Universidade Estadual de Londrina

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "Universidade Estadual de Londrina"

Transcrição

1 Universidade Estadual de Londrina EMÍLIA REZENDE RODRIGUES DE ABREU DESCRIÇÃO DO SISTEMA PRONOMINAL NA ESTRUTRURA FRASAL EM KAINGANG LONDRINA 2009

2 Livros Grátis Milhares de livros grátis para download.

3 EMÍLIA REZENDE RODRIGUES DE ABREU DESCRIÇÃO DO SISTEMA PRONOMINAL NA ESTRUTRURA FRASAL EM KAINGANG Dissertação apresentada ao Departamento de Língua e Literatura Vernáculas da Universidade Estadual de Londrina como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Estudos da Linguagem. Orientador: Prof. Dr. Ludoviko C. dos Santos LONDRINA 2009

4 EMÍLIA REZENDE RODRIGUES DE ABREU DESCRIÇÃO DO SISTEMA PRONOMINAL NA ESTRUTRURA FRASAL EM KAINGANG NATUREZA DO TRABALHO Trabalho de Análise Lingüística e Descritiva de Língua Indígena. COMISSÃO EXAMINADORA Prof. Dr. Ludoviko C. dos Santos Universidade Estadual de Londrina Profa. Dra Esther Gomes de Oliveira Universidade Estadual de Londrina Prof. Dr Rogério Vicente Ferreira Universidade Federal de Campo Grande Londrina, 16 de março de 2009.

5 ABREU, Emília Rezende Rodrigues. Descrição do sistema pronominal na estrutura frasal em Kaingang fls. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem) Universidade Estadual de Londrina, Londrina, RESUMO Este trabalho descreve os pronomes da língua kaingang e sua posição na estrutura frasal. Através de análise verificamos que, ao usarmos pronomes pessoais no SN sujeito, ocorriam algumas variações na estrutura frasal dessa língua. Com o desenvolvimento do estudo, abordamos todo o sistema pronominal e buscamos elaborar uma breve descrição de todos os pronomes existentes em kaingang. A primeira etapa do trabalho descreve os pronomes nas orações simples e, na segunda etapa, os pronomes em um texto. Para a coleta dos dados foram utilizados questionários constituídos de orações, em português, com a estrutura do objeto de análise. Nossos informantes foram professores bilíngües, da escola localizada na Terra Indígena Apucaraninha. Em kaingang, a estrutura canônica, nas orações simples é S O V. Com o uso de pronomes, há variação nessa estrutura frasal. Porém, algumas vezes, ela se mantém. Na maioria dos exemplos com sujeito pronominal temos a estrutura O V S. Os pronomes possessivos são usados em estruturas S O V ou O V S, dependendo do sujeito, seja ele nominal ou pronominal. Com os pronomes demonstrativos, bem como com o pronome indefinido {ũn}, com os pronomes interrogativos {ne - hẽ- ũ}, com o pronome reflexivo {vẽnh} e o pronome recíproco {jagnẽ} ocorreram várias estruturas frasais diferentes: S O V, O S V, S V, V S O. Nas orações subordinadas relativas adjetivas, o pronome relativo {ũn} iniciava as orações ou, então, foi usado o pronome demonstrativo {ẽn}, funcionando como um pronome relativizador. Palavras Chaves: Pronomes. Kaingang. Estrutura Frasal.

6 ABREU, Emília Rezende Rodrigues. Description of the pronominal system in the phrasal structure in Kaingang language sheets. Dissertation (Master s Degree in Language Studies) State University of Londrina, Londrina, ABSTRACT This work describes pronouns in the Kaingang language and their position in phrasal structure. We verified through analysis, when personal pronouns in the SN subject are used, there occur some variations in the phrasal structure of the language. With further study and development, we verified the entire pronominal system and sought to elaborate a brief description of the existing pronouns in Kaingang. The first step of the work describes pronouns in simple sentences and, in the second part, pronouns in a text. In our fact finding, we used questionnaires from simple sentences in Portuguese with the purpose of analyzing structure. Our subjects were bilingual teachers from a school located in an indigenous area of Apucaraninha. In Kaingang, the canonic structure in simple sentences is S O V. With the use of pronouns, there is a variation of this phrasal structure. However, at times, there is no change. In the majority of examples with pronominal subjects we have the O V S structure. Possessive pronouns are used in the S O V or O V S structures depending on the subject, whether it is nominal ou pronominal. With demonstrative pronouns as well as indefinite {ũn}, interrogative {ne- hẽ- ũ}, reflexive {vẽnh}, and reciprocal {jagnẽ} ones, there occur various different phrasal structures: S O V, O S V, S V, V S O. In subordinate clauses with relative adjectives, the relative pronoun {ũn} begins the phrase or the demonstrative pronoun, ẽn, functioning as a relative pronoun. Key words: Pronouns. Kaingang. Phrasal structure.

7 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a Deus que me capacitou e esteve sempre comigo em todas as etapas desta dissertação. Sem Ele, nada seria possível. Também dedico ao meu querido esposo, meu incentivador fiel em tudo que faço na minha vida.

8 AGRADECIMENTOS A realização deste trabalho seria impossível sem a ajuda de várias pessoas que me auxiliaram em muitas das etapas, até que conseguisse chegar ao seu final. Agradeço ao meu marido, Robson e aos meus filhos, Juliana e Daniel, que suportaram os meus momentos de reclusão para estudos, leituras, análises, etc. e foram privados dos momentos de família reunida. A minha colega de trabalho, Lissandra Wust, amiga fiel, com quem sempre pude contar e ter total apoio. Foram várias as horas, em que ela carregou o fardo, sozinha. Ao meu orientador, prof. Dr. Ludoviko C. dos Santos, o qual, com seu conhecimento me contagiou e incentivou à pesquisa e ao estudo da língua kaingang. Agradeço sua paciência, amizade e pela forma natural e simples, de me dizer aspectos importantes de minha vida acadêmica de aluna/ pesquisadora, que me fizeram refletir e tentar mudar. Levarei tudo isto por toda minha vida. Aos informantes indígenas, professores da Escola Indígena Luiz Penky Pereira, na reserva indígena Apucaraninha. Por sua preciosa paciência durante as coletas dos dados. Ao colégio PGD, (que me contratou, ainda no início do mestrado) por seu interesse em meu desenvolvimento acadêmico, demonstrado através da compreensão nas horas da dispensa do colégio para as aulas, enquanto aluna deste programa. Aos meus pais, Isaías e Emília Rezende, que sempre me incentivaram aos estudos e ao crescimento intelectual. A todos os meus professores deste curso: Prof. Dr. Adja Balbino A. B. Durão, Prof. Dr. Regina Maria Gregório, Prof. Dr Vanderci de Andrade Aguilera, Prof. Dr Luiz Carlos Migliozzi que partilharam seu saber, proporcionando-me novos horizontes de oportunidades para descobertas e crescimento pessoal contínuo.

9 SÍMBOLOS E ABREVIATURAS Adv. = advérbio Benef.= benefactivo Conj.= conjunção Dat. = dativo Fem.= feminino Fut.= futuro Ind. a.= indicador de aspecto ind. circ.= indicador de circunstância Ind. exp. indicador de existência Ind. m. = indicador de modo Ind. o.= indicador de opinião Ind. p.= indicador de pergunta Ind. suj. top. = indicador de sujeito tópico Ind. suj.= indicador de sujeito Ind. top.= indicador de tópico M. suj.= marcador de sujeito Masc.= masculino. Neg.= negação p. =pessoa p.poss.= pronome possessivo. p. rel.= pronome relativo. p.p.= pronome pessoal. p.poss.= pronome possessivo Pl.= plural Posp.= posposição. Prep.= preposição Pron. dem.= pronome demonstrativo Pron. ind.= pronome indefinido Pron. int.= pronome interrogativo Pron. ref.= pronome reflexivo

10 Sg.= singular Suj. ag.= sujeito agente v.= verbo?= na glosa, indica dúvida. 1= primeira 2=segunda 3= terceira

11 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO CONSIDERAÇÕES SOBRE A LÍNGUA E LINGUAGEM CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ESTUDOS NAS LÍNGUAS ÍNDIGENAS ESTUDOS SOBRE A LÍNGUA KAINGANG TRABALHO DE CAMPO E METODOLOGIA CONSIDERAÇÕES SOBRE A LÍNGUA NO MOMENTO DE SUA DESCRIÇÃO E CONCEITOS SOBRE OS TIPOS DE PRONOMES PRONOMES EM KAINGANG PRONOMES PESSOAIS PRONOMES POSSESSIVOS PRONOMES INTERROGATIVOS PRONOMES INDEFINIDOS PRONOMES DEMONSTRATIVOS PRONOMES REFLEXIVOS Pronomes Recíprocos PRONOMES RELATIVOS PRONOMES ANALISADOS EM UM TEXTO...99 CONCLUSÃO REFERÊNCIAS ANEXOS ANEXO A Mapa da Distribuição das Línguas do Tronco Macro-Jê (Brasil)...117

12 10 1 INTRODUÇÃO Das 180 línguas indígenas faladas no Brasil, muitas delas têm sido estudadas graças a projetos de Educação que estão privilegiando este aspecto cultural. Contudo, estas pesquisas realizadas não são amplamente estudadas e há grande carência de descrições das mesmas. Rodrigues (1999) em um de seus artigos diz que qualquer língua que seja falada por menos de 100 mil pessoas tem sua sobrevivência ameaçada. Ora, todas as línguas indígenas do Brasil são faladas por menos de 40 mil falantes, e a maior, a língua da tribo Tikuna, não passa de 30 mil falantes. 1 Fica evidente o perigo de extinção e podemos concluir, portanto, que a tarefa de pesquisa, estudo, análise e descrição destas línguas são de grande urgência. Por outro lado, podemos verificar que os estudos já realizados, têm cooperado imensamente com as línguas indígenas, pois contribuíram para a expansão do conhecimento dos mecanismos que regulam as línguas naturais. Há um bom número de material existente em estudos da escrita Kaingang e de sua gramática, porém, faltam estudos didático-pedagógicos que auxiliem os professores a ministrarem aulas desta língua. Nas visitas à Terra Indígena no Apucaraninha, foram realizadas algumas aulas pelo professor Ludoviko, com o objetivo de ajudá-los pedagogicamente. Verificou-se então a carência de um material que os auxilie em seu trabalho como professores. É de suma importância a pesquisa desta língua e, principalmente, a elaboração de um material pedagógico que atenda as necessidades das escolas indígenas. Em suas escolas, os kaingang, a partir da 3ª série, têm aulas tanto em português, como em kaingang. Sabemos que esta oportunidade de se tornarem bilíngües amplia a sua riqueza cultural e suas perspectivas sociais. No entanto, a chance de sucesso das escolas kaingang será maior se tiverem um material pedagógico adequado, em sua língua nativa. Ao longo da trajetória de graduação, pesquisas sobre a língua Kaingang constituíram-se foco central dos meus interesses e sempre tive desejo de aprofundar um pouco mais o que já vinha estudando há algum tempo. Inicialmente, 1 Sugestão para conhecer as etnias indígenas brasileiras e seus nomes: o livro Povos Indígenas no Brasil 2001/ 2005 do Instituto Sócio Ambiental.

13 11 a pesquisa visava à variação dos verbos e suas formas longas e curtas. Este estudo resultou no trabalho apresentado no 12º Simpósio Internacional de Iniciação Científica da USP (2004), intitulado A Variação dos Verbos na Língua Kaingang, juntamente com duas graduandas e o professor Ludoviko dos Santos. Num segundo momento, a pesquisa voltou-se para a variação na estrutura frasal e o uso de pronomes resultando no trabalho Pronomes em Kaingang, no XVIII Seminário do CELLIP (2005), em Guarapuava. Em 2007, como parte do programa de mestrado, foi estudado e apresentado o trabalho sobre a possibilidade do {ag} ser um morfema de plural nos pronomes. O título do trabalho era Podemos considerar o morfema {ag} como morfema flexional de plural em kaingang?. No mesmo ano, foi apresentado no VI SEPECH o trabalho intitulado Os Pronomes e Sua Função Dêitica. No ano de 2008, o trabalho Apontamento sobre o Sistema Pronominal em Kaingang foi apresentado no VII SEPECH, e apenas uma pequena parte das análises dos dados desta dissertação compôs o corpus daquele trabalho. Já no início dos estudos sobre os pronomes, verificou-se que ocorriam algumas variações na estrutura frasal. A partir disso, surgiu a questão norteadora para a escolha do tema da presente dissertação: a variação na estrutura frasal do kaingang quando se utiliza sujeito pronominal. Há certas mudanças que parecem ser por causa do uso dos pronomes. Entretanto, algumas vezes, verificouse a mesma estrutura tanto com sujeito nominal como com o sujeito pronominal. Com o desenvolvimento dos estudos e das análises o tema foi ampliado. Todo o sistema pronominal passou a ser parte dos estudos e das análises e buscou-se elaborar uma breve descrição dos pronomes existentes nesta língua. Foi preciso levantar várias hipóteses e analisar vários dados, a fim de verificar o que realmente acontece para haver a variação estrutural nesta língua. O objetivo desta dissertação é descrever os pronomes na língua Kaingang e as modificações que ocorrem na estrutura padrão desta língua - S O V. Pretende-se também obter conhecimentos para o projeto de elaboração da gramática pedagógica da língua Kaingang, coordenado pelo professor Ludoviko C. dos Santos, o qual consistirá na descrição das classes de palavras e das orações simples do kaingang. A estrutura deste trabalho foge ao estilo dos trabalhos tradicionais acerca de línguas indígenas, nos quais se observa, em geral, uma descrição

14 12 sistemática da fonologia, morfologia e sintaxe da língua estudada. O viés pretendido é a descrição dos pronomes e a sua posição na estrutura frasal desta língua, procurando verificar certas hipóteses que foram emergindo a partir das análises dos dados coletados. Na Introdução, discorremos acerca da grande necessidade de estudos sobre as línguas indígenas e o que já realizamos nas pesquisas sobre a língua kaingang durante a participação no Projeto de Pesquisa voltado para a elaboração de uma gramática pedagógica nesta língua. Foram apontados o objetivo, justificativa e a questão norteadora deste trabalho. Tratou-se também das definições de língua e linguagem e também comentários sobre línguas indígenas e os estudos já realizados nesta área e as dificuldades encontradas. Esta língua tem sido analisada e pesquisada desde o século XIX, mas ainda faltam estudos que sistematizem esse conhecimento de forma didática. As bases em que se apóiam este estudo, o referencial teórico das análises dos pronomes, a visão da língua e seu funcionamento serão discutidos no momento da descrição. Tratar-se-á ainda, através de uma abordagem descritiva funcionalista, as várias formas possíveis de um enunciado nos quais são usados pronomes. Serão abordados os conceitos de pronomes e sua função em uma oração, e também alguns exemplos de como algumas línguas usam esta classe gramatical. Os dados coletados mostraram como são usados os pronomes nesta língua e por meio das análises, possíveis hipóteses serão apontadas. Serão descritos os pronomes pessoais, possessivos, interrogativos, indefinidos, demonstrativos, reflexivos e relativos. Na conclusão, faremos o resumo das possíveis hipóteses levantadas neste trabalho. E as referências trarão as obras citadas e todas as que serviram de apoio para que fosse possível a realização deste estudo.

15 13 2 CONSIDERAÇÕES SOBRE LÍNGUA E LINGUAGEM A linguagem é uma faculdade muito antiga da espécie humana. Dizem alguns estudiosos que talvez seja até mais antiga que a descoberta de muitas das criações humanas: ferramentas, vestuário, armas... Se não fosse a linguagem, o ser humano não poderia, nem mesmo mentalmente, formular quaisquer pensamentos ou explicitá-los. Não se sabe de nenhuma sociedade humana que tenha existido sem a capacidade de comunicação. Não é difícil encontrarmos palavras que definem os termos língua e linguagem. Em algumas línguas temos uma mesma palavra usada para definir ambos os termos. Por exemplo, em inglês, temos somente a palavra language que significa tanto língua como linguagem. Em francês, a palavra langage é usada como linguagem em geral, e a palavra langue é usada para as diversas línguas que existem. Em português, nós temos uma diferenciação entre estas palavras, usamos a palavra língua para nos referirmos ao idioma e linguagem para definir o meio de comunicação. Alguns estudiosos deixaram suas definições de linguagem e de língua e serão mencionadas algumas delas, obtidas no livro de John Lyons (1987) Linguagem e Lingüística Uma Introdução. Conforme Sapir (apud LYONS, 1987, p. 3) A linguagem é um método puramente humano e não instintivo de se comunicarem idéias, emoções, e desejos por meio de símbolos voluntariamente produzidos. Bloch e Tager (apud LYONS, 1987, p. 3), em seu livro Outline of linguistics Analysis (1942, p. 5) postulam que: Uma língua é um sistema de símbolos vocais arbitrários por meio dos quais um grupo social co-opera. Diferentemente da definição de Sapir, eles (Bloch e Tager) somente fazem menção da função comunicativa da linguagem, a língua falada. Esta pode ser uma visão muito limitada da linguagem, pois sabemos que é possível comunicar, sem usar a fala. Nós podemos usar gestos, posturas, olhares e comunicarmos muito bem o que desejamos. Em seu livro Essay on Language, Hall (apud LYONS, 1987, p. 4) nos diz que Linguagen é a instituição, pela qual os humanos se comunicam e interagem

16 14 uns com os outros por meio de símbolos arbitrários orais- auditivos habitualmente utilizados. Tanto Hall como Sapir tratam a linguagem como uma instituição humana e a visão da língua como instrumento de uma sociedade. Os termos habitualmente e voluntariamente remetem à época em que a linguagem era vista como resposta a um estímulo, baseadas nas teorias behavioristas. Hoje, porém, a linguagem não é vista dessa forma. Não produzimos um enunciado, simplesmente, por uma questão de hábito. Não se pode prever a conexão entre uma palavra usada e uma situação. Podemos usar a mesma palavra em inúmeras situações, sem que haja nenhuma relação entre elas. Robins (apud LYONS, 1987, p. 5) nos oferece a definição de que As línguas são sistemas de símbolos [...] quase totalmente baseados em convenções puras ou arbitrárias. Com estes termos convenções puras ou arbitrárias, percebemos a flexibilidade e a adaptabilidade da linguagem. Um sistema de hábitos pode ser alterado com o tempo, pois seus usuários tendem a mudar este sistema de acordo com suas necessidades. Um dos alvos da lingüística é o de investigar se há limites para a realização de modificações e, se houver, quais seriam. Outra definição de língua e linguagem é a de Chomsky (apud LYONS, 1987, p.5), que diz Uma linguagem é um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elementos. De acordo com Chomsky, toda língua natural, seja na forma falada, seja na forma escrita, possui um número finito de sons e um número finito de letras, embora possa haver um infinito número de sentenças. Cada uma delas será representada por este número finito de letras. A definição de Chomsky se diferencia das demais, pois não trata a linguagem como uma função comunicativa. Ele chama a atenção da linguagem apenas como estudo dos sistemas estruturais da mesma. A sua maior contribuição para a lingüística foi a de demonstrar a dependência estrutural entre os processos pelos quais se constroem as sentenças nas línguas naturais e, ter formulado uma teoria de que tais propriedades podem ser estudadas precisamente. Para Câmara Júnior (1979) [...] a língua... é, antes de tudo, no seu esquema, uma representação do universo cultural em que o homem se acha, e, como representa este universo, as suas menifestações criam a comunicação entre os homens que vivem num mesmo ambiente cultural. [...] língua oral é que é ponto

17 15 inicial, a verdadeira essência da linguagem, e a língua escrita é uma modalidade que a civilização desenvolveu para estabelecer uma comunicação visual. A maioria dos lingüistas define língua como um sistema de signos projetados para a realização da comunicação (Fala). A língua é independente da fala e a fala é muito anterior à escrita. Esta é a posição de muitos lingüistas. Deve-se fazer uma diferença entre os signos lingüísticos (a língua como sistema) e onde e quando tais signos se realizam (a linguagem). Para melhor entendimento do estudo da linguagem, temos desde Sausurre (1915) a dicotomia entre língua e fala: langue e parole. O que ele chamou de langue foi todo o sistema lingüístico, algo virtual, pois não apresenta uma estrutura física e que governa os eventos da fala. Ele definiu parole como sendo o discurso, ou seja, os eventos da fala. Para ele, a língua é um sistema de valores depositado como produto social na mente de cada falante de determinada língua. Já a fala é um ato individual e está sujeito a fatores externos, logo, não passível de análise. Segundo Saussure (apud LYONS, 1987, p. 8), é impossível conceber a linguagem (fala-parole) sem a língua (langue), pois a linguagem tem seu lado individual e seu lado social. A língua é algo dinâmico, que está em constante evolução, através de seus falantes. Quando um linguista se propõe a descrever determinada língua, ele precisa considerar tanto a língua escrita como a falada, como se fossem mais ou menos isomórficas, isto é, que teriam a mesma estrutura interna. Não poderiam ser absolutamente isomórficas pelo fato de que seria impossível representar todas as distinções da fala. Todas as línguas, já estudadas ou não, possuem um sistema de comunicação complexo e desenvolvido. É o que se percebe quando se estuda uma língua indígena. [...] Cada nova língua que se investiga traz novas contribuições à lingüística; cada nova língua é outra manifestação de como se realiza a linguagem humana [...]. (RODRIGUES, 1986, p. 5).

18 16 3 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ESTUDOS DAS LÍNGUAS INDÍGENAS Os índios brasileiros não são um povo são muitos povos (RODRIGUES, 1986, p. 17). Cada um deles tem seus costumes, suas crenças, sua organização social, que são resultado de experiências vividas por muitos anos. As línguas indígenas são reflexos e parte integral de sua identidade. Embora diferentes, pouco conhecidas e difundidas, possuem o que qualquer língua do mundo tem: manifestações da capacidade de se comunicar pela linguagem. O interesse pelas línguas indígenas teve início no século XVIII, marcado pelo Iluminismo Europeu. Seus adeptos queriam descobrir todo conhecimento das atividades do saber humano e desejavam ampliar todos os temas e domínios da natureza humana. Dessa forma, as línguas de outros povos passaram a ser, também, objeto de pesquisa. Porém, tais pesquisas eram meramente normativas, onde se buscava falar e escrever bem. Atualmente no Brasil temos, em média, 180 línguas indígenas. O número não é preciso, pois não foi possível incluir as que ainda não estão no recenseamento oficial brasileiro de informações lingüísticas, nem informações acerca de povos indígenas. Provavelmente, na chegada dos europeus, o número de línguas indígenas era mais do que o dobro do que temos hoje. A extinção de muitas destas línguas se deve ao extermínio dos povos indígenas, pela morte de seus falantes por epidemias e doenças contagiosas, etc. Podemos verificar que, onde houve mais colonização é justamente o local em que mais línguas indígenas desapareceram: Regiões Nordestes, Sul, Sudeste. Algumas das línguas desaparecidas foram registradas de forma mais ou menos ampla e outras tiveram apenas pequenos registros. Porém, a grande maioria desapareceu sem que nenhum estudo fosse feito sobre ela. No início dos estudos das línguas indígenas, havia somente o interesse por vocábulos e não havia uma sistematização gramatical. O objetivo de se ter esta lista de vocábulos era, principalmente, um estudo etnológico. Era por meio de certos conjuntos semânticos que se chegava à cultura de um povo. Quando em uma pesquisa não havia certos vocábulos, que eram correspondentes à língua do pesquisador, eram coletados locuções ou grupos frasais.

19 17 Ainda no século XIX, encontramos outra forma de análise das línguas indígenas, e que podemos chamar de classificação tipológica (criada pelo linguista August Schleicher), indicando que, as línguas se classificariam em: línguas isolantes, aglutinantes e flexionais, conforme o tipo preferencial de vocábulo. Para Câmara Júnior, esta classificação contém pontos fracos, vagos insatisfatórios e até incorretos, pois Schleicher considerou a classificação baseada somente nos estudos históricos (CÂMARA JÚNIOR, 1979, p. 141). Destas atividades tivemos em línguas indígenas, o Mitriades, de Aldeung, e o Catálogo de línguas, do jesuíta Hervás. Mas a classificação era apenas no léxico, sem nenhum estudo na gramática, ou nos sons e nos tipos frasais. Segundo Câmara Júnior (1979), um dos problemas no estudo destas listas de vocábulos era que Os pesquisadores nunca se propunham a uma análise mórfica rigorosa e sistemática, capaz de fornecer as formas mínimas da língua, que são os elementos fundamentais para o conhecimento de sua estrutura. Por meio dos morfemas de uma língua é que se tem a noção do quadro gramatical e, é por meio dos lexemas que se pode fazer uma comparação de língua para língua e, desta forma, classificá-la e interpretá-la. Além do mais, no estudo dos morfemas e semantemas, podemos verificar como os vocábulos se reúnem e somente a partir deste ponto, analisar conjuntos formais de uma língua a outra. Durante algum tempo, a falta de análise mórfica prejudicou os estudos das línguas indígenas, pois como muitas delas incorporavam afixos e as separações dos vocábulos não eram coerentemente conduzidas, apenas separadas por hífens, a visão de um núcleo vocabular era mascarada por este método. Os estudos nas línguas indígenas, no passado, muitas vezes confundiam-se com estudos históricos. Como os estudos etnológicos se serviam dos estudos lingüísticos, a necessidade de se depreender relações entre línguas indígenas impedia um estudo minucioso e um exame descritivo com precisão e segurança nas conclusões comparativas. Depois vieram os pesquisadores que se dedicaram às análises com transcrições fonéticas: Von den Steinen, Koch- Grünberg, Ehrenreich, Nimuendaju, [...] Porém, nesta época, não havia como captar os sons linguisticos com exatidão e, a preocupação em registrar o som que se ouvia era muito grande, resultando em muitas variantes posicionais, sons autônomos dentro de uma língua, prejudicando assim, um verdadeiro sistema de fonemas.

20 18 Com o passar do tempo, a orientação na pesquisa das línguas indígenas foi mudando e, dentre os estudiosos, podemos ressaltar Rosário Mansur Guérios, um professor de português, interessado na lingüística geral e que estudou as línguas indígenas do Paraná e Santa Catarina. Dele temos um ensaio de dicionário das divisões lingüísticas e tribais dos índios brasileiros ( ). Da mesma forma, cabe mencionar os estudos do lingüista Aryon Dall Igna Rodrigues, que conduziu de forma diferente os estudos do Tupi - Guarani, com idéias novas sobre estas línguas (1958). Como parte no avanço dos estudos, surge o Formulário dos Vocábulos Padrões para Estudos Comparativos Preliminares das Línguas Indígenas (do SIL - Summer Institute of Linguistics), que uniformiza a transcrição fonética, propondo três sistemas: o da Sociedade Fonética Internacional, o do norte americano Kenneth Pie e o de Câmara Júnior (1957). Com isto, as pesquisas são conduzidas de uma forma mais organizada, buscando itens em frases pequenas, onde se percebe melhor a estrutura sintática, melhor percepção de fatos gramaticais, como tempo e modo verbais, técnica de funcionamento de pronomes etc. Nos anos 60, temos a lingüística estruturalista de Joaquim Mattoso Câmara Júnior. Nesta época é criado o Setor de Lingüística do Departamento de Antropologia do Museu Nacional da UFRJ. Foi um dos primeiros programas de lingüística, na modernidade, voltado para o estudo das línguas indígenas brasileiras. O programa teve entre as figuras principais os lingüistas do SIL (Summer Institute of Linguistics), que objetivaram a descrição das línguas, a confecção de dicionários e a classificação genética das línguas. As línguas indígenas brasileiras são classificadas em um tronco lingüístico, do ponto de vista da classificação genética. Nesta classificação genética, podem-se reunir as línguas que tenham origem numa outra língua mais antiga. As línguas são agrupadas em famílias, classificadas como pertencentes ao tronco Tupi, Macro-jê e Aruak. Algumas línguas indígenas, entretanto, não puderam ser identificadas como relacionadas a nenhum destes troncos, que são as línguas: Karib, Pano, Maku, Yanoama, Mura, Tukano, Katukina, Txapakura, Nambikwara e Guaikuru. Ainda há outras que não puderam ser classificadas pelos lingüistas dentro de nenhuma família, permanecendo não-classificadas ou isoladas, como a língua falada pelos Tükúna, a língua dos Trumái, a dos Irântxe etc. O tronco Tupi

21 19 compreende dez famílias, e o Macro-Jê abrange doze famílias, dentre elas a família jê, a qual pertence a língua kaingang. Os estudos tipológicos, propriamente ditos, começaram nos anos 80. Estas pesquisas entraram na UnB através de Aryon Rodrigues, o mesmo acontecendo na UNICAMP, UFPE, UFSC, UFPA. Inicia-se um grande desenvolvimento em diversas universidades. Surgem as teorias gerativas. É lançado, em 1987, o Programa de Pesquisa Científica sobre as Línguas Indígenas. Na década de 90, temos a reformulação do setor de Lingüística do Museu Nacional. Ocorre um avanço nos estudos tipológicos, retomados por trabalhos gerativistas, embora a prática metodológica permaneça. Os trabalhos, de um modo geral, são parciais e raramente surge uma gramática completa. Infelizmente, ainda não temos nenhum banco de dados que centralize as informações sobre projetos, pesquisas e textos. O estudo em línguas indígenas anda a passos lentos no Brasil. Quase todas as línguas indígenas faladas no Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil desapareceram. A tarefa dos lingüistas de documentar, analisar, comparar e tentar reconstruir a trajetória destas línguas é de suma importância nos dias atuais.

22 20 4 ESTUDOS SOBRE A LÍNGUA KAINGANG Como foi dito anteriormente, a língua kaingang pertence ao tronco lingüístico Macro-Jê. As evidências que se tem para o reconhecimento deste tronco são menos claras das que se tem para o tronco lingüístico Tupi. A constituição deste tronco é ainda hipotética. Algumas das línguas que compõe este tronco ainda são faladas, como Maxacali, Boróro, Karajá, Guató, Ofayé, as quais têm sido estudadas. Outras deixaram de ser faladas e só se tem documentos do passado, os quais são muitas vezes precários. As línguas do tronco Macro-Jê, conforme Rodrigues (1986) dividemse em doze famílias e somam trinta e cinco línguas faladas. São elas: Jê, Kamakã, Maxacali, Krenák, Purí, Karirí, Yatê, Karajá, Ofayé, Bororó, Guató e Rikbaktsá. Estas línguas se espalham no território brasileiro no sul do Pará, Maranhão, estado de Goiás, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O maior constituinte do tronco Macro-Jê é a família lingüística Jê. Esta família se subdivide nas seguintes línguas: Timbira, Canela Ramkokamekrã, Canela Appaniekrã, Gavião, Piokobjé, Gavião Parakatejé, Krinkati, Krahô, Krenjê, Apinajé, Kayapó, A ukré, Gorotire, Kararaô, Kikre-tum, Kokraimoro, Kubenkrankén, Mekrangnoti, Metuktíre, Xicrin, Panará, Suyá, Tapayúna, Xavante, Kaingang, Xokléng. No anexo 1 consta o mapa do tronco Macro-Jê. A língua kaingang é uma das línguas com maior número de falantes entre as línguas indígenas do Brasil. O povo kaingang está espalhado em muitas regiões ao longo dos três estados do sul do Brasil e no interior de São Paulo, totalizando mais de 29 mil falantes. Só no estado do Paraná são mais de sete mil falantes. Como estão bem espalhados, desenvolveram vários dialetos, que diferem apenas na pronúncia e em algumas palavras do léxico. No Paraná são reconhecidos apenas dois dialetos: um nas regiões ao norte do Rio Iguaçu (Rio das Cobras, Marrecas, Ivaí, Faxinal, Queimadas, Mococa, Apucaraninha, Barão de Antonina e São Jerônimo da Serra) e outro nas regiões abaixo do Iguaçu (Mangueirinha e Palmas). Desde os primeiros contatos, os kaingangs foram alvo das ações catequéticas da Igreja Católica. Os estudos da língua Kaingang tiveram seu início pouco antes do século XIX. O primeiro lingüista a publicar um estudo do dialeto

23 21 Kaingang foi Mansur Guérios, num trabalho acerca do dialeto de Palmas (PR), na década de Já o primeiro estudo amplo da língua, da fonologia à sintaxe, se deve à lingüista Ursula Wiesemann. O dialeto do kaingang no Paraná é bem distinto em relação aos Xokleng de Santa Catarina. Também difere dos kaingang da Serra do Chagu e de outros lugares, porém não são diferenças fundamentais. A maior diferença está na pronúncia. 2 Há muitos anos, estudiosos vêm pesquisando a língua kaingang, porém, muitos desses trabalhos são apenas listas de vocabulário. Abaixo traremos uma lista de alguns: 1) Vocabulário da Língua Bugre - esboço de um vocabulário. São 15 páginas com mais de 650 entradas que não se resumem a intens lexicais, mas, uso dos termos, seguido da tradução em português. O autor foi provavelmente um missionário, devido aos termos religiosos muito freqüentes. 2) Hensel: 33 itens lexicais feitos com base no alemão. 3) Taunay: 600 itens lexicais e mais de 60 frases reunidas como parte de sua monografia Os índios Caingangues Coroados de Guarapuava. 4) Juan Bautista Ambrosetti Los Índios Kaingangues de San Pedro (Misiones). São 853 itens lexicais, sendo 252 verbos e 71 frases. 5) Edmundo Barros: 100 itens lexicais. 6) Juan Bautista Ambrosetti: Materiales para El Estúdio de Las Lenguas Kaingangue (Alto Paraná). São 600 itens lexicais, com dezenas de pequenas orações. 7) Noções sobre os Indígenas da Província do Paraná. São 90 palavras e 16 frases, com a especificação de pronúncias. 8) 1902 Adam- Le Parler des Caingangues. Reúne e analisa diversos vocábulos já conhecidos. São 140 itens lexicais. 2 Os índios Xokleng dizem entender o kaingang, mas não falam esta língua (fonte: Instituto Sócio Ambiental povo xokleng).

24 22 9) 1903 Dulley: Uma lista vocabular com 201 itens lexicais, orações simples. Há algum agrupamento temático e classe de palavras. 10) Morsch: Um vocabulário com 47 termos em kaingang. 11) 1909 Chevalier. Vocabulário dos Índios Bugres de Nonoai. São 240 palavras organizadas por assuntos e classes de palavras. 12) Frei Mansueto Barcatta de Val Floriana: Ensaio de Grammatica Kainjgang. Um trabalho sobre fonologia, morfologia e sintaxe da língua kaingang. 13) Frei Mansueto Barcatta de Val Floriana: Diccionarios Kainjgang- Portuguez e Portuguez- Kainjgang. São entradas e mais de em português, ou seja, mais de verbetes. 14) 1936 Oliveria: O Vocabulário dos Índios de Coroados. São 73 termos. 15) Mansur Guérios. Realizou estudos sobre a língua kaingang, notas históricas comparativas (dialeto de PAlmase Dialeto de Tibagi, Paraná). 16) 1945 Mansur Guérios: O Xókrén é idioma Caingangue. Trabalho em que demonstra a relação lingüística entre estas línguas. 17) 1947 Wanda Hanke: Vocabulário del Dialecto Caingangue de la Serra Chagu, Paraná. São 180 itens lexicais e uma dúzia de frases. 18) Wanda Hanke: Ensayo de Uma Gramática de Idioma Caingangue de los Caingangues de La Serra de Apucarana, Paraná, Brasil. 19) 1933 Nimuendajú: Coletânea dos kaingang de São Paulo com 65 itens lexicais apresentados em dois vocabulários comparativos: 54 com a língua Xokleng e onze com a língua Caiapó do Araguaia. 20) Wiesemann: Notas sobre o proto-kaingang: em estudo de quatro dialetos. É o estudo público sobre a língua kaingang em uma reunião da ABA. 21) Wiesemann: ela estabelece uma sugestão de ortografia e inicia a produção de cartilhas para a alfabetização nesta língua. 22) Ursula Wiesemann: Dicionário Kaingang- Português, Português- Kaingang (SIL). São mil verbetes na parte kaingang, representado especialmente, pelo dialeto do Paraná.

25 23 23) Ursula Wiesemann: Os Dialetos da Língua Kaingang e o Xokleng. eles pode-se destacar: Há alguns estudos mais recentes na área de morfossintaxe, entre 1) CAVALCANTE, Marita Pôrto: Fonologia e Morfologia da Língua Kaingang: o Dialeto de São Paulo Comparado com o do Paraná. É uma tese de Doutorado em Lingüística da Unicamp. Orientador: Dr. Aryon Dall Igna Rodrigues. 2) 1995 NASCIMENTO, Silvia Helena Lovato: Aspectos Morfológicos e Sintáticos e Marcação de Caso da Língua Kaingang. Tese de Mestrado da UFSC (Lingüística). Orientador: Prof. Dr. Carlos Mioto 3) SILVA, Célia Ribeiro: História Crítica da construção da escrita do Kaingang. Tese de Mestrado - UEL. Orientadora: Prof. Dr. Vanderci Andrade Aguilera. 4) TABOSA, Luciana Pereira: Construções Causativas na Língua Kaingang. Orientador: Prof. Dr. Ludoviko C. dos Santos. 5) 2008 ALMEIDA, Leriana A marcação de (tempo), modo e aspecto na língua kaingang: uma proposta de análise. Orientador: Prof. Dr. Ludoviko C. dos Santos. Podemos verificar que, nas universidades, estudos sobre o kaingang, surgem apenas a partir de Entretanto, a grande maioria deles mantém-se na área da fonologia. Em todos os trabalhos efetuados a favor da língua kaingang, seja qual for a entidade, podemos verificar que ainda há grande carência de ferramentas para as escolas indígenas e seus professores bilíngües.

26 24 5 TRABALHO DE CAMPO E METODOLOGIA Qualquer língua em si, não precisa de um lingüista para existir. Língua e linguagem preexistem a qualquer estudo ou análise a seu respeito. Ora, ainda temos muitas línguas ágrafas em nosso planeta. O trabalho de um lingüista é descrever uma língua e a sua realidade. Contudo, a língua em si não é algo observável, mas sim as suas produções lingüísticas. É no cérebro de um falante que a língua toma forma por meio de suas enunciações, de suas produções. Para analisar linguisticamente expressões, frases, textos, muitas vezes o lingüista precisa ser sociólogo, pois a língua é um produto social. Nesta descrição da língua, é necessário seguir alguns princípios e um deles é observar o seu objeto de estudo, a língua. Para isto, é necessário coletar dados que sejam pertinentes à pesquisa que está sendo feita. A maneira de coletá-los também é importante, a fim de que a descrição seja feita de maneira adequada, baseada em dados empíricos. Para realizar este trabalho, foram coletadas várias sentenças com uso de pronomes, que serviriam como base para todas as demais existentes nesta língua. Segundo Câmara Júnior, existe, em cada língua, o que podemos chamar de frases nucleares e a partir delas, se criam outras que seriam as ampliações ou combinações destes núcleos frasais. A escolha do corpus foi feita devido à necessidade de se analisar a posição dos pronomes em frases nas quais eles fossem usados na função de sujeito e de objeto. Para ser representativo, foi necessário ter certa quantidade de frases, dentro e fora de um texto, para que fosse possível verificar a coincidência de certas posições dos pronomes nas frases em kaingang. Segundo Rodrigues, em seu artigo Sobre as Línguas Indígenas e Sua Pesquisa no Brasil, para se ter uma boa pesquisa é necessário alguns anos de coleta para uma descrição. [...] Em condições boas de pesquisa, quatro ou mais anos para produzir uma boa descrição gramatical e um dicionário com registro amplo do vocabulário que cubra todos os domínios semânticos relevantes da cultura nativa. (2005, p. 36).

27 25 Nossos informantes eram professores bilíngües. Pelo fato deles nos darem frases à sua escolha, algumas vezes surgiam dificuldades, pois, nas análises dos dados havia sentenças que mostravam a sua espontaneidade. Com isso, o risco de se ter erros era significativamente maior. Mesmo assim, os dados coletados foram, de certa forma, controlados, pois foram produzidos por falantes competentes. Mesmo sendo espontâneos, eram direcionados para o objetivo da pesquisa. Todos estes dados foram obtidos desde os anos da graduação, enquanto participante do projeto de pesquisa. A partir do momento em que se decidiu que o foco da pesquisa repousaria sobre a descrição de toda a classe pronominal, as coletas passaram a ter um objetivo mais assertivo e direcionado aos pronomes, em geral, da língua kaingang. Sabemos que todo estudo realizado em uma língua indígena encontra mais dificuldades do que o estudo de uma língua que já tenha disciplina gramatical. Na pesquisa de uma língua indígena, temos um campo totalmente estranho e, mesmo com auxílio de informantes, pisa-se em terreno totalmente novo e cheio de surpresas. Mas isto não significa que seja uma língua ininteligível ou mal organizada.

28 26 6 CONSIDERAÇÕES SOBRE O FUNCIONAMENTO DA LÍNGUA NO MOMENTO DE SUA DESCRIÇÃO E CONCEITOS SOBRE OS TIPOS DE PRONOMES A linha teórica na elaboração deste trabalho apóia-se nos preceitos da lingüística descritiva e do funcionalismo. Seguindo a linha da lingüística givoniana, neste trabalho serão descritas as produções lingüísticas atestadas entre os falantes do kaingang. Dessa forma, sem buscar determinar regras ou padrões, documenta-se a língua e seu funcionamento no momento da descrição. Observa-se os princípios e características que regulam as estruturas lingüísticas analisadas, neste caso, o kaingang. Segundo Givón A comunicação humana é multiproposicional, na qual o discurso imediato e o tema do contexto geral controlam a maior parte das escolhas dos mecanismos gramaticais. (GIVÓN, 1984, p. 10). Em outras palavras, o estudo lingüístico envolve o falante e o ouvinte, o contexto no qual estão inseridos e as escolhas que ambos fazem para produzir seus enunciados. O estudo da sentença é o primeiro passo para identificar o inventário dos códigos lingüísticos que constroem a estrutura morfossintática de uma língua. O objetivo lingüístico, a partir desta visão é elucidar como os mecanismos são usados na comunicação. Portanto, a primeira etapa do trabalho é descrever as orações e a segunda etapa, o estudo de um texto. Ainda conforme este autor, com a análise descritiva de sentenças, pode-se perceber quais estruturas são possíveis na língua estudada, mas não se pode saber nada sobre o contexto no qual ela foi usada. Também não há como saber com que freqüência outras sentenças, com mesmo significado podem ocorrer. Através da coleta de dados, modelos experimentais são formados, hipóteses são levantadas e outras descartadas. Seguindo uma abordagem funcionalista, serão observadas e descritas várias formas possíveis de um enunciado. Cada análise das coletas efetuadas procurará estabelecer os princípios das estruturas escolhidas pelo falante indígena. Segundo Mussalim: A abordagem funcionalista vê a linguagem como um sistema nãoautônomo. Ela nasce a partir de uma necessidade de comunicação entre os membros de uma comunidade, que está sujeito às limitações impostas pela capacidade humana de adquirir e processar o conhecimento e que está continuamente se modificando para

29 27 cumprir novas necessidades comunicativas. (MUSSALIN, 2001, p. 211). Portanto, nas análises dos enunciados em Kaingang serão considerados tanto o falante como o ouvinte, e suas necessidades comunicativas que permearão estes enunciados. Quando um falante nativo fala, ele escolhe, faz opções e são estas variações que serão descritas. Para estabelecer um ponto de partida, algumas frases serão utilizadas como frases padrões (ou gabaritos) para que sejam estabelecidas as variações e, a partir delas, descrever as possíveis variações. Assume-se que há a possibilidade de diversas alternativas para a ordenação dos constituintes em uma sentença. Não haveria uma única ordem possível, mas uma coexistência de vários padrões. Este trabalho, porém, seguirá certa estrutura, para que a partir dela, possamos determinar outras variações possíveis. O que acontece com os elementos constitutivos de uma sentença dependerá de diversas funções comunicativas diferentes. A ordenação dos constituintes de uma frase dependerá do falante e a avaliação que ele faz do seu ouvinte; ele organiza sua fala para provocar uma mudança nesse conjunto de informações, fornecendo algo novo ao seu destinatário. Para abordar os pronomes e a variação na estrutura frasal, deve-se recorrer à concepção de dêixis. Segundo Shopen: Todo enunciado lingüístico se realiza num lugar particular e num tempo particular: ocorre numa certa situação espaço-temporal. (SHOPEN, 1985b, p. 290). Falante e ouvinte são distintos um do outro, contudo, estão numa mesma situação espaço-temporal. O enunciado, portanto, contará com sujeitos do discurso. Lyons (1979) postula que o termo dêixis foi introduzido para indicar traços orientacionais na língua. Os dêiticos determinam o tempo e o lugar de um enunciado. Por exemplo, os chamados pronomes pessoais são categorias dêiticas, pois eles apontam, indicam alguém em um tempo e espaço de um determinado enunciado. A situação de um enunciado é egocêntrica: o falante diz eu e seu ouvinte é o você, mas se seu ouvinte diz eu, o falante torna-se você. O falante estará sempre no centro da enunciação, no centro de um sistema dêitico, para referir-se a si mesmo e aos participantes do enunciado. Os dêiticos também

30 28 funcionam como adjuntos adverbiais de tempo e de lugar, como aqui, acolá, lá, agora, etc. Também de acordo com Stephen e Anderson (apud SHOPEN, 1985a, p. 261) [...] In fact, the choice of language register is usually deictic in our sense. Sabemos que os pronomes podem referir-se tanto a pessoas como a animais, mas isto não é relevante sintaticamente. Além da situação de egocentrismo existente em um enunciado, Lyons (1979) fala que nos pronomes pessoais, a categoria de pessoa também se define com clareza pela noção de papel. Quando o falante se estabelece como a 1ª pessoa, ele mesmo é o objeto do discurso. A 2ª pessoa é usada para referir-se ao seu ouvinte. A 3ª pessoa é usada para se referir às pessoas ou coisas que não sejam o falante e seu ouvinte. Ainda segundo este autor, a 3ª pessoa também é considerada como um membro negativo no enunciado. Negativo, pois não participa do enunciado. Já a 1ª e a 2ª pessoas são membros positivos, pois fazem parte ativa do enunciado. Segundo este mesmo autor, Os pronomes de primeira e segunda pessoa são necessariamente definidos (+ def.), ao passo que os de terceira pessoa podem ser definidos ou indefinidos (± def.). (LYONS, 1979, p. 292). Com relação aos elementos dêiticos, em sua função gramatical, eles podem funcionar como sujeito e como objeto direto ou indireto, incluindo as formas possessivas e os vocativos. Em algumas línguas, os dêiticos podem ser formas independentes, um clítico ou formas pronominais, ou afixos flexionais. Nossa compreensão depende não somente de uma parte do discurso que podemos localizar, mas principalmente em outros níveis que incluem a sintaxe, a fonologia e o vocabulário. Pode-se citar o uso do pronome relativo: Façam de conta de que tudo quanto eu disse é bobagem. O pronome relativo quanto se refere àquilo que o locutor havia dito anteriormente. Ainda segundo Anderson e Keenan, (apud SHOPEN, 1985b, p. 261) considerar a terceira pessoa pronominal como um dêitico é mais complicado, pois pelo fato de não participarem do enunciado, podem apontar para algo indefinido. Por outro lado, os pronomes demonstrativos, em inglês this/these/ that/those, são considerados adjetivos demonstrativos, com ou sem especificação de lugar, como por exemplo: this door or that door over there. Eles são, claramente, elementos dêiticos locativos.

31 29 Os pronomes de terceira pessoa, em inglês: He/ she/ it - they mesmo sendo considerados como elementos dêiticos, são usados, no entanto, como elementos anafóricos, mais do que como elementos dêiticos. Por isso, podem ser caracterizados como weak deictics, segundo Anderson e Keenan (apud SHOPEN, 1985a). Em relação ao número, Lyons (1979) também afirma que a 1ª pessoa do plural não é o plural da 1ª pessoa do singular (eu nós), pois, nós pode indicar eu + outras pessoas que não somente o seu ouvinte. Por isso, há o nós inclusivo (eu + o seu ouvinte) e o nós exclusivo (eu outros, + o(s) ouvinte (s)). A distinção morfêmica entre a primeira pessoa do singular (eu) e a primeira pessoa do plural (nós) é algo presente em todas as línguas. Porém, esta distinção entre nós inclusivo e nós exclusivo, somente algumas a fazem. Como exemplo, podemos citar a Malgaxe 3 (Malagasy-língua malaio-polinésia, falada em Madagascar). Exemplo de nós inclusivo e nós exclusivo H andaha izahay Fut ir nós (excl.) Nós (mas não você) iremos Ny trano - nay A casa nossa (excl.) A nossa casa (mas não de vocês) H- andeha isika Fut ir nós (incl.) Nós (incluindo vocês) iremos Ny trano- tsika A casa nossa (incl.) A nossa casa (inclunido vocês) Um dos exemplos de maior distinção conhecido com os pronomes pessoais na função de sujeito é a língua Fijian 4. 3 Exemplo da língua Malgaxe retirado do livro Language Typology and Syntactic Description, v.3, p Fijian- uma das línguas faladas nas ilhas Fiji.

32 30 Pessoa Número Primeira Segunda Terceira Singular Su Iko Koya Dual Inclusivo Kedaru Kemudrau Rau Exclusivo Keiru Trial Inclusivo Kedatou Kemudou Iratou (Eratou) Exclusivo Keitou Plural Inclusivo Esclusivo Keda Keimani Kemuni Ira (Era) Segundo Anderson e Keenan, muitas formas alternativas existem em outras línguas. Nos exemplos acima citados, podemos verificar que as terminações ru/aru estão relacionadas a duas pessoas e as terminações ou/ tou estão relacionadas a três pessoas. Nesta questão de distinção de número em pronomes pessoais, ainda segundo os autores Anderson e Keenan (apud SHOPEN, 1985b, p. 164) é mais comum falhar na distinção de segunda pessoa do que na primeira. Contudo, no inglês, não há distinção na 2ª pessoa na função de sujeito. A forma you é usada tanto para a forma singular como para a plural. Nos pronomes reflexivos, há distinção, pois a forma singular é yourself, e a do no plural é yourselves. Outro aspecto importante, em relação a número na classe dos pronomes, é que a maioria das línguas tende a fazer distinção em relação ao singular mais do que fazem em relação ao plural. Podemos observar este fato na língua inglesa. Temos He/ she/ it para a terceira pessoa no singular e somente they para a terceira pessoa no plural. Estes pronomes: He/ she/ it e they também se distinguem por traços não dêiticos de gênero: He (ele), she (ela) e it (neutro) que são neutralizados na 3ª pessoa do plural they (plural de He, she e it). Esta distinção também acontece no alemão e no russo. Porém, em outras línguas românicas, como por exemplo, o francês e o português, a distinção no plural é mantida: elles (elas), ils (eles) e eles/ elas. Os pronomes de 3ª pessoa em Kaingang também possuem esta distinção de gênero, tanto no singular: ti (ele), fi (ela) como no plural: ag (eles) e fag (elas).

33 31 Esta característica de distinção dos pronomes de 3ª pessoa ele/ ela, He/ she e it, torna-os diferentes dos pronomes indefinidos, onde temos: somebody/alguém e something/algo. Já na língua turca, a categoria definida é marcada por um sufixo nos pronomes de 1ª, 2ª pessoa no acusativo. No capítulo 7.2, dos pronomes possessivos, trataremos do morfema {ag} como morfema de plural, além de ser o morfema de 3ª pessoa do plural. Para entendermos melhor o {ag} como morfema de plural, vamos discorrer um pouco sobre este assunto. Segundo Gleason Júnior [...] a segunda unidade básica do sistema de expressão é o morfema. [...] Morfema é a unidade do plano da expressão da linguagem que entra em relação com o nível do conteúdo (1978, p. 58). Uma palavra resulta da combinação de morfemas, que podem ser lexicais ou gramaticais. A análise morfológica das línguas demonstra que os processos morfológicos podem ser de vários tipos. Para descobri-los, é necessária uma análise destas partes mínimas que formam uma palavra, os morfemas. Portanto, numa análise morfêmica, descobre-se os morfemas aditivos de uma língua, que são os radicais e os afixos. O radical, que é o morfema lexical, é o elemento mínimo de significado lexical. Os morfemas gramaticais são os que se juntam ao morfema lexical, formando uma nova palavra. Esta formação pode ocorrer pelo processo de flexão ou de derivação. No processo de flexão, que é o processo fechado, concatenado, temos a flexão de número, onde há a distinção entre o singular e o plural. Em português, segundo Câmara Júnior (1997), a marca de plural, em geral, é sempre {-s}. Com a ausência do {-s}, temos o singular. Esta ausência determina um morfema zero. O morfema gramatical zero (ø) é, portanto, a ausência de um morfema em oposição regular a outro. O fato do morfema {ag} ser um morfema de plural é a que nos pronomes onde há sua ausência, ocorra um morfema zero. Para isso, é necessário efetuar uma análise mórfica, um processo de depreensão das formas mínimas, ou seja, os morfemas que constituem um vocábulo. Uma depreensão de formas mínimas resume-se, em atribuir a dado segmento fônico uma parcela de conjuntos significativos que determinada forma lingüística carreia em si. As análises com o morfema {ag} serão feitas posteriormente, no capítulo dos pronomes possessivos. Os dêiticos pessoais também carregam informações concernentes a status social do falante, do ouvinte ou de uma terceira pessoa a quem eles possam se referir. Também podem carregar informações de diferenças sociais, sexo, idade

34 32 do grupo, intimidade entre os falantes etc. Nestes termos também podemos citar os pronomes de tratamento, cujo significado transmite status social, religioso, respeito. Para se reconhecer estas distinções, é necessária uma interpretação semântica própria das frases que contenham estas expressões de honra em referência ao ouvinte. Em muitas línguas, não há distinção entre os pronomes demonstrativos e os pronomes de 3ª pessoa, como no caso do turco, a tradução de he, she, e it seria {o}. No latim clássico e no grego, nem havia um pronome de 3ª pessoa, a referência a um pronome seria a referência a alguma parte do discurso, que não fosse o falante nem o seu ouvinte, e era usado o demonstrativo hic, iste ou ille. Além destes três, havia um is, para apontar a proximidade do falante relativamente ao ouvinte, mas nunca era usado com sujeito gramatical. Segundo Lyons (1979), todos os pronomes de 3ª pessoa das línguas românicas provêm dos pronomes demonstrativos, e o mesmo se dá com os pronomes de 3ª pessoa no inglês e no alemão. Nestas línguas, o artigo definido o/a/ os/as (no português), the (no inglês), le, la, les (no francês), originam-se de um pronome demonstrativo. Esta seria a razão da existência das três pessoas do discurso: quem fala, com quem se fala e de quem se fala. Em todas estas línguas, há a distinção de: o homem/ the man, this man/ este homem, that man/ aquele homem e he/ ele (3ª pessoas que são definidas), que se difere de someone/ alguém (3ª pessoa indefinida). Mas não há distinção em relação à proximidade, como podemos ver na distinção entre the man/ o homem e this man/ este homem (3ª pessoa próxima) e that man/ aquele homem (3ª pessoa distante). Com a classificação de artigos, pronomes pessoais e pronomes demonstrativos esta distinção não fica muito clara. Como já foi dito, para Lyons (1979), os pronomes demonstrativos possuem características dêiticas como os advérbios de lugar. Tanto a pessoa como a proximidade é determinada por um elemento do enunciado, por exemplo, no inglês, this/ este e here/ aqui indicam a relação de proximidade com o falante. Mas, isto é perdido no pronome pessoal de 3ª pessoa, não há neste pronome uma significação em relação à proximidade. O português e o turco estabelecem uma clara relação em um sistema de demonstrativos quando se difere a proximidade com os pronomes este/ esse/ aquele e em turco bu/ su/ o.

35 33 O português e o espanhol distinguem três pronomes demonstrativos, (também podemos chamá-los de pronomes adjetivos ou substantivos). A distinção entre os pronomes está relacionada à distância entre o falante: Este-próximo ao falante; Esse (port.) / ese (esp.) para itens longe do falante; Aquele (port.) / aquel (esp.) para itens bem remotos, mas visíveis tanto do falante quanto do ouvinte. Em kaingang, como veremos mais adiante, temos os seguintes pronomes demonstrativos: fi a, essa lá, tag isto aqui, ẽn- aquilo lá, ti~ -n isso lá, esse lá, fag- essas lá/ o casal lá, ag- esses lá, tag ti= isto aqui, este aqui, tag fi= esta aqui, ẽn ti = aquele lá, en fi= aquela lá, tag ag= estes aqui, tag fag= estas aqui, en ag= aqueles lá, ẽn fag= aquelas lá/ aquele casal lá. Veremos também que para destacar a distância entre o falante e os itens mencionados, geralmente, é usado um advérbio de lugar. Um aspecto interessante que podemos notar nas formas pronominais é que, nos pronomes relativos e interrogativos não há distinção de pessoa como há nos pronomes pessoais. Eles são de certa forma, neutralizados. Em quase todas as línguas, como já dissemos, não há marca de pessoa nos pronomes interrogativos. Se ela existe, como podemos ver no exemplo: Quem chegou?, a resposta poderia ser do próprio autor da pergunta. Em kaingang temos o exemplo do pronome interrogativo quem neutralizado: Ũ ne ã jiji Quem o que você nome Como você chama?/ Qual é o seu nome? Nos pronomes reflexivos, algumas línguas usam formas básicas como, por exemplo, o inglês, russo e o hebreu. Em outras línguas existe uma só forma que serve para todas as pessoas, é o que ocorre com as línguas Hindi, Canada (ou Canarês), Malaio 5. Em kaigang, temos somente duas formas jagnẽ- um ao outro e vēnh - de si mesmo, também usado como pronome recíproco. 5 Canada/ Canarês - uma das línguas dravídicas faladas ao sul da Índia; Hindi- Língua indo-ariana falada ao norte e centro-oeste da Índia; Malaio- Língua oficial da Malásia.

36 34 Em relação ao gênero, a maioria das línguas apresenta o masculino e o feminino e algumas o neutro, o que não acontece com a língua kaingang nem com o português. Segundo Anderson e Keenan (apud SHOPEN, 1985a, p. 268) as distinções de gêneros são provavelmente menos comuns em pronomes de primeira pessoa do que em segunda pessoa. Parece ser verdadeiro que a marca de gênero em primeira pessoa só é possível se o gênero também é marcado na segunda pessoa. Concordamos com esta afirmação, pois é o que ocorre na maioria das línguas. Porém, [...] and second person forms only distinguish gender if third person forms do as well. (apud SHOPEN, 1985a, p. 269). No português, temos marca de gênero em terceira pessoa (ele (s) /ela(s)) e não temos na primeira nem na segunda. O mesmo acontece no kaingang: temos as formas para terceira pessoa: (ti/ fi sg. Ag/ Fag pl.) e somente {inh} para primeira pessoa e {ã} para segunda pessoa. Ainda segundo esses autores, mesmo nos casos em que as formas pronominais não distinguem gêneros entre elas, contudo, estas distinções são claramente atestadas em marcas flexionais de pessoa. Entretanto, tanto o hebreu quanto o francês têm somente um pronome de primeira pessoa, mas uma concordância de gênero direciona a uma única leitura de gênero masculino ou feminino, conforme os exemplos: HEBREU Ani medaber Eu falo (msc. sg) Eu (masc.) falo Ani medaberet Eu falo (fem. sg.) Eu (fem.) falo FRANCÊS Je suis vieux I am old (masc. sg.). I (masc.) am old

37 35 Je suis vieille I am old (fem. sg.) I (fem) am old Neste estudo da língua kaingang, teremos uma pequena limitação quanto à descrição do uso dos pronomes, pois muito pouco tem sido escrito acerca deles, principalmente em um estudo histórico do seu uso.

38 36 7 PRONOMES EM KAINGANG 7.1 PRONOMES PESSOAIS Os pronomes, como já foram citados no referencial teórico, caracterizam-se pela noção gramatical de pessoa. Os pronomes pessoais em português podem ser do caso reto, são as formas usadas como sujeito de um verbo e os do caso oblíquo, que funcionam como objeto direto ou indireto. Eles podem ser um adverbal, isto é, como forma dependente junto a um verbo, sendo um enclítico ou proclítico. Como exemplo, temos: me, nos; te, vos; o, a ou lhe; os as ou lhes. Outras formas oblíquas seriam as partículas que funcionam sob subordinação de uma preposição: com (co) migo, (com) tigo, (co) nosco, (com) vosco, entre outros. Os pronomes em Kaingang funcionam da mesma forma tanto na posição de sujeito como na posição de objeto. Abaixo, temos a classificação dos pronomes pessoais: 1ªp.sg.Inh/ Isỹ 1ª p. p. Ẽg. 2ª p. sg. Ã 2ª p. p. Ãjag. 3ª p. sg Ti (masc.) / Fi (fem.). 3ª p. p. Ãg/Fag. Frase Nominal 1. Gĩr vỹ gãr tu Menino m. suj. milho carregar. O menino carregou milho A estrutura padrão da sentença nominal, em kaingang, é SOV como podemos verificar no dado nº 1. Esta estrutura também ocorre mesmo quando há dois tipos de objetos: direto e indireto, como veremos nos exemplos 3 a 10.

39 37 2. Gãr tu inh Milho carreguei 1p.sg. Eu carreguei milho Ao ser usado o pronome, a estrutura padrão sofre uma variação como podemos perceber nos dados 2 a Gĩr sĩ vỹ inh mỹ gãr tu Menino pequeno m. suj. 1 p.sg. posp milho carregar. O menino carregou milho para mim S OI OD V 1ª Pessoa do Singular Pronome na posição de sujeito 4. Kamó tatĩn inh Bananas carregar 1 p.sg. Eu carreguei bananas Pronome na posição de objeto 5. Vẽnh mỹ inh manỹnỹ vã Pr. Ref. posp 1p.sg. banana carregar (sg.) Eu carreguei bananas para mim. (cacho) OI posp. S OD V Pronome na posição de sujeito 6. Ti mỹ inh manỹnỹ vã 3p.sg. posp 1p.sg. banana carregar Eu carreguei bananas para ele 7. Inh mỹ ti manỹnỹ vã 1p.sg. posp 3p.sg. banana carregar Ele carregou banana para mim.

40 38 8. Rãké tá inh mĩg ten Ontem 1p.sg. onça matar Eu matei a onça ontem. 9. Mĩg tén inh, rake tá Onça matar 1p.sg., ontem. Ontem, eu matei a onça. 2ª Pessoa do Singular Pronome na posição do sujeito 9. Ã mỹ gãr vã 2p.sg. posp milho carregar. Você carregou milho. Pronome na posição do objeto (modelo) 10. Gĩr vỹ ã mỹ gãr vã Menino m. suj. 2p.sg. posp milho carregar. O menino pegou milho para você. Quando o sujeito da sentença é nominal e há objeto direto e indireto, a estrutura permanece SOV, como vemos nos exemplos 3 e 10. Os dois objetos posicionam-se entre o sujeito e o verbo e a posposição entre os objetos e não entre o objeto e o sujeito, como na sentença pronominal. Entretanto, nos dados 8 e 9, percebemos que a estrutura que parecia ser a mais comum quando se tem uma sentença pronominal OVS muda quando nela há um advérbio. O advérbio parece atrair o pronome para junto de si, por isso, a sentença pode ter a estrutura padrão SOV, quando se posiciona o advérbio no início da sentença. O sujeito pronominal acompanha o advérbio. Pronome na posição de sujeito 11. Â mỹ gój mã 2 p.sg. posp água carregou Você carregou água?

41 Gój mã ã Água carregar 2 p.sg. Você carregou água. Pronome na posição de objeto (modelo) 13. Gĩr vỹ ã mỹ gój vã Menino m. suj. 2 p.sg. posp água carregar. O menino carregou água para você 6 (modelo) 14. Jũm vỹ mĩg tén João m. suj. onça matar João matou a onça 3ª Pessoa do Singular Pronome na posição de objeto 15. João matou ela (a matou) (sem resposta) 7 (modelo) 16. Rãké tá Jũm vỹ mĩg fi ten Ontem, João m. suj. onça fem. matar João matou a onça ontem. Pronome na posição de sujeito 17. Kamó tatĩn ti Banana carregar 3 p.sg. Ele carregou banana. Pronome na posição de objeto 6 No dado nº. 13 tivemos que acrescentar que era carregar, no balde. 7 Ao tentar coletar o dado nº. 15, o informante desse dado falou que não se pode usar pronomes pessoais para animais, somente para pessoas. Fato confirmado por mais dois informantes.

42 Fi mÿ ti manỹnyỹ vã 3 p.sg. posp 3 p.sg. banana carregar. Ele carregou bananas para ela. Pronome na posição de sujeito 19. Gãr tu ti. Milho carregar 3 p.sg. Ele carregou milho. Pronome na posição de objeto 20. Ti mỹ ti gãr tỹ 3 p.sg. posp 3 p.sg. milho carregar (no cesto). Ele carregou milho para ele. Pronome na posição de sujeito 21. Mĩg tãnh inh Onça matar 1p.sg. Eu matei a onça. Pronome na posição de objeto 22. Fi tén inh 3 p.sg.matar 1p.sg. Eu matei ela. (= Eu a matei) Räké tá inh fi tén Ontem, 1p.sg. 3p.sg. matei. Eu matei ela ontem. (= Eu a matei, ontem). Pronome na posição de sujeito 24. No téj va inh Espingarda pegar 1 p.sg. Eu peguei a espingarda 8 O informante desde dado, disse que não se usa pronome pessoal para animais.

43 41 Pronome na posição de objeto 25. Fi va inh 3p.sg.pegar 1 p.sg. Eu peguei ela. (= Eu a peguei). Dos dados 2 a 25 foram usados verbos transitivos. Podemos perceber que a estrutura mais comum com o uso dos pronomes é OVS, pois ela ocorre nos dados 2, 4, 9, 12, 17, 19, 21, 22, 24, 25. Porém, quando na sentença há o pronome na posição de sujeito e na posição de objeto, a estrutura padrão Oi S OD V, como vemos nos dados 5, 6, 7, 18, e 20. O objeto indireto posiciona-se no início da sentença, seguido da posposição, como mostram estes exemplos. O objeto direto segue o sujeito da sentença. Inicialmente, um dos informantes havia dito que não era possível o uso de pronomes para animais ou coisas/ objetos, porém, outro informante passou os dados 16, 22, 23 e 25. Quando ele usou o pronome {fi} para a palavra onça, o informante acrescentou que deduziríamos que {fi} era para onça, pelo contexto. Este fato foi confirmado, pois três informantes. Mas, alguns ainda traduziram a sentença para o kaingang, usando o pronome para animal e objetos. É preciso uma verificação posterior se isto ocorreu pelo próprio contexto da coleta de dados, ou se realmente não se usa pronomes para animais e objetos. Pronome na posição de sujeito 26. Paula fi vỹ ẽkrẽnh sór mũ Paula fem. m. suj. querer ind.a. Paula está querendo caçar. 27. Ēkrẽnh sór fi mũ ũri (só se for hoje). Querer caçar 3 p.sg.ind.a. hoje Ela está querendo caçar, hoje. Pronome na posição de objeto 28. Paula fi vỹ tóg fi mré ẽkrénh sór mũ Paula fem. m. suj. suj. a. 3p.sg. posp querer caçar ind. a. Paula está querendo caçar com ela.

44 42 Pronome na posição do sujeito 29. Ēkrẽnh sór fi mũ Querer caçar 3p.sg. ind.a. Ela está querendo caçar. Pronome na posição de objeto 30. Ti mré fi tóg ẽkrénh sór mũ 3 p.sg.posp 3p.sg.suj. ag. querer caçar ind.a. Ela está querendo caçar com ele. Nos dados 26 a 30, temos a locução verbal querer caçar e percebemos que a estrutura SOV, na sentença nominal, permanece. Na sentença pronominal, o objeto indireto parece sempre posicionar-se no inicio da sentença, seguido da posposição e logo após o sujeito da sentença, como vemos no dado 30. Nas sentenças pronominais não vemos o uso das partículas, que geralmente aparecem nas sentenças nominais, marcando o sujeito, o modo, entre outros. Com os exemplos acima, podemos verificar que o sujeito pode posicionar-se tanto no início como no meio ou no final da sentença. Abaixo, seguem alguns exemplos dos pronomes, em kaingang no plural: Posição de sujeito 31. Gãr fãn ẽg Milho colher 1p.pl. Nós colhemos milho. Posição de Objeto 32. Ũn gré vỹ ẽg mỹ gãr tu. Homem m. suj. 1p.pl. posp milho carregar. O homem carregou milho para nós. Posição de sujeito

45 Mĩg tãnh ẽg Onça matar 1p.pl. Nós matamos a onça. Posição de Objeto 34. Ũn gré vỹ ẽg mỹ mĩg tãnh Homem m. suj. 1p.pl. posp onça matar. O homem matou a onça para nós. Posição de Sujeito 35. No téj va ãjag Espingarda pegar 2p.pl. Vocês pegaram a espingarda. Posição de Objeto 36. Ũn gré vỹ ẽg mỹ no va Homem m. suj. 1p.pl. posp espingarda carregar. O homem pegou a espingarda para vocês Na sentença com sujeito nominal e com a presença de dois objetos (direto e indireto), o sujeito inicia a sentença e os objetos ficam separados pela posposição S Oi posp. Od V, como vemos nos dados 32, 34, 36. Posição de Sujeito (modelo) 37. Ẽkrénh tĩ ag vỹ mĩg ag Caçadores pl. m. suj onça m. pl. Os caçadores mataram as onças. Posição de Sujeito 38. Mĩg ag kyggrẽ ag Onça pl. matar 3p.pl. Eles mataram as onças.

46 44 Posição de Objeto 39. Eles mataram elas (as mataram). (Sem resposta) Posição de Sujeito 40. Gãr rĩ ag Milho carregar 3p.pl. Eles carregaram milho Posição de Objeto 41. Fag mỹ inh kamó tatĩn 3p.pl. posp 1p.sg. bananas carregar. Eu carreguei bananas para elas. Posição de Sujeito Frase Nominal (modelo) 42. Manoel mré Jandira fag vỹ kamó tatĩn Manoel com Jandira (casal) m.suj. bananas carregar Manoel e Jandira carregaram bananas. Posição de Sujeito 43. Kamó tatĩn fag Bananas carregar 3p.pl./casal Eles (o casal) carregaram bananas. Posição de Objeto 44. Vẽnh mỹ fag manỹnỹ gé Pron. ref. posp 3p.pl.(casal) banana levar Eles (o casal) carregaram bananas para eles Posição de Sujeito 45. Kamó tatĩn ag Bananas carregar 3p.pl. Eles carregaram bananas

47 45 Os verbos usados nestes dados com pronomes pessoais no plural são transitivos e podemos verificar que a mesma estrutura acontece com as sentenças com sujeito pronominal OVS, como vemos nos dados 31, 33, 35, 38, 40, 43 e 45. Posição de Objeto 46. Fag mỹ ag kamó tatĩn 3p.pl. posp 3p.pl. bananas carregar Eles carregaram banana para elas Posição de Objeto 47. Fag mỹ ti kamó tatĩn 3p.pl. posp 3.p.sg. bananas carregar Ele carregou banana para elas Na verificação dos pronomes na posição de objeto, observamos que o sujeito posiciona-se entre os objetos da sentença, assim como nos pronomes no singular, sendo sempre o objeto indireto o que inicia a sentença. Este fato se baseia nos dados: 41, 46 e 47. Como nos dados de 1 a 30, não se vêem partículas, algo tão comum e freqüente nas sentenças nominais. Nos exemplos acima, não se vêem o uso de partículas nas sentenças pronominais. 7.2 PRONOMES POSSESSIVOS Os pronomes possessivos indicam posse sobre o nome ao qual se referem. Porém, eles funcionam, na verdade, como adjetivos e determinam, predicam este nome. Eles são formas adjetivas dos pronomes pessoais, propriamente ditos. Eles possuem caráter determinador, definidor, individualizador. Os pronomes possessivos em kaingang são os mesmos pronomes usados como pessoais. Possuem a mesma forma, porém, funções diferentes, conforme a posição na locução nominal.

48 46 1ªp.sg. Inh/ Isỹ - 1 p. poss. sg. 9 1ª p. pl. Ẽg- 1 p. poss. pl. 2ª p. sg. Ã- 2 p. poss. pl. 2ª p. pl. Ãjag- 2 p. poss. pl. 3ª p. sg. Ti/ Fi- 3 p. poss. sg. 3ª p. pl. Ãg/Fag p. poss. pl. Vejamos alguns exemplos dos pronomes possessivos no singular e no plural. Nas sentenças, foram utilizados verbos transitivos, intransitivos. Vyr- ir (transitivo) Góv/ Góvgóv quebrar (intransitivo). Gãm/ Gógãm - quebrar (transitivo). Jar/ Janjar (intransitivo) Jan/ Janjãn (transitivo). Jarn ké - rasgar (transitivo) 1ª pessoa do singular (meu/minha) Posição de sujeito 48. Ijóg vỹ ĩn jẽ 10 1 p. poss.sg- pai m. suj. casa ind.a. Meu pai tem casa. A partícula {vỹ} foi usada com este pronome possessivo {ijóg}, como vemos neste dado de nº 48 e veremos no dado 51. Posição de objeto 49. Ijóg ĩn ra inh vyr 11 9 Temos o pronome {Isỹ} como um possessivo ({I} + {sỹ}), será explicado posteriormente. 10 Temos a palavra {Ijóg}, neste dado. O prefixo {I}, parte do pronome de 1ª pessoa do singular, juntou-se à palavra jóg (pai). Poderíamos supor que ocorre o processo de prefixação de posse inalienável. A prefixação, segundo Bechara (2001), Cunha e Cintra (1985), é um dos processos de formação de palavras que consiste na adição de um prefixo ao tema, com a função de formar uma nova palavra. O termo inalienável usado em análise gramatical indica um tipo de relação permanente ou extremamente necessária entre o item e o seu possuidor. Porém, temos poucos dados para provar esta hipótese.

49 47 1 p. poss sg- pai casa posp 1p.sg. ir. Eu fui à casa do meu pai. 50. Inh nỹ fi ĩn ra inh vyr. 1p.poss.sg. mãe fem. casa posp 1p.sg. ir. Eu fui à casa da minha mãe. Conforme este dado, percebemos que o pronome {inh} ocorre com a mesma forma fonológica, para expressar tanto o pronome pessoal quanto o pronome possessivo. Como pronome possessivo, {inh} se posiciona antes do núcleo SN objeto e como pronome pessoal ocorre antes do verbo como núcleo do SN sujeito - SOV. Posição de sujeito 51. Ijóg vỹ ĩn tũ nĩ 12 1p. poss.sg.-pai m. suj. casa não. Meu pai não tem casa. 52 (a). Isỹ vẽ, kre tag ti 1 p.poss.sg. ind.a., cesto pron. dem. (este). Este cesto é meu. 13 Em texto narrativo usa-se a partícula {vỹ} 52. (b) Kre tag vÿ tÿ isỹ nï. Cesto pron. dem. m. suj. ind.top. 1 p.poss.g. ind.a. Este cesto é meu. Neste dado nº 52 (a/b), temos como pronome possessivo a palavra {Isỹ} como pronome possessivo de 1ª pessoa do singular. O pronome posicionou-se tanto no início da sentença (seguido da partícula vẽ) como no final (seguido da partícula de aspecto nĩ). 11 No dado nº 51. O {I} do {Ijóg} é possessivo. 12 Com os dados 48 e 51, não foram usados verbos, mas temos os indicadores de aspecto {je} e {nĩ}, que, segundo Wiesemann (2002), indicam posse. A estrutura em kaingang destes dados é S O. 13 Este exemplo 52 foi dado como resposta à pergunta De quem é este cesto? Ũ tũ nẽ, kre ẽn ti.

50 48 Posição de sujeito 53. Inh pratu vỹ góv 1 p.poss.sg. prato m. suj. quebrar Meu prato quebrou. Posição de objeto 54. Gĩr vỹ inh pratu gãm Menino m. suj. 1p.poss.sg. prato quebrar O menino quebrou meu prato Posição de sujeito 55. Inh pratu ag góv góv 1p.poss. sg. prato pl. quebrar (pl.) Meus pratos quebraram Posição de objeto 56. Gĩr vỹ inh pratu ag gógãm Menino m. suj 1p.poss.sg. prato pl. quebrar (pl.) O menino quebrou meus pratos. Posição de sujeito 57. Inh tẽja vỹ jar 1p.pos.sg. rede m. suj. rasgar (sg.) Minha rede rasgou Posição de objeto 58. Gĩr vỹ inh tẽja jan Menino m. suj. 1p.poss.sg. rede rasgar (sg.) O menino rasgou minha rede Nos dados 53 a 58, o pronome de 1ª pessoa do singular {inh} posicionou-se antes do núcleo do SN sujeito e do núcleo SN objeto: inh pratu, inh tẽja.

51 49 Posição de sujeito 59. Inh tẽja ag vỹ janjar 1p. poss.sg. rede pl. m. suj. rasgar (pl.) Minhas redes rasgaram Posição de objeto 60. Gĩr vỹ inh tẽja ag janjãn Menino m. suj. 1p.poss.sg. rede pl. rasgar (pl.) O menino rasgou minhas redes 2 ª pessoa do singular (seu/sua/de você) a) Seu (de você) Posição de sujeito 61. Ã pratu vỹ góv 2 p.poss.sg. prato m. suj. quebrar (pl.) Seu prato quebrou Posição de objeto 62. Gĩr vỹ ã pratu gãm Menino m. suj. 2 p.poss.sg prato quebrar (sg.) O menino quebrou seu prato b) Seus (de você) Posição de sujeito 63. Ã pratu ãg vỹ góvgóv 2 p.poss. sg prato pl. m. suj. quebrar (pl.) Seus pratos quebraram Posição de objeto 64. Gĩr vỹ ã pratu ag gógãm Menino m. suj. 2 p.poss. sg prato quebrar (pl.) O menino quebrou seus pratos

52 50 c) Sua (de você) Posição de sujeito 65. Ã tẽja vỹ jar 2 p.poss.sg rede m. suj. rasgar (sg.) Sua rede rasgou Posição de objeto 66. Gĩr vỹ ã tẽja jan Menino m. suj. 2 p.poss.sg rede rasgar (sg.) O menino rasgou sua rede d) Sua Posição de sujeito 67. Ã tẽja ag vỹ janjar 2 p.poss.sg rede pl. m. suj. rasgar (pl.) Suas redes rasgaram Posição de objeto 68. Gĩr vỹ ã tẽja janjãn Menino m. suj. 2 p.poss.sg rede rasgar (sg.) O menino rasgou suas redes Os dados 61 a 68 demonstram o pronome de 2 ª pessoa do singular {ã} como pronome possessivo (de você) e o mesmo ocorre em seu posicionamento, ou seja, antes do núcleo do SN sujeito: Ã pratu vỹ... (nº. 61) e antes do núcleo do SN objeto ã pratu gãm (nº.62), Ã tēja vỹ (65) e ã tẽja jan/ janjãn (nº. 66 e 68). Consideramos o morfema {ag}, nos dados 63, 64, 67, como morfema de plural e não como pronome. Podemos verificar que, em kaingang, a forma {ag} é usada tanto como pronome de terceira pessoa do plural como morfema de plural. Para a verificação do {ag} como morfema de plural em kaingang, faremos uma análise comparativa com os dados 37 e 38.

53 Ēkrénh tĩ ag vỹ mĩg ag caçadores pl. m. suj onça m. pl. Os caçadores mataram as onças. Para a formação da palavra caçadores, foi usado o {ag} como morfema sufixal de plural. O mesmo acontece para pluralizar a palavra {mĩg} - onça. 38. Mĩg ag kyggrē ag Onça pl. matar 3 p.pl. Eles mataram as onças. O morfema {ag} após a palavra {mĩg} ocorre como morfema sufixal de plural. Na mesma sentença, temos o {ag} como pronome de terceira pessoa do plural eles. Portanto, podemos verificar que na língua kaingang temos a mesma forma fonológica para o pronome de terceira pessoa {ag} e o morfema sufixal de plural {ag}. 3ª pessoa do singular (dele/dela) Posição de sujeito 69. Ti pratu vỹ góv 3 p. poss.sg. prato m. suj. quebrar (sg.) O prato dele quebrou. Posição de objeto 70. Gĩr vỹ ti pratu gãm Menino m. suj. 3 p. poss.sg. prato quebrar (sg.) O menino quebrou o prato dele Posição de sujeito 71. Fi tẽja vỹ jar 3 p. poss.sg. rede m. suj. rasgar (sg.) A rede dela rasgou Posição de objeto

54 Gĩr vỹ fi tẽja ty jarn ké Menino m.suj. 3 p.poss. sg. rede? rasgar (sg.) O menino rasgou a rede dela. 73. Ti ĩn ra ti vyr 3 p. poss.sg. casa posp 3 p. sg. ir. Ele foi para casa dele 74. Vim ke tĩ vỹ pirãsam Pescador ind.a. m.suj. peixe O pescador pescou um peixe. 75. Vim ke tĩ vÿ pirã tỹ ti nÿ fi mỹ nĩm Pescador ind.a. m. suj. peixe? 3 p. poss.sg. mãe fem. posp dar. O pescador deu um peixe para mãe dele. 76. Manuel vỹ ti ĩn penjẽg Manuel m. suj. 3 p. poss.sg. casa começar (sg.) O Manuel começou a casa dele. 77. Ti ĩn pẽnjẽg ti 3 p. poss.sg. casa começar (sg.) 3 p. sg.. Ele começou a casa dele. (modelo) 78. Jandira fi mãrtéra vỹ vãfor Jandira m.f. martelo m. suj. sumir (sg.) O martelo da Jandira sumiu 79. Ti mãrtéra vỹ vãfor 3 p. poss. sg. martelo m.suj. sumir (sg O martelo dele sumiu.

55 53 O pronome possessivo de 3ª pessoa do singular {ti} seu e {fi} sua indicam posse, posicionando-se antes do núcleo SN sujeito e do núcleo SN objeto, conforme os dados 69, 71 (núcleo SN sujeito) e 70, 72, 73, 75, 76 77, 79 (núcleo SN objeto). O morfema {fi} ocorre como pronome possessivo quando antecede o nome, como observamos no dado 71. Mas, quando segue o nome, funciona como marca de gênero feminino, como vemos no dado 78. Nos dados nº 78 e 79, verificamos que o nome do possuidor antecede o objeto possuído Jandira fi mãrtera.... Podemos levantar a hipótese de que, conforme estes dados, tanto o nome como seu respectivo pronome antecedem o objeto possuído. A estrutura destas sentenças é semelhante: 78. Jandira fi mãrtéra vỹ vãfor Jandira m.f. martelo m. suj. sumir (sg.) O martelo da Jandira sumiu. S V 79. Ti mãrtéra vỹ vãfor 3 p.poss.sg. martelo m.suj. sumir (sg.) O martelo dele sumiu. S V 1 ª pessoa do plural (Nosso/nossa) Posição de sujeito 80. Ẽg pratu vỹ góv 1 p.poss. pl. prato m. suj. quebrar (sg.) Nosso prato quebrou Posição de objeto 81.Gĩr vỹ ẽg pratu gãm Menino m. suj. 1 p.pos. pl. prato quebrar (sg.) O menino quebrou nosso prato Posição de sujeito 82. Ẽg tẽja vỹ jar 1 p.poss. pl. rede m. suj. rasgar (sg.) Nossa rede rasgou.

56 54 Posição de objeto 83. Gĩr vỹ ẽg tẽja gãm Menino m. suj. 1 p.poss. pl. rede rasgar (sg.) O menino rasgou nossa rede. Posição de sujeito 84. Ẽg tẽja ag vỹ janjar 1 p.poss. pl. rede pl. m. suj. rasgar (pl.) Nossas redes rasgaram. Posição de objeto 85. Gĩr vỹ ẽg tẽja ag janjãn Menino m. suj. 1 p.poss. pl. rede pl. rasgar (pl.) O menino rasgou nossas redes. O pronome possessivo de 1ª pessoa do plural é {ẽg} e nos dados 80 a 85 podemos verificar que, assim como os demais pronomes em kaingang, ele se posiciona antes do núcleo do SN sujeito e antes do SN objeto. Também, com estes dados, não se verifica a concordância com o núcleo pluralizado, como se vê nos dados 84 e 85. A reduplicação verbal é a marca de plural do verbo, como veremos nos dados 94 e 95. Conforme Cavalcante (1987), uma das formas da pluralização verbal em kaingang é a reduplicação da última sílaba do tema verbal. 2 ª pessoa do plural (de vocês) Posição de Sujeito 86. Ãjag tẽja vỹ jar 2 p.poss.pl. rede m. suj. rasgar (sg.) A rede de vocês rasgou Posição de Objeto 87. Gĩr vỹ ãjag tẽja jan Menino m. suj. 2 p.poss.pl. rede rasgar (pl.) O menino rasgou a rede de vocês.

57 55 Posição de Sujeito 88. Ãjag pratu ag vỹ gógóv 2 p.poss. pl. prato pl. m. suj. quebrar (pl.) Os pratos de vocês quebraram. Posição de Objeto 89. Gĩr vỹ ãjag pratu ag gógãm Menino m. suj. 2 p.poss.pl. prato pl. quebrar (pl.) O menino quebrou os pratos de vocês. Como vemos nos dados 86 a 89, o pronome possessivo de 2ª pessoa do plural é {ãjag} e ocorre como pronome de vocês. Seu posicionamento na sentença, em kaingang, também é antes do núcleo SN sujeito e antes do núcleo SN objeto. Nestes dados o nome rede -{tẽja} está no singular, podendo significar que a rede é de todos e ela foi rasgada. Nos dados 90 e 91, como o nome rede está pluralizado pelo morfema {ag}, o significado é que cada um possui a sua rede e todas elas foram rasgadas. Portanto, até aqui podemos verificar que o morfema {ag} funciona como: Morfema de plural; Pronome pessoal de 3ª pessoa do plural e função de pronome possessivo. Posição de Sujeito 90. Ãjag tẽja ag vỹ janjar 2 p.poss.pl. rede pl. m. suj. rasgar (pl.) As redes de vocês rasgaram. Posição de Objeto 91. Gĩr vỹ ãjag tẽja janjãn Menino m. suj. 2 p.poss.pl. rede rasgar (pl.) O menino rasgou as redes de vocês

58 56 3 ª pessoa do plural (deles/delas) Posição de Sujeito 92. Ag pratu vỹ góv 3 p.poss. pl. prato m. suj. quebrar (sg.) O prato deles quebrou. Posição de Objeto 93. Gĩr vỹ ag pratu gãm Menino m. suj. 3 p.poss.pl. prato quebrar (sg.) O menino quebrou prato deles. Posição de Sujeito 94. Ag pratu vỹ gógóv 3 p.poss.pl. prato m. suj. quebrar (pl.) Os pratos deles quebraram Posição de Objeto 95. Gĩr vỹ ag pratu gógãm Menino m. suj. 3 p.poss. pl.prato quebrar (pl.) O menino quebrou os pratos deles. Como pronome possessivo, sua posição, na sentença, é antes do núcleo SN sujeito e antes do núcleo SN objeto, como se verifica nos dados 92 a 95. Posição de Sujeito 96. Fag tẽja vỹ jan 3 p.poss.pl.rede m. suj. rasgar (sg.) A rede delas rasgou. Posição de Objeto 97. Gĩr vỹ fag tẽja jan Menino m. suj. 3 p.poss. pl. rede rasgar (sg.) O menino rasgou a rede delas

59 57 O posicionamento na sentença do pronome de 3ª pessoa do plural {fag} é antes do núcleo SN sujeito e antes do núcleo SN objeto, como vemos nos dados 96 e 97. Posição de Sujeito 98. Fag tẽja vỹ janjar 3 p.poss. pl. rede m. suj. rasgar (pl.) As redes delas rasgaram. Posição de Objeto 99. Gĩr vỹ fag tẽja janjar Menino m. suj. 3 p.poss.pl. rede rasgar (pl.) O menino rasgou a rede delas. Os pronomes possessivos de 3ª pessoa, tanto do plural como no singular, diferenciam-se dos demais, em relação à concordância de número e também em relação ao gênero. Todos os outros apresentam a mesma forma tanto para o masculino como para o feminino, como podemos verificar nos dados 53 e 55, 56 e 58, 61 e 65, 69 e 71, 80 e 82, 88 e 90. Já os pronomes de 3ª pessoa do singular e do plural são os únicos que apresentam duas formas diferentes, a forma do pronome feminino e a forma do pronome no masculino, como vemos abaixo: Ti- 3 p.sg./ 3p.pess.sg.; Fi- 3 p.sg./ 3p.pess.sg (fem.); Ag- 3 p.pl./3 p.pess. pl.; Fag- 3 p.pl/p.pess.pl. (fem). 7.3 PRONOMES INTERROGATIVOS Entre os pronomes, há os que se usam para interrogar o que não se é definido. Em português, são usadas palavras como: que, quem, quando, quanto,

60 58 quem, qual. Podem ocorrer interrogações diretas ou indiretas: Como você voltou? ou Quis saber como você voltou.. Da mesma forma, os pronomes interrogativos em kaingang são usados nas perguntas de informações em geral. São eles: Ũ - quem Ne - O que Hẽ - o qual Algumas sentenças foram coletadas, a fim de verificar como se comporta a estrutura frasal com estes pronomes. Vejamos abaixo alguns exemplos: Primeiramente, vamos analisar o pronome interrogativo o que? {ne}: a) Com a 1ª pessoa do singular 100. Inh ne han 1p.sg. pron. int. fazer O que eu fiz? 101. Ã mũ ijỹ fi mỹ isỹ ne han ja to 2.p.sg. ind.a. mãe fem. posp 1p.sg. pron. int fazer ind. m. Você disse para minha mãe o que eu fiz? 102. Inh hã ne vẽnh mỹ han 1.p.sg.ind. o. pron. int pron. ref. posp fazer O que eu fiz para mim mesmo? b) Com a 2 ª pessoa do singular 103. Â tỹ ne han nẽ 2p.sg. ind. top. pron. int fazer ind.a. O que você está fazendo? (modelo) 104. Mário vỹ ã mỹ ne han Mario m. suj. você posp pron. int fazer

61 59 Mário fez o que para você? 105. Ti ã mỹ ne han 3p.sg. 2p.sg. posp. pron. int fazer Você fez o que para ele? 106. Ti tỹ ã mỹ ne han 3p.sg. ind top. 2p.sg. posp pron. int fazer Você está fazendo o quê para ele? c) Com a 3 ª pessoa do singular 107. Ne nẽ? pron. int ind.a. O que é? 108. Ne hã vỹ nĩ O que ind. o. m.s. ind.a. (redondo) O que é isto? 109. Â mỹ ti tỹ ne han mũ ki kanhró 2p.sg. ind. p. 3p.sg. ind. top. pron. int fazer ind. a. saber Ele sabe o que você está fazendo? 110. Mesa tỹ hẽ krẽm Mesa ind. top. pron. int embaixo? 14 Debaixo de qual mesa? 111. Isỹ ne han ke tóg tũ tĩ 1p.sg. pron. int fazer fut. ind. suj. ag. não ind.a. Eu não sei o que fazer. 14 No dado 110, não podemos considerar {krẽm} como verbo, pois seu significado, segundo Wiesemann (2002) como verbo é estar abaixo em posição de hierarquia, como por exemplo, abaixo do cacique, não usado com objetos, seres inanimados.

62 Ti tá ne han ke mũ nĩ 3p.sg. lá pron. int fazer fut. ind. m. ind. a. O que ele costuma fazer lá? d) Com a 1 ª pessoa do plural - NÓS 113. Ẽg hỹn ne han 1p.pl. ind.a. pron. int. fazer O que nós fizemos? 114. Mario vỹ ẽg mỹ ne han Mario ind. suj. 2p.pl. posp pron. int. fazer Mário fez o que para nós? e) Com a 2ª pessoa do plural VOCÊS 115. Ãjãg ne han 2p.pl. pron. int. fazer Vocês fizeram o quê? 116. Mario vÿ ãjag mÿ ne han Mario ind.suj. 2p.pl. posp pron.int. fazer O que Mario fez para vocês? f) Com 3ª pessoa do plural ELES 117. Ag hỹn ne han 3p.pl. ind.a. pron. int. fazer Eles fizeram o quê? 118. Mário hỹn ag mÿ ne han Mario ind.o. 3p.pl. posp pron. int. fazer Mário fez o quê para eles? Nas sentenças de nº: 100, 101, 102, 103, 104, 111, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118 temos a estrutura S (O) Pr. Int. V. Verificamos que nelas, o

63 61 sujeito sendo pronominal ou nominal, tendo ou não objeto, o pronome interrogativo posicionou-se sempre ao lado do verbo da sentença. Nas sentenças 105, 106 e 109, a estrutura foi O S V, mas o pronome interrogativo {ne} permaneceu próximo ao verbo. Não estudamos as partículas neste trabalho, mas um fato importante surgiu ao coletarmos as sentenças com o uso do pronome interrogativo {ne}. Nas senteças dadas, o informante nos disse que dependendo da forma do objeto apontado, a pergunta usaria uma partícula diferente. Por isso, estes dados têm quase a mesma estrutura, diferenciando, somente a última partícula: Pron. int. + part. + m.s. + part. Também podemos verificar que é usada a partícula marcadora de sujeito, que é comum somente após os nomes. Neste caso, o pronome interrogativo {ne} funciona como um pronome substantivo Ne hã vỹ nĩ O que ind. o. m.s. ind.a. (redondo) O que é isto? 108. (a) Ne hã vỹ jẽ O que in.d.o. m.s. ind.a. (em pé) O que é isto? 108. (b) Ne hã vỹ nã O que in.d.o. m.s. ind.a. (comprido) O que é isto? 108. (c) Ne hã vỹ nĩ O que in.d.o. m.s. ind.a. (deitado) O que é isto? O pronome interrogativo quem em kaingang é {Ũ}. Abaixo, seguem alguns dados coletados a fim de analisarmos sua posição na estrutura frasal desta língua Ũ nẽ ã jiji pron. int ind.a. 2p.sg. nome

64 62 Quem nome é você? (= Como você chama?) Ã ũ mỹ presente ti nĩm 2p.sg. pron. int posp presente fem. dar Você deu o presente para quem? 121. Ũ tỹ hẽ nỹ pron. int ind. top. pron. int suj. top. Foi quem? 122. Ũ nẽ pron. int ind.a. Quem é? 123. Ũ ĩn nẽ pron. int casa ind.a. É a casa de quem? 124. Ũ, tỹ nẽ pron. int, ind. top. ind.a. É a coisa de quem? 125. Kre ẽn vỹ tỹ ũ tũ nĩ Balaio pron. dem. m. suj. ind. top. pron. int. coisas ind.a. Aquele balaio é de quem? 126. Manoel mré Jandira fag ĩn ẽn han Manoel posp Jandira (casal) casa pron.dem. fazer Manoel e Jandira construíram a casa Ũ nỹ ĩn ẽn han Pron. int ind. s. top. casa pron.dem. fazer Quem construiu aquela casa?

65 Ũn regre fag ĩn ẽn ti han Os dois (casal) casa pron.dem. fazer. Ambos (Manoel e Jandira) construíram a casa Ũ nỹ ã mỹ tag han pron. int ind. top 2p.sg. posp pron.dem. fazer 15 Quem fez isto para você? 130. Ũ tũ nẽ, kre tag ti Pron. int coisas ind.a., cesto pron.dem. De quem é este cesto? 131. Ũ tũ nẽ, kre ẽn ti Pron. int. coisas ind.a., balaio pron.dem. De quem é este balaio? O pronome interrogativo {ũ} (quem) pode posicionar-se das seguintes formas: No início da sentença como nos dados de nº: 119, 121, 122, 124, 127, 129, 130, 131; Após o sujeito, como no dado nº. 120; Na mesma posição de um pronome possessivo, antes do nome, quando se pergunta quem o possui, como vemos nos dados 123 e 125. Observamos que houve uma combinação deste pronome interrogativo {ũ} e o numeral dois {regre} no dado 128: Ũn régre, para se referir ao casal Manuel e Jandira, citados no momento da coleta deste dado. Hẽ Qual 132. Ũ tỹ hẽ nẽ Pron. Int. ind. top. pron. int. ind.a. Qual é? 15 Nỹ- indicador de sujeito tópico na pergunta, segundo Wiesemann (2002).

66 (a) Ĩn tỹ hẽ nẽ Casa ind. top. pron. int. ind.a. Qual é a casa? 133. Jandira fi mỹ kanhgág ẽn fi ki kanhró nĩ Jandira fem. ind. p. kaingang pron. dem. fem. saber ind. a. Jandira sabe sobre aquela kaingang? 134. Ti hẽ ri ke tũ 3p.sg. pron. int igual coisas Como ele é? 135. Ã mỹ ti jykre ki kanhró nĩ 2p.sg. ind. p. 3p.sg. costume saber ind. a. Você sabe como ele é? (Você sabe o jeito dele?) Hẽ kã tá Pron. int adv. Aonde/ De onde? (literalmente= Qual dentro?) Jandira fi, fi fẽgja ki kanhró nĩ Jandira fem., 3p.sg.? saber ind. a. Jandira sabe de onde ela é Hẽ kã Pron. int dentro de Em que? 139. Jandira fi ĩn tỹ hẽ tá kasor jẽg ki kanhró nĩ Jandira fem. casa ind. top. pron. int. longe cachorro? saber ind. a. Jandira sabe em qual casa o cachorro está.

67 Ĩn tỹ hẽ krẽn ã ẽmã nĩ Casa ind. top. pron. int.? 2p.sg. morar ind.a. Em qual casa você mora? 141. Ã mỹ inh ĩn ki kanhró nĩ 2p.sg. ind. p. 1p.sg. casa saber ind. a. Você sabe qual é minha casa? O pronome interrogativo qual {hẽ}, com base nos dados acima, pode posicionar-se das seguintes formas: No final da estrutura frasal como no dado 132 e 132(a). No dado 132, verificamos que pode ele (hẽ) pode ser usado numa mesma sentença com outro pronome interrogativo {ũ}; No início da estrutura frasal como nos dados 134 (após o sujeito pronominal), 136 e 138; Na estrutura canônica S O V, no dado n 139 ele posiciona-se entre o sujeito e verbo. Não foi usado o pronome interrogativo nos dados de nº 133, 135, 137 e 141, onde temos o verbo ki kanhró (saber), da mesma forma que não foi usado com o verbo katĩg (não saber), no dado No dado 134, há o pronome {hẽ}, podemos observar que ele também tem o significado de como. Segundo Wiesemann (2002, p. 24), o pronome interrogativo {hẽ} quando próximo de um advérbio de lugar, significa onde/ aonde (exemplos 136 e 138). 16 Será preciso coletas posteriores com uso destes verbos: {ki kanhró} -saber e {ki katĩg} - não saber, para verificação se eles são verbos que restringem pronomes interrogativos.

68 PRONOMES INDEFINIDOS Os pronomes indefinidos, assim como o próprio nome já diz, transmitem incerteza. Em português temos os pronomes indefinidos apenas substantivos: alguém, ninguém, outrem, algo, nada, tudo. Estes podem ocorrer como substantivos ou adjetivos: nenhum, muito, pouco, bastante, todo (s), outro (s), vários; os somente adjetivos: cada, certo, qualquer; os advérbios: algures (em algum lugar) alhures (em outro lugar), nenhures (em nenhum lugar), sempre, nunca, outrora, pouco/ muito e as locuções pronominais indefinidas: cada qual, cada um, qualquer um e qualquer outro. Em inglês, os pronomes indefinidos são: anyone, someone, somethinh, anything. O morfema {- one} dá a idéia de indeterminação e o morfema {thing} a idéia da pessoa. Em Francês temos quelqu un, onde quelq (alguém) e un (um)= alguém, quelque chose, quelque (alguém) + chose (coisa)= algo/ alguma coisa. Em kaingang os pronomes indefinidos são: Ū= alguém. Vẽnh= de alguém. Ag kar= Todos 17 Os dados coletados para descrição destes pronomes são: 142. Ũ nẽ vỹ fỹ Pron. ind. ind.a. m. suj. chorar Alguém chorou 143. Ũ vỹ fỹ tũ nĩ Pron. ind. m.suj. chorar neg. ind.a. Ninguém chorou. (lit. Alguém não chorou). 17 Este pronome não está na lista dos pronomes indefinidos no dicionário de Wiesemann (2002).

69 67 (modelo) 144. Jandira fi vỹ garĩnh totón. Jandira fem. m. suj. galinha fritar (sg). Jandira fritou galinha Jandira fi nén ũ totón tũ nĩ Jandira fem. coisa pron. ind. fritar neg. ind.a. Jandira nada fritou. (lit. Jandira não fritou coisa alguma) Ũ kasoro nẽ Pron. ind. cachorro ind.a. De quem é este cachorro? 147. Vẽnh nũg vẽ Pron. ref. barriga ser É barriga de alguém 148. Ũ vẽg tũ inh nĩ Pron. ind. ver (sg.)não 1 p.sg. ind. a. Eu não vi ninguém Ũ fỹ ja ki isóg kanhró nĩ Pron. ind. chorar ind. m.? suj. ag. saber ind. a. 18 Eu sei que alguém chorou Ũ fỹ mẽg isóg mũ Pron. ind. chorar escutar ind. ag. ind.a. Eu ouvi alguém chorando Ũ kre nẽ hỹn Pron. ind. cesto ind. a. ind. o. 19 Este cesto é de alguém? 18 No dado 149- {já} indicador de modo algo já terminado. 19 Indicador de opinião= de certo, provavelmente.

70 Ũ vỹ garinh tótor tũ nĩ Pron. ind. m.suj. galinha fritar neg. ind.a. Ninguém fritou galinha Ĩn ka ki ti nén tũ tavĩ nĩ Casa dentro de masc. coisa neg. ind. m. ind. a. Nada ficou na casa Ag kar vỹ ĩn krẽm nỹtĩ Eles todos m.suj. casa adv. ind. a. Todos ficaram na casa Ag kar vé inh ĩn krẽm 20 Eles todos ver 1p.sg. casa adv. Eu vi todos na casa Ĩn krẽm inh ag kar vé Casa adv. 1p.sg. eles todos ver Eu vi todos na casa casa Vẽjẽn vỹ tũ kãn Alimento m.suj. coisas acabar Toda comida acabou Tũg kãn ti Acabar alimento pron.dem. Tudo acabou Tỹ ti ũ e kãn Suj. top. 3p.sg. coisas de alguém muito acabar. Ele acabou com tudo. 20 Krẽm (adv.) = embaixo. As casas, usadas ao coletar estes dados, estavam abaixo do local de onde eu e meu informante estávamos.

71 Vẽjẽn ko kãn ti Alimento comer acabar 3p.sg. Ele comeu toda comida. Conforme os dados acima, podemos dizer que o pronome indefinido em kaingang {ũ} possui algumas características que o difere dos demais. Uma delas é a presença de uma partícula que marca o sujeito, a partícula {vỹ}. Nos dados de nº 142, 143, 152 e 154 verificamos que o pronome interrogativo {ũ} funciona como um pronome substantivo, pois ele possui a partícula marcadora de sujeito {vỹ}, que é dada somente aos nomes, em kaingang. Esta partícula é uma das estruturas presentes em orações nominais, como vemos nos dados de nº 1, 3, 10, 13, 14, 16, 26, 28, 32, 34, 36, 37, 42, 48, 51, 53, 54, 56, 58, 60, de 61 a 68, 69 a 72, 74, 75, 76, 66,78, etc. As sentenças pronominais em que se usou a partícula {vỹ} tinham verbos intransitivos: {fỹ} - chorar (afirmativas e negativas), e o verbo {totór} fritar (negativa), como veremos abaixo. Talvez, na língua kaingang, o pronome indefinido {ũ} seja tratado como nome e não como pronome Ũ nẽ vỹ fỹ Pron. ind. ind.a. m. suj. chorar Alguém chorou 143. Ũ vỹ fỹ tũ nĩ Pron. ind. m.suj. chorar neg. ind.a. Ninguém chorou Ũ vỹ garinh tótor tũ nĩ Pron. ind. m.suj. galinha fritar neg. ind.a. Ninguém fritou galinha. Em alguns dados, podemos observar que a partícula marcadora do sujeito {vỹ} não ocorrre em todas as sentenças com pronome indefinido, pois nos dados 146, 147, 148, 149, 150, 151 e 153 ela não aparece. Nestes dados há

72 70 sentenças de negação (145, 148, e 153), interrogativas (146 e 151), com a partícula indicadora de aspecto {vẽ} (147), {nĩ} (146, 149 e 153). Nota-se também que em todos os exemplos em que foi usado o pronome indefinido {ũ}, ele foi o primeiro constituinte da sentença. (142, 143, 146, 148, 149, 150, 151 e 152). Nestas sentenças também temos a ordem oracional S V (142, 143 e 148), S O V (152), que é a estrutura padrão, principalmente, em sentenças com sujeito nominal. A maioria das sentenças que utilizaram os outros pronomes indefinidos, possue a mesma estrutura padrão SOV, como vemos nos dados 147 {vẽnh}, 154 e 156 {ag kar}, que é a estrutura canônica. O pronome {ag kar} (presente nos dados de nº 154, 155 e 156), aparece no dicionário da Wiesmann com a definição de todos. Por isso, ele está sendo considerado, neste trabalho, um pronome indefinido. Com os dados de nº 145 e 153, o pronome indefinido nada não possui uma palavra específica que o determine, mas vemos a expressão {nén ũ} ou {nén} seguido de {tũ} coisa não, usada para designá-lo. Em ambas as sentenças, foram usadas a partícula {nĩ} Jandira fi nén ũ totón tũ nĩ Jandira fem. coisa alguém fritar neg. Jandira nada fritou 153. Ĩn ka ki ti nén tũ tavĩ nĩ Casa dentro de masc. coisa neg. ind. m. ind. a. Nada ficou na casa. Nas sentenças interrogativas nas quais se usava a pergunta sobre posse De quem?, o pronome indefinido {ũn} se posicionou da mesma forma que o pronome possessivo, como vemos no dado 123: o nome próximo ao pronome Ũ ĩn nẽ Pron. ind. casa ind.a. É a casa de quem?

73 71 Nos dados de sentença negativa, observamos que a partícula em kaingang que indica negação, está sempre posicionada após o verbo, como podemos ver nos dados: 143, 145, 148, 152, 143. Ũ vỹ fỹ tũ nĩ Pron. ind. m.suj. chorar neg. ind.a. Ninguém chorou Jandira fi nén ũ totón tũ nĩ Jandira fem. coisa alguém fritar neg. ind.a. Jandira nada fritou 148. Ũ vẽg tũ inh nĩ Pron. ind. ver (sg.) não 1 p.sg. ind. a. Eu não vi ninguém Ũ vỹ garinh tótor tũ nĩ Pron. ind. m. suj. galinha fritar neg. ind.a. Ninguém fritou galinha. No dado de nº 150, observamos dois verbos lado a lado. Do dado de nº 149 para o 150, o tempo verbal mudou: de tempo não marcado para tempo de situação inacabada. Mesmo assim, o pronome indefinido {ũ} continua no início da sentença. No dado 150, a estrutura da sentença é a mesma das orações simples com sujeito pronominal O S V. Observem: 149. Ũ fỹ ja ki isóg kanhró nĩ Pron. ind. chorar ind. m.? suj. ag. saber ind. a. 21 Eu sei que alguém chorou Ũ fỹ mẽg isóg mũ Pron. ind. chorar escutar ind. ag. ind.a. 21 No dado 149- {já} indicador de modo algo já terminado.

74 72 Eu ouvi alguém chorando. O pronome {ũ} está sempre como o primeiro constituinte da sentença, é o que vemos em todas as sentenças em que ele foi usado: Nas sentença afirmativas: 142. Ū nẽ vỹ fỹ Pron. ind. ind.a. m. suj. chorar Alguém chorou 149. Ũ fỹ ja ki isóg kanhró nĩ Pron. ind. chorar ind. m. ind.circ. ind. suj. saber ind. a. Eu sei que alguém chorou Ũ fỹ mẽg isóg mũ. Pron. ind. chorar escutar ind. suj. ind.a. Eu ouvi alguém chorando. Nas sentenças negativas: 143. Ū vỹ fỹ tũ nĩ Pron. ind. m. suj. chorar neg. ind.a Ninguém chorou Ũ vẽg tũ inh nĩ Pron. ind. ver (sg.) não 1p.sg. ind. a. Eu não vi ninguém Ũ vỹ garinh tótor tũ nĩ Pron. ind. m.suj. galinha fritar neg. ind.a. Ninguém fritou galinha. Nas sentenças interrogativas: 146. Ũ kasoro ẽ Pron. ind. cachorro ind.a. De quem é este cachorro?

75 Ũ kre nē hỹn Pron. ind. cesto ind. a. ind. o. Este cesto é de alguém? As sentenças nos dados de nº 143 e 152 possuem estrutura semelhante: ambas têm o pronome {ũ}, mais a partícula negativa, significando ninguém. Observem: 143. Ũ vỹ fỹ tũ nĩ Pron. ind. m. suj. chorar neg. ind.a. Ninguém chorou. Pron. m. suj. O V. neg Ũ vỹ garinh tótor tũ nĩ. Pron. ind. m. suj. galinha fritar neg. ind a. Ninguém fritou galinha. Pron.m. suj. O. V. neg. A palavra {krẽm} foi dada, próxima ao nome {ĩn} casa, afirmando que a casa é a de baixo. Porém, este advérbio de lugar não havia sido pedido. É muito importante, ao coletarmos dados, observarmos cada pormenor, não somente da língua a qual estamos investigando, como também o lugar onde estamos fazendo as perguntas, pois mesmo sendo algo externo tem grande influência nos dados obtidos. Investigando a possibilidade de haver nesta língua os pronomes indefinidos referentes a tudo, toda, foram pedidas as sentenças que estão nos dados de nº: 157, 158, 159 e Vẽjẽn vỹ tũ kãn Alimento m. suj. neg. acabar. A comida acabou Tũg kãn ti. Morrer acabar pron.dem. Tudo acabou.

76 Tỹ ti tũ e kãn Ind. suj. top. 3p.sg. coisas de alguém muito acabar. Ele acabou com tudo Vējēn ko kãn ti. Alimento comer acabar 3p.sg. Ele comeu toda comida. Podemos notar que não foi usada a palavra {ag kar} referente a todos, nem uma variação dela. No dado 160, como foi usado o pronome pessoal {ti}, a estrutura é OVS, a mais comum quando se usa os pronomes pessoais. Com isto, podemos levantar a hipótese de que não existe em kaingang, uma palavra específica para tudo, toda. Somente a expressão ag kar que se refere a todos, usada para pessoas e não para objetos e coisas. 7.5 PRONOMES DEMONSTRATIVOS A origem e a definição dos pronomes demonstrativos foi um dos assuntos abordados no capítulo seis. Porém, iremos discorrer um pouco mais sobre eles. Os pronomes demonstrativos têm a função de indicar a posição no espaço, de um elemento bio-social, tratado na língua como ser, ou como um nome. (CÂMARA JÚNIOR, 1997, p. 122). Estes pronomes sempre são usados em referência ao falante. Cada língua do mundo possui o seu sistema em relação à distância ou proximidade do falante e do item a que se refere. No inglês, temos um sistema dicotômico, que marca como próximo ou distante do falante usando a oposição com os pronomes: this/ that (este/aquele). Já no português, temos um sistema tricotômico, em que se leva em conta também o ouvinte, usando os pronomes: este (próximo ao falante), esse (próximo ao ouvinte) e aquele (longe do falante e do

77 75 ouvinte). Entretanto este sistema tricotômico tem mudado, na nossa língua coloquial. Percebemos que, atualmente, na fala, existe somente um sistema dicotômico, na grande maioria dos estados brasileiros: este (ou esse - dependendo do lugar) X aquele. Em português, os pronomes demonstrativos têm função adjetiva e função substantiva, como podemos ver nos exemplos: Este livro função adjetiva. Este não é meu livro - função substantiva. Como já foi dito anterirormente, o papel dos demonstrativos é essencialmente dêitico. Porém, conforme Said Ali (apud Câmara Júnior, 1997, p. 123) eles também têm o papel de serem anafóricos. Não tratam apenas do mundo bio - social, mas do que foi dito ou vai ser dito em um contexto lingüístico. Nossas gramáticas costumam usar este o que vai ser dito; esse - o que acaba de ser dito e aquele - o que já foi dito há algum tempo ou em outro contexto. Segundo Wiesemann (2002, p. 161), em kaingang, os pronomes demonstrativos podem substituir os substantivos ou então os seguem para modificálos. Os pronomes demonstrativos em kaingang são: Tag isto; Ti -n - isso, esse, o; Fi essa, a; Ẽn aquilo; Ag esses, os; Fag essas, o casal, as; Abaixo seguem alguns pronomes demonstrativos que também foram retirados do dicionário bilíngüe de Wiesemann, onde existem algumas combinações. São eles: 22 Tag ti = isto aqui, este aqui. 22 Ao lado de todos esses pronomes ocorre um advérbio de lugar. Nos dados verificou-se que é muito usado um advébio de lugar, para demonstrar a relação de distância entre o item e o falante.

78 76 Tag fi= esta aqui. Ẽn ti= aquilo lá, aquele lá. Ẽn fi= aquela lá. Tag ag= estes aqui. Tag fag= estas aqui, este casal aqui. Ẽn ag= aqueles lá Ẽn fag= aquelas lá, aquele casal lá. funcionam na língua kaingang. Os exemplos seguintes nos ajudam a verificar como estes pronomes 3ª Pessoa do Singular: Posição de Sujeito: 161. Ag kã tỹ hẽ tỹ ter nỹ tag 3 p.pl. ind.circ. ind.exp. pron.int.l. ind. suj. top. perg. morrer ind. suj. top pron.dem. Tã tá nỹ ẽn vó Lá longe. ind. suj. top pron.dem. ind. o. 23 Qual dos dois morreu? Este ou aquele? A coleta deste dado foi usada para observar a diferença, na língua kaingang, entre o uso dos pronomes este {tag} e aquele {ẽn}. O pronome referente a este {tag} foi usado na primeira parte da sentença e o pronome demonstrativo aquele {ẽn} foi usado na segunda parte da sentença. O advérbio de lugar {tã tá} (lá longe) foi usado para indicar a distância do falante em relação à pessoa de quem se falava. O {tag} foi posicionado como último constituinte na estrutura, logo após a partícula {nỹ}, que é indicadora do sujeito tópico na pergunta. Da mesma forma o pronome {ẽn}. Os dois eram constituintes tópicos na pergunta. Tanto na primeira como na segunda sentença os pronomes foram posicionados antes do verbo. 23 Com as glosas, a frase toda do dado 161 não coube em uma só linha.

79 Kanhgág ẽn ve Kaingang pron.dem. ser É aquele kaingang Kanhgág ẽn fi vẽ Kaingang pron.dem. fem ser É aquela kaingang. Nos dados 162 e 163, vemos o pronome demonstrativo {ẽn} e {ẽn fi} referentes aos pronomes em português aquele / aquela. O pronome é usado após o nome kaingang. Vamos observar esta mesma posição, no dado 165, o pronome {ẽn} posiciona-se após o nome substantivo {fog} e o seu adjunto adnominal {ũ}: fog ũ ẽn. Ao passar o pronome para o feminino, no dado 166, a partícula que indica o gênero feminino {fi}, foi usada após o pronome, da mesma forma que ela é usada com nomes: Jandira fi, nỹ fi (mãe),entre outros Tã tá, nỹ ẽn ter Lá longe ind.a. pron.dem. morrer. Aquele que morreu. Nesta sentença Aquele que morreu, temos um pronome e uma oração adjetiva. Novamente, para demonstrar a distância do falante em relação a quem se falava foi usado o advérbio de lugar {tã ta}. Como na sentença 161, ele foi usado após a partícula {nỹ} e antes do verbo Fóg ũ ẽn vẽ Não índio pron.int. pron.dem. ser. Aquele outro é não índio Fog ũ ẽn fi vẽ Não índia. pron.dem. ser É aquela não índia.

80 Ĩn ẽn vỹ mrá to he Casa pron.dem. m.suj. quebrada (cair). Aquela casa caiu (quebrou). Posição de Objeto/ Predicado: 168 (a). Kanhgág ẽn fi ve inh Kaingang pron.dem. fem ver 1p.sg. Eu vi aquela kaingang Quando usado como pronome na posição de objeto em uma sentença, como observamos neste dado, o pronome posicionou-se após o nome kaingang e seguido da partícula que indica o gênero feminino. Logo após, o informante falou outra frase, mas desta vez usando o advérbio {tã tá}, como corrigindo a si próprio ao pronunciar esta frase em kaingang. Podemos observar que o pronome pessoal mudou sua posição na estrutura frasal, ficando próximo ao advérbio, porém, o pronome demonstrativo continua no mesmo lugar nesta estrutura, após o nome, seguido da partícula de gênero e do verbo. 168 (b). Tã tá inh kanhgág ẽn fi ve Lá longe 1p.sg. kaingang pron.dem. fem ver. Eu vi aquela kaingang. 169 (a). Kanhgág ẽn ve inh Kaingang pron.dem. ver 1p.sg. Eu vi aquele kaingang. 169 (b) Tã tá inh kanhgág ẽn ve Lá longe 1p.sg. kaingang pron.dem. ver. Eu vi aquele kaingang. No dado 169, a estrutura é a mesma. Só não é usada a partícula feminina {fi}, pois em kaingang o masculino é um gênero não marcado. Portanto o pronome também não recebe a marca de gênero masculino.

81 79 A ordem oracional nos dados 168(a) e 169 é O V S. Já no dado 168, (b) onde vemos o acréscimo do advérbio {tã tá}, a estrutura é S O V. Algo que foi freqüente nos dados é a posição do pronome demonstrativo ser usado após o nome a que se refere como vimos nos dados de nº: 162, 163, 165, 166, 167, 168 (a/ b), 169 (a/ b) e veremos nos dados: 171, 173, 174, 175, 182, 183, 184, 185, 186, 189. Isto acontece tanto nas sentenças afirmativas como nas interrogativas Tag mỹ há pron.dem. ind. p. bem Este está bem? Posição de Objeto/ Predicado: 171. Kanhgág tag fi ẽn fi vê inh Kaingang pron.dem. ver 1p.sg. Eu vi esta/ aquela índia Ne nẽ, tag ti Pron. int., coisa isto O que é isto? No dado de nº 172 ocorre uma inversão. O pronome demonstrativo {tag} posiciona-se antes do pronome {ti}. Talvez seja uma forma comum usada em sentenças interrogativas. Posição de Sujeito: 173. Garafa ẽn mỹ sĩ jẽ Garrafa pron.dem. ind. p. pequena ind. a. Aquela garrafa é pequena? O informante, ao falar esta sentença, acrescentou uma explicação sobre as partículas usadas. Porém, neste trabalho não irei me ater aos estudos das partículas usadas, pois teria que trilhar por um caminho longo e me desviar da descrição simples do sistema pronominal em kaingang.

82 80 Posição de Objeto/ Predicado: 174. Jandira fi tã tá kanhgág ẽn ve Jandira fem. lá longe kaingang pron.dem. ver. Jandira viu aquele kaingang à mỹ tã ta kanhgág ẽn ve 2p.sg.suj dat. lá longe kaingang pron.dem. ver Você viu aquele kaingang? Nas sentenças 174 e 175 vemos a diferença entre uma sentença nominal afirmativa e a interrogativa com sujeito pronominal. A estrutura de ambas as sentenças é S O V. As duas têm o advérbio que demonstra a distância do falante de sobre quem se fala {tã tá}. (modelo) 176. Gãr tu inh Milho carregar 1p.sg. Eu carreguei milho 177. Gãr tỹ tã tá jẽ ẽn tu inh Milho suj. top. tá longe ind. a. pron.dem. carregar 1p.sg. 24 Aquele milho foi eu que carreguei. Comparando os dados 176 e 177, percebemos que ao adicionar o pronome demonstrativo aquele {ẽn}, a sentença mudou não apenas com o acréscimo do pronome, mas foi adicionado também o advérbio {tã tá}, a partícula {jẽ} e a partícula {tỹ}. Estas estruturas ficaram no meio da sentença anterior como vemos abaixo e o pronome demonstrativo posicionou-se afastado do nome que ele modifica: Gãr tu inh. Gãr tỹ ta tá jẽ ẽn tu inh. 24 No dado 173, usou-se a partícula {jẽ}. Meu informante me disse que não podia usar partícula {nĩ}, porque garrafa é coisa comprida. Porém, se a garrafa estivesse deitada a partícula seria {na}. {Na}, portanto, é partícula marcadora de coisa deitada.

83 81 Posição de Sujeito: (modelo) 178. Ludo vỹ móra nig tũ nĩ 25 Ludo m.suj. bola chutar não ind.a. Ludo não chutou a bola 179. Tã tá jẽ ẽn vỹ mora nig tũ nĩ Lá longe ind.a. pron.dem.m. suj. bola chutar (sg) neg. ind.a. Aquele lá não chutou a bola. Para verificarmos a posição de um pronome demonstrativo numa sentença negativa, coletamos os dados 178 e 179. Mais uma vez, podemos observar o advérbio de lugar sendo usado para indicar a distância com relação de quem se fala. No dado 179 vemos o acréscimo da partícula {jẽ} e a partícula marcadora do sujeito {vỹ}. A partícula {vỹ} geralmente é usada com sujeitos nominais, mas nesta sentença ela é usada numa frase de sujeito pronominal. Com isto, podemos ver que o pronome demonstrativo {ẽn} está na função de substantivo. As sentenças com pronomes demonstrativos no plural, na posição de sujeito, mantêm a mesma ordem oracional que as sentenças com pronomes demonstrativos no singular, como podemos verificar nos dados de nº. 164, 167, 173, 179, onde a estrutura é S V, SV, SV e S O V, respectivamente. 180 (a). Nén há vẽ Coisa boa ser Isto é bom (lit. A coisa é boa). 180(b) Tag vỹ tỹ nén há nĩ Pron.dem. ind. suj. top.coisa boa ind.a. Isto é bom. (lit. Esta coisa é boa). Nos dados 180 (a/ b), temos duas sentenças que foram usadas com o mesmo significado. O ajudante kaingang disse que as duas sentenças estavam 25 Dado usado como modelo para contrastar.

84 82 corretas, porém, percebemos que somente a 180 (b) faz uso do pronome {tag} (isto aqui). Assim como no dado 179, vemos a partícula que marca o sujeito {vỹ} sendo usada numa sentença de sujeito pronominal. Também é acrescentada a partícula {tỹ} e no final da sentença a partícula usada é a {vẽ} muda para a partícula {nĩ} Gĩr tag fi gãr tu Menina pron.dem. milho carregar Essa/ esta menina carregou milho. Em kaingang, parece não haver diferença entre os pronomes essa/esta, como temos na língua portuguesa. Pois neste dado para ambos os pronomes foi dada a mesma sentença. Como já observamos anteriormente, até mesmo para diferenciar a distância de que se fala foi usado o advérbio {tã tá} (lá longe). Posição de Objeto/ Predicado 182. Jandira fi gĩr tag fi mỹ gãr tu Jandira fem. menina pron.dem. posp milho carregar Jandira carregou milho para essa/ esta menina. 3ª Pessoa do Plural: Posição de Sujeito: 183. Kanhgág ag ag vỹ gãr rĩg tĩ Kaingang pron.dem. ind. suj. milho levar (nas costas) Estes kaingang carregam milho. Posição de Objeto: 184. Mário vỹ gãr tag ag tu Mario ind. suj. milho pron.dem. carregar Mário carregou estes milhos. Na posição de objeto, neste dado, o pronome demonstrativo posiciona-se após o nome a que se refere e a estrutura é S O V. Quando o pronome {tag fi} (esta aqui) foi usado como sujeito, ele posicionou-se após o nome {Gĩr} (dado nº 181). A partícula indicadora do gênero

85 83 feminino, quando usada juntamente com um pronome demonstrativo, posiciona-se logo após o pronome. Esta é a seqüência usada quando temos um pronome junto ao nome: nome+ pronome demonstrativo+ partícula de gênero feminino (181. Gĩr tag fi...). Esta mesma seqüência é usada quando temos o pronome na posição de objeto ( gĩr tag fi...). É interessante notar que, ao acrescentarmos o sujeito nominal Jandira, o nome é o primeiro constituinte da sentença, junto com a partícula de gênero {fi}, seguido da sentença completa do dado 184, porém com o acréscimo da posposição {mỹ} (para). Gĩr tag fi gãr tu. Jandira fi gĩr tag fi mỹ gãr tu. Posição de Sujeito 185. Tag fag vỹ gãr rinh tĩ. Pron.dem. ind. suj. milho carregar (pl.) ind. a. Estas aqui carregaram milho. Nos dados 183 e 185, temos a estrutura S O V. A diferença entre eles é o pronome sendo usado acompanhando o nome (Kanhgág tag ag) e o pronome sozinho (Tag fag), em ambos os exemplos, na posição de sujeito. Nas duas sentenças também podemos ver que eles fazem parte dos primeiros constituintes da sentença, somente o verbo carregar (pl.) que muda de {rĩg} (183) para {rinh} (185). Posição de Objeto 186. Gãr tỹ tã tá jẽ ẽn ag tu inh. Milho ind. top. lá longe ind. a pron.dem. pl.carregar 1p.sg. Eu carreguei aqueles milhos. Este dado possui a mesma estrutura do dado 177 O V S. O que difere é o pronome demonstrativo no plural. Em ambas as sentenças, o pronome demonstrativo não está próximo ao nome, como em sentenças anteriores. Entre eles temos as partículas {tỹ} (ind. top.), o advérbio de lugar {tã tá} e a partícula {jẽ} (ind.a.). Observe abaixo:

86 84 Gãr tỹ tã tá jẽ ẽn tu inh. Gãr tỹ tã tá jẽ ẽn ag tu inh. Posição de Sujeito 187. Tã tá nỹtĩ ẽn ag vỹ mora nignig tũ nĩ Lá longe ind.a. pron.dem. lá m. suj. bola chutar (pl.) não ind.a. Aqueles lá não chutaram a bola. Posição de Objeto 188. Kanhgág ẽn fag ve inh Kaingang pron.dem. ver 1p.sg. Eu vi aquelas kaingang. Comparando os dados 168(a) - pronome demonstrativo no singular {ẽn fi} e 188 {ẽn fag}, podemos ver as sentenças com a mesma estrutura oracional O V S. Quando o pronome {ẽn fi} é passado para o plural, vemos a união do fi + ag = fag. Ocorre a junção da vogal final do morfema de marca de gênero com a vogal a inicial do morfema de plural em kaingang {ag}. Podemos ver que ocorre um metaplasmo por sinalefa Kanhgág ẽn ag vê inh Kaingang pron.dem. ver 1p.sg. Eu vi aqueles kaingang. Nos dados de nº 183 a 189, temos os pronomes demonstrativos no plural {tag ag} (estes aqui), {tag fag} (estas aqui), ẽn ag (aqueles lá), ẽn fag (aquelas lá). A mesma estrutura ocorre com os dados 189 e 169 (a) O V S. No dado 189, ocorre a pluralização do pronome usado no dado 169: {ẽn} para {ẽn ag} (189). No dado 189, não foi usado o advérbio de lugar {tã ta}, como no dado 169 (b). 26 Sinalefa é o fenômeno de fusão através do qual duas emissões se confundem numa só (1), através de elisão. Uma das vogais desaparece (DAVID, 2000).

87 PRONOMES REFLEXIVOS De acordo com Shopen (1985a, p. 27): [...] Reflexive pronouns are pronouns wich are interpreted as coreferential with another nominal, usually the subject; of the sentence or clause in with they occur. No inglês, há duas formas para os pronomes reflexivos: {sef/ selves} que correspondem ao singular/ plural, respectivamente: Peter shaved himself/ Peter and Bob shaved themselves. Ainda segundo o autor acima citado, algumas línguas, que distinguem pronomes reflexivos e não-reflexivos de terceira pessoa, não fazem distinção para as outras pessoas. Ao invés disto, usam o mesmo pronome para a primeira e a segunda pessoa, reflexiva e não-reflexivamente. Vejamos os exemplos: Ils me voient Eles me vêem (They see me) Je me vois Eu me vejo (I see myself) Ils te voient Eles te vêem / Eles você ver Eles vêem você (They see you) Tu te vois Você você ver Você vê você mesmo (You see yourself) Ils les voient Eles eles vêm (They see themselves) Outras línguas que não possuem pronomes reflexivos ou nomes que são interpretados como reflexivos, o sentido de ação reflexiva é expresso por um

88 86 sufixo verbal {- ic i-}, como podemos ver nos exemplos da língua Tswana (SHOPEN, 1985a, p. 29). Ke- tla- i -thêk- êla selêpê Eu fut. refl. comprar benef. machado Eu deveria comprar um machado para mim mesmo. kaingang são: Segundo o dicionário de Wiesemann, os pronomes reflexivos em Vẽnh- de si mesmo. Os dados abaixo foram coletados para verificação das estruturas em sentenças com o uso destes pronomes. a) 1ª Pessoa do Singular 190. Goj ki inh vẽnh kypé. Água dentro 1p.sg. pron. ref. dar banho. Eu me lavo nome no rio. b) 2ª Pessoa do Singular 191. Goj ki ã vẽnh kypé Água dentro 2p.sg.pron. ref. lavar. Você se lava no rio. c) 3ª Pessoa do Singular 192. Jandira fi vỹ vẽnh rem Jandira fem m. suj. pron. ref. pentear. Jandira penteou-se 193. Vẽnh rem fi Pron. ref. pentear 3p.sg. Ela penteou-se. Comparando os dados 192 e 193, podemos observar que o pronome reflexivo é posicionado como o primeiro constituinte da sentença que tem o sujeito pronominal. O verbo segue o pronome reflexivo em ambas as sentenças, mesmo as

89 87 sentenças sendo diferentes em suas estruturas: uma com sujeito nominal e a outra com sujeito pronominal Vẽnh kypé fi. Pron. refl. tomar banho 3p.sg. Ela se lava no rio Jandira fi vỹ vẽnh kypé. Jandira fem. m. suj. pron. ref. lavar. Jandira lavou-se no rio Manoel vỹ vẽnh so há nĩ. Manoel m. suj. pron. ref.? gostar in.d a. Manoel gosta dele mesmo Jandira fi vỹ vẽnh so há nĩ. Jandira fem m. suj. pron. ref.? gostar ind. a. Jandira gosta dela mesma. d) 1ª Pessoa do Plural 198. Goj tá ẽg vẽnh kypé. Água lá 1p.pl. pron. ref. lavar Nós nos lavamos lá no rio. e) 2ª Pessoa do Plural 199. Goj ki ajãg vẽnh kypé. Água dentro 2p.pl. pron.ref. lavar. Vocês se lavam no rio. f) 3ª Pessoa do Plural 200. Kanhgág ag vỹ goj ki vẽnh kypé. Kaingang pl. m. suj. água dentro pron. ref. lavar. Os kaingang se lavam no rio Vẽnh kypé ag tĩ. Pron. ref. lavar 3p.pl. ind.a.

90 88 Eles se lavam no rio. Podemos observar que o pronome reflexivo {vẽnh} é usado em todas as pessoas, como vemos nos dados 190 (1ª p.sg.), 191 (2ª p.sg.) 192(3ª p.sg.), 193 (3ª p.sg.), 194 (3ª p.sg.), 195 (3ª p.sg.), e 196 (3ª p.sg.), 197 (3ª p.sg.), 198 (1ª p.pl.), 199 (2ª p.pl.), 200 (3ª p.pl.), 201 (3ª p.pl.), e ainda veremos no dado 203 (3ª p.pl.). Em todas as sentenças acima citadas, o pronome {vẽnh} foi posicionado antes do verbo. Também, na maioria das sentenças, este pronome reflexivo seguiu o sujeito pronominal. É o que vemos nos dados 190, 191, 198, e 199. Contudo, nas sentenças em que o sujeito é nominal, ele foi posicionado após a partícula que marca o sujeito, a partícula {vỹ}, como podemos notar nos dados de nº. 192, 195, 196 e 197. Nos dados 190, 191, 194 e 198, vemos a mesma estrutura-o S V, em frases com sujeito pronominal e que denotam a mesma ação: tomar banho (verbo kypé). Os pronomes, nessas sentenças, são referentes às 1º e 2º pessoas, tanto no plural como no singular. Contudo, podemos notar que, quando o pronome reflexivo {vẽnh} é usado em referência à 3ª pessoa, tanto do singular como do plural, a estrutura da sentença é outra. É o que vemos nos dados 194 e 201. As sentenças com a 3ª pessoa do singular e do plural são sentenças mais simples, isto é, não têm as palavras {gój ki, gój ta}. Elas usam somente o verbo, o pronome pessoal e o reflexivo. No dado 201 foi usada a partícula {tĩ} no final da sentença, o que não aconteceu com a sentença com o pronome pessoal referente à 3ª pessoa do singular. A mesma estrutura usada nos dados 194 e 201: Pr. ref. V S pron. é usada na sentença de nº A mesma ação dos dados 190, 191, 194, 198 é repetida no dado de nº 200, porém, com sujeito nominal. Comparando estes dados podemos notar que, quando a sentença tem um sujeito nominal, ele é posicionado como o primeiro constituinte da sentença, seguido da expressão {gój ki}, e somente depois o pronome reflexivo e o verbo.

91 Pronomes Recíprocos Pronomes recíprocos, assim como os pronomes reflexivos, são pronomes que expressam ações mútuas, condições, etc. (SHOPEN, 1985a). Em inglês temos as expressões: each other, one another, que em português correspondem a um ao outro, cada um. Os pronomes reflexivos e os recíprocos são frequentemente relacionados e em algumas línguas podem ocorrer certa ambigüidade. É o caso do francês. Observemos os exemplos abaixo: 27 Ils se flattent Eles refle/rec lisonjear Eles lisonjearam a si mesmos/ Eles lisonjearam um ao outro. Para não haver esta ambigüidade, é preciso adicionar à sentença a expressão L um l autre (um ao outro): Ils se flattent l um l auntre Eles refl/ rec lisonjear um ao outro Eles se lisonjearam um ao outro Câmara Júnior (2004, p. 164), em seu dicionário de Lingüística e Gramática, amplia o assunto sobre pronomes reflexivos e recíprocos, nomeando esta construção de voz medial. De acordo com este autor, voz medial corresponde na língua portuguesa, a uma forma adverbal átona, que se une ao verbo na voz ativa, contudo, não somente como uma forma pronominal, mas como uma voz que marca a presença do sujeito na ação do verbo. Alguns exemplos de voz medial dados por este autor são: 28 Medial reflexiva: o objeto parte de uma ação verbal transitiva. Exemplo: Eu me feri. Com a construção não pronominal, o 27 Exemplos retirados do livro Language Typology and Syntactic Description. (SHOPEN, 1985a). 28 Exemplos retirados do dicionário de Câmara Júnior Dicionário de Linguística e Gramática (2004).

92 90 objeto é autônomo e não há alteração no significado: Eu o feri. Medial dinâmica: o objeto é o centro de uma ação verbal transitiva, que parte dele, mas não sai do seu âmbito. Exemplo: Eu me levantei. Com a construção não pronominal o significado é alterado: Eu o levantei (= o suspendi). Medial expletiva: a pessoa do sujeito fica como o centro de uma ação verbal intransitiva e intensamente marcado. É uma forma estilística de marcar a ação do sujeito. Exemplo: Eu me ri. Na construção não pronominal não há alteração na significação verbal, porém, não há ênfase na ação do sujeito. Exemplo: Eu ri. kaingang são: Segundo o dicionário de Wiesemann, os pronomes reflexivos em Jagnẽ - usado como pronome recíproco= um ao outro. A partir dos dados 202, temos este pronome {jagnẽ} sendo usado nas sentenças, como pronome recíproco, indicando ações onde o sujeito pratica e recebe a ação, não dele mesmo, mas de outro. O significado dos pronomes reflexivos e recíprocos é bem próximo. Contudo, as ações que os pronomes recíprocos expressam, não são com uma mesma pessoa, mas sim pessoas diferentes que executam ações concomitantes, mútuas (como já foi citado, anteriormente) Ag juju kỹ jagnẽ kóké 3p.pl. briga conj. pron. rec. estragar. Na briga, eles se machucaram Kanhgág ag vỹ jagnẽ vẽnh so há nỹtĩ Kaingang pl. m. suj. pron. rec. pron. ref.? gostar ind.a. Os kaingang sabem muito de si mesmos.

93 Kanhgág ag vỹ jagnẽ so há nytĩ Kaingang pl. m. suj. pron. rec.? gostar ind. a. Os kaingang sabem muito um do outro. Notamos que, na sentença de nº. 202, o pronome {jagnẽ} demonstra esta ação mútua. O pronome {jagnẽ} também foi posicionado antes do verbo da mesma forma que o pronome reflexivo {vẽnh}. A mesma posição na estrutura da sentença ocorre no dado 204. Porém, vemos que nesta sentença, onde o sujeito é nominal, o pronome foi usado após a partícula que marca o sujeito {vỹ}. Comparando os dados 203 e 204, podemos notar que as duas sentenças são bem semelhantes, porém, na sentença em que o sentido foi de si mesmos, foram usados os dois pronomes {jagnẽ} e {vẽnh}, lado a lado. Na sentença em que a ação era de um com o outro foi usado somente o pronome {jagnẽ}. No dado 203, o informante, ao usar os dois pronomes, deu o significado de que os kaingang sabem de si mesmo e de outros kaingang. A estrutura de ambas as sentenção são: S pr. V Kanhgág ag ãjag vẽme tãvĩ hã tó tĩ Kaingang pl. 3 p.pl. mesmos histórias muito ind. o. contar ind. a. Os kaingangs contam muitas histórias deles mesmos. O pronome {ajãg} foi usado como pronome reflexivo na sentença de nº Segundo Wiesemann (2002), este pronome é usado somente no dialeto dos kaingang do Paraná e sempre na 3ª pessoa do plural. Este pronome foi posicionado antes do verbo e após o sujeito nominal. Nesta sentença não se vê o marcador do sujeito, a partícula {vỹ}, como foi usada nas sentenças 203 e Jagnẽ mỹ ag tóg vĩ Pron. recip posp 3p.pl. suj. ag. falar Eles falaram um com o outro com raiva 207. Jagnẽ to ag há nỹtĩ Pron. recip posp 3p.pl. bom ser Eles se amam.

94 Jagnẽ tũ vóg ag tóg Pron. recip. coisa tocar 3p.pl. suj.ag. Eles roubam coisas (um do outro) Jagnẽ mré ag tóg rárá tĩ Pron. recip posp 3p.pl. suj. ag. lutar ind.a. Eles lutam um com outro Na sentença de nº. 208, na qual não se usa posposição, o sujeito pronominal foi posicionado depois do verbo, como o último constituinte da estrutura. Temos, então, as seguintes estruturas com o pronome {jagnẽ}: Pron. rec. S V - nos dados 206, 207, 209. Pron. rec. O V S - no dado 208. Nos dados de nº. 206 a 209 vemos o pronome recíproco {jagnẽ} sendo usado para expressar ações mútuas. Ele é o primeiro constituinte nestas sentenças. No dado 206, 207 e 209, após o pronome recíproco, vemos as posposições: {mỹ}, {to} e {mré}, respectivamente. O sujeito pronominal após as posposições e no final destas sentenças, os verbos. 7.8 PRONOMES RELATIVOS São chamados de pronomes relativos, pois fazem referência a algum termo anteriormente mencionado no texto, chamado antecedente. Com isto, exercem uma relação de natureza anafórica. Os pronomes relativos na língua portuguesa são: Substantivos: que, quem, quanto (precedido de tudo, todos); Adjetivos: cujo (e flexões - do qual ou de quem); Substantivos ou adjetivos: o qual (e flexões a qual/ as/ os quais); Advérbios: como, quando, onde;

95 93 Este termo antecedente do pronome relativo pode ser: 29 Um substantivo: Dêem-me as cigarras que eu ouvi um menino. (Manuel Bandeira) Um adjetivo: As opiniões têm como as frutas o seu tempo de madureza em que se tornam doces de azedas ou astringentes que dantes eram. (Marquês de Maricá) Um pronome: Aquele que partiu no brigue Boa Nova e na barca Oliveira, anos depois, voltou.... (Antônio Nobre). Um advérbio: Lá, por onde se perde a fantasia No sonho da beleza; lá, aonde A noite tem mais luz que o nosso dia... (Antero de Quental) Uma oração: (resumida pelo demonstrativo o ): Estou muito nervoso, o que é mau. (Antônio Nobre) Os pronomes relativos exercem sempre uma função sintática nas orações que eles iniciam, ao contrário dos conectivos, que são simplesmente meros conectores. Esta função sintática não tem nada a ver com a função de seu termo antecedente. Ela é indicada pelo papel que o pronome irá desempenhar na oração subordinada na qual ele estará inserido. Sintaticamente, os pronomes relativos podem exercer a função de: Sujeito: Quero ver do alto do horizonte, Que foge sempre de mim. (Olegário Mariano) 29 Exemplos retirados do livro Gramática do Português Contemporâneo. (CUNHA, 1970, p ).

96 94 Objeto Indireto: Eu aguardava com uma ansiedade medonha esta cheia de que tanto se falava. (José Lins do Rego) Objeto Direto: Penas que eu próprio busquei, Como agora as deixarei?. (Guimarães Rosa) Predicativo: Não conheço quem fui no que sou hoje. (Fernando Pessoa) Adjunto adnominal: Há pessoas cuja aversão e desprezo honra mais que os seus louvores e amizade. (Marquês de Maricá) Complemento Nominal: Denunciava João Nunes tão sincera alegria que cheguei a acreditar nas maravilhas estupendas de que é capaz um esquisito. (Camilo Castelo Branco) Adjunto adverbial: Enamorado de si próprio morreu Narciso à beira dum regato onde se mirava. (Miguel Torga) Agente da passiva: Sim, adorável pupila, a quem amo, a quem idolatro e por quem sou correspondido com igual ardor. (Aluísio de Azevedo) Em kaingang, segundo o dicionário de Wiesmann (2002), temos um único pronome relativo {ũn} - aquele que. Alguns dados foram escolhidos para descrever este pronome em kaingang. Nos exemplos foram usados somente verbos intransitivos, a fim de que não surgissem partículas, ou outros elementos na estrutura frasal, em kaingang, que

97 95 impedissem a visualização das oraçãos: principal e subordinada e a posição do pronome relativo nessa língua. Vejamos os exemplos abaixo: 210. (a) Ter ti Morrer 3p.sg. Ele morreu (b) Ũn ter mũ ki inh kagtĩg nĩ Pron. rel. morrer ind. a. ind. circ. 1p.sg. não saber ind.a. Eu não conheço o homem que morreu (c) Kanhgág ter mũ ẽn ki ẽg kanhró nỹtĩ Kaingang morrer ind.a. pron.dem. ind. cir. 2p.pl. saber ind.a. 30 Nós conhecemos o índio kaingang que morreu. No exemplo 210 (a), temos uma oração simples, com a estrutura S V, a que ocorre na maioria das sentenças com sujeito pronominal. Nas orações contidas no exemplo 210 (b), a oração subordinada é a primeira na corrente das orações. O pronome relativo {ũn} inicia esta sentença. Ele posiciona-se antes do verbo, sendo o único elemento no SN sujeito. Na oração principal temos a estrutura S V. O sujeito está entre o verbo ki kagtĩg ki inh kagtĩg. No exemplo 210 (c) temos duas orações, na qual a primeira tem um sujeito nominal e sua estrutura frasal é S V. Não foi usado o pronome relativo {ũn}, mas conectando as duas orações temos o pronome demonstrativo {ẽn} que funciona como um pronome relativizador. A segunda oração, que é a principal, tem a estrutura S V, também com o pronome pessoal de segunda pessoa do plural intercalado entre o verbo ki kanhró: ki ẽg kanhró. A estrutura das duas orações é: 30 {mũ}= ação única, aspecto narrativo.

98 96 Oração Simples Ter ti (Pronome Relativo) Oração Subordinada Pronome Oração principal Ũn ter mũ Ki inh kagtĩg nĩ Kanhgág ter mũ ẽn ki ẽg kanhró nỹtĩ. Vemos nestas orações uma dependência catafórica, pois a oração principal é a última na corrente das orações (a) Jun fi Chegar 3p.sg. Ela chegou (b) Jandira fi vỹ tóg, ũn jun mũ fi ki kagtĩg nĩ Jandira fem.m.s. suj.ag., p.rel. chegar ind.a. fem. não saber ind.a. Jandira não sabe quem chegou (c) Jandira fi ũn tĩ mũ ẽn ki kagtĩg nĩ Jandira fem p.rel. ind.a. andar pron.dem. não saber ind.a. Jandira não conhece o homem que saiu. No exemplo 211 (a) temos uma oração simples, com sujeito pronominal e estrutura V S. Na sentença 211 (b), a oração principal iniciou a corrente das orações e também terminou. Intercalada, posicionou-se a oração subordinada, que foi iniciada pelo pronome relativo {ũn}, na posição de sujeito (único elemento do SN sujeito). A estrutura da oração subordinada foi S (pr.rel.) V. A segunda parte da oração principal (a final), repetiu-se o pronome pessoal (3ª p. sg.) {fi} antes do verbo. A estrutura da oração principal foi S (S) V. No dado 211 (c) foi usado o pronome relativo {ũn}. O sujeito da oração principal e o sujeito da oração subordinada estão lado a lado como os primeiros constituintes das duas orações: principal e subordinada, respectivamente. O verbo da oração subordinada posicionou-se após os dois sujeitos e o verbo da oração principal, no final, seguido da partícula de aspecto {nĩ}. Antes do verbo da

99 97 oração principal foi usado o pronome demonstrativo {ẽn}. Esse pronome, conforme Wiesemann (2002) significa aquele que já foi mencionado. Nestes exemplos, a orações subordinadas estão posicionadas no meio das orações principais. A estrutura das orações é: Oração Simples Jun fi Or. Princ. (suj.) (Pron. Rel.) Or. Subord. Pronome Or. Principal Jandira fi vỹ tóg ũn jun mũ Fi ki kagtĩg nĩ Jandira fi ũn tĩ mũ ẽn ki kagtĩg nĩ. Pode-se perceber que na sentença, em kaingang, a palavra homem {ũn gré} não aparece na oração subordinada. Se fosse usada a palavra mulher {ũn tỹtá}: 212. Jandira fi ũn tĩ mũ ẽn fi ki kagtĩg nĩ Jandira fem p.rel. ind.a. andar pron.dem. não saber ind.a. Jandira não conhece a mulher que saiu. O dado de nº. 212 tem a mesma estrutura do dado 211 (c). A única diferença é a partícula de gênero feminino usada após o pronome {ẽn}. Também não foi usada a palavra mulher {ũn tỹyá}, na sentença, em kaingang Ũn tĩ mũ ẽn ki inh kagtĩg nĩ P. rel. ind.a. andar pron.dem. 1p.sg. não saber ind.a. Eu não conheço o homem que saiu. No dado acima (213), o pronome relativo inicia a corrente das orações. Foi usado novamente o pronome demonstrativo {ẽn}. A oração principal teve o seu sujeito posicionado no meio das palavras que formam a expressão verbal não saber - ki inh kagtĩg. A estrutura dessa oração é: (Pronome Relativo) Oração Subordinada Pronome Oração Principal

100 98 Ũn tĩ mũ ẽn ki inh kagtĩg nĩ Pode-se perceber que neste dado, a palavra homem {ũn gré} também não aparece na oração subordinada. Se no exemplo fosse usada a palavra mulher {ũn tỹtá}: 214. (a) Ũn tỹtá fi vỹ nũr Mulher fem. m.suj. dormir. A mulher dormiu (b) Ũn nũr mũ ki inh kagtĩg nĩ P. rel. dormir ind.a. 1p.sg. não saber ind. a. Eu não sei quem dormiu Jandira fi tỹ vestido kajãm mũ ẽn fi mỹ há nĩ Jandira fem.ind.top. vestido comprar ind.a. pron.dem. gostar ind.a. Jandira gostou muito do vestido que comprou. Ao analisar o exemplo acima temos duas orações: Jandira fi tỹ vestido kajãm mũ Ẽn fi mỹ há nĩ. Nestas orações não é usado o pronome relativo {ũn}, mas temos o pronome demonstrativo, funcionando como pronome relativizador. Conforme os outros dados, a oração subordinada precede ou está inserida no meio da oração principal. Neste exemplo, não temos como deduzir, com certeza, qual é a oração subordinada e qual é a principal. Se considerarmos o fato do pronome {ẽn} estar referindo-se à palavra vestido, podemos considerá-la, a última oração, como a oração subordinada. A estrutura da primeira oração é S O V e da segunda é S V. Uma das dificuldades nas análises das orações subordinadas é saber, exatamente, qual a marca da oração principal, se é que ela existe. Mas isto ficará para um trabalho posterior Isỹ ũn mỹ documentos vin mũ fi vỹ secretaria fi nĩ 1.p.sg. p.rel. posp documento dar ind.a. ela m.suj. secretária fem. ind.a. A pessoa a quem entreguei os documentos é a secretária.

101 99 O sujeito da oração subordinada e o pronome relativo {ũn} estão no início das orações, lado a lado (como no exemplo 211(c)). A oração subordinada está, também, no início da corrente de duas orações. A posposição {mỹ} segue o pronome relativo. O verbo da oração subordinada {vin} - dar está posicionado após o objeto documentos. Este verbo está no plural, concordando com o objeto (documentos). O pronome relativo, sujeito da oração subordinada, refere-se à palavra secretária. Também temos, neste dado, uma dependência catafórica, pois a oração principal é a última. A estrutura destas duas orações é: Oração subordinada Oração Principal Isỹ ũn mỹ documentos vĩn mũ Fi vỹ ty secretaria fi nĩ. 8 PRONOMES ANALISADOS EM UM TEXTO Antes de analisarmos os pronomes em um texto, vamos, primeiramente, tratar sobre o que é um texto e como ele pode ser composto, organizado e de que forma os pronomes, em kaingang, são usados, interagindo com outros elementos nas orações. Todos os constituintes de uma sentença formam um todo, chamado texto, têm um único objetivo, que é dar sua significação. Um texto não é simplesmente, uma sequência de palavras ou uma simples sucessão de frases, mas sim, relações entre frases de vários níveis, que através de elos, geram uma(s) informação (ões). Todos os elementos de um texto mantêm-se interligados a um tema, os quais condicionam o processo de expansão deste tema. Mesmo em um eixo de sucessividade, os elementos constitutivos do texto executam um movimento de vaivém (antecipação ou retroação), permitindo desta forma não somente distinguí-los, como também captar a significação presente nesse texto. Com isto, em um texto, há uma solicitação constante de que o leitor pere reagrupamentos de elementos distanciados entre si, um destes elementos são os pronomes. Eles dão ao leitor, através de uma rede de relações, a capacidade de captar o sentido do texto. Segundo Guimarães (2006, p. 14), a palavra texto significa:

102 100 Um enunciado qualquer oral ou escrito, longo ou breve, antigo ou moderno. [...] São textos, portanto, uma frase um fragmento de um diálogo um provérvio, um verso, uma estrofe,... Quando não limitado às fronteiras da linguagem verbal, no plano semiótico, de sentido multidimensional, texto ou discurso é sinônimo de processo que engloba as relações sintagmáticas de qualquer sistema de signos. O texto é produzido, segundo regras de um sistema gramatical, dentro de um contexto, e se esse contexto não for conhecido pelo receptor, sua mensagem poderá ser não tão claramente, inteligível. Segundo Guimarães (2006, p. 36), os pronomes pessoais (também considerados pró formas) são substitutos textuais, eles são elementos endofóricos (dentro do texto), em uma função anafórica. Os pronomes de primeira e segunda pessoa são usados em função contextual (função exofórica), aos participantes do ato comunicativo. Os pronomes de terceira pessoa também podem cumprir o papel em função exofórica, mas participam endoforicamente. Quando se usa o eu em um texto, não se refere a um termo antecedente, mas refere-se ao falante. A mesma coisa acontece com a segunda pessoa. Os de terceira pessoa são substitutivos de elementos intratextuais. Por exemplo: Robson e Emília ganharam um presente. Ele gostou muito do presente. Para que um texto possa ter sentido, ter significação é preciso que haja coesão e coerência. Koch e Travaglia (1999, p. 11 e 13) definem como Coerência: [...] algo que se estabelece na interação, a interlocucação, numa situação entre dois usuários... a possibilidade de estabelecer, no texto, alguma forma de unidade ou relação. Coesão: É explicitamente revelada através de marcas lingüísticas, índices formais na estrutura de sequência lingüística e superficial do texto, sendo, portanto, de caráter linear,... é sintática e gramatical Todo texto nos dá pistas que nos permitem calcular seu sentido, sua coerência. Desta forma, leitor e texto iniciam um relacionamento. Porém, esta relação, dependerá, algumas vezes, do conhecimento de mundo deste leitor (receptor) e do conhecimento dos elementos lingüísticos para que o sentido do texto seja descoberto. O conhecimento do mundo é como uma espécie de dicionário e de cultura arquivado na memória do leitor.

103 101 De acordo com Halliday e Hasan (apud KOCH; TRAVAGLIA, 1999, p. 13) a coesão é a relação semântica entre um elemento do texto e outro elemento que é crucial para sua interpretação. [...] A coesão é interna (linguística) e a coerência, externa, pois diz respeito aos contextos de situação. A coerência coloca em funcionamento processos cognitivos que estão além dos meros traços do texto. Van Dijk (apud KOCH; TRAVAGLIA, 1999, p. 19) postula que a coerência não é apenas uma propriedade do texto, mas se estabelece numa situação comunicativa entre usuários que têm modelos cognitivos comuns ou semelhantes, adquiridos em dada cultura. Com isto, concluímos que um texto pode ter diversos significados, dependendo do seu receptor. Nosso conhecimento de mundo tem papel decisivo no estabelecimento da coerência. Ao lermos um texto, em outra língua e cultura, pode ser que esse texto não produza um sentido claro, caso seus elementos lingüísticos e conhecimentos exteriores ao texto sejam desconhecidos por nós. Ao lermos um texto em kaingang, pode ser que ele não tenha tanto significado, pois não temos tanto conhecimento sobre esta cultura. A partir de agora, analisaremos os pronomes, em kaingang, em um texto, a fim de verificarmos a posição na estrutural frasal, como um todo, e não simplesmente, em uma única sentença. O sentido do texto precisa do elemento pronome, pois eles remetem aos participantes dos atos deste discurso, a recuperação de nomes, a indicação de posses, de locais, de definições ou indefinições, etc. O texto que será analisado foi retirado da revista Catálogo de Cestarias Kangáng- KRE kygfy- traçado em kaingang. (2007). Terra Indígena do Apucaraninha. Texto de Marlene de Oliveira. Tradução Kaingang Manuel Norég Mág Felisbino. (1) Tag ki, kanhgág ag jamã tỹ karỹnĩnh ki, kanhgág fag Dentro de, Kaingang pl. moradia ind. top Apucaraninha em, kaingang 3 p.pl. Dentro das terras do Apucaraninha, as kaingang

104 102 (2) vãgfỹ ti vỹ tóg fag jygkre pẽ nĩ, trançado pron.dem. m.suj. ind. suj. top 3p.pl. sistema muito ind.a. Conhecem muito bem o desenho sobre o sistema dos trançados (3) fag vãgfy rágrá ti mré há. Kỹ tóg 3p.pl. trançados desenhos pron.dem. posp. bem. Conj. ind. suj. ag. (4) nén ũ tugtó jykre mẽ nỹtĩ, alguma coisa contar sistema muito ind. a. (ser), (5) há kỹ fag tóg nén kar to jykrén kỹ bem conj. 3p.pl. ind. suj. ag. coisa todos posp sistema conj. (6) kãgran tĩ, fag kren ki. desenhar ind.a., 3p.pl. cesto dentro Então, elas pensam bem e desenham coisas acerca do sistema nos cestos. (7) Hã kỹ fag tỹ. Hã ki fag krẽ, krẽ ti vỹ Conj. 3p.pl. ind. erg. Conj. 3p.pl. descendentes, descendentes pron.dem. m. suj. Por isso, elas ensinam com o que está no cesto e seus descendentes aprendem o que elas ensinam. (8) tóg ki kanhrãnrãn mũ ge, ind. suj. ag. dentro ensinar (pl.) ind.a. também,

105 103 Eles ensinam também, (9) fag tỹ kre tỹ rãnhrãj mũ tag ti tỹ. 3p.pl. ind. top balaio ind. top trabalhar ind. a. pron.dem. ind. top. Elas trabalham com balaio como este aqui (10) Tỹ fag tóg, nén ti mi ránrán tĩ gé. Ind. top. 3p.pl. ind. top. coisa pron.dem. pequenino escrever ind.a. também (11) Fag rãnhrãj tag ti vỹ tóg tỹ, kanhgág jykre 3p.pl. trabalhar pron.dem. m. suj. ind. suj. ag. ind. top kaingang sistema Estes aqui trabalhados por elas representam muito o sistema 31 (12) pẽ nĩ, hã kỹ tóg tỹ nén ũ muito ind.a., conj. ind. suj.ag. ind. top. alguma coisa (13)há pẽ nĩ, hã kỹ fag tóg tỹ tũ, Agora muito ind.a., conj. 3p.pl. ind. suj. ag. ind. top. não (14) he pẽ han sór tũ nĩ sir. Dizer muito fazer querer fazer não ind.a. ind.o. 31 Seria esta sentença um exemplo de voz passiva? Porque o m. suj. está após o pronome demonstrativo, como se o Pron Pessoal+ verbo+ Pron. Dem. fosse uma expressão substantivada. Porém, não iremos tratar, neste trabalho, sobre voz passiva ou expressão substantivada. Será um assunto para uma pesquisa posterior.

106 104 E é coisa muito importante para elas e, por isso, elas não deixam acabar com os desenhos nos cestos (15) Hã kaki jagnẽ kanhkã ti Igual desenho pron. rec. família pron.dem. (um ao outro) (16) vỹ tóg, jagnẽ ki kanhrãnrãn tĩ ge, ag tỹ vẽnh m. suj. ind. top. pron. rec. dentro ensinar ind.a. também 3p.pl. ind. top pron. refl. (um ao outro) (de si mesmo) Estes desenhos ensinam e também faz com que as famílias se conheçam (17) ránrán ti tugrĩn. escrever pron.dem. conj. por causa deste (sistema). (18) Hã vỹ tóg tỹ, kamẽ mré kanhru ti nỹtĩ sir. Igual m. suj. ind. suj. ag. in. top. Kamẽ posp. Kairu pron.dem. ind.a. ind.o. Sendo, então. Kamẽ e Kairu. (19) Tag tugrĩn kanhgág ag Pron.dem. conj. kaingang pl. (20) vỹ jagnẽ ki kanhrãnrãn tĩ, ag kanhkã ti ki. m. suj. pron. rec. dentro ensinar (pl.) ind.a., 3.p.pl. família pron.dem. dentro

107 105 Por causa deste sistema os kaingang ensinam um ao outro e às suas famílias (21) Kamẽ ag rá ti hã vỹ tóg tỹ rá joj nĩ. Kamẽ pl. sinal pron.dem.igual m. suj. ind. suj. ag. ind. top. sinal risco comprido ind.a. Igual este sinal dos kamẽ é um sinal de risco comprido (22) Jãvo kanhru ag rá ti vỹ tóg tỹ rá kutu Em oposição kairu pl. sinal pron.dem. m. suj. ind. suj. ag. sinal redondo Em oposição este sinal dos kairu é um sinal redondo (23) nĩ sir. Ag tỹ ũ mĩ ránrán ẽn ti ind. a. ind.o. 3p.pl. ind. top. pron.ind. dentro escrever pron.dem. (24) vỹ tóg, ag tỹ jagnẽ mỹ nén ũ to jafã nỹgtĩ. ind. suj. ag. 3p.pl. ind. top. pron. rec. posp alguma coisa posp coisa para fazer ind.a. Eles escrevem alguma coisa para estes desenhos trasnmitirem alguma coisa. (25) Kre mĩ ránrán ẽn ti vỹ tóg tỹ sẽ ag rágrá Balaio dentro escrever pron.dem. m. suj. ind. suj. ag. caça pl. desenho (v.t. pl.) Aquilo escrito dentro do balaio pode representar caça, pode fazer sarar/ (26) to hyn han kỹ nỹtĩ gé, ẽkré ag mré hã, posp fazer sarar então ind.a. também, plantação pl. posp. parecido/ igual(curar)

108 106 pode fazer sarar/ curar, também representar plantações é certo que semelhante (27) kanhgág ag jykre ti ki mỹr. kaingang pl. sistema pron.dem. dentro verdade/ é certo ao sistema kaingang (=representam o sistema). (28) Vãgfy ag kar ti, kre ror, kre rur ag ke ge. trançado todos pron.dem., balaio redondo, balaio baixos pl. dizer também Todos estes balaios, balaios redondos, balaios baixos, representam / dizem (29) Ag rágrá to tóg hyn han kỹ nỹtĩ, 3p.pl. desenho posp ind. suj. ag. fazer sarar conj. ser (ind.a.) (30) he ja nĩgtĩ kre ag kar ti. dizer ind. m. ind.a balaio pron.ind. pron.dem. Todos os desenhos deles (cestos) têm alguma coisa representada neles. (31) Vãrsỹ tóg ge ti, he ja nĩgtĩ, ẽg jóg, Faz tempo ind. suj. ag. também pron.dem. dizer ind. m. ind.a., 2p.pl. antepassados, (32) jóg ag jykre ti. Antepassados pl. sistema pron.dem.. Há muito tempo, também, este sistema expressa os nossos antepassados, o sistema dos nossos antepassados.

109 107 Dentro do sistema de representações visuais, os objetos trançados são uma especialidade cultural entres os kaingang da T.I. do Apucaraninha e constitui na expressão artística de maior relevância na atualidade. As mulheres são as detentoras do conhecimento e técnicas desta arte, sendo elas as responsáveis pela continuidade deste saber por várias gerações. Produzem um elenco de objetos variados e que são denominados como: os wogfy- trançados em geral, que podem ser os kre- cestos de diversos tamanhos e os kygfy- trançados aplicados em utensílios. Os objetos revelam formas e motivos gráficos que estão ligados a outras esferas da vida social e cultural deste grupo e que estão vinculados a metades exogâmicas, personificados nos heróis míticos: kamé e kainrú-kré, que se opõe e se complementam. Cada metade possui uma pintura corporal distinta. Os kamé possuem pintura de riscos, os Kainru-kré, círculos. Cada objeto traz impresso consigo importantes significados como um código cultural de comunicação entre o grupo. Os motivos e/ou os desenhos contidos nas cestarias podem referir-se a animais, plantas e outros seres cosmológicos, inclusive os sobrenaturais, todos pertencentes ao padrão cultural kaingang. A técnica dos trançados (compridos e abertos ou fechados) e o tamanho dos cestos classificados de (kre téj, comprido ou kre ror, redondo ou baixo) também estão ligados às metades exogâmicas. (1) Fag - Pronome demonstrativo, posicionado após o nome, no SN sujeito. (2) Ti - Pronome demonstrativo, posicionado após o objeto, no SN objeto. Fag Pronome possessivo, posicionado antes do nome, no SN objeto. (3)

110 108 Fag Pronome possessivo, antes do nome, n SN objeto. Ti Pronome demonstrativo, após o nome, no SN objeto. (5) Fag Pronome pessoal, Sujeito no SN sujeito. (6) Fag Pronome possessivo, posicionado antes do nome, no SN objeto. (7) Fag Pronome pessoal, sujeito no SN sujeito. Fag - pronome possessivo, posicionado antes do nome no SN sujeito. (9) Fag Pronome pessoal, no SN sujeito. Tag ti pronome demonstrativo, funcionando como sujeito no SN sujeito. (10) Fag Pronome Pessoal, sujeito no SN sujeito. Ti Pronome demonstrativo, posicionado após o nome, no SN objeto. (11) Fag Pronome Pessoal, sujeito no SN sujeito. Tag ti - Pronome demonstrativo no SN sujeito. (13) Fag Pronome pessoal sujeito, no SN sujeito. (15) Jagnẽ - Pronome recíproco (referindo à palavra família), antes do nome no SN sujeito. (16) Jagnẽ - Pronome recíproco, posicionado antes do verbo,. Ag Pronome pessoal, sujeito no SN sujeito. Vẽnh - Pronome reflexivo, antes do verbo no SN sujeito. (17) Ti Pronome demonstrativo- usado sem o nome no SN objeto. 32 (18) Ti Pronome demonstrativo, posicionado após o nome no SN sujeito. (19) 32 Na maioria dos exemplos, o pronome demonstrativo estava sempre junto ao nome, posicionandose após ele.

111 109 Tag= Pronome demonstrativo, posicionado antes do nome. (20) Jagnẽ - Pronome recíproco, posicionado após o nome, no SN sujeito, antes do verbo. Ti Pronome demonstrativo, posicionado após o nome no SN objeto. (23) Ag Pronome pessoal no SN sujeito. Ũn - Pronome Indefinido, no SN sujeito. Ẽn ti Pronome demonstrativo, usado sem o nome a que se refere, usado no SN sujeito. (24) Ag- Pronome pessoal no SN sujeito. Jagnẽ - Pronome recíproco, posicionado antes do verbo, no SN sujeito. (25) Ẽn ti Pronome demonstrativo, não próximo do nome a que se refere no SN sujeito, com partícula marcadora do sujeito após ele. (27) Ti Pronome Demonstrativo, posicionado após o nome, no SN objeto. (29) Ag Pronome demonstrativo, posicionado antes do nome {rágrá}, no SN sujeito. 33 (30) Ag kar Pronome indefinido, após o nome {kre}. 34 (31) Ti Pronome demonstrativo, longe do nome a que se refere, no SN sujeito. Ẽg Pronome possessivo, posicionado antes do nome {jóg} no SN sujeito. (32) Ag Pronome possessivo, posicionado após o nome {jóg}, no SN sujeito, no SN sujeito. 35 Analisando os pronomes no texto, podemos verificar que, a maiorida deles, mantém a mesma posição que observamos nas sentenças simples. 33 Na maioria dos exemplos anteriores, o pronome demonstrativo posicionava-se após o nome. 34 Diferente dos exemplos de nº. 154 e 155, o pronome /ag kar/ se refere à palavra balaio /kre/. 35 Na maioria dos exemplos o pronome possessivo posicionou-se antes do nome. Pode ser que neste caso tenha sido usado após o nome, como uma forma estilística.

112 110 O pronome demonstrativo foi o único que se posicionou de maneira diferente das observadas nas orações simples. Nas orações deste texto em que ele foi usado, sua posição era após o nome a que se referia. Observemos os exemplos abaixo, as posições em que ele foi usado: Na sentença 17, o pronome {ti} foi usado longe do nome a que se referia. O pronome {tag} usado na sentença 19 foi posicionado antes do nome. Na sentença 23, o pronome {ẽn ti} foi usado sem o nome e com a partícula marcadora do sujeito, funcionando como um pronome substantivo. {Ẽn ti}, no exemplo 25, também não se posicionou próximo ao nome que se referia e com partícula marcadora de sujeito {vỹ}. 36 Na sentença 29, o pronome {ag} foi usado antes do nome, assim como na sentença 19. O pronome {ti} foi usado longe do nome a que se referia. O pronome indefinido {ag kar}, que nos exemplos com sentenças simples, referia-se somente a pessoas e não a objetos e animais. Neste texto, ele se refere à palavra {kre} (balaio). 36 Esse fato também ocorreu somente nos exemplos 179 e 180.

113 111 CONCLUSÃO O objetivo principal deste trabalho foi descrever na estrutura frasal, toda a classe pronominal em kaingang na estrutura frasal em kaingang. Para alcançarmos nossa meta, procuramos coletar um bom número de exemplos a fim de que pudéssemos visualizar a posição dos pronomes em sentenças simples, subordinadas (usando os pronomes relativos) e, por último, os pronomes em um texto. Alguns temas surgiram no meio destes exemplos, abrindo portas para pesquisas posteriores acerca da morfossintaxe na língua kaingang. Nesta descrição dos pronomes pessoais, verificamos que a estrutura padrão, em kaingang, sofre uma variação, quando se tem um sujeito pronominal. A estrutura canônica é S O V. Geralmente, com um sujeito pronominal temos a estrutura O V S. Se na sentença, temos objeto direto e indireto, esse se posiciona no início da sentença. Outro fato, é que, na sentença em que se usava um advérbio, o pronome posicionava-se, sempre ao seu lado. O sujeito pronominal acompanha o advérbio. Também, nas sentenças com sujeito pronominal não vemos o uso de partícula marcadora de sujeito {vỹ}. Os pronomes possessivos possuem a mesma forma fonológica que os pronomes pessoais, porém, com função diferente. Eles posicionam-se antes do núcleo do SN sujeito e antes do núcleo SN objeto. Não se verificou a concordância do pronome com o núcleo pluralizado. A reduplicação verbal é a marca de plural do verbo (dados 94 e 95). Com o pronome possessivo de 1ª p.s. {inh} + a palavra {jóg} ocorre o processo de prefixação de posse inalienável. Também a forma {sỹ} funciona como pronome de 1ª p.s. A forma {ag} funciona tanto como pronome de 3ª p.p. (exemplo 38) como morfema de plural (exemplo 37). O pronome possessivo {fi} indica posse quando antecede o nome. Mas, quando segue o nome funciona como marca de gênero feminino (exemplo 78). Usando o pronome interrogativo {ne} (o que) verificamos que, o sujeito sendo pronominal ou nominal, tendo ou não objeto, o pronome interrogativo posicionou-se sempre ao lado do verbo da sentença, na maioria dos exemplos. Usando esse pronome interrogativo, na pergunta: O que é isto, dependendo da forma do objeto apontado, usaria-se uma partícula diferente: {nĩ, jẽ, na, nỹ}. O pronome interrogativo {ũ} foi usado no início da sentença; após o sujeito; na mesma

114 112 posição de um pronome possessivo (antes do nome) quando se interroga quem possui um objeto. O pronome interrogativo {hẽ} foi posicionado no final da estrutura frasal; pode ser usado com outro pronome interrogativo, como ocorreu no exemplo 132 (usado com pronome {ũ}; na estrutura canônica S O V, esse pronome posicionou-se entre o sujeito e o verbo, da mesma forma que o pronome interrogativo {ne}. Conforme os dados, podemos verificar que o pronome indefinido {ũn} possui algumas características que o difere dos demais. Uma delas é a presença da partícula que marca o sujeito {vỹ}. Ao ter esta marca após ele, podemos dizer que ele funciona como um pronome substantivo. Buscando a possibilidade de haver em kaingang uma palavra para os pronomes: nada, tudo, todos, verificamos que não existe uma forma de palavras específicas para esses pronomes, somente expressões, como por exemplo: {nén tũ} (coisa não= nada). A expressão {ag kar} se refere a todos, e nas sentenças foi usada somente para pessoas. No texto em kangang, foi usada para objeto (a palavra balaio- {kre}). Os pronomes demonstrativos, usados como dêiticos, posicionam-se, em kaingang, após o nome, tanto no SN sujeito como no SN objeto. Quando se usa a partícula que marca o gênero feminino, ela se posiciona após esse pronome: nome+ pron. dem. + fem. Para mostrar a distância em relação ao falante, foi usado um advérbio {tã tá} (lá longe) na maioria dos exemplos dados. Diferentemente, do pronome pessoal, o pronome demonstrativo, não muda sua posição quando na sentença há um advérbio (176 e 177). Como os nomes masculinos, os pronomes masculinos não são marcados (morfema masculino Ø). Podemos observar que em kaingang, o pronome reflexivo {vẽnh} é usado para todas as pessoas (singular e plural). Nos exemplos, ele posicionou-se antes do verbo. Em alguns dados, ele foi o primeiro constituinte da sentença com sujeito pronominal (192 e 193). Temos a estrutura O S V, com sujeito pronominal, nos dados 190, 101, 194 e 198. O pronome recíproco {jagnẽ} usado para expressar ações mútuas, também se posicionou como primeiro constituinte, na maioria das sentenças. Nas sentenças, as quais foram usadas posposições, esse pronome posicionou-se após ela. Os pronomes relativos, usados em orações subordinadas adjetivas, exercem uma função anafórica. Em kaingang o pronome relativo é {ũn}. Nos exemplos obtidos, as orações subordinadas eram as primeiras na corrente das

115 113 orações. O pronome relativo iniciava essa oração subordinada. Ele posicionava-se antes do verbo, sendo, o único elemento no SN sujeito, como vemos no exemplo 210 (b). Em outro exemplo, não foi usado esse pronome, mas sim o pronome demonstrativo {ẽn} funcionando como um pronome relativizador, unindo oração principal + oração subordinada (exemplo 210 (c)). A oração subordinada pode vir intercalada, no meio da oração principal, como ocorreu no exemplo 211 (b). Nesse dado, a oração principal iniciou e terminou a corrente das orações. O pronome relativo {ũn} foi o único elemento do SN sujeito. Portanto, verificamos que as orações subordinadas podem vir iniciadas pelo pronome relativo {ũn} ou pelo pronome demonstrativo {ẽn} funcionando como pronome relativizador. Analisando os pronomes no texto, verificamos que, na maioria dele, manteve a mesma posição observada nas orações simples. O pronome demonstrativo foi um dos únicos que mudou sua posição, posicionando-se: longe do nome a que se referia, antes do nome (e não após, como na maioria dos dados), sem o nome e com a partícula marcadora de sujeito {vỹ}, funcionando como pronome substantivo. Cremos ter dado uma contribuição, ainda que modesta para a elaboração da gramática pedagógica do prof. Ludoviko C. dos Santos, que consistirá na descrição de classes das palavras em kangang. A carência de material didático das escolas indígenas e de seus professores bilíngües, ainda é grande. Esperamos que este trabalho seja usado como uma forma de despertamento para dar continuidade a outras pesquisas nesta língua.

116 114 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Leriana; SANTOS, Ludoviko. A Concordância de número em Kaingang. In: ENCONTRO INTERNACIONAL SOBRE LÍNGUAS E CULTURAS MACRO-JÊ, 4., 2005, Recife. Resumos... Recife: Ed. da Universidade Federal de Pernambuco, p A marcação de (tempo), modo e aspecto na língua kaingang: uma proposta de análise Tese (Mestrado em Estudos da Linguagem) Universidade Estadual de Londrina, Londrina. BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, CÂMARA JÚNIOR, Joaquim Mattoso. Dicionário de lingüística e gramática. 25. ed. Rio de Janeiro: Vozes, Introdução às línguas indígenas brasileiras. 3. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, CAVALCANTE, Marita Pôrto. Fonologia e morfologia da língua kaingang: o dialeto de São Paulo comparado com o do Paraná Tese (Doutorado em Lingüística) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas. CRYSTAL, David. Dicionário de linguística e fonética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, CROFT, William. Typology and universals. Cambridge: Cambridge University Press, CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, CUNHA, Celso. Gramática do Português Contemporâneo. Belo Horizonte: Bernardes Álvares, GIVÓN, Talmy. Syntax: a functional typological Introduction. Amsterdam: Jonh Benjamin s Publishing Company, GLEASON JÚNIOR, Henry Allan. Introdução à lingüística descritiva. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, GOMES, Nataniel dos Santos. Breve histórico das línguas indígenas brasileiras. Disponível em: < Acesso em: 20 set GUIMARÃES, Elisa. A articulação do texto. 9. ed. São Paulo: Ática, 2006.

117 115 KOCH, Ingdore Grunfeld Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto, Texto e coerência. 6. ed. São Paulo: Cortez, LUFT, Celso Pedro; AVERBUCK, Ligia; EW, Atelaine; FILIPOUSKI, Ana Mariza. Gramática, ortografia oficial, redação, literatura textos e testes. São Paulo: Globo, LYONS, John. Introdução à lingüística teórica. São Paulo: Nacional, MARTIN, Robert. Para entender a lingüística: epistemologia elementar de uma disciplina. São Paulo: Parábola, MUSSALIM, Fernanda. Introdução à lingüística ed. São Paulo: Cortez, NASCIMENTO, Silvia Helena Lovato. Aspectos morfológicos e sintáticos e marcação de caso da língua kaingang Tese (Mestrado em Lingüística) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. RODRIGUES, Aryon Dall Igna. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas brasileiras. São Paulo: Loyola, Originalidade das línguas indígenas brasileiras Disponível em: < Acesso em: 20 out Sobre as línguas indígenas e sua pesquisa no Brasil. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 57, n. 2, p , abr./jun SHOPEN, Timothy. Language typology and syntactic description. Grammatical categories and lexicon. Cambridge: Cambridge University Press, v. 1.. Language typology and syntactic description. Grammatical categories and lexicon. Cambridge: Cambridge University Press, v. 3. SILVA, Célia Ribeiro. História crítica da construção da escrita do kaingang Tese (Mestrado em Estudos da Linguagem) Universidade Estadual de Londrina, Londrina. TABOSA, Luciana Pereira. Construções causativas na língua kaingang Tese (Mestrado em Estudos da Linguagem) Universidade Estadual de Londrina, Londrina. WIESEMANN, Úrsula. Dicionário bilíngüe Kaingang-Português. Curitiba: Evangélica Esperança, 2002.

118 ANEXOS 116

119 117 ANEXO A Mapa da Distribuição das Línguas do Tronco Macro-Jê (Brasil) 1. Kaingang (RS, SC, PR, SP) 15. Panará (PA) 2. Xokleng (SC) 16. Suyá (MT) 3. Ofaié (MS) 17. Tapayuna (MT) 4. Krenak (MG, SP) 18. Kayapó - Mebengokre (PA, MT) 5. Xakriabá (MG) 19. Karajá (GO, MT, TO) 6. Maxakali (MG) 20. Xerente (TO) 7. Pataxó (BA) 21. Krahô (TO) 8. Pataxó Hã-hã-hãe (BA) 22. Apinayé (TO) 9. Yatê / Fulniô (PE) 23. Krikati (MA) 10. Guató (MT) 24. Pukobyé (MA) 11. Umutina / Bororo (MT) 25. Apaniekra (MA) 12. Bororo (MT) 26. Rankokamekra (MA) 13. Xavante (MT) 27. Kreyê (PA) 14. Rikbaktsa (MT) 28. Parakateyê (PA) Fonte:

OS PRONOMES NA LÍNGUA KAINGANG E A VARIAÇÃO NA ESTRUTURA FRASAL

OS PRONOMES NA LÍNGUA KAINGANG E A VARIAÇÃO NA ESTRUTURA FRASAL OS PRONOMES NA LÍNGUA KAINGANG E A VARIAÇÃO NA ESTRUTURA FRASAL Emília Rezende Rodrigues ABREU (PG UEL) Ludoviko dos SANTOS (UEL) ISBN: 978-85-99680-05-6 REFERÊNCIA: ABREU, Emília Rezende Rodrigues; SANTOS,

Leia mais

Curso: Letras Português/Espanhol. Disciplina: Linguística. Docente: Profa. Me. Viviane G. de Deus

Curso: Letras Português/Espanhol. Disciplina: Linguística. Docente: Profa. Me. Viviane G. de Deus Curso: Letras Português/Espanhol Disciplina: Linguística Docente: Profa. Me. Viviane G. de Deus AULA 2 1ª PARTE: Tema 2 - Principais teóricos e teorias da Linguística moderna Formalismo x Funcionalismo

Leia mais

Apresentação 11 Lista de abreviações 13. Parte I: NATUREZA, ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA LINGUAGEM

Apresentação 11 Lista de abreviações 13. Parte I: NATUREZA, ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA LINGUAGEM Sumário Apresentação 11 Lista de abreviações 13 Parte I: NATUREZA, ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA LINGUAGEM O homem, a linguagem e o conhecimento ( 1-6) O processo da comunicação humana ( 7-11) Funções da

Leia mais

ELEMENTOS DÊITICOS EM NARRATIVAS EM LIBRAS 43

ELEMENTOS DÊITICOS EM NARRATIVAS EM LIBRAS 43 Página 111 de 315 ELEMENTOS DÊITICOS EM NARRATIVAS EM LIBRAS 43 Lizandra Caires do Prado 44 (UESB) Adriana Stella Cardoso Lessa-de-Oliveira 45 (UESB) RESUMO Este estudo objetiva investigar a dêixis em

Leia mais

A DISTINÇÃO ENTRE AS FALAS MASCULINA E FEMININA EM ALGUMAS LÍNGUAS DA FAMÍLIA JÊ *

A DISTINÇÃO ENTRE AS FALAS MASCULINA E FEMININA EM ALGUMAS LÍNGUAS DA FAMÍLIA JÊ * A DISTINÇÃO ENTRE AS FALAS MASCULINA E FEMININA EM ALGUMAS LÍNGUAS DA FAMÍLIA JÊ * Rodriana Dias Coelho Costa 1 Christiane Cunha de Oliveira 2 Faculdade de Letras/UFG rodrianacosta@gmail.com christiane.de.oliveira@hotmail.com

Leia mais

Sumarizando: o que é uma língua. Métodos para seu estudo...44

Sumarizando: o que é uma língua. Métodos para seu estudo...44 sumário APRESENTAÇÃO...13 1. O que se entende por língua Estudando a língua portuguesa...17 1.1 O Vocabulário: nascimento e morte das palavras. Consultando um dicionário...20 1.2 A Semântica: o sentido

Leia mais

Professora: Jéssica Nayra Sayão de Paula

Professora: Jéssica Nayra Sayão de Paula Professora: Jéssica Nayra Sayão de Paula Conceitos básicos e importantes a serem fixados: 1- Sincronia e Diacronia; 2- Língua e Fala 3- Significante e Significado 4- Paradigma e Sintagma 5- Fonética e

Leia mais

ESCOLA SECUNDÁRIA DE SAMPAIO Ano Lectivo 2008/ Planificação a Longo Prazo ESPANHOL L/E (Iniciação nível I) 10ºAno Formação Específica

ESCOLA SECUNDÁRIA DE SAMPAIO Ano Lectivo 2008/ Planificação a Longo Prazo ESPANHOL L/E (Iniciação nível I) 10ºAno Formação Específica ESCOLA SECUNDÁRIA DE SAMPAIO Ano Lectivo 2008/ 2009 Planificação a Longo Prazo ESPANHOL L/E (Iniciação nível I) 10ºAno Formação Específica Objectivos de aprendizagem Competências comunicativas Conteúdos

Leia mais

PORTUGUÊS III Semestre

PORTUGUÊS III Semestre Universidad Nacional Autónoma de México Facultad de Filosofía y Letras Colegio de Letras Modernas Letras Portuguesas PORTUGUÊS III Semestre 2019-1 Profa. Cristina Díaz Padilla Horário: segunda a sexta

Leia mais

O ADJETIVO EM KAINGANG: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE

O ADJETIVO EM KAINGANG: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE O ADJETIVO EM KAINGANG: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE Gislaine Domingues Orientador: Prof. Dr. Ludoviko Carnasciali dos Santos RESUMO Este trabalho tem como objetivo descrever e analisar as classes de palavras

Leia mais

sintaticamente relevante para a língua e sobre os quais o sistema computacional opera. O resultado da computação lingüística, que é interno ao

sintaticamente relevante para a língua e sobre os quais o sistema computacional opera. O resultado da computação lingüística, que é interno ao 1 Introdução A presente dissertação tem como tema a aquisição do modo verbal no Português Brasileiro (PB). Tal pesquisa foi conduzida, primeiramente, por meio de um estudo dos dados da produção espontânea

Leia mais

Escola Básica e Secundária de Santa Maria. Ano Letivo 2017/2018. Informação Prova Especial de Avaliação. PROFIJ II Tipo 2 1º ano

Escola Básica e Secundária de Santa Maria. Ano Letivo 2017/2018. Informação Prova Especial de Avaliação. PROFIJ II Tipo 2 1º ano Escola Básica e Secundária de Santa Maria Ano Letivo 2017/2018 Informação Prova Especial de Avaliação PROFIJ II Tipo 2 1º ano Domínio de Língua Estrangeira Inglês Portaria 52/2016, de 16 de junho O presente

Leia mais

Disciplinas Optativas

Disciplinas Optativas UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Departamento de Linguística e Filologia Relação de Disciplinas Optativas Disciplinas Optativas LEF001 LINGUÍSTICA B Trabalho de campo nas áreas da fonologia, morfologia,

Leia mais

Quanto aos textos de estrutura narrativa, identificam personagem, cenário e tempo.

Quanto aos textos de estrutura narrativa, identificam personagem, cenário e tempo. Língua Portuguesa - Ensino Médio SISPAE 2013 01 Abaixo do Básico 1º e 2º ano até 200 pontos Neste Padrão de Desempenho, os estudantes se limitam a realizar operações básicas de leitura, interagindo apenas

Leia mais

ASPECTOS MORFOSSINTÁTICOS DA LIBRAS: NOME E VERBO NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO

ASPECTOS MORFOSSINTÁTICOS DA LIBRAS: NOME E VERBO NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO Página 255 de 481 ASPECTOS MORFOSSINTÁTICOS DA LIBRAS: NOME E VERBO NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO Ediélia Lavras dos Santos Santana (UESB/PPGLin) Adriana Stella Cardoso Lessa-de-Oliveira (PPGLin-UESB) RESUMO

Leia mais

CATEGORIAS LEXICAIS EM LIBRAS

CATEGORIAS LEXICAIS EM LIBRAS 665 de 682 CATEGORIAS LEXICAIS EM LIBRAS Adriana Stella C. Lessa-de-Oliveira (UESB) Letícia Matos Santos Da Silva (UESB) Jéssica Caroline Souza Aguiar (UESB) RESUMO Este trabalho objetiva verificar características

Leia mais

PALAVRAS-CHAVE: língua Apinayé, sintaxe, educação escolar indígena.

PALAVRAS-CHAVE: língua Apinayé, sintaxe, educação escolar indígena. ASPECTOS SINTÁTICOS DA LÍNGUA APINAYÉ Loureane Rocha de SOUZA 1 Francisco Edviges ALBUQUERQUE 2 1 Aluna do curso de Licenciatura em Letras; Universidade Federal do Tocantins, campus de Araguaína; e- mail:

Leia mais

Planificação anual Ano letivo: 2016/2017

Planificação anual Ano letivo: 2016/2017 Módulo 1 Número total de aulas previstas: 44 Competências Compreensão oral: Compreender globalmente intervenções sobre temas relacionados com a escola, os seus interesses, as atividades e relações quotidianas,

Leia mais

1 Introdução. 1 CÂMARA JR., J.M, Estrutura da língua portuguesa, p Ibid. p. 88.

1 Introdução. 1 CÂMARA JR., J.M, Estrutura da língua portuguesa, p Ibid. p. 88. 1 Introdução A categoria tempo é um dos pontos mais complexos dos estudos em língua portuguesa. Por se tratar de um campo que envolve, sobretudo, conceitos igualmente complexos como semântica e interpretação

Leia mais

Linguística e Língua Portuguesa 2016/01

Linguística e Língua Portuguesa 2016/01 e Língua Portuguesa 2016/01 Código HL 019 Disciplina IV Quarta: 20h30-22h10 e Sexta: 18h30-20h30 Professor Andressa D Ávila Bibliografia mínima A disciplina propõe apresentar conceitos fundamentais para

Leia mais

GRAMATICALIZAÇÃO DO PRONOME PESSOAL DE TERCEIRA PESSOA NA FUNÇÃO ACUSATIVA

GRAMATICALIZAÇÃO DO PRONOME PESSOAL DE TERCEIRA PESSOA NA FUNÇÃO ACUSATIVA Página 133 de 511 GRAMATICALIZAÇÃO DO PRONOME PESSOAL DE TERCEIRA PESSOA NA FUNÇÃO ACUSATIVA Elizane de Souza Teles Silva Jodalmara Oliveira Rocha Teixeira Jorge Augusto Alves da Silva Valéria Viana Sousa

Leia mais

Sumário. Prefácio à nova edição Prefácio à primeira edição Lista de Abreviaturas Lista de Quadros Lista de Figuras...

Sumário. Prefácio à nova edição Prefácio à primeira edição Lista de Abreviaturas Lista de Quadros Lista de Figuras... Sumário Prefácio à nova edição...11 Prefácio à primeira edição...13 Lista de Abreviaturas...15 Lista de Quadros...17 Lista de Figuras...19 PARTE 1 UM LUGAR PARA A MORFOLOGIA Introdução...23 1. A palavra

Leia mais

A PRODUÇÃO DIDÁTICA DE VILHENA ALVES: GRAMÁTICAS INFANTIS E LIVROS DE LEITURA 1

A PRODUÇÃO DIDÁTICA DE VILHENA ALVES: GRAMÁTICAS INFANTIS E LIVROS DE LEITURA 1 A PRODUÇÃO DIDÁTICA DE VILHENA ALVES: GRAMÁTICAS INFANTIS E LIVROS DE LEITURA 1 Michaelly Almeida de Menezes Graduanda de licenciatura em língua portuguesa Universidade Federal do Pará Raimunda Dias Duarte

Leia mais

PRIMEIRO SEMESTRE DE 2017 DISCIPLINA: TIPOLOGIA LINGUÍSTICA. PROFA. DRA. MÔNICA VELOSO BORGES

PRIMEIRO SEMESTRE DE 2017 DISCIPLINA: TIPOLOGIA LINGUÍSTICA. PROFA. DRA. MÔNICA VELOSO BORGES 1 PRIMEIRO SEMESTRE DE 2017 DISCIPLINA: TIPOLOGIA LINGUÍSTICA PROFA. DRA. MÔNICA VELOSO BORGES (mvborges8@hotmail.com) EMENTA Os estudos tipológicos linguísticos: conceitos, objetivos, métodos. Antecedentes

Leia mais

Conceituação. Linguagem é qualquer sistema organizado de sinais que serve de meio de comunicação de ideias ou sentimentos.

Conceituação. Linguagem é qualquer sistema organizado de sinais que serve de meio de comunicação de ideias ou sentimentos. Linguagem e Cultura Conceituação Linguagem é qualquer sistema organizado de sinais que serve de meio de comunicação de ideias ou sentimentos. Cultura é todo saber humano, o cabedal de conhecimento de um

Leia mais

A ORALIDADE E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

A ORALIDADE E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES A ORALIDADE E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Maria de Fátima de Souza Aquino (UEPB) 1. Introdução Nas últimas décadas os estudos sobre a oralidade têm avançado significativamente,

Leia mais

Aula 6 GERATIVISMO. MARTELOTTA, Mário Eduardo. Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2012, p

Aula 6 GERATIVISMO. MARTELOTTA, Mário Eduardo. Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2012, p Aula 6 GERATIVISMO MARTELOTTA, Mário Eduardo. Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2012, p. 113-126 Prof. Cecília Toledo- cissa.valle@hotmail.com Linguística Gerativa Gerativismo Gramática Gerativa

Leia mais

SUMÁRIO APRESENTAÇÃO...9. A NOÇÃO DE CONSTITUINTE...15 Objetivos gerais do capítulo Leituras complementares...53 Exercícios...

SUMÁRIO APRESENTAÇÃO...9. A NOÇÃO DE CONSTITUINTE...15 Objetivos gerais do capítulo Leituras complementares...53 Exercícios... SUMÁRIO APRESENTAÇÃO...9 A NOÇÃO DE CONSTITUINTE...15 Objetivos gerais do capítulo...15 1. Unidades de análise: constituintes sintáticos...16 2. Testes de identificação de constituintes...21 3. Sintagmas

Leia mais

LÍNGUAS INDÍGENAS tradição, universais e diversidade

LÍNGUAS INDÍGENAS tradição, universais e diversidade LÍNGUAS INDÍGENAS tradição, universais e diversidade luciana storto LÍNGUAS INDÍGENAS tradição, universais e di versidade Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do

Leia mais

1 Introdução. (1) a. A placa dos automóveis está amassada. b. O álbum das fotos ficou rasgado.

1 Introdução. (1) a. A placa dos automóveis está amassada. b. O álbum das fotos ficou rasgado. 17 1 Introdução A concordância, nas mais diversas línguas, é um fenômeno pesquisado em várias áreas, desde diferentes áreas de análise que envolvem o estudo da linguagem, tais como: morfologia, sintaxe,

Leia mais

LHEÍSMO NO PORTUGÛES BRASILEIRO: EXAMINANDO O PORTUGÛES FALADO EM FEIRA DE SANTANA Deyse Edberg 1 ; Norma Lucia Almeida 2

LHEÍSMO NO PORTUGÛES BRASILEIRO: EXAMINANDO O PORTUGÛES FALADO EM FEIRA DE SANTANA Deyse Edberg 1 ; Norma Lucia Almeida 2 359 LHEÍSMO NO PORTUGÛES BRASILEIRO: EXAMINANDO O PORTUGÛES FALADO EM FEIRA DE SANTANA Deyse Edberg 1 ; Norma Lucia Almeida 2 1. Bolsista FAPESB, Graduanda em Letras Vernáculas pela Universidade Estadual

Leia mais

PROGRAMAÇÃO DE PORTUGUÊS C1

PROGRAMAÇÃO DE PORTUGUÊS C1 POGAMAÇÃO D POTUGUÊS C1 OBJTIVOS GAIS O aprendente do nível C1 é capaz de compreender um vasto número de textos longos e exigentes, reconhecendo os seus significados implícitos. É capaz de se exprimir

Leia mais

Gramática e seu conceito. Mattoso Câmara Jr. (1986) 16 ed. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes. p

Gramática e seu conceito. Mattoso Câmara Jr. (1986) 16 ed. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes. p Gramática e seu conceito Mattoso Câmara Jr. (1986) 16 ed. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes. p.11-16. Gramática descritiva ou sincrônica Estudo do mecanismo pelo qual uma dada língua funciona

Leia mais

Sumário PARTE 1. Gramática

Sumário PARTE 1. Gramática PARTE 1 Gramática Capítulo 1 Fonologia... 25 1. Introdução... 25 1.1 Conceitos básicos da fonologia... 25 1.2 Outros Conceitos Fonológicos... 26 1.3 Polêmicas... 29 2. Divisão silábica... 31 3. Ortografia...

Leia mais

RESENHA: INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA BANTU

RESENHA: INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA BANTU RESENHA: INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA BANTU BOOK REVIEW: INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA BANTU Alexandre António Timbane 1 Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira NGUNGA, Armindo. Introdução

Leia mais

EMENTAS Departamento de Letras Estrangeiras UNIDADE CURRICULAR DE LÍNGUA E LITERATURA ITALIANA

EMENTAS Departamento de Letras Estrangeiras UNIDADE CURRICULAR DE LÍNGUA E LITERATURA ITALIANA EMENTAS Departamento de Letras Estrangeiras UNIDADE CURRICULAR DE LÍNGUA E LITERATURA ITALIANA Italiano I: Língua e Cultura - Introdução às situações prático-discursivas da língua italiana mediante o uso

Leia mais

Expectativas de Aprendizagem dos Cursos oferecidos pelo INCO

Expectativas de Aprendizagem dos Cursos oferecidos pelo INCO Level 1 Ao final do Nível 1, você será capaz de: Usar linguagem de sala de aula Apresentar-se em diferentes registros Formular e responder perguntas de forma simples Compreender e usar expressões do dia-a-dia

Leia mais

Guião 1 Anexo (v1.0) 2. Do léxico à frase 2.1. Classes de palavras e critérios para a sua identificação

Guião 1 Anexo (v1.0) 2. Do léxico à frase 2.1. Classes de palavras e critérios para a sua identificação F a c u l d a d e d e L e t r a s d a U n i v e r s i d a d e d e L i s b o a D e p a r t a m e n t o d e L i n g u í s t i c a G e r a l e R o m â n i c a E s t r u t u r a d a s F r a s e s e m P o r

Leia mais

Concurseiro. Espaço do. Português Prof. Joaquim Bispo. Sinta-se a vontade para estudar conosco. O seu espaço de preparação para concursos públicos

Concurseiro. Espaço do. Português Prof. Joaquim Bispo. Sinta-se a vontade para estudar conosco. O seu espaço de preparação para concursos públicos Espaço do Concurseiro Sinta-se a vontade para estudar conosco Português Prof. Joaquim Bispo O seu espaço de preparação para concursos públicos 1 Aulas Aula Conteúdo Página 1 Emprego das classes e palavras

Leia mais

INFORMAÇÃO PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA Inglês

INFORMAÇÃO PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA Inglês Agrupamento de Escolas da Bemposta INFORMAÇÃO PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA Inglês Prova 21 / 2017 3.º Ciclo do Ensino Básico (Despacho Normativo nº 1-A/2017, de 10 de fevereiro) Decreto-Lei n.º 6/2001,

Leia mais

1ª Série. 2LET020 LITERATURA BRASILEIRA I Estudo das produções literárias durante a época colonial: Quinhentismo, Barroco e Neoclassicismo.

1ª Série. 2LET020 LITERATURA BRASILEIRA I Estudo das produções literárias durante a época colonial: Quinhentismo, Barroco e Neoclassicismo. 1ª Série 2LET039 DEBATES E SEMINÁRIOS EM TEMAS CONTEMPORÂNEOS Produção oral sobre temas da contemporaneidade: direitos humanos, educação ambiental, as diversidades étnico-racial, de gênero, sexual, religiosa,

Leia mais

EMENTÁRIO DAS DISCIPLINAS DO CURSO DE LETRAS-PORTUGUÊS - IRATI (Currículo iniciado em 2015)

EMENTÁRIO DAS DISCIPLINAS DO CURSO DE LETRAS-PORTUGUÊS - IRATI (Currículo iniciado em 2015) EMENTÁRIO DAS DISCIPLINAS DO CURSO DE LETRAS-PORTUGUÊS - IRATI (Currículo iniciado em 2015) ANÁLISE DO DISCURSO 68 h/a 1753/I Vertentes da Análise do Discurso. Discurso e efeito de sentido. Condições de

Leia mais

A ORDEM DE AQUISIÇÃO DOS PRONOMES SUJEITO E OBJETO: UM ESTUDO COMPARATIVO 10

A ORDEM DE AQUISIÇÃO DOS PRONOMES SUJEITO E OBJETO: UM ESTUDO COMPARATIVO 10 107 de 297 A ORDEM DE AQUISIÇÃO DOS PRONOMES SUJEITO E OBJETO: UM ESTUDO COMPARATIVO 10 Tatiane Macedo Costa * (UESB) Telma Moreira Vianna Magalhães (UESB) RESUMO Várias pesquisas têm investigado o uso

Leia mais

[Compreensão escrita Nível A2.2]

[Compreensão escrita Nível A2.2] CRITÉRIOS ESPECÍFICOS DE AVALIAÇÃO (Aprovados em Conselho Pedagógico de 8 de janeiro de 2019) No caso específico da disciplina de Espanhol, do 7.º ano de escolaridade, nível de iniciação, a avaliação incidirá

Leia mais

índice geral Prefácio, X/77

índice geral Prefácio, X/77 índice geral Prefácio, X/77 Capítulo I CONCEITOS GERAIS, / Linguagem, língua, discurso, estilo / Língua e sociedade: variação e conservação linguística, 2 Diversidade geográfica da língua: dialecto e falar,

Leia mais

O OBJETO DIRETO ANAFÓRICO E SUAS MÚLTIPLAS REALIZAÇÕES NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

O OBJETO DIRETO ANAFÓRICO E SUAS MÚLTIPLAS REALIZAÇÕES NO PORTUGUÊS BRASILEIRO 239 de 298 O OBJETO DIRETO ANAFÓRICO E SUAS MÚLTIPLAS REALIZAÇÕES NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Daiane Gomes Amorim 62 (UESB) Telma Moreira Vianna Magalhães ** (UESB) RESUMO O presente trabalho apresenta um

Leia mais

..AASsrâT" ROSA VIRGÍNIA MATTOS E SILVA. O Português Arcaico. Uma Aproximação. Vol. I Léxico e morfologia

..AASsrâT ROSA VIRGÍNIA MATTOS E SILVA. O Português Arcaico. Uma Aproximação. Vol. I Léxico e morfologia ..AASsrâT" ROSA VIRGÍNIA MATTOS E SILVA O Português Arcaico Uma Aproximação Vol. I Léxico e morfologia Imprensa Nacional-Casa da Moeda Lisboa 2008 ÍNDICE GERAL Abreviaturas, convenções e alfabeto fonético

Leia mais

6 Atributos. A dívida da empresa subiu.

6 Atributos. A dívida da empresa subiu. 6 Atributos Para buscar o sentimento de um texto automaticamente precisamos encontrar boas pistas ao longo do discurso. Uma grande variedade de palavras e expressões possui conotação positiva ou negativa,

Leia mais

Academia Diplomática y Consular Carlos Antonio López

Academia Diplomática y Consular Carlos Antonio López FUNDAMENTACIÓN: PROGRAMA DE IDIOMA PORTUGUÊS CONTENIDO TEMÁTICO Llevando en consideración las directrices del Marco Europeo Común de Referencia, el examen será encuadrado en un nivel Intermedio Superior.

Leia mais

Módulo 01: As distintas abordagens sobre a linguagem: Estruturalismo, Gerativismo, Funcionalismo, Cognitivismo

Módulo 01: As distintas abordagens sobre a linguagem: Estruturalismo, Gerativismo, Funcionalismo, Cognitivismo Módulo 01: As distintas abordagens sobre a linguagem: Estruturalismo, Gerativismo, Funcionalismo, Cognitivismo Sintaxe do Português I 1º semestre de 2015 sim, ele chegou! Finalmente! Prof. Dr. Paulo Roberto

Leia mais

0 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO CONSELHO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO SECRETARIA DOS ÓRGÃOS COLEGIADOS

0 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO CONSELHO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO SECRETARIA DOS ÓRGÃOS COLEGIADOS DELIBERAÇÃO N 0 210, 14 DE JULHO DE 2009 O DA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO, tendo em vista a decisão tomada em sua 277ª Reunião Ordinária, realizada em 14 de julho de 2009, e considerando

Leia mais

Escola Básica e Secundária de Santa Maria. Ano Letivo 2017/2018. Informação Prova Especial de Avaliação. PROFIJ IV Tipo 4 1º ano

Escola Básica e Secundária de Santa Maria. Ano Letivo 2017/2018. Informação Prova Especial de Avaliação. PROFIJ IV Tipo 4 1º ano Escola Básica e Secundária de Santa Maria Ano Letivo 2017/2018 Informação Prova Especial de Avaliação PROFIJ IV Tipo 4 1º ano Domínio Língua Estrangeira - INGLÊS Portaria 52/2016, de 16 de junho O presente

Leia mais

USO DO FUTURO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO EM BLOG JORNALÍSTICO: UM ESTUDO PRELIMINAR SOBRE A GRAMATICALIZAÇÃO DO ITEM IR

USO DO FUTURO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO EM BLOG JORNALÍSTICO: UM ESTUDO PRELIMINAR SOBRE A GRAMATICALIZAÇÃO DO ITEM IR 463 de 663 USO DO FUTURO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO EM BLOG JORNALÍSTICO: UM ESTUDO PRELIMINAR SOBRE A GRAMATICALIZAÇÃO DO ITEM IR Milca Cerqueira Etinger Silva 142 (UESB) Gilsileide Cristina Barros Lima

Leia mais

6LET062 LINGUAGEM E SEUS USOS A linguagem verbal como forma de circulação de conhecimentos. Normatividade e usos da linguagem.

6LET062 LINGUAGEM E SEUS USOS A linguagem verbal como forma de circulação de conhecimentos. Normatividade e usos da linguagem. 1ª Série 6LET063 LINGUAGEM COMO MANIFESTAÇÃO ARTÍSTICA Linguagem como manifestação artística, considerando os procedimentos sócio-históricos e culturais. A linguagem artística, suas funções, mecanismos

Leia mais

CURRÍCULO DA DISCIPLINA DE PORTUGUÊS/ CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 2013/2014

CURRÍCULO DA DISCIPLINA DE PORTUGUÊS/ CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 2013/2014 1º Ciclo Metas/Domínios Objetivos gerais Conteúdos Programáticos Critérios 3º Ano Oralidade O3 Comprensão do oral Expressão oral Escutar para aprender e construir conhecimentos Produzir um discurso oral

Leia mais

1 Saepi 2013 PADRÕES DE DESEMPENHO ESTUDANTIL LÍNGUA PORTUGUESA - 5º EF

1 Saepi 2013 PADRÕES DE DESEMPENHO ESTUDANTIL LÍNGUA PORTUGUESA - 5º EF 1 Saepi 2013 PADRÕES DE DESEMPENHO ESTUDANTIL LÍNGUA PORTUGUESA - 5º EF até 125 pontos As habilidades presentes neste Padrão de Desempenho são muito elementares e relacionam-se, essencialmente, à apropriação

Leia mais

1 Introdução. 1 Nesta dissertação, as siglas PL2E, PL2 e PLE estão sendo utilizadas, indistintamente, para se

1 Introdução. 1 Nesta dissertação, as siglas PL2E, PL2 e PLE estão sendo utilizadas, indistintamente, para se 16 1 Introdução O interesse pelo tema deste trabalho, o uso de estruturas alternativas às construções hipotéticas com se e com o futuro simples do subjuntivo, surgiu da experiência da autora ensinando

Leia mais

ENSINO DE LÍNGUA E ANÁLISE LINGUÍSTICA: PRESCRUTANDO OS DOCUMENTOS OFICIAIS

ENSINO DE LÍNGUA E ANÁLISE LINGUÍSTICA: PRESCRUTANDO OS DOCUMENTOS OFICIAIS ENSINO DE LÍNGUA E ANÁLISE LINGUÍSTICA: PRESCRUTANDO OS DOCUMENTOS OFICIAIS Maria Eliane Gomes Morais (PPGFP-UEPB) lia_morais.jta@hotmail.com Linduarte Pereira Rodrigues (DLA/PPGFP-UEPB) linduarte.rodrigues@bol.com.br

Leia mais

Informação Prova de Equivalência à Frequência 9º Ano

Informação Prova de Equivalência à Frequência 9º Ano Informação Prova de Equivalência à Frequência 9º Ano Prova Final de 3º Ciclo DISCIPLINA ESPANHOL PROVA 15 2017 O presente documento dá a conhecer os seguintes aspetos relativos à prova: Objeto de avaliação;

Leia mais

222 Línguas e Literaturas Estrangeiras

222 Línguas e Literaturas Estrangeiras 222 Línguas e Literaturas Estrangeiras Curso de Língua Chinesa: Cultura e Negócios para Promotores e Empresários na China Destinatários Este curso destina-se a empresários e gestores que desenvolvam ou

Leia mais

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO Competências de Interpretação CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 3.º Ciclo do Ensino Básico 7º Ano Departamento de Línguas Disciplina: Inglês Domínios Objeto de avaliação Domínios/ Metas de aprendizagem Instrumentos

Leia mais

A LIBRAS FALADA EM VITÓRIA DA CONQUISTA: ORDEM DOS CONSTITUINTES NA SENTENÇA 39

A LIBRAS FALADA EM VITÓRIA DA CONQUISTA: ORDEM DOS CONSTITUINTES NA SENTENÇA 39 Página 105 de 315 A LIBRAS FALADA EM ITÓRIA DA CNQUISTA: RDEM DS CNSTITUINTES NA SENTENÇA 39 Jaqueline Feitoza Santos 40 (UESB) Adriana Stella Cardoso Lessa-de-liveira 41 (UESB) RESUM Este estudo investiga

Leia mais

A CATEGORIA VERBAL DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS

A CATEGORIA VERBAL DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS 195 de 667 A CATEGORIA VERBAL DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS Ione Barbosa de Oliveira Silva (UESB) 51 Adriana Stella Cardoso Lessa-de-Oliveira (UESB) 52 RESUMO Apresentamos resultados parciais

Leia mais

5 CLASSE, ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS, 7/ Palavra e morfema, 7/ Formação de palavras, 82 Famílias de palavras, 83

5 CLASSE, ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS, 7/ Palavra e morfema, 7/ Formação de palavras, 82 Famílias de palavras, 83 Prefácio, XIII i CONCEITOS GERAIS, / Linguagem, língua, discurso, estilo i Língua e sociedade: variação e conservação linguística, 2 Diversidade geográfica da língua: dialecto e falar, 4 A noção de correcto,

Leia mais

Por que o dicionário é importante na escola?

Por que o dicionário é importante na escola? Introdução Por que o dicionário é importante na escola? O dicionário é uma obra didática e, como tal, serve para ensinar. Ensina o significado das palavras, sua origem, seu uso, sua grafia. É uma obra

Leia mais

HORÁRIO DE RECUPERAÇÃO 6 o ANO. Componente Curricular DATA. 1 a SEMANA CIÊNCIAS LÍNGUA PORTUGUESA (TEXTO E REDAÇÃO) GEOGRAFIA

HORÁRIO DE RECUPERAÇÃO 6 o ANO. Componente Curricular DATA. 1 a SEMANA CIÊNCIAS LÍNGUA PORTUGUESA (TEXTO E REDAÇÃO) GEOGRAFIA 12 COLÉGIO AGOSTINIANO MENDEL HORÁRIO DE RECUPERAÇÃO 6 o ANO DATA Componente Curricular 1 a SEMANA 03/12 (sábado) 05/12 (2ª feira) 06/12 (3 a feira) 07/12 (4 a feira) 08/12 (5 a feira) 09/12 (6 a feira)

Leia mais

6LET062 LINGUAGEM E SEUS USOS A linguagem verbal como forma de circulação de conhecimentos. Normatividade e usos da linguagem.

6LET062 LINGUAGEM E SEUS USOS A linguagem verbal como forma de circulação de conhecimentos. Normatividade e usos da linguagem. HABILITAÇÃO: BACHARELADO EM ESTUDOS LITERÁRIOS 1ª Série 6LET063 LINGUAGEM COMO MANIFESTAÇÃO ARTÍSTICA Linguagem como manifestação artística, considerando os procedimentos sócio-históricos e culturais.

Leia mais

Prova 16 Francês - Prova de Equivalência à frequência 3º ciclo- ensino básico

Prova 16 Francês - Prova de Equivalência à frequência 3º ciclo- ensino básico Prova 16 Francês - Prova de Equivalência à frequência 3º ciclo- ensino básico Prova 16 / 2018 Francês Prova Escrita e Prova Oral 1. Objeto de avaliação A prova tem por referência o Programa de Francês

Leia mais

A ELISÃO DA VOGAL /o/ EM FLORIANÓPOLIS-SC RESULTADOS PRELIMINARES

A ELISÃO DA VOGAL /o/ EM FLORIANÓPOLIS-SC RESULTADOS PRELIMINARES A ELISÃO DA VOGAL /o/ EM FLORIANÓPOLIS-SC RESULTADOS PRELIMINARES Letícia Cotosck Vargas (PUCRS/PIBIC- CNPq 1 ) 1. INTRODUÇÃO Esta pesquisa tem por objetivo examinar um dos processos de sândi externo verificados

Leia mais

Objectivos / Competências Conteúdos Descrição dos itens

Objectivos / Competências Conteúdos Descrição dos itens MATRIZ DA PROVA DE EXAME A NÍVEL DE ESCOLA AO ABRIGO DO DECRETO-LEI Nº 357/07, DE 29 DE OUTUBRO ESPANHOL NÍVEL DE INICIAÇÃO 10º e 11º ANOS (Cursos Científicos- Humanísticos Decreto Lei nº 74/04, de 26

Leia mais

Realizam a prova alunos autopropostos que se encontram abrangidos pelos planos de estudo instituídos pelo Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho.

Realizam a prova alunos autopropostos que se encontram abrangidos pelos planos de estudo instituídos pelo Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho. Agrupamento de Escolas Padre João Coelho Cabanita INFORMAÇÃO PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA ESPANHOL 2016 Prova 15 3.º Ciclo do Ensino Básico Ao abrigo do Despacho normativo n.º 1-G/2016, de 6 de abril

Leia mais

2 Bilingüismo e bilingualidade

2 Bilingüismo e bilingualidade 2 Bilingüismo e bilingualidade Quando as pessoas usam o termo bilíngüe imaginam alguém que fala duas línguas perfeitamente, conforme lembra Valdés (apud HEYE, 2001, p. 37). Geralmente, imaginam que essa

Leia mais

Letras Língua Portuguesa

Letras Língua Portuguesa Letras Língua Portuguesa Leitura e Produção de Texto I 30h Ementa: Ocupa-se das estratégias de leitura e produção de textos orais e escritos considerando os aspectos formal e estilístico e sua relação

Leia mais

H003 Compreender a importância de se sentir inserido na cultura escrita, possibilitando usufruir de seus benefícios.

H003 Compreender a importância de se sentir inserido na cultura escrita, possibilitando usufruir de seus benefícios. 2ª Língua Portuguesa 5º Ano E.F. Objeto de Estudo Usos e funções: código oral e código escrito Usos e funções: código oral e código escrito Usos e funções: norma-padrão e variedades linguísticas. Usos

Leia mais

Métodos e Técnicas de Pesquisas ARTIGO CIENTÍFICO. Professor Adm. Walter Martins Júnior CRA-PR

Métodos e Técnicas de Pesquisas ARTIGO CIENTÍFICO. Professor Adm. Walter Martins Júnior CRA-PR Métodos e Técnicas de Pesquisas ARTIGO CIENTÍFICO Professor Adm. Walter Martins Júnior CRA-PR 15.063 ALGUMAS REGRAS 2 não deixe para a última hora escreva leia alguns relatórios ou resumos faça um esboço

Leia mais

Jornal Oficial do Centro Acadêmico da Universidade Vale do Acaraú.

Jornal Oficial do Centro Acadêmico da Universidade Vale do Acaraú. Jornal Oficial do Centro Acadêmico da Universidade Vale do Acaraú. Uvinha outubro/novembro de 2012. Editorial: Uvinha Olá, estimados leitores. Essa edição do jornal Uvinha está muito interessante, pois

Leia mais

CARACTERIZAÇÃO DE ITENS LEXICAIS EM LIBRAS

CARACTERIZAÇÃO DE ITENS LEXICAIS EM LIBRAS 267 de 680 CARACTERIZAÇÃO DE ITENS LEXICAIS EM LIBRAS Dener Silva Rocha 75 (UESB) Adriana Stella C. Lessa-de-Oliveira 76 (UESB) RESUMO Este trabalho objetiva investigar um aspecto peculiar a certos itens

Leia mais

MATRIZ CURRICULAR LETRAS PORTUGUÊS/INGLÊS E RESPECTIVAS LITERATURAS

MATRIZ CURRICULAR LETRAS PORTUGUÊS/INGLÊS E RESPECTIVAS LITERATURAS MATRIZ CURRICULAR Curso: LETRAS PORTUGUÊS/INGLÊS E RESPECTIVAS LITERATURAS Graduação: LICENCIATURA Regime: SERIADO ANUAL - NOTURNO Duração: 4 (QUATRO) ANOS LETIVOS Integralização: A) TEMPO TOTAL - MÍNIMO

Leia mais

Ano Letivo 2018/2019 PLANIFICAÇÃO ANUAL. Documentos Orientadores: Programa de Espanhol L.E.II- Ensino Básico, QCERL, Projeto Educativo.

Ano Letivo 2018/2019 PLANIFICAÇÃO ANUAL. Documentos Orientadores: Programa de Espanhol L.E.II- Ensino Básico, QCERL, Projeto Educativo. Espanhol L.E.II /8º ano / Nível 2 Página 1 de 5 PLANIFICAÇÃO ANUAL Documentos Orientadores: Programa de Espanhol L.E.II- Ensino Básico, QCERL, Projeto Educativo. Referências geográficas e culturais dos

Leia mais

INGLÊS INSTRUMENTAL: uma abordagem.

INGLÊS INSTRUMENTAL: uma abordagem. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE GOIÁS INGLÊS INSTRUMENTAL: uma abordagem. Mislainy Patricia de Andrade i (UEG UnU/GOIÁS) mislainypaf@hotmail.com JUSTIFICATIVA O termo inglês instrumental

Leia mais

DAS CRÍTICAS E CONTRIBUIÕES LINGUÍSTICAS. Por Claudio Alves BENASSI

DAS CRÍTICAS E CONTRIBUIÕES LINGUÍSTICAS. Por Claudio Alves BENASSI DAS CRÍTICAS E CONTRIBUIÕES LINGUÍSTICAS Por Claudio Alves BENASSI omo vimos anteriormente, em relação ao uso que o sujeito com C surdez faz da modalidade escrita do surdo, o recurso didático Números Semânticos

Leia mais

Objectivos / Competências Conteúdos Descrição dos Domínios de referência: Unidades temáticas

Objectivos / Competências Conteúdos Descrição dos Domínios de referência: Unidades temáticas MATRIZ DA PROVA DE EXAME A NÍVEL DE ESCOLA AO ABRIGO DO DECRETO-LEI Nº 357/07, DE 29 DE OUTUBRO ESPANHOL NÍVEL DE INICIAÇÃO 10º ANO (Cursos Científicos- Humanísticos Decreto Lei nº 74/04, de 26 de Março)

Leia mais

RECUPERAÇÃO DE GEOGRAFIA 7 o ANO Horário: das 7:20 h às 12:15 h. 1 a PROVA GEOGRAFIA DATA: 09/12/2015

RECUPERAÇÃO DE GEOGRAFIA 7 o ANO Horário: das 7:20 h às 12:15 h. 1 a PROVA GEOGRAFIA DATA: 09/12/2015 02 C A M RECUPERAÇÃO DE GEOGRAFIA 1 a PROVA GEOGRAFIA DATA: 09/12/2015 Capítulo 3: O território brasileiro e suas regiões Capítulo 5: A distribuição da população brasileira Capítulo 6: O espaço rural brasileiro

Leia mais

Planificação anual Ano letivo: 2017/2018

Planificação anual Ano letivo: 2017/2018 Período: 1.º Número total de aulas previstas: 78 Competências Compreensão oral: seleção da mensagens emitidas em situação de presença, sobre temas familiares para os alunos e deteção da ideia principal

Leia mais

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 3.º Ciclo do Ensino Básico Departamento de Línguas Disciplina: Português -7º ano

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 3.º Ciclo do Ensino Básico Departamento de Línguas Disciplina: Português -7º ano CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 3.º Ciclo do Ensino Básico Departamento de Línguas Disciplina: Português -7º ano 2018-2019 Domínios Domínios de referência Aprendizagens essenciais Instrumentos Frequência / Periodicidade

Leia mais

ABORDAGENS COMPUTACIONAIS da teoria da gramática

ABORDAGENS COMPUTACIONAIS da teoria da gramática 1 9 7 2 5 0 ABORDAGENS COMPUTACIONAIS da teoria da gramática 1 9 7 2 5 0 Leonel Figueiredo de Alencar Gabriel de Ávila Othero (organizadores) ABORDAGENS COMPUTACIONAIS da teoria da gramática 1 9 7 2 5

Leia mais

DISCIPLINA DE LÍNGUA PORTUGUESA

DISCIPLINA DE LÍNGUA PORTUGUESA DISCIPLINA DE LÍNGUA PORTUGUESA OBJETIVOS: 6º ano Usar a Língua Portuguesa como língua materna, para integrar e organizar o mundo e a própria identidade com visão empreendedora e como pensador capaz de

Leia mais

Língua, Linguagem e Variação

Língua, Linguagem e Variação Língua, Linguagem e Variação André Padilha Gramática Normativa O que é Língua? Definição Língua é um sistema de representação constituído po signos linguísticos socialmente construídos que são organizados

Leia mais

SUMÁRIO APRESENTAÇÃO...9. O ESTUDO DO SIGNIFICADO NO NÍVEL DA SENTENÇA...13 Objetivos gerais do capítulo...13 Objetivos de cada seção...

SUMÁRIO APRESENTAÇÃO...9. O ESTUDO DO SIGNIFICADO NO NÍVEL DA SENTENÇA...13 Objetivos gerais do capítulo...13 Objetivos de cada seção... SUMÁRIO APRESENTAÇÃO...9 O ESTUDO DO SIGNIFICADO NO NÍVEL DA SENTENÇA...13 Objetivos gerais do capítulo...13 Objetivos de cada seção...13 1. O objeto da Semântica...14 2. Anomalia, ambiguidade e interface

Leia mais

ANO LETIVO 2016 / 2017 INFORMAÇÃO - PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA LÍNGUA ESTRANGEIRA I- INGLÊS (código 21) 9º ANO

ANO LETIVO 2016 / 2017 INFORMAÇÃO - PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA LÍNGUA ESTRANGEIRA I- INGLÊS (código 21) 9º ANO ANO LETIVO 2016 / 2017 INFORMAÇÃO - PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA LÍNGUA ESTRANGEIRA I- INGLÊS (código 21) 9º ANO INTRODUÇÃO O presente documento visa divulgar as características da prova final de

Leia mais

Agrupamento de Escolas de S. Pedro do Sul Escola-sede: Escola Secundária de São Pedro do Sul

Agrupamento de Escolas de S. Pedro do Sul Escola-sede: Escola Secundária de São Pedro do Sul Agrupamento de Escolas de S. Pedro do Sul 161780 Escola-sede: Escola Secundária de São Pedro do Sul INFORMAÇÃO PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA 2.º CICLO DO ENSINO BÁSICO ANO LETIVO: 2016/2017 1 ª /

Leia mais

IX SEMINÁRIO DE PESQUISA E ESTUDOS LINGUÍSTICOS 21 e 22 de setembro de 2017

IX SEMINÁRIO DE PESQUISA E ESTUDOS LINGUÍSTICOS 21 e 22 de setembro de 2017 Página 103 de 511 CONTEXTOS RESTRITIVOS PARA O REDOBRO DE PRONOMES CLÍTICOS NO PB: COMPARAÇÃO COM O ESPANHOL E COM OUTRAS VARIEDADES SINCRÔNICAS E DIACRÔNICAS DO PORTUGUÊS Sirlene Freire dos Santos Pereira

Leia mais

Tema: (i) Introdução ao curso de sintaxe do português de base gerativa

Tema: (i) Introdução ao curso de sintaxe do português de base gerativa SINTAXE DO PORTUGUÊS I AULA 1-2015 Tema: (i) Introdução ao curso de sintaxe do português de base gerativa Profa. Dra. Márcia Santos Duarte de Oliveira FFFLCH-DLCV/ USP marcia.oliveira@usp.br n O linguista

Leia mais

DA IMPOTÂNCIA DA DÊIXIS PARA A COMPREENSÃO DO DISCUSO IMAGÉTICO. Por Claudio Alves BENASSI e Anderson Simão DUARTE

DA IMPOTÂNCIA DA DÊIXIS PARA A COMPREENSÃO DO DISCUSO IMAGÉTICO. Por Claudio Alves BENASSI e Anderson Simão DUARTE DA IMPOTÂNCIA DA DÊIXIS PARA A COMPREENSÃO DO DISCUSO IMAGÉTICO Por Claudio Alves BENASSI e Anderson Simão DUARTE elemento dêitico na LIBRAS constitui um O importante recurso para a compreensão do discurso

Leia mais

ROTEIRO DE RECUPERAÇÃO 2018

ROTEIRO DE RECUPERAÇÃO 2018 ROTEIRO DE Sempre podemos mais do que imaginamos. Me. Agathe Verhelle Caros Responsáveis e Alunos, A Recuperação de Estudos oportuniza a participação em aulas e atividades sobre temas já estudados, revendo

Leia mais

A IMPORTÂNCIA DAS SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS PARA O ENSINO DE GÊNEROS

A IMPORTÂNCIA DAS SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS PARA O ENSINO DE GÊNEROS A IMPORTÂNCIA DAS SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS PARA O ENSINO DE GÊNEROS Autora: Maria Karolina Regis da Silva Universidade Federal da Paraíba UFPB karolina0715@hotmail.com Resumo: A ideia de apresentar diversos

Leia mais

RELAÇÃO DOS VERBETES. B behaviorismo bilingüismo Black English boa formação

RELAÇÃO DOS VERBETES. B behaviorismo bilingüismo Black English boa formação RELAÇÃO DOS VERBETES A abertura abordagem experimental abordagem qualitativa abordagem quantitativa acarretamento acento adjetivo advérbio afasia afixo alçamento/elevação Alfabeto Fonético Internacional

Leia mais

PARA PROFISSIONAIS DE

PARA PROFISSIONAIS DE FRANCêS PARA PROFISSIONAIS DE SAúDE: NíVEL B1 (ABR 2015) - PORTO A mobilidade de profissionais de saúde é uma realidade e falar francês é uma abertura de portas para o mercado de trabalho internacional

Leia mais

Apresentação Conceitos básicos Gramática, variação e normas Saberes gramaticais na escola... 31

Apresentação Conceitos básicos Gramática, variação e normas Saberes gramaticais na escola... 31 Sumário Apresentação... 9 Conceitos básicos... 11 Gramática, variação e normas... 13 Dinah Callou A propósito de gramática e norma... 15 O ensino e a constituição de normas no Brasil... 21 A propósito

Leia mais