O PLANEJAMENTO NA GESTÃO ESCOLAR: SUAS CONTRADIÇÕES

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1 ISBN O PLANEJAMENTO NA GESTÃO ESCOLAR: SUAS CONTRADIÇÕES Kátia Fernanda de Oliveira Borges UEL fernandaborges@uel.br Soraia Kfouri Salerno - UEL. soraiakfouri@uel.br Eixo temático: 3. Temas Contemporâneos da Educação. Resumo: O presente trabalho busca analisar a influência campos teóricos da administração para a educação a partir do olhar sobre o planejamento educacional. Nosso objetivo foi reconhecer qual vertente de administração influencia o planejamento educacional e qual sua relevância política para a coletividade na escola. Nosso problema de pesquisa está em compreender qual a atuação do pedagogo diante da obrigação de exercer sua autonomia antes reivindicada, pela construção do projeto pedagógico da escola? Optamos pela pesquisa qualitativa, com levantamento de documentos normativos e referenciais pertinentes ao tema, como Abrucio (1997), Dourado (2002), Libâneo (2004) e Pimenta (1982). Desde a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (9.394/96), há um destaque para o planejamento, sendo que duas vertentes estão presentes. A primeira tem o planejamento como regulação e controle do sistema, desresponsabilizando o Estado de suas obrigações; e a outra, do planejamento como instrumento político de construção da identidade e democracia, na qual os profissionais da educação sabem qual seu lugar na participação democrática. Nossa defesa é sobre esta vertente, reconhecendo a escola como espaço de luta política, na qual a coletividade assume o seu caráter de atividade intencional e de reflexão da realidade escolar. Palavras-chave: Gestão, Planejamento, Projeto Político Pedagógico, Democracia. Introdução A influência dos campos teóricos da administração na educação é notória desde as últimas décadas, quando a administração pública e gestão da educação passam a ser objetos de estudo. A partir da retomada histórica do campo da administração enunciada por Frederick Taylor, Jules Henri Fayol e Max Weber, no final do século XIX e início do século XX, que proporcionaram as bases para a chamada Teoria Geral da Administração e subsídio para a administração pública e empresarial, traçamos a 869

2 influência presente na concepção de gestão e planejamento escolar presente no atual sistema escolar. Este estudo teórico é resultado de uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório, por meio de pesquisa bibliográfica. Como bases teórica temos Abrucio (1997), Vasconcellos (2008), Libâneo (2004) entre outros. Nosso objetivo foi reconhecer por qual vertente de administração o planejamento educacional tem sido influenciado e qual o sentido e relevância política o planejamento representa para a coletividade na escola. Desenvolvimento Dentro da Teoria Geral da Administração Fayol complementou o trabalho de Taylor, estabelecendo os princípios da boa administração, sendo dele a clássica visão das funções do administrador: organizar, planejar, coordenar, comandar e controlar (MATOS; PIRES, 2006, p. 509), e esta que desde os anos 1930 exerce forte influência na administração da escola. Seu caráter centralizador refletiu na organização escolar acarretando a fragmentação do trabalho, distinguindo parte administrativa e parte pedagógica, perdendo-se de vista que sua finalidade é totalmente pedagógica (SALERNO, LOPES E KFOURI, 2015). O modelo gerencialista com fortes traços neoliberais, oriundo da Teoria Geral da Administração, se propaga no campo educacional, garante o controle subjetivo do sujeito e desresponsabilização do Estado sobre as mazelas do sistema. O planejamento passa a ser de responsabilidade da escola e pré-requisito para o seu credenciamento, a partir da LDB 9.394/96. para Nesse contexto, o modelo gerencial surge em governos de cunho neoliberal preencher um vácuo teórico e prático, captando as principais tendências presentes na opinião pública, entre as quais se destacam o controle dos gastos público e a demanda pela melhor qualidade dos serviços públicos (ABRUCIO, 1997, p.7). Este modelo influencia a educação e encontra terreno fértil para sua propagação desde o final da década de 1970, quando a reforma do Estado passou a ser prioridade à nível mundial (ibidem). Esse modelo que prima pela centralização do poder e garante o controle subjetivo do sujeito, é o que está presente na 870

3 administração pública e na gestão dos sistemas educacionais do Brasil desde meados da década de O planejamento passa a ter destaque pois passa ser obrigação de cada setor. Desta maneira, o planejamento é tido como a organização do trabalho da escola como um todo, sendo assim, o Projeto Político Pedagógico (PPP) é o instrumento concreto pelo qual se efetivará o que foi planejado. É um documento construído com o caráter particular da instituição de ensino, assim, não há um modelo definido a ser seguido. O planejamento na escola se apresenta como conteúdo e ferramenta dos princípios para a democratização da gestão escolar está prevista na LDB: Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996). Desde a referida lei (9.394/96) até os dias atuais, há um destaque ao planejamento. Assim, há duas vertentes presentes, a primeira do planejamento como regulação e controle do sistema, tem base no modelo funcionalista gerencial de administração. Esta desresponsabiliza o Estado de suas obrigações e responsabiliza o ator local pelas mazelas do sistema escolar e por seus maus resultados. A segunda é o planejamento como construção identitária, que reconhece o conflito, e considera o todo, sendo o planejamento um instrumento político, com base na vertente interacionista do conflito. Nossa defesa é sobre esta vertente, pois discuti-las é superar desafios que a escola enfrenta, pois do contrário os profissionais tornam-se veículos ideológicos à serviço do sistema, e não sabem qual seu lugar na participação democrática. Reconhecer o planejamento como um instrumento para a autonomia requer reconhecer a escola como espaço de luta política, na qual a coletividade assume o seu caráter de atividade intencional e de reflexão da realidade escolar. Segundo Vasconcellos (2008), é também um instrumento teórico-metodológico que intervém na realidade e a transforma, sendo uma construção coletiva de conhecimento. Esse 871

4 plano global ganha outras denominações também: proposta pedagógica, projeto educacional, projeto de estabelecimento, plano diretor, projeto de escola. As funções do planejamento, segundo Libâneo (2004), são no mínimo três: definir objetivos, prever resultados e refletir e avaliar as decisões tomadas, visando corrigir erros. Esse é o desafio posto ao pedagogo na gestão escolar, pois implica a construção da identidade e democracia na escola. A gestão democrática exige rupturas históricas, já que não é um princípio fácil de ser consolidado, pois trata-se da participação crítica na construção do projeto político pedagógico e na sua gestão (VEIGA, 2002, p. 18). Conclusão O planejamento é um instrumento de autonomia e construção identitária, do contrário, seu caráter político é anulado. É um fazer coletivo de luta política, visa a democratização do ensino, promovendo na coletividade um atividade intencional que intervém na realidade e a transforma No entanto, o planejamento tem cumprido um papel de regulação e controle, fragmentando o trabalho pedagógico, desresponsabilizando o Estado de suas obrigações, quando passa a ser uma obrigação e não um direito. Assim, a gestão adotada pelos sistemas públicos escolares ainda é baseada neste modelo centralizador, no qual a autonomia pedagógica da escola se restringe muitas vezes à uma ilusão. Ainda que, direito e dever de autonomia seja dado em marcos legais, estes não são garantidos, senão por meio de luta social. Um dos desafios impostos ao pedagogo na gestão escolar e desenvolvimento do planejamento é a superação da centralização histórica do poder. Esta é uma tarefa onerosa e exaustiva para o pedagogo e a equipe gestora, pois o demanda autoritária e centralista é mais fluida e rápida. Referências ABRUCIO, Fernando Luiz. O impacto do modelo gerencial na administração pública: Um breve estudo sobre a experiência internacional recente. Cadernos ENAP; n. 10, 1997, 52 p. Disponível em: < Acesso em: 20 dez

5 BRASIL. Lei n de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível: < Acesso 06 jul LIBÂNEO, J. C. As áreas de atuação do sistema de organização e de gestão escolar. In: LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola. Goiânia: Alternativa, 5ª ed MATOS, Eliane; PIRES,Denise. Teorias administrativas e organização do trabalho: de Taylor aos dias atuais, influências no setor saúde e na enfermagem. Texto contexto - enferm. [Online]. 2006, vol.15, n.3, pp Disponível em:< Acesso em: 10 Fev SALERNO, Soraia; LOPES, Rosana Pereira; KFOURI, Samira Fayez. O Pedagogo na Rede Estadual do Paraná: reflexões acerca de seu campo de atuação. Revistas UFG. Disponível em: < Acesso em: 27 Jun VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Planejamento: Projeto de Ensino- Aprendizagem e Projeto Político Pedagógico. São Paulo: Liberdad, VEIGA, Ilma P. A. Projeto Político Pedagógico da escola: uma construção coletiva. In: VEIGA. Ilma P. A. Projeto Político Pedagógico da escola: uma construção possível. Campinas: Papirus,