RESISTÊNCIA GENÉTICA A DOENÇAS E NEMATÓIDES EM CULTIVARES E LINHAGENS DE ALGODOEIRO DISPONÍVEIS NO BRASIL 1

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1 RESISTÊNCIA GENÉTICA A DOENÇAS E NEMATÓIDES EM CULTIVARES E LINHAGENS DE ALGODOEIRO DISPONÍVEIS NO BRASIL 1 Edivaldo CIA 2,5, Milton Geraldo FUZATTO 2, Wilson Paes de ALMEIDA 3, Onaur RUANO 3, Julio Isao KONDO 2, Maria Angélica PIZZINATTO 2, Luiz Henrique CARVALHO 2, Raffaela ROSSETTO 4, Francisco Seiiti KASAI 4 & Dulcineia Elizabete FOLTRAN 4 Trabalho realizado com apoio financeiro da FAPESP, do FIALGO e da MAEDA S/A AGROINDUSTRIAL RESUMO As principais cultivares utilizadas na cotonicultura da região meridional do Brasil, além de linhagens avançadas de várias Instituições de Pesquisa, foram avaliadas quanto ao desempenho em face de murcha de Fusarium, nematóides (Rotylenchulus e Meloidogyne, principalmente), ramulose, mosaico das nervuras, mancha-angular, mancha de Alternaria e mancha de Stemphylium. Dos 16 genótipos testados, apenas a cultivar IAC 24 mostrou resistência a todas as doenças consideradas. Levando em conta somente as doenças mais destrutivas as quatro primeiras das mencionadas 75% dos genótipos foram suscetíveis a pelo menos um deles e 50% a dois ou mais, desses patógenos. Estimadas pelo contraste entre as médias dos três melhores e dos três piores genótipos, em cada caso, as perdas na produção foram de 81% no caso de Fusarium, 74% no de ramulose e 40% no de nematóides. Com o mesmo critério e relevando as interações verificadas entre genótipos e doenças, as perdas médias na produção, devidas a esses três patógenos, atingiram 44%. INTRODUÇÃO A cotonicultura brasileira, especialmente a que se realiza na região meridional de cultivo, corre o risco de perder estabilidade produtiva e competitividade econômica, devido ao agravamento do problema de doenças. Paradoxalmente, isso ocorre num momento em que a tecnificação da cultura atinge níveis inéditos no País e o perfil da atividade revela tendência irreversível para modernização. Esse fato, aliás, tem contribuído para que o problema de doenças seja subestimado, na medida em que altas produtividades têm sido obtidas, à custa do emprego maciço de defensivos, quer visando ao controle direto dos patógenos, quer aos seus vetores. Não fosse o inevitável aumento dos custos de produção, bastaria, para mostrar o equívoco da persistência dessas práticas, considerar o provável surgimento de variantes de pragas e patógenos resistentes aos defensivos, o fatal desequilíbrio biológico e a concomitante agressão ao ambiente, e as possíveis restrições na comercialização, sobretudo externa, do nosso algodão. Dessa forma, é imperioso introduzir e manter, na região, apenas cultivares resistentes, ou pelo menos 2 Pesquisadores Científicos, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, , Campinas-SP, cia@iac.sp.gov.br 3 Pesquisadores Científicos, Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), Caixa Postal 481, , Londrina-PR, wpalgo@pr.gov.br 4 Pesquisadores Científicos, DDD-APTA. 5 Bolsista CNPq.

2 tolerantes, aos patógenos que nela ocorrem, o que exige, obviamente, conhecer o comportamento, em face de doenças, do material genético posto à disposição dos produtores. MATERIAL E MÉTODOS Os 16 genótipos constantes das tabelas 1 e 2 foram estudados em localidades onde ocorreram murcha de Fusarium (Caiabu e Adamantina), nematóides (Ituverava, Guaíra, Tietê, Adamantina e Campinas), ramulose (Piracicaba), mosaico das nervuras (Londrina), manchas de Stemphylium e Alternaria (Leme) e mancha-angular (Londrina). Excluídos o ensaio de ramulose realizado em campo, mas com inoculação artificial e o de mancha-angular, executado em casa-de-vegetação, também com inoculação controlada, os demais experimentos foram realizados em campo, com incidência natural dos patógenos. Parte desses ensaios nos quais se determinou a produção de algodão foi delineada em blocos ao acaso, com seis repetições. Em testes exclusivos para avaliação de doenças o delineamento compreendia distribuição sistemática, porém, desencontrada, no terreno, com quatro repetições. Nos dois casos, as parcelas eram constituídas por 1 linha de 5m de comprimento, contendo, idealmente, 30 plantas. Nos ensaios de campo as avaliações foram feitas pela determinação da proporção de plantas afetadas, no caso de Fusarium e mosaico das nervuras, e mediante atribuição de notas de 1 a 5, nas demais doenças. A avaliação para mancha-angular seguiu os procedimentos expostos por Ruano & Almeida (1999), e para as demais doenças foram usados os métodos relatados por Gridi-Papp et al (1994). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados da tabela 1, referentes à avaliação para doenças, podem ser analisados segundo os critérios propostos por Cia et al (2002), que compreendem seis classes de resistência (altamente resistente, resistente, medianamente resistente, medianamente suscetível, suscetível e altamente suscetível) e seis classes de segurança (altamente segura, segura, medianamente segura, medianamente vulnerável, vulnerável e altamente vulnerável), efetuando-se a classificação dos genótipos por meio dos índices de Resistência Múltipla e de Segurança. Iniciando pelos índices referentes às sete doenças estudadas (IM 1 e IS 1 ) verifica-se que houve destaque para os cinco primeiros genótipos, classificando-se como altamente resistente os dois primeiros, e resistentes os três que a eles se seguem. Dentre eles, todavia, a única a não mostrar vulnerabilidade a qualquer das doenças consideradas foi a cultivar IAC 24, o que a coloca, adicionalmente, na classe segura, conforme se nota pelo seu destacado Índice de Segurança. As outras quatro se enquadraram como medianamente seguras, cabendo notar que enquanto a IAC e a IAC 23 mostraram suscetibilidade a Stemphylium, a DELTAOPAL e a FIBERMAX 986 revelaram-se sensíveis a nematóides, um problema reconhecidamente mais sério. Prosseguindo nessa análise, verifica-se que se classificaram como medianamente resistente, porém, vulneráveis, a COODETEC 405, a PR e a BRS-AROEIRA, as duas primeiras deficientes com respeito à ramulose (a COODETEC 405 também quanto a Stemphylium) e a última com problemas em relação a Fusarium e mancha-angular. Apresentaram-se medianamente suscetíveis e vulneráveis a FIBERMAX 966 (Fusarium, nematóides, ramulose e mosaico das nervuras), EPAMIG PRECOCE 1 (Fusarium, nematóides, ramulose), CNPA ITA 90 (ramulose, mosaico das nervuras e mancha-angular), FUNDAÇÃO MT (Fusarium, ramulose, mancha-angular e Alternaria) e DP 4049, esta, altamente vulnerável, devido à ramulose, além de problemas com Alternaria. Finalmente, nas classes suscetíveis e vulneráveis aparecem a SURE GROW 821 (nematóides, ramulose e mancha-angular, além de, em nível não tão grave, Fusarium e mosaico das nervuras) e FABRIKA e MAKINA, estas suscetíveis a todas as doenças, com exceção de Stemphylium.

3 Análise alternativa pode ser realizada considerando apenas as doenças mais destrutivas Fusarium, nematóides, ramulose e mosaico das nervuras levando em conta os índices IM 2 e IS 2, na tabela 1. Assim procedendo, verifica-se que se enquadraram nas classes altamente resistente e altamente segura a IAC , a IAC 24 e a IAC 23 e na classe resistente e apenas medianamente segura em virtude da sensibilidade a nematóides a DELTAOPAL e a FIBERMAX 986. Os demais genótipos mostraram-se bastante suscetíveis a um ou mais desses genótipos, especialmente as três ultimas cultivares da lista. Na tabela 2 encontram-se, expressos em valores relativos, os resultados de produção de algodão em caroço. A cada dado se segue, entre parênteses, a diferença porcentual de produção, do genótipo considerado, em relação ao genótipo mais produtivo. Quer se considere a média geral, quer os dados separadamente, segundo as doenças mais importantes, os três genótipos mais produtivos foram os que também apresentaram maior resistência a esses patógenos (a correlação Produção x Índice de Resistência Múltipla foi de r=0,85**). Na análise conjunta verificou-se interação genótipo x local (F=8,82**), indicando, como se verifica na tabela, comportamento diferenciado dos genótipos, conforme a doença presente. Vale notar que, considerando o contraste entre as médias dos três melhores e dos três piores genótipos, em cada caso, as perdas de produção foram de 81% no caso de Fusarium, 40% no de nematóides e de 74% no de ramulose. Com base no mesmo critério tendo em conta, evidentemente a interação mencionada observa-se que a perda média na produção, devida a essas doenças, foi de 44%. CONCLUSÕES 1. Admitindo que os genótipos estudados representam o material genético disponível para plantio no País, a cotonicultura brasileira, com raras exceções, não conta com cultivares que apresentem resistência múltipla às principais doenças que aqui ocorrem. 2. Considerando apenas as doenças mais destrutivas murcha de Fusarium, nematóides, ramulose e mosaico das nervuras 75% dos genótipos estudados mostraram-se suscetíveis a pelo menos uma delas e 50% a dois ou mais desses patógenos. 3. A produção dos genótipos mais suscetíveis foi substancialmente reduzida devido à incidência de nematóides, ramulose e Fusarium, notadamente nos dois últimos casos.

4 Tabela 1 Resistência a doenças, expressa por índices relativos, apresentada por genótipos de algodoeiro em ensaios realizados no ano agrícola 2001/02. Genótipos Doenças e Índices (1) FUS NEM RAM MN MA ST ALT IM 1 IS 1 IM 2 IS 2 IAC ,64 1,11 1,15 0,93 0,92 0,62 1,00 1,02 0,63 1,18 1,10 IAC 24 1,31 1,01 0,93 0,90 0,95 0,96 1,05 1,01 0,91 1,10 1,00 IAC 23 1,00 1,00 1,00 0,92 0,78 0,78 1,04 0,93 0,72 0,98 0,90 DELTAOPAL 1,12 0,76 0,78 1,00 1,00 0,91 0,96 0,93 0,71 0,90 0,69 FIBERMAX 986 1,31 0,71 0,82 0,99 0,97 0,84 0,83 0,91 0,65 0,93 0,66 COODETEC 405 1,62 0,95 0,28 0,95 0,95 0,69 0,83 0,81 0,23 0,80 0,23 BRS AROEIRA 0,45 0,95 0,99 0,94 0,57 0,95 1,01 0,80 0,36 0,79 0,36 PR ,11 1,00 0,32 0,88 0,73 0,80 0,73 0,75 0,24 0,75 0,24 FIBERMAX 966 0,34 0,40 0,67 0,58 1,00 1,02 0,89 0,65 0,22 0,48 0,16 EPAMIG PRECOCE 1 0,28 0,35 0,68 0,95 0,69 1,01 1,04 0,65 0,18 0,50 0,14 CNPA ITA 90 0,81 0,75 0,56 0,35 0,52 0,97 0,73 0,64 0,23 0,59 0,21 FUNDAÇÃO MT ,46 0,74 0,39 1,00 0,58 1,05 0,47 0,63 0,24 0,60 0,24 DP ,72 0,83 0,15 0,79 0,93 0,91 0,63 0,63 0,10 0,52 0,08 SURE GROW 821 0,67 0,37 0,47 0,60 0,33 0,95 0,83 0,57 0,19 0,52 0,19 FABRIKA 0,41 0,57 0,53 0,42 0,54 1,00 0,50 0,55 0,23 0,48 0,20 MAKINA 0,18 0,42 0,61 0,34 0,48 1,00 0,38 0,43 0,08 0,35 0,06 (1) FUS = Murcha de Fusarium; NEM = nematóides; RAM = ramulose; MN = mosaico das nervuras; MA = mancha-angular; ST = mancha de Stemphylium; ALT = mancha de Alternaria; IM 1 e IS 1 = Índice de Resistência Múltipla e Índice de Segurança para as sete doenças; IM 2 e IS 2 = Índice de Resistência Múltipla e Índice de Segurança para Fusarium, nematóides, ramulose e mosaico das nervuras. Tabela 2. Produções de algodão em caroço, expressas em valores relativos, obtidas por genótipos de algodoeiro na presença de patógenos no ano agrícola 2001/02. Genótipo Média Geral Fusarium Nematóides Ramulose EPAMIG PRECOCE (-50) (1) 191 (-73) 100 (-45) 179 (-62) FUNDAÇÃO MT (-46) 138 (-80) 117 (-36) 137 (-71) FIBERMAX (-40) 100 (-86) 112 (-39) 244 (-49) SURE GROW (-38) 355 (-50) 114 (-38) 272 (-43) DP (-38) 466 (-34) 130 (-29) 100 (-79) FABRIKA 128 (-36) 356 (-49) 132 (-28) 182 (-62) MAKINA 131 (-35) 116 (-83) 122 (-33) 357 (-25) CNPA ITA (-31) 440 (-37) 134 (-27) 259 (-46) DELTAOPAL 140 (-30) 343 (-51) 144 (-21) 222 (-53) BRS AROEIRA 141 (-30) 271 (-61) 135 (-26) 345 (-28) COODETEC (-27) 485 (-31) 156 (-15) 121 (-75) FIBERMAX (-25) 417 (-41) 133 (-27) 379 (-21) PR (-15) 573 (-18) 178 (-3) 172 (-64) IAC (-9) 536 (-24) 165 (-10) 477 (0) IAC (-5) 564 (-20) 183 (0) 448 (-6) IAC (0) 703 (0) 181 (-1) 459 (-4) Teste F 6,16** 7,42** 6,80** 15,84** D.M.S. Tukey 5% C.V. 22,4 24,6 15,9 28,2

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA CIA, E.; FUZATTO, M.G.; PIZZINATTO, M.A. & BORTOLETTO, N. Uma escala para classificação da resistência de cultivares a doenças do algodoeiro. Summa Phytopatologica, v. 28(1) , GRIDI-PAPP, I.L.; CIA, E.; FUZATTO, M.G.; CHIAVEGATO, E.J.; DUDIENAS, C.; PIZZINATTO, M.A.; SABINO, J.C.; CAMARGO, A.P. & CAMPANA, M.P. Melhoramento do algodoeiro para resistência múltipla a doenças e broca-da-raiz em condições de campo. Bragantia, Campinas, 53(1): 33-45, RUANO, A. & ALMEIDA, W.P. Sistema para avaliação de resistência múltipla em genótipos de algodoeiro a nematóides e doenças foliares, em caso de vegetação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 2., 1999, Ribeirão Preto. Anais... Campina Grande: EMBRAPA, CNPA, 1999, 716p. (1) Diferença porcentual em relação ao genótipo mais produtivo.