AS PRODUÇÕES DA ANPED SOBRE GESTÃO ESCOLAR NO PERÍODO DE 2000 A 2013

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1 AS PRODUÇÕES DA ANPED SOBRE GESTÃO ESCOLAR NO PERÍODO DE 2000 A 2013 HENICK, Angelica Cristina (UNIOESTE) 1 ZANARDINI, Isaura Monica Souza (UNIOESTE) 2 Introdução O presente trabalho tem como objetivo apresentar a proposta de pesquisa que esta em andamento no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, Nível de Mestrado, na área de concentração: Sociedade, Estado e Educação e Linha de Pesquisa: Educação, Políticas Sociais e Estado. Para apresentar o nosso objeto de pesquisa, é preciso contextualiza-lo. Salientase que a década de 90 foi marcada por grandes mudanças políticas, econômicas, ideológicas, culturais e sociais resultando em mudanças quanto ao papel do Estado e sua atuação na sociedade, além da forma de gestão dos Serviços Públicos, refletindo no âmbito da educação. Essas mudanças estão relacionadas com o contexto de globalização e sua exigência de reformular o papel do Estado para que se afaste do financiamento, mantendo- se como o controlador e regulador dos serviços públicos. É de extrema importância destacar que [...] toda política pública, pelo menos até a década de 1990, mantinha uma articulação estreita com o Estado como mantenedor dos serviços públicos, entre eles os educacionais (LIMA, 2004, p. 25). 1 Discente no Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Educação - Nível Mestrado da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, linha de pesquisa: Educação, Políticas Sociais e Estado. Endereço Eletrônico: angelica.henick@hotmail.com 2 Docente, Orientadora e Coordenadora no Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Educação - Nível Mestrado da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Endereço Eletrônico: monicazan@uol.com. 1

2 No entanto, a partir de 1995 ocorrem algumas alterações. No governo de Fernando Henrique Cardoso, criou-se o Mare (Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado) que tinha como objetivo [...] elaborar o Plano diretor da reforma do aparelho do Estado brasileiro. Tal plano, cujo mentor foi o então ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, tinha como objetivo consolidar a estabilidade econômica e assegurar o crescimento sustentado da economia. O fundamento do plano era que o Estado vinha-se desviando de suas funções básicas (regulador e avaliador) e ampliando sua presença nos serviços públicos (LIMA, 2004, p. 28). Assim, percebendo a ampliação do Estado frente aos serviços públicos, sendo esse um dos motivos da crise que vinha enfrentando acentuou-se um processo de mudança no que concerne às ações do Estado para implementar a redefinição da política pública. Nesse período, houve uma forte tendência em criar um consenso de que instituições não-estatais e privadas deveriam compartilhar a oferta dos serviços públicos, eximindo o Estado de tal responsabilidade. Tal preceito foi justificado amparando-se no direito de escolha das famílias e no direito do Estado de ser o controlador e o avaliador das políticas públicas (LIMA, 2004, p. 25). Com o intuito de implementar as reformas do Estado segundo os moldes dos neoliberais, ou seja, de cunho mercadológico, termos como participação, descentralização e autonomia ganham novos significados que vão atingir diretamente os serviços públicos, entre eles as instituições escolares, a qual terá que adequar sua forma de organização e gestão. qual Assim, juntamente com a reforma do Estado houve a reforma da Educação, a [...] a organização da escola foi-se adaptando à flexibilização, à criatividade, à racionalidade, ao reflexo e impacto da empresa, adequando-se, como pôde, dependendo do grau de participação e de organização da comunidade aos princípios mercadológicos do neoliberalismo, traduzidos no empreendedorismo dos sujeitos e na prática voluntária dos cidadãos, que se passaram a integrar, interagir e participar das políticas contributivas, construídas a partir do desmonte do Estado (LIMA, 2004, p. 26). 2

3 Compreende-se que os princípios norteadores do neoliberalismo para manter os serviços públicos de cunho mercadológico, são o individualismo, a equidade no lugar da igualdade, a flexibilização e criatividade. A escola deve ser administrada com base nesses princípios, assim, a educação também se torna mercadoria dessa sociedade capitalista a qual vivemos. Nesse âmbito, as instituições escolares devem ter autonomia para resolver seus problemas, o sucesso ou fracasso das instituições depende do gestor que está à frente da escola, culpabilizando os indivíduos e eximindo o Estado de suas responsabilidades, assim as políticas públicas atuais conferem ao administrador escolar uma importância estratégica. A descentralização operacional aumentou as responsabilidades da escola, levando seu gestor a se defrontar com novos desafios, assumir o papel de coordenador da ação dos diferentes componentes do sistema educacional na tomada de decisões conjuntas, estimular o trabalho em equipe e as dinâmicas de trabalho identificadas de sua escola e resolver seus problemas de forma autônoma. Ele torna-se o elemento central e fundamental para o encaminhamento do processo participativo no interior de sua escola e para sua integração com a comunidade (CARVALHO, 2009, p. 1155). Nessa perspectiva o gestor deve ter autonomia, e buscar a participação dos envolvidos com a escola, ou seja, os pais dos alunos, os professores e a comunidade em geral para solucionar seus problemas, sejam eles financeiros ou estruturais. O que os neoliberais defendem para as políticas públicas entre elas a educacional, é a descentralização do poder, ou seja, [...] redistribuir o poder central, envolvendo necessariamente alterações dos núcleos de poder, que levam a uma maior distribuição do poder decisório até então centralizado em poucas mãos [...], ou seja, as escolas teriam autonomia para tomar decisões. No entanto a realidade que se evidencia nos setores públicos, entre eles a escola, é a desconcentração que significa delegar determinadas funções à comunidade local, mantendo centralizadas as decisões sobre os aspectos financeiros, administrativos e pedagógicos (VIRIATO, 2004, p.47). Evidencia-se que o que está imposto é a desconcentração taxada como descentralização, nessa perspectiva a implementação de políticas educacionais privilegiando a desconcentração e rotulando-a de descentralização, além de não 3

4 ameaçar as estruturas já consolidadas, favorece o discurso de governos populistas que adotam um discurso democrático, camuflando de fato sua base centralista e autoritária e o processo de desobrigação do Estado e seu papel de mantenedor da escola pública (VIRIATO, 2004, p. 47). Diante desse contexto da globalização do capitalismo, a reforma do Estado a qual tem por princípio a gestão do serviço público aos moldes do mercado, e como necessidade para essa adequação do Estado a reforma da Educação, são mudanças no país que nos instigaram a investigar como os pesquisadores da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) estão analisando o tema Gestão Escolar, já que as escolas sofreram reflexos e mudanças drásticas na sua forma de gestão e organização para se adequar ao que lhe estava imposta, os moldes do mercado. Nesse contexto, propõe-se como pesquisa realizar um levantamento e análise acerca das produções da Gestão Escolar, publicadas na Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Educação - ANPEd, no Grupo de Trabalho (GT) 05 - Estado e Política Educacional, no período de 2000 a 2013, no qual se busca compreender em que medida essas produções consideram as relações históricas na produção de políticas para a gestão escolar, ou se analisam tais políticas a partir de uma perspectiva interna. Temos em vista ainda analisar como são entendidas as categorias: descentralização, participação e autonomia pelos pesquisadores da temática. Justifica-se a realização e importância dessa pesquisa pela necessidade de se compreender e analisar se os pesquisadores estão levando em consideração os pressupostos políticos, econômicos e sociais para a produção de políticas para a gestão. Pretende-se realizar esse levantamento acerca das produções sobre gestão escolar, publicadas na ANPEd, produzindo uma pesquisa de Estado do Conhecimento que as autoras Romanowski e Ens afirmam ser o estudo que aborda apenas um setor das publicações sobre o tema estudado (ROMANOWSKI; ENS, 2006, p. 40). A escolha da análise das produções publicadas na Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Educação está relacionada com a importância que as publicações dessa Associação vêm trazendo para a sociedade acerca dos temas que nos instigam, através de seus Grupos de Trabalhos. Salienta-se a importância dessa Associação, pois 4

5 a ANPEd tem-se constituído, desde seu nascimento, em fórum cativo de debates das questões científicas, éticas e políticas da área, consolidando-se, dessa forma, em referência básica para a produção do conhecimento, na medida em que sua atuação vem pautando-se pela busca do conhecimento científico e pelo compromisso com a democratização e melhoria da educação brasileira (ANPEd, 2007, p. 486). Enfatiza-se que ao longo de 34 anos de existência, a ANPEd vem contribuindo para a produção de estudos e pesquisas que analisam, propõem e avaliam as políticas de Estado para a educação nacional, em todos os níveis, etapas e modalidades (ANPEd, 2007, p. 486). Ressalta-se a importância da pesquisa acerca das produções da Gestão escolar para assim percebermos os temas mais enfatizados e abordados pelos pesquisadores, as metodologias utilizadas, quais os teóricos que mais estão contribuindo para o tema, para assim evidenciarmos as lacunas e contribuições existentes a respeito desse tema que é de extrema importância para nós educadores. Revisão bibliográfica Para a realização dessa pesquisa é imprescindível à leitura e estudo de algumas obras que mencionaremos. Tratando-se de uma pesquisa do tipo Estado do Conhecimento as autoras Romanowski e Ens (2006) em seu artigo As pesquisas denominadas do tipo estado da arte em educação nos esclarecem as diferenças da pesquisa Estado da Arte e Estado do Conhecimento, nos mostrando que a pesquisa do tipo da arte é muito mais abrangente, pois se trata de compreender como se dá a produção do conhecimento em uma determinada área de conhecimento em teses de doutorado, dissertações de mestrado, artigos de periódicos e publicações (ROMANOWSKI; ENS 2006, p. 39). Como já mencionado, o nosso trabalho será o estado do conhecimento que é o estudo que aborda apenas um setor das publicações sobre o tema estudado (ROMANOWSKI; ENS 2006, p. 40). 5

6 As autoras Azevedo e Aguiar com A produção do conhecimento sobre a política educacional no Brasil: um olhar a partir de ANPED contribuem de forma significante para a nossa pesquisa, pois as mesmas, realizaram uma pesquisa a qual analisaram as [...] características e tendências da produção do conhecimento sobre a política educacional no Brasil, tomando como base empírica a produção apresentada no Grupo de Trabalho da ANPED Estado e Política Educacional no período de 1993 a 2000 (AZEVEDO; AGUIAR, 2001, p.49). Nesse trabalho apresentam um resgate histórico da origem e trajetória deste GT (05) na ANPEd, as tendências de pesquisas no período analisado, e [...] apresentam quantitativa e qualitativamente um quadro dos eixos temáticos e subtemáticos que têm prevalecido no período estudado (AZEVEDO; AGUIAR, 2001, p.49), nos mostrando os enfoques que os pesquisadores estavam dando nesse período. A produção Reestruturação produtiva, reforma administrativa do Estado e gestão da educação da autora Elma Júlia Gonçalves de Carvalho (2009) a qual tem como proposta identificar a relação entre o novo modelo de gestão empresarial e o modelo de gestão pública, denominado gerencial. Ressaltam-se também as repercurssões desse modelo na organização administrativa da escola, que passa a ser caracterizada como democrática, participativa e descentralizada (CARVALHO, 2009, p.1139). Essa produção contribui para compreender as mudanças que ocorrerão com a reforma do Estado da década de 90, nos mostrando como a forma gerencial de administrar os serviços públicos refletiu na forma de gestão da escola. Assim como a autora Isaura Monica Souza Zanardini contribui com os esclarecimentos a respeito da reforma da Educação Básica implementada no Brasil, na década de 1990, e sua articulação com a reforma do Estado brasileiro e com a ideologia da pós-modernidade, que, por sua vez, ao sustentar as reformas e estratégias implementadas no contexto da globalização e do neoliberalismo, propõe a necessidade de uma nova racionalidade que se expressa na chamada administração pública gerencial (ZANARDINI, 2007, p.245). 6

7 A obra Estado, políticas educacionais e gestão compartilhada é uma produção de autores membros do Grupo de Pesquisa em Gestão Escolar (GPGE), são docentes e aluna da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e Universidade Paranaense (Unipar) o qual tiveram como objetivo [...] examinar o programa proposto pelo governo Lerner na segunda metade dos anos 1990, os autores preocuparam-se em desvelar as raízes de sua formulação, analisaram a implantação de algumas de suas medidas, bem como verificaram como tais propostas chegavam à ponta do sistema e como o pessoal da escola perseguia e punha em prática (LIMA et. al, 2004, p. 6). Com essa pesquisa, podemos compreender as mudanças que ocorrerão no espaço escolar, bem como, [...] analisar as ressignificações dos termos democracia, descentralização, participação, autonomia, gestão compartilhada, dentre outros (LIMA et. al, 2004, p. 7), termos que são de suma importância para a pesquisa a qual nos propomos a realizar. Salientamos que essas são algumas das obras que estudamos até o presente momento, no entanto, são vastos os autores, pesquisadores e obras que estudaremos para aprofundar a compreensão acerca do tema gestão escolar. Conclusão Diante dos estudos e pesquisas realizadas até o momento, evidenciou-se o quanto o espaço escolar tem sofrido as consequências da reforma do Estado, o quanto teve que se reestruturar para manter-se em pé, já que a educação faz parte das políticas sociais, e com o Estado regulado pelas ideologias do neoliberalismo o qual propõe cada vez mais o afastamento do Estado no financiamento e fortalecendo-se como o regulador e avaliador dos serviços públicos. Juntamente com a reforma do Estado houve a reforma da Educação, a qual também se tornou uma mercadoria de venda e troca para os capitalistas. Assim, a gestão da escola passa a ser aos moldes e princípios do neoliberalismo, tendo que ser flexível, criativa, o gestor e sua equipe deve ter autonomia para resolver seus problemas, buscar a 7

8 participação da comunidade, pais e mestres para manter a escola, enquanto o papel do Estado frente a educação é de avaliar e controlar. Conclui-se este artigo o qual aborda acerca da proposta de pesquisa que estamos realizando, ressaltando a importância e relevância desse estudo tanto para os profissionais da educação, pesquisadores, autores e demais interessados, pois se trata de um estado do conhecimento que possibilitará visualizarmos os enfoques dos temas, os teóricos, as metodologias sobre a gestão escolar, nos mostrando as lacunas que precisam ser investigadas e analisadas. Reiteramos a necessidade dessa pesquisa para dar ainda mais visibilidade às produções sobre o tema e para a reinvindicação de novas políticas públicas para a área da Educação. REFERÊNCIAS ANPED. Documento: Por um Plano Nacional de Educação ( ) como política de Estado. Disponível online: AZEVEDO, Janete Maria Lins de. AGUIAR, Márcia Ângela. Educação e Sociedade, ano XXII, nº 77, Dezembro/2001. CARVALHO, Elma Júlia Gonçalves de. Reestruturação produtiva, reforma administrativa do Estado e gestão da educação. Educ. Soc., Campinas, vol. 30, n. 109, p , set./dez LIMA, Antonio Bosco de [org]. et.al. Estado, políticas educacionais e gestão compartilhada. São Paulo: xamã, Políticas educacionais e o processo de democratização da gestão educacional. In: LIMA, Antonio Bosco de. [org]; OLIVEIRA, Cleiton de. (Prefácio) et. al. Estado, políticas educacionais e gestão compartilhada. São Paulo: xamã, ROMANOWSKI, Joana Paulin. ENS, Romilda Teodora. As pesquisas denominadas do tipo estado da arte em educação. Diálogo Educ., Curitiba, v. 6, n.19. p , set/dez VIRIATO, Edaguimar Orquizas. Descentralização e desconcentração como estratégia para redefinição do espaço público. In: LIMA, Antonio Bosco de. [org]; OLIVEIRA, Cleiton de. (Prefácio) et. al. Estado, políticas educacionais e gestão compartilhada. São Paulo: xamã,

9 ZANARDINI, Isaura Monica Souza. A reforma do Estado e da educação no contexto da ideologia da Pós-modernidade. Perspectiva, Florianópolis, v. 25, n. 1, , jan./jun