para implementar um programa de responsabilidade social é de gerar satisfação interna. Não é ético que uma empresa detenha uma fachada pró-ativa em relação à comunidade, se internamente não faz o seu dever de casa. O sucesso de qualquer ação social empresarial interna se reflete no aumento do índice de comprometimento do trabalhador com a organização já que esta investe na sua formação profissional, protege a ele e a sua família e ajuda a comunidade em que está inserida. Logo, a relação de parceria criada entre a responsabilidade social das empresas com o nível de comprometimento organizacional é de buscar implementar programas que promovam o estreitamento das relações entre os funcionários e os empresários. Foi, portanto, verificado e exposto que a Empresa X desenvolve ações de responsabilidade social e cidadania empresarial voltadas para o ambiente interno e externo, e que essas ações têm efeitos positivos sobre o nível de comprometimento organizacional existente dentro da empresa, tais como: o enfoque atitudinal, o enfoque instrumental e o enfoque normativo, o que vem a confirmar a suposição desta dissertação. É importante destacar que este estudo não abarcou todas as vertentes dos temas: ética empresarial, responsabilidade social e comprometimento organizacional; fator esse que deixa espaço para o surgimento de estudos mais específicos no futuro, tais como: a relação entre o desenvolvimento de programas sociais de cidadania corporativa e o seu reflexo por parte do consumidor e a geração de uma nova questão estratégica para as corporações no novo cenário empresarial; a relação do impacto do comprometimento organizacional sobre a produtividade das empresas e o grau de associação existente entre essas duas variáveis; o estudo sobre o reflexo de projetos sociais implementados nas empresas, baseado no voluntariado corporativo, com a análise dos resultados positivos ou negativos para as organizações; 19
20 a importância atribuída pelas empresas [pequenas, médias ou grandes], que adotaram a cidadania corporativa ou a responsabilidade social, ao longo da última década, como forma de fazerem negócios e se relacionarem com o mundo. Cabe ainda sugerir às empresas que reflitam nos seguintes itens: O primeiro passo para a implementação de um programa de responsabilidade social é a geração de satisfação interna. Não são apenas as ações externas que tornam as empresas exemplos de boa cidadania corporativa. Apostar na colaboração dos funcionários e incentivá-los a doar parte do seu tempo e de suas habilidades em prol do bem-estar da comunidade vem se tornando um diferencial no mundo corporativo. O voluntariado corporativo proporciona uma satisfação pessoal e uma motivação maior para o trabalho. Investir em programas de endomarketing nas empresas, sob a forma de divulgar todas as ações importantes que envolvam a visão da direção da empresa e os objetivos gerais da organização para promover o compromisso, a lealdade e o comprometimento dos funcionários. NOTAS 1- Social Accountability Certificado de Responsabilidade Social. 2 - Entidade fundada em São Francisco (EUA) e que atua no Brasil avaliando as 100 melhores empresas para se trabalhar no país, ao analisar as ações que visam o bem estar do quadro funcional das empresas. 3 - ACS - affective commitment scale / escala de comprometimento afetivo; CCS - continuance commitment scale / escala de comprometimento instrumental; NCS - normative commitment scale / escala de comprometimento normativo. 4 - (r) - indicador invertido no sentido da frase. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLEN, Natalie J. & MEYER, John P. The measurement and antecedents of affective, continuance and normative commitment to the organization. Journal of Occupational Psychology, vol 63, p ASHLEY, Patrícia Almeida (coord.). Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, BASTOS, Antonio Virgílio B.; BRANDÃO, Margarida G. A.; PINHO, Ana Paula M.. Comprometimento organizacional: uma análise do conceito expresso por servidores 20
21 universitários no cotidiano de trabalho. Revista de Administração Contemporânea - RAC v.1 n.2, mai / ago p BOUDON, André. Social S. A. Credibilidade que dá lucro. Conjuntura econômica, Rio de Janeiro, v. 56, n. 2, p. 31, fev COELHO, Simone de Castro Tavares. Terceiro setor: um estudo comparado entre Brasil e Estados Unidos. São Paulo: Senac, 2000 D AMBRÓSIO, D.; MELLO, P. C. A responsabilidade que dá retorno social. Gazeta Mercantil, , p.c-8. ESTEVES, Sérgio A. P. (org.). O dragão e a borboleta. São Paulo: Axis Mundi, ETZIONE, Amitai. A análise comparativa de organizações complexas: sobre o poder, o engajamento e seus correlatos. Rio de Janeiro: Zahar, FERRELL, O. C.; FRAEDRICH, John; FERRELL, Linda. Ética empresarial: dilemas, tomadas de decisões e casos. 4 ed. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso, FOSSÁ, Maria Ivete Trevisan; SARTORETTO, Paola Madrid. Responsabilidade Social Empresarial e Comprometimento Organizacional: Uma Relação Possível? Anais do 26º Enanpad, CD-ROM, ANPAD, GRAJEW, Oded. Empresa cidadã. Fiesp Notícias. São Paulo: FIESP, 27 set 1999, p Negócios e responsabilidade social. In: Esteves, S. (org.) O dragão e a borboleta: sustentabilidade e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Axis Mundi, MELO NETO, Francisco Paulo de.; FROES, César. Responsabilidade social e cidadania empresarial: a administração do terceiro setor. 2 ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001a.. Gestão da responsabilidade social corporativa: o caso brasileiro. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001b. MOREIRA, Joaquim Manhães. A ética empresarial no Brasil. São Paulo: Pioneira, MOWDAY, R. T.; PORTER, L. W.; STEERS, R. M.. The measurement of organizational commitment. Journal of Vocational Behavior. n. 14, p , NEVES, Márcia. Marketing social no brasil. Rio de Janeiro: E-Papers, PEREIRA, Sandra Leandro. Estudo do organizational commitment na administração de recursos humanos de uma instituição pública universitária federal brasileira. Dissertação de Mestrado em Administração. João Pessoa: UFPB, SCORNAVACCA Jr, Eusébio et al.. Administrando projetos sociais. In: revista de Administração Pública. n 32. Rio de Janeiro: FGV, WARTICK, Steven L.; WOOD, Donna J.. International business and society. Oxford: Blackwell Publishers,
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