COMPORTAMENTO DE CULTIVARES E LINHAGENS DE ALGODOEIRO EM REGIÕES PRODUTORAS DO ESTADO DE SÃO PAULO 1 RESUMO INTRODUÇÃO

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1 COMPORTAMENTO DE CULTIVARES E LINHAGENS DE ALGODOEIRO EM REGIÕES PRODUTORAS DO ESTADO DE SÃO PAULO 1 Edivaldo CIA 2,4, Milton Geraldo FUZATTO 2, Julio Isao KONDO 2, Nelson Paulieri SABINO 2,4, Ederaldo José CHIAVEGATO 3, Norma de Magalhães ERISMANN 2, Luiz Henrique CARVALHO 2, Antonio Lúcio Mello MARTINS 2, Armando PETTINELLI JÚNIOR 2, Denizart BOLONHEZI 2, Francisco Seiiti KASAI 2, Marcelo de Almeida SILVA 2, Nelson BORTOLETTO 2 & Paulo Boller GALLO 2 RESUMO São apresentados os resultados de 16 experimentos do projeto Ensaio Nacional de Variedades de Algodoeiro Herbáceo, complementados por testes específicos para avaliação da resistência a doenças, realizados no ano agrícola de 1999/2000, nas principais regiões produtoras de algodão do Estado de São Paulo. Diferenças substanciais foram observadas entre os genótipos com respeito à produtividade, quer de algodão em caroço quer de fibra, demonstrando falta de adaptabilidade ampla, de alguns deles, às condições de cultivo nesse Estado. Apesar de se mostrar destacada em alguns genótipos, a porcentagem de fibra não constituiu fator predominante na produção de fibra por área. A maioria das cultivares e linhagens estudadas revelou suscetibilidade e uma ou mais das doenças mais sérias que podem ocorrer nesse Estado. Com poucas exceções, os genótipos produziram fibra de qualidade geral satisfatória, havendo destaque de alguns deles, para certas características. INTRODUÇÃO O projeto ENSAIO NACIONAL DE VARIEDADES DE ALGODOEIRO HERBÁCEO, coordenado pela EMBRAPA-ALGODÃO e pelo Instituto Agronômico (IAC) é realizado atualmente em quase uma centena de locais, em praticamente todos os Estados produtores de algodão, no Brasil. Embora seus resultados possam ser publicados em conjunto (EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA, 1981, 1982), é na análise por Estados ou Regiões que seus dados se mostram mais conseqüentes, uma vez que, então, podem constituir fundamento para tomadas de decisão na escolha de cultivares. Nesse trabalho são apresentados os resultados obtidos com esse projeto, no Estado de São Paulo, no ano agrícola de 1999/ Trabalho realizado com auxílio financeiro da FAPESP, da MAEDA S/A AGROINDUSTRIAL e da COTTON TECNOLOGIA DE SEMENTES S/A. 2 Pesquisadores científicos, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, , Campinas-SP, cia@cec.iac.br 3 Professor Assistente, Doutor, Departamento de Fitotecnia. ESALQ-USP. Piracicaba-SP 4 Bolsista CNPq

2 MATERIAL E MÉTODOS Com delineamento em Blocos ao Acaso, quatro repetições, foram estudados os 12 genótipos constantes das tabelas 1 e 2, obtidos por entidades públicas e privadas que realizam melhoramento genético do algodoeiro, no Brasil. As parcelas experimentais foram constituídas por duas linhas de 5m de comprimento, com espaçamentos entre elas variando entre 0,80m e 1,00m, conforme a localidade. Entre as parcelas e nas bordaduras do ensaio foi plantada uma linha marginal, com a linhagem IAC 96/280. O plantio foi realizado nos meses de outubro e novembro, conforme o local, empregando-se a adubação básica de 350 kg/ha, da fórmula Na ocasião do desbaste, quando foram deixadas 30 plantas/linha, foi feita adubação em cobertura, na base de 40 kg N/ha. Os tratos culturais e o controle de pragas variaram nos diferentes locais, mas foram realizados sempre em bom nível tecnológico. Nas condições apontadas, foram realizados 16 experimentos, em locais representativos da cotonicultura paulista, quer quanto à clima e solo, quer quanto à incidência de doenças. A colheita deu-se, em uma ou mais vezes, conforme o experimento, nos meses de março a maio. Em amostras de 20 capulhos por parcela foram efetuados estudos de componentes da produção e de características tecnológicas da fibra. Por último, em testes paralelos foram feitas avaliações para resistência a doenças, de todos os genótipos integrantes dos experimentos, segundo os métodos expostos por GRIDI-PAPP et al. (1994) e por CIA et al. (1999). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na tabela 1 encontram-se os resultados de produção e seus componentes, e os dados sobre avaliação da resistência a doenças. Com respeito à produção é flagrante a diferença entre os genótipos, o mais produtivo deles superando o último colocado em cerca de 55. É evidente, também, a diferença com respeito ao peso dos capulhos e das sementes e, sobretudo pela sua importância econômica com relação à porcentagem de fibra. Quanto a esta, é conveniente notar que quando se considera a produção de fibra por área, a posição dos genótipos praticamente não se altera em relação à colocação obtida com respeito ao algodão em caroço. Isso leva a refletir sobre a importância efetiva dessa característica, tendo-se em conta o intento próprio do cotonicultor e até mesmo as metas de produção nacional. Com efeito, considerando-se os genótipos extremos quanto à porcentagem de fibra, houve uma diferença enorme, de 4,2. Pois bastaria que o de menor porcentagem, a CNPA 87/33, produzisse 11 a mais de algodão em caroço, para que se igualasse, em produção de fibra por área, à cultivar Deltaopal, primeira colocada naquela característica. Ainda com respeito a características agronômicas, foi substancial a diferença entre os genótipos com respeito à precocidade. Todavia, supondo-se que essa característica é vantajosa, isso não se refletiu na produtividade. É possível que isso se deveu ou ao menor vigor do material mais precoce em decorrência de parasitas ou de maiores exigências nutricionais ou a um controle eficiente das pragas tardias e, especialmente, do bicudo, garantindo a produção do ponteiro no material mais tardio. O comportamento em relação às doenças estudadas considerando seu potencial de incidência no Estado de São Paulo mostra-se, no mínimo, preocupante, para alguns genótipos, sobretudo no caso da murcha de Fusarium e de nematóides. A rigor, com índices de resistência múltipla e de segurança

3 satisfatórios, considerando todas as doenças estudadas, houve destaque apenas para dois genótipos: IAC 97/86 e Deltaopal. Os demais revelaram vulnerabilidade alta ou média, a um ou mais desses parasitas. Se isso não se refletiu pronunciadamente nos resultados de produção, deve-se ao fato de não ter havido, nos experimentos, incidência de Fusarium e de ramulose. Mas nematóides, sim, ocorreram com certa freqüência, daí a associação nítida ( r = 0,82** ) entre produção e os índices relativos para esses parasitas, supondo-se que tais índices refletem atributos dos genótipos, que se manifestaram nos experimentos. Na tabela 2 encontram-se os resultados da análise de fibra, realizada no equipamento HVI. Com exceção de dois deles CNPA 87/33 e EPAMIG ALVA todos os genótipos apresentaram fibra de qualidade satisfatória, havendo destaques, em alguns casos, para determinadas características. CONCLUSÕES 1. Considerando a produtividade apresentada, nem todos os genótipos mostraram adaptabilidade ampla às condições de cultivo no Estado de São Paulo. 2. Houve diferenças substanciais entre eles, com respeito à porcentagem de fibra, ao peso de capulho e de sementes e à precocidade da colheita. 3. A porcentagem de fibra não constituiu fator predominante na produção de fibra por área, o que torna relativa a importância dessa característica nos intentos do cotonicultor e nas metas de produção. 4. A maioria das cultivares e linhagens estudadas revelou vulnerabilidade a uma ou mais das doenças mais sérias que podem ocorrer nas principais regiões algodoeiras do Estado. 5. Com poucas exceções, os genótipos produziram fibra de qualidade geral satisfatória, havendo destaque de alguns deles, para certas características. BIBLIOGRAFIA CIA, E.; FUZATTO, M.G.; KONDO, J.I.; GRIDI-PAPP, I.L. & CHIAVEGATO, E.J. Evolução da resistência múltipla a doenças em linhagens avançadas de algodoeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 2., 1999, Ribeirão Preto. Anais... Campina Grande, EMBRAPA-CNPA, p. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa do Algodão. Campina Grande, PB. Ensaio Nacional de Variedades de algodoeiro herbáceo, I : 1997/98. Campina Grande, 1981, 63 p. (EMBRAPA-CNPA, Boletim de Pesquisa, 2). EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa do Algodão. Campina Grande, PB. Ensaio Nacional de Variedades de algodoeiro herbáceo, II: 1978/79. Campina Grande, 1981, 63p. (EMBRAPA-CNPA, Boletim de Pesquisa, 9). GRIDI-PAPP, I.L.; CIA, E.; FUZATTO, M.G.; CHIAVEGATO, E.J.; DUDIENAS, C.; PIZZINATO, M.A.; SABINO, J.C.; CAMARGO, A.P. & CAMPANA. M.P. Melhoramento do algodoeiro para resistência múltipla a doenças, nematóides e broca-da-raiz em condições de campo. Bragantia, Campinas, 53(1): 33-45, 1994.

4 Tabela 1. Características agronômicas e índices de resistência a doenças obtidos em ensaios realizados no ano agrícola 1999/2000, em regiões algodoeiras do Estado de São Paulo. Índices Relativos para doenças Produção Fibra Produção Precocidade Mancha Fusa- Nema- Ramu- Índice GENÓTIPOS Kg/ha Fibra sementes capulho Angular rium tóides lose Kg/ha g g Múltiplo Segurança 1 Fundação MT b* 41,4b ,8e 6,4c 64,1f 0,521 0,346 0,750 0,909 0,592 0,205 2 Fundação MT c 41,1bc ,6e 5,9e 64,9f 0,863 0,215 0,746 0,909 0,596 0,126 3 IAPAR a 40,3e ,3c 6,4c 69,5de 1,032 0,801 0,961 0,681 0,858 0,584 4 IAC 97/ a 40,4de ,3b 6,8b 65,4f 0,932 1,129 0,936 0,989 0,993 0,926 5 Deltaopal 2.527d 42,8a ,6g 5,4f 71,9cd 1,201 1,054 0,899 0,812 0,980 0,796 6 Coodetec c 40,6d ,1d 6,1d 70,6cd 1,109 0,144 0,545 0,633 0,484 0,070 7 CNPA 87/ e 38,6g ,8e 5,5f 83,6b 1,208 0,303 0,465 0,595 0,564 0,171 8 Coodetec de 4,0c ,3f 5,8e 73,3c 0,825 0,203 0,540 0,573 0,477 0,097 9 IAPAR ab 41,1bc ,6e 6,3c 71,9cd 1,160 0,983 0,654 0,573 0,809 0, IAC 96/ ab 39,1f ,2a 7,2a 69,4de 0,947 0,479 0,699 0,844 0,719 0, EPAMIG ALVA 1.976f 40,6d 802 9,7g 5,5f 91,2a 0,830 0,264 0,149 0,974 0,422 0, CNPA ITA e 42,6a 974 9,1h 5,1g 66,6ef 0,448 0,584 0,429 0,711 0,532 0,228 F trat o, 16,29 65,90-183,33 109,99 23, CV 16,5 19,7-5,1 5,9 10, Correlação (ri) 0,72 0,90-0,94 0,92 0, * Teste de Duncan a 5 de probabilidade,

5 Tabela 2, Características da fibra obtidas no equipamento HVI, referentes a experimentos realizados no ano agrícola 1999/2000 em regiões algodoeiras do Estado de São Paulo, Comprimento Uniformidade Índice Fibra Tenacidade Elongação Micronaire Maturidade Finura m Tex Açúcar Reflectância Índice Amarele- Previsão Tenaci- GENÓTIPOS 2,5 mm Compr, Curta g/tex Índice cimento +b dade do fio PRKM 1 Fundação MT ,7b* 45,0f 9,0e 29,5ab 6,87d 4,25a 75,2a 194,4a 0,308def 77,0fg 9,45d 15,69c 2 Fundação MT ,8ab 45,0f 8,8de 29,7a 6,87d 4,10de 74,5ab 187,4de 0,262b 76,9g 9,39cd 15,84b 3 IAPAR ,3c 46,4b 8,4bc 28,5de 6,94a 4,23ab 74,8ab 193,6ab 0,263b 77,7bc 9,17b 15,69c 4 IAC 97/86 27,1c 47,0a 8,0ab 27,8f 6,90b 4,19abc 74,7ab 191,9abc 0,273bc 77,6bcd 9,35cd 15,60c 5 Deltaopal 27,3c 46,2bc 8,5cd 29,2bc 6,94a 4,13cd 74,8ab 188,8cde 0,286bcd 77,3def 9,30c 15,88ab 6 Coodetec ,6b 45,4e 8,7cde 28,1ef 6,89bc 4,19abc 75,2a 191,1abc 0,261b 77,1efg 9,37cd 15,41d 7 CNPA 87/33 28,0a 42,8h 10,5g 25,5h 6,95a 3,77f 71,9cd 174,3fg 0,348g 79,5a 8,65a 14,73e 8 Coodetec ,9ab 45,9cd 7,9a 28,9cd 6,94a 3,80f 72,4c 175,4f 0,318ef 77,9b 9,29c 16,03a 9 IAPAR ,2c 45,8d 9,0e 27,3g 6,94a 4,05e 74,0b 185,8e 0,296cde 77,9b 9,11b 15,39d 10 IAC 96/319 27,8ab 46,0cd 7,9a 29,2bc 6,88cd 4,12de 74,1b 188,8cde 0,230a 77,4cde 9,31c 15,90ab 11 EPAMIG ALVA 26,3e 44,1g 11,9h 25,0i 6,82e 3,69g 71,4d 171,2g 0,346g 77,3def 9,39cd 14,55f 12 CNPA ITA 90 26,6d 45,8d 9,9f 27,8f 6,91b 4,16bcd 74,8ab 190,6bcd 0,328fg 77,4cde 9,37cd 15,36d F trat o, 28,92 74,43 57,00 71,62 13,27 44,62 18,48 40,28 13,82 14,93 10,53 65,35 CV 2,4 2,0 12,7 4,3 0,9 4,5 2,9 4,7 24,5 1,2 2,6 2,6 Correlação (ri) 0,71 0,86 0,81 0,86 0,61 0,81 0,59 0,77 0,50 0,66 0,60 0,84 * Teste de Duncan a 5 de probabilidade,