COMPORTAMENTO VARIETAL DE ALGODOEIROS À RAMULOSE CAUSADA POR Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides
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1 COMPORTAMENTO VARIETAL DE ALGODOEIROS À RAMULOSE CAUSADA POR Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides André G. de Andrade 1 ; Antonio de Goes 2 ; Marcos M. Iamamoto 3 ; Mário Hirano 4 (1) FCAV/UNESP Departamento de Fitossanidade Laboratório de Fitopatologia, Paulo Donato Castellane s/n, Jaboticabal/SP. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq. aandrade@fcav.unesp.br. (2) FCAV/UNESP Departamento de Fitossanidade Laboratório de Fitopatologia, Paulo Donato Castellane s/n, Jaboticabal/SP. (3) Delta & Pine Land Company. (4) FCAV/UNESP Departamento de Fitossanidade Laboratório de Fitopatologia, Paulo Donato Castellane s/n, Jaboticabal, SP. RESUMO Sob condições de campo, na Fazenda Experimental da FCAV/UNESP, em Jaboticabal/SP, foram avaliados 13 materiais de algodoeiro em relação a Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides, sendo: CNPA ITA90, Coodetec406, DeltaOPAL, Deltapine4028, Deltapine4049, Deltapine618, Deltapine Acala90, DPS15, DPS18, DPS08, FiberMax966, FiberMax977, GuazunchoII, IAC23 e Sure Grow821, os quais foram comparados às testemunhas suscetível e resistente, representadas por GuazunchoII e IAC23, respectivamente. No plantio foram empregadas duas linhas de 5m de comprimento para cada variedade, com 4 repetições, espaçadas 90cm e densidade de plantio de 0,8 plantas/m. A área foi divida em duas partes: com e sem inoculação. A inoculação foi realizada aos 30 e 40 dias após a emergência (DAE), onde se empregou mistura de suspensão de quatro isolados patogênicos contendo 1,6x10 5 conídios/ml. A inoculação deu-se ao entardecer, atingindo primordialmente o ponteiro das plantas. A avaliação da doença foi realizada aos 120 DAE, empregando-se escala de notas (GRIDI-PAPP e al., 1994). Na colheita avaliou-se a produtividade das plantas das parcelas experimentais. Constatou-se diferentes níveis de resposta à doença, estando IAC23 e GuazunchoII nos extremos de resistência e suscetibilidade, respectivamente. A metodologia de inoculação artificial em condições de campo com mistura de patógeno apresentou-se como um eficiente método de seleção de materiais visando resistência à ramulose do algodoeiro. INTRODUÇÃO O algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) é uma das culturas anuais mais importantes do Brasil, pelo seu valor econômico e social. O alicerce básico para o aumento da produção é a produção e uso de sementes de variedades selecionadas pelos órgãos de pesquisas, complementado com o manejo adequado da cultura (CIA e SALGADO, 1997). Atualmente, a ramulose vem causando problemas sérios em lavouras localizadas nos Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e em algumas localidades do Nordeste Brasileiro. Fora do Brasil, a sua ocorrência é relatada na Venezuela e Paraguai (CIA e SALGADO, 1997). Nestes últimos anos, a doença passou a ter grande importância em virtude da disseminação do fungo via sementes contaminadas, condições climáticas favoráveis e pelo uso de variedades e/ou cultivares suscetíveis, o que, certamente contribuiu ao aumento do potencial de inóculo nas diversas regiões do país. O presente projeto visa a avaliação do comportamento varietal de diversos materiais genéticos comerciais e semi-comerciais a ramulose causada por Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides.
2 MATERIAL E MÉTODOS Selecionou-se quatorze materiais genéticos de algodoeiro (CNPA ITA 90, Coodetec 406, DeltaOPAL, Deltapine 4028, Deltapine 4049, Deltapine 618, Deltapine Acala 90, DPS 15, DPS 18, DPS 08, Fiber Max 966, Fiber Max 977 e Sure Grow 821), os quais foram comparados com as testemunhas suscetível e resistente, representadas por Guazuncho II e IAC 23, respectivamente. Os experimentos foram implantados Fazenda Experimental da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP, Câmpus de Jaboticabal, SP, cujo plantio empregou-se linhas de 5m de comprimento, espaçamento de 90cm entre linhas e densidade de plantio de 0,8 plantas/m linear. A área experimental foi divida em duas partes: com e sem inoculação de mistura de 4 isolados de Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides (Tabela 1). A inoculação das plantas foi realizada aos 30 dias após a emergência, sendo repetida dez dias após a primeira, tomando como referência metodologia adotada por IAMAMOTO (1999). Na inoculação empregou-se suspensão contendo aproximadamente 1,6 x 10 5 conídios/ml, obtidos de culturas desenvolvidas em meio BDA contido em placas de Petri, durante 7 dias, a 25 C (TANAKA e MENTEN, 1992). Para o preparo da suspensão do inóculo, sobre as colônias foram depositados 10 ml de água esterilizada acrescida de uma gota de Tween 20, seguido de leve fricção para remoção dos conídios. Esta operação realizada duas vezes por placa. Posteriormente, procedeu-se filtragem em camada dupla de gaze. A aplicação do inóculo ocorreu ao entardecer (pôr-do-sol), mediante o uso de pulverizador costal manual, com capacidade de 18 l, aplicando a suspensão sobre o ponteiro da plantas. A avaliação de doença foi realizada aos 120 dias após a emergência (DAE), e consistiu na determinação da severidade da doença, empregando-se escala de notas que variaram de: 1 ausência de sintomas; 2 planta com folhas do ponteiro apresentando manchas necrosadas pequenas (manchas estreladas); 3 planta com redução dos internódios no ponteiro e presença de manchas pequenas; 4 planta com superbrotamento no ponteiro e presença de manchas, mas sem redução acentuada do porte e 5 planta com superbrotamento, manchas e redução acentuada do porte, conforme descrição feita por GRIDI-PAPP et al., (1994). O delineamento experimental empregado foi o de blocos inteiramente casualizados, com quatro blocos e 20 repetições onde cada uma delas representada por uma planta. Na colheita determinou-se a produtividade em duas linhas centrais de 5m. RESULTADOS E DISCUSSÃO Conforme dados contidos na Tabela 2, observa-se que, na área com inoculação artificial, houve diferença estatisticamente significativa entre os diversos materiais genéticos avaliados quanto ao índice de doença. Foram discriminados quatro grupos de resistência, onde o grupo de maior resistência foi representado exclusivamente pela variedade IAC 23, seguido pelo grupo composto pelos materiais DeltaOPAL, Coodetec 406, DPS 18, Fiber Max 977. O terceiro grupo foi composto pelos materiais Deltapine 4049, Deltapine 4028 e Fiber Max 966, enquanto o quarto grupo, o de maior índice de doenças, foi constituído pelos materiais Sure Grow 821, CNPA ITA 90, DPS 15, Deltapine Acala 90, DPS 08, Deltapine 618 e Guazuncho II. Quanto à produtividade na área com inoculação artificial do patógeno, tornou possível discriminar os materiais genéticos em três grupos, sendo IAC 23 o que apresentou a maior produtividade, seguido pelo grupo intermediário composto pelos materiais DPS 18, Deltapine 4028, Coodetec 406, DeltaOPAL e DPS 08. O terceiro grupo, caracterizado pelas menores produtividades, foi constituído por Deltapine 4049, DPS 15, Sure Grow 821, Deltapine 618, Fiber Max 977, Deltapine Acala 90, Fiber Max 966, CNPA ITA 90 e Guazuncho II. Nos experimentos sem inoculação artificial, realizado sob as condições de campo na Fazenda Experimental da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária da UNESP Campus de Jaboticabal/SP, verificou-se que não houve a expressão natural da doença. Quando à produtividade,
3 apesar das características intrínsecas de cada material genético, não foi constatada diferença estatisticamente significativa entre os tratamentos. Analisando-se o comportamento dos materiais genéticos quanto aos índices de doenças e produtividade, nota-se que existe certa correlação inversamente proporcional entre o índice de doença e a referida produtividade, com redução de cerca de até 50% de produtividade nas condições dos experimentos. Embora tais índices de doença se reflitam sob condições de inoculação artificial e, que de certa forma dificilmente ocorra em condições naturais de campo, ressalta-se fatos históricos de surtos de ramulose do algodoeiro, como o que ocorreu em 1985 em Porteirão/GO e, em 1997 em Campo Verde/MT, com quedas de produtividade da ordem de 50 a 80% (Cia & Fuzatto, 2000). CONCLUSÕES existe um comportamento diferencial entre os materiais genéticos avaliados quanto a resistência a C. gossypii var.cephalosporioides, cujos extremos de resistência e suscetibilidade são representados por IAC 23 e Guazuncho II, respectivamente; a metodologia de inoculação artificial em condições de campo com mistura de isolados do patógeno apresentou-se como um método eficiente de seleção de materiais visando resistência à ramulose do algodoeiro.
4 Tabela 1 Relação dos isolados de Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides utilizados na experimentação, e respectiva procedência e órgãos da planta de onde foram obtidos (Jaboticabal, 2003). Isolados Procedência Órgão da planta CR 2 Primavera do Leste MT (Faz. São José) Haste CR 8 Brasnorte MT (Condomínio) Haste CR 51 Campo Novo dos Parecis MT (Faz. Casol) Haste CR 100 Lucas do Rio Verde MT (Faz. Piva) Haste Tabela 2 Comportamento varietal de treze materiais genéticos de algodoeiro, comparado a Guazuncho II e IAC 23 (testemunha suscetível e resistente), em relação à ramulose causada por Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides quanto a índice de doença e produtividade em condições de campo da Fazenda experimental da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP, Campus de Jaboticabal/SP, sob condições de infecção natural e artificial. (Jaboticabal, 2003). Material ID (notas) Produtividade (@/ha) Inoculado Não Inoculado Inoculado Não Inoculado Guazuncho II 4,01Aa 1,00Ba 67,41 c ND Deltapine 618 3,91Aa 1,00Ba 109,54A bc 204,72Ba DPS 08 3,87Aa 1,00Ba 133,33Aabc 222,32Aa Deltapine Acala 90 3,81Aab 1,00Ba 97,22 A bc 192,87Ba DPS 15 3,77Aabc 1,00Ba 117,50A bc 183,52Aa CNPA ITA 90 3,75Aabcd * 1,00Ba 79,54 A bc * 198,70Ba Sure Grow 821 3,66Aabcd 1,00Ba 111,76A bc 193,43Ba Fiber Max 966 3,46A bcde 1,00Ba 94,08 A bc 179,72Ba Deltapine ,43A cde 1,00Ba 160,28Aabc 218,34Aa Deltapine ,40A de 1,00Ba 126,48A bc 204,17Aa Fiber Max 977 3,26A ef 1,00Ba 107,32A bc 202,23Ba DPS 18 3,20A ef 1,00Ba 169,72Aab 210,83Aa Coodetec 406 3,15A ef 1,00Ba 156,21Aabc 214,72Aa DeltaOPAL 2,94A f 1,00Ba 152,13Aabc 186,39Aa IAC 23 2,39A g 1,00Ba 222,69 a ND Médias seguidas pela mesma letra minúscula nas colunas e maiúscula nas linhas, não diferem estatisticamente entre si (Duncan, α 0,05). ND Produtividade não determinada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CIA, E.; FUZATTO, M. G. Doenças da cultura do algodoeiro no Brasil. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DO AGRONEGÓCIO DO ALGODÃO, 1; SEMINÁRIO ESTADUAL DA CULTURA DO ALGODÃO, 5., 2000, Cuiabá. Anais... Cuiabá: Fundação MT, p CIA, E.; SALGADO, C. L. Doenças do algodoeiro (Gossypium spp.). In: KIMATI, H. et al. (Ed.). Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 3. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, p
5 GRIDI-PAPP, I. L.; CIA, E.; FUZATTO, M. G.; CHIAVEGATO, E. J.; DUDIENAS, C.; PIZZINATO, M. A.; SABINO, J. C.; CAMARGO, A. P; CAMPANA, M. P. Melhoramento do algodoeiro para resistência múltipla a doenças, nematóides e broca-da-raiz em condições de campo. Bragantia, Campinas, v. 53, p , IAMAMOTO, M. M. Controle da ramulose do algodoeiro e sua influência nas características agronômicas e das fibras f. (Dissertação de Mestrado em Agronomia Área de Concentração em Produção Vegetal). Jaboticabal. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista TANAKA, M. A. S.; MENTEN, J. O. M. Variação patogênica e fisiológica de Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides em algodoeiro. Summa Phytopathologica, Jaguariúna, v. 18, n. 2, p , 1992.
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