CONTROLE QUÍMICO DA MANCHA DE RAMULÁRIA DO ALGODOEIRO (*)
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1 CONTROLE QUÍMICO DA MANCHA DE RAMULÁRIA DO ALGODOEIRO (*) Nelson Dias Suassuna (Embrapa Algodão / suassuna@cnpa.embrapa.br), Marcos Massamitsu Iamamoto (MCI Planejamento, Pesquisa, Desenvolvimento, Perícia e Assistência Técnica S/S). RESUMO - A mancha de ramulária é uma das mais importantes doenças do algodoeiro no Brasil, causando sérios prejuízos ao cotonicultor. Este trabalho teve como objetivo avaliar o controle da mancha de ramulária com fungicidas aplicados na cultura do algodão. A parcela foi representada por 6 linhas de 5 m, espaçadas de 0,75 m. As avaliações foram efetuadas por meio de uma escala de notas que varia de 1 (sem sintomas) a 5 (sintoma severo e desfolha precoce). Na colheita, foi também determinada a produtividade (em kg por hectare). Todos os tratamentos foram eficientes e diferiram estatisticamente da testemunha sem fungicidas quanto ao índice de doença e propiciaram incremento de produtividade de 19% a 30%, ou seja de até 1.273,5 kg/ha de algodão em caroço. Palavras-chave: manejo de doenças, fungicidas, Gossypium hirsutum CHEMICAL CONTROL OF COTTON RAMULARIA LEAF SPOT ABSTRACT - Ramularia leaf spot is one of the most important cotton diseases in central Brazil, causing several losses. The purpose of this work was evaluating the chemical control of the ramularia leaf spot with fungicides. The experiment was conduced in the Experimental Station of the Bahia Foundation, at São Desidério municipal district in Bahia State, Brazil. The assay was conducted in a completely randomized block design, with four replicates and twelve treatments. The experimental unit (plot) was 6 lines 5 m, spaced of 0,75 m. Evaluations of severity were accomplished following a grade scale varying from 1 (without symptoms) to 5 (higher severity and early leaves senescence and shed). At harvest, the productivity was determined (kg/hectare). There are a significant difference among treatments and all treatments differed from the control in disease severity and there are increments on the productivity from 19% to 30%, resulting on gains until 1.273,5 kg/ha of cotton fiber. Key words: disease management, fungicides, Gossypium hirsutum INTRODUÇÃO A mancha de ramulária é uma das mais importantes doenças do algodoeiro brasileiro, sendo relatada em todos os estados produtores. No Oeste Bahiano, a mancha de ramulária é sempre epidêmica, exigindo um manejo específico com o uso de fungicidas. Tal fato, conduz a necessidade de avaliar o desempenho de diferentes fungicidas, isoladamente ou em combinação com outros produtos da mesma classe, visando o controle dessa importante doença da cultura do algodoeiro. MATERIAL E MÉTODOS O presente experimento foi implantado e conduzido em propriedade particular, localizada no município de São Desidério Distrito de Roda Velha/Ba, no período de novembro de 2003 a maio de A semeadura foi realizada em 15/11/2003, cultivar DeltaOpal, considerada suscetível a
2 Ramularia areola, em área de lavoura com alto nível de infestação da doença em anos anteriores, sendo o manejo e a condução do ensaio, os mesmos utilizados na fazenda e região. Os tratamentos [p.c. em kg e/ou L/ha] foram: 1) tiofanato metílico [1,2] / azoxystrobin [0,3] / azoxystrobin [0,3]; 2) azoxystrobin [0,3] / pyraclostrobin [0,4] / tebuconazole + tiofanato metílico [0,5 + 0,8];3) azoxystrobin [0,3] / pyraclostrobin [0,4] / difenoconazole [0,3]; 4) trifloxystrobin + propiconazole + óleo mineral (0,2%) [0,5 + 0,5] / carbendazim + trifenil hidróxido de estanho [0,5 + 0,4] / trifloxystrobin + propiconazole + óleo mineral (0,2%) [0,5 + 0,5]; 5) trifloxystrobin + propiconazole + óleo mineral (0,2%) [0,5 + 0,5] / carbendazim + trifenil hidróxido de estanho [0,5 + 0,4] / trifloxystrobin + propiconazole + óleo mineral (0,2%) [0,5 + 0,5]; 6) pyraclostrobin [0,4] / pyraclostrobin [0,4] / tiofanato metílico [1,2]; 7) pyraclostrobin [0,4] / pyraclostrobin + epoxiconazole [0,5] / pyraclostrobin + metiram [1,5]; 8) azoxystrobin + óleo mineral (0,2%) [0,3] / azoxystrobin + cyproconazole + óleo mineral (0,2%) [0,3] / difenoconazole [0,3]; 9) tiofanato metílico [1,2] / tiofanato metílico + flutriafol [0,6 + 0,5] / tiofanato metílico + flutriafol [0,6 + 0,5]; 10) tiofanato metílico [1,2] / tiofanato metílico + tetraconazole [0,5 + 0,5] / tiofanato metílico + tetraconazole [0,5 + 0,5]; 11) carbendazim [1,0] / carbendazim [1,0] / carbendazim [1,0]; e 12) testemunha sem fungicidas. foram aplicados em três pulverizações, a intervalos de quinze dias. No tratamento controle não foi usado fungicidas. Para pulverização empregou-se pulverizador costal pressurizado a CO 2, bico tipo leque SS DG 11002, com 3,0 bar, e vazão média de 200 L/ha. O ensaio foi conduzido em delineamento de blocos inteiramente casualizados com quatro repetições, sendo as parcelas compostas por seis linhas de 5 m, espaçadas 0,75 m, sendo avaliadas as duas linhas centrais, com uma área útil de 9,0 m 2 para cada parcela. Aos 120 dias após a emergência das plantas foi efetuada a avaliação dos níveis de severidade da doença e determinada a produção (arroba de algodão/hectare). Na avaliação de severidade foi usada uma se escala de notas que varia de 1(sem sintomas) a 5 (severidade acima de 50% e desfolha precoce) de acordo com Cia et al., 1997; Cia et al., 2002; Iamamoto, As notas foram convertidas para índices de severidade de doença conforme índice de McKinney. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas por meio do teste de Duncan. RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve diferença entre os tratamentos aplicados tanto na severidade da doença quanto na produtividade (Tab. 2). Todos os tratamentos diferiram estatisticamente da testemunha em relação à severidade da doença, exceto o tratamento 11 (carbendazim em três aplicações). Dentre os fungicidas avaliados, os menores índices de doença foram observados nas aplicações seqüenciais representados pelos tratamentos 8 e 7, que diferiram estatisticamente dos tratamentos 9, 11 e a testemunha sem fungicida. Os tratamentos 1 e 9 e nas doses trabalhadas assim como na sucessão de fungicidas, foram intermediários de acordo com as notas de severidades de doenças, mas diferiram da testemunha. Em relação à produção, verifica-se que os tratamentos 6, 1, 9 e 2 não diferiram estatisticamente da testemunha, contudo, propiciaram incrementos produtivos de até 16,16%. Os demais tratamentos com sucessão de fungicidas diferiram da testemunha sem fungicida e propiciaram incrementos de produção em torno de 19 a 30%, representando cerca de 84,9 arrobas de algodão a mais por hectare. Os dados referentes à eficiência obtida mediante a aplicação de trifloxystrobin e azoxystrobin mostraram-se convergentes aos obtidos por Iamamoto et al. (2001), os quais verificaram que os
3 produtos à base de estrobilurinas, isoladamente ou em mistura com fungicidas pertencentes ao grupo químico dos triazóis, apresentaram eficácia no controle da mancha de ramulária e no controle da ramulose do algodoeiro. Tal fato significa, em termos práticos, na viabilidade do controle simultâneo de ambas doenças na cultura do algodoeiro o que, certamente, implicará em redução de custos de controle de ambas doenças e possibilidade de maiores respostas em produtividade. Dessa forma, comparando-se os resultados obtidos mediante a aplicação de azoxystrobin, trifloxystrobin, pyraclostrobin, isoladamente ou em combinação com tebuconazole, propiconazole, cyproconazole, epoxyconazole, metiram, associado a azoxystrobin, trifloxystrobin, pyraclostrobin, carbendazim e tiofanato metílico isoladamente ou em mistura com trifenil hidróxido de estanho, ou flutriafol, ou tetraconazole são indicações de novas alternativas possíveis de serem empreendidas visando o controle da mancha de ramulária. Tais alternativas, além de propiciarem ao controle de doenças associadas à cotonicultura nacional, essas possíveis combinações de emprego de fungicidas representam também estratégias importantes a serem adotadas no manejo da resistência de fungos (BRENT, 1995), de tal forma que se minimize os riscos do surgimento de estirpes resistentes de R. areola e outros patógenos associados à cultura do algodoeiro. Tabela 1. Tratamentos fungicidas aplicados isoladamente ou em combinação, em série de 3 aplicações no controle da mancha de ramulária do algodoeiro, cultivar DeltaOpal, na Fazenda Acalanto, safra 2003/2004, em São Desidério - Roda Velha/BA, sob condições de infecção natural. Tratamentos (L ou kg p.c./ha) 1ª. Aplicação 2ª. Aplicação 3ª. Aplicação 1. Tiofanato metílico (1,2) (Tm) Azoxystrobin (0,3)(Az) Azoxystrobin (0,3) 2. Azoxystrobin (0,3) Pyraclostrobin (0,4)(Py) Tebuconazole + tiofanato metílico (0,5+0,6)(Te+Tm) 3. Azoxystrobin (0,3) Pyraclostrobin (0,4) Difenoconazole (0,3) (Dif) 4. Trifloxystrobin + propiconazole (0,5) + óleo mineral (TP+Om) Carbendazim + trifenil hidróxido de estanho (0,5+0,4) (C+THE) Trifloxystrobin + propiconazole (0,5) + óleo mineral 5. Trifloxystrobin + propiconazole (0,5) + óleo mineral Carbendazim + trifenil hidróxido de estanho (0,5+0,4) Trifloxystrobin + propiconazole (0,5) + óleo mineral 6. Pyraclostrobin (0,4) Pyraclostrobin (0,4) Tiofanato metílico (1,2) 7. Pyraclostrobin (0,4) Pyraclostrobin + epoxiconazole (0,5) (Py+Ep) Pyraclostrobin + metiram (1,5) (Py+Me) 8. Azoxystrobin (0,3)+óleo mineral Azoxystrobin + cyproconazole (0,3)+óleo mineral (Az+Cy+Om) Difenoconazole (0,3) 9 Tiofanato metílico (1,2) Tiofanato metílico + flutriafol (0,6+0,5) (Tm+Flu) Tiofanato metílico + flutriafol (0,6+0,5) 10 Tiofanato metílico (1,2) Tiofanato metílico + tetraconazole (0,5+0,5)(Tm+Tet) Tiofanato metílico + tetraconazole (0,5+0,5) 11 Carbendazim (1,0) (C) Carbendazim (1,0) Carbendazim (1,0) 12 Testemunha Testemunha Testemunha Tabela 2. Notas de severidade e produtividade decorrente do uso de fungicidas aplicados isoladamente ou em combinação no controle da mancha de ramulária do algodoeiro, cultivar DeltaOpal, safra 2003/2004, em São Desidério - Roda Velha/BA, sob condições de infecção natural.
4 Tratamento Nota Peso Incremento Severidade 1 (@/ha) Produção(%) 2 1. Tm/Az/Az 46,86 ab 325,4 abc 12,36 2. Az/Py/Te+Tm 43,75 ab 336,4 abc 16,16 3 Az/Py/Dif 37,50 ab 348,8 ab 20,44 4. T+P+Om/C+THE/T+P+Om 40,63 ab 369,3 ab 27,52 5. T+P+Om/C+THE/T+P+Om 40,63 ab 374,6 a 29,35 6. Py/Py/Tm 40,63 ab 323,5 bc 11,71 7. Py/Py+ep/Py+met 31,25 a 351,2 ab 21,27 8. Az/Az+Cy/Dif 31,25 a 351,0 ab 21,20 9. Tm/Tm+Flu/Tm+Flu 56,25 bc 328,7 abc 13, Tm/Tm+Tet/Tm+Tet 40,63 ab 347,8 ab 20, C/C/C 75,00 cd 345,2 ab 19,20 12 Testemunha sem fungicidas 90,62 d 289,6 c - CV (%) 18,91 7, Médias seguidas por mesma letra, na mesma coluna, não diferem estatisticamente entre si (Duncan α 0,05%). 2 Valores determinados por meio da fórmula de Henderson & Tilton (1955). CONCLUSÕES 1. Os fungicidas dos tratamentos 3, 4, 5, 7, 8, 10 e 11 quando aplicados ao surgimento dos primeiros sintomas da mancha de ramulária do algodoeiro, são eficientes no controle da doença e proporcionam incrementos na produtividade de até 1.273,50 kg/ha de algodão em caroço ou de 19% a 30%; 2. Independente dos produtos, combinações e das concentrações avaliadas não foram observados sintomas de fitotoxicidade nas plantas pulverizadas. (*) Projeto desenvolvido em parceria pela Embrapa, Fundação Bahia e MCI Assessoria em Fitopatologia, financiado pelo Fundeagro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRENT, J. K. Fungicide resistance in crop pathogens: how can it be managed. Bruxelas: GIFAP, p. 48. FRAC, (1). CIA, E.; FUZATTO, M. G.; CHIAVEGATO, E. J.; PIZZINATTO, M. A.; ZIMBACK, L.; BORTOLETTO, N.; PAULO, E. M.; PETTINELLI JÚNIOR, A.; SILVA, M. A.; BOLONHEZI, D.; VASCONCELOS, A. S. A. Comportamento de cultivares de algodoeiro selecionados em outras regiões, diante de doenças que ocorrem no Estado de São Paulo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 1., 1997, Fortaleza. Anais... Campina Grande: EMBRAPA-CNPA, 1997, 648 p. CIA, E.; FUZATTO, M. G.,;CHIAVEGATO, E. J.; FARIAS, F. J. C.; ARAÚJO, A. E. CIA, E.; FUZATTO, M. G.; PIZZINATTO, M. A.; BORTOLETTO, N. Uma escala para classificação da resistência de cultivares a doenças do algodoeiro. Summa Phytopathologica, v. 28, p , 2002.
5 HENDERSON, C. F.; TILTON, E. W. Tests with acaricides against the brown wheat mite. Journal of economic Entomology, v. 48, n. 2, p , IAMAMOTO, M. M. Controle da ramulose do algodoeiro e sua influência nas características agronômicas e das fibras. Jaboticabal, p. Dissertação (Mestrado em Agronomia Área de Concentração em Produção Vegetal) Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista. IAMAMOTO, M. M.; GOES, A.; CIA, E.; FUJINO, M. T. Efeito do fungicida trifloxystrobin no controle da ramulose do algodoeiro. Fitopatologia brasileira, v. 26, p.371, agosto, (Suplemento).
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