Superior Tribunal de Justiça

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1 RE nos EDcl nos EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº RS (2009/ ) RECORRENTE : UNIMED SANTA MARIA SOCIEDADE COOPERATIVA DE SERVIÇOS MÉDICOS LTDA ADVOGADO : MARCO TÚLIO DE ROSE E OUTRO(S) RECORRIDO : CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA - CADE PROCURADORE : ANNE CRISTINY DOS REIS HENRIQUE S LILIANE JACQUES FERNANDES E OUTRO(S) DECISÃO Trata-se de recurso extraordinário interposto por UNIMED SANTA MARIA SOCIEDADE COOPERATIVA DE SERVIÇOS MÉDICOS LTDA., com fulcro no art. 102, inciso III, alínea a, da Lex Fundamentalis, contra o v. acórdão proferido pela c. Segunda Turma do e. Superior Tribunal de Justiça, cuja ementa é a seguinte: "DIREITO ECONÔMICO LIVRE CONCORRÊNCIA INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC UNIMED COOPERATIVA DE SAÚDE SUBMISSÃO IRRESTRITA ÀS NORMAS JURÍDICAS QUE REGULAM A ATIVIDADE ECONÔMICA CLÁUSULA DE EXCLUSIVIDADE PARA MÉDICOS COOPERADOS IMPOSSIBILIDADE TANTO SOB O ASPECTO INDIVIDUAL QUANTO SOB O ASPECTO DIFUSO INAPLICABILIDADE AO PROFISSIONAL LIBERAL DO 4º DO ARTIGO 29 DA LEI N /71, QUE EXIGE EXCLUSIVIDADE CAUSA DE PEDIR REMOTA VINCULADA A LIMITAÇÕES À CONCORRÊNCIA VIOLAÇÃO, PELO TRIBUNAL DE ORIGEM, DO ART. 20, INCISOS I, II E IV; DO ART. 21, INCISOS IV E V, AMBOS DA LEI N /94, E DO ART. 18, INCISO III, DA LEI N /98 INFRAÇÕES AO PRINCÍPIO DA LIVRE CONCORRÊNCIA PELO AGENTE ECONÔMICO CONFIGURADAS. 1. Inexistente violação do art. 535 do CPC, pois a prestação jurisdicional foi dada na medida da pretensão deduzida, conforme se depreende da análise do acórdão recorrido. É cediço, no STJ, que o juiz não fica obrigado a manifestar-se sobre todas as alegações das partes, nem a ater-se aos fundamentos indicados por elas Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 18/11/2010 Página 1 de 6

2 ou a responder, um a um, a todos os seus argumentos, quando já encontrou motivo suficiente para fundamentar a decisão, o que de fato ocorreu. 2. A Constituição Federal de 1988, ao tratar do regime diferenciado das cooperativas não as excepcionou da observância do princípio da livre concorrência estabelecido pelo inciso IV do art A causa de pedir remota nas lides relativas à cláusula de exclusividade travadas entre o cooperado e a cooperativa é diversa da causa de pedir remota nas lides relativas a direito de concorrência. No primeiro caso, percebe-se a proteção de suposto direito ou interesse individual; no segundo, a guarda de direito ou interesse difuso. Portanto, inaplicáveis os precedentes desta Corte pautados em suposto direito ou interesse individual. 4. Ao médico cooperado que exerce seu labor como profissional liberal, não se aplica a exigência de exclusividade do 4º do art. 29 da Lei n /71, salvo quando se tratar de agente de comércio ou empresário. 5. A cláusula de exclusividade em tela é vedada pelo inciso III do art. 18 da Lei n /98, mas, ainda que fosse permitida individualmente a sua utilização para evitar a livre concorrência, através da cooptação de parte significativa da mão-de-obra, encontraria óbice nas normas jurídicas do art. 20, I, II e IV, e do art. 21, IV e V, ambos da Lei n /94. Portanto, violados pelo acórdão de origem todos aqueles preceitos. 6. Ainda que a cláusula de exclusividade não fosse vedada, a solução minimalista de reputar lícita para todo o sistema de cláusula contratual, somente por seus efeitos individuais serem válidos, viola a evolução conquistada com a criação da Ação Civil Pública, com a promulgação da Constituição Cidadã de 1988, com o fortalecimento do Ministério Público, com a criação do Código de Defesa do Consumidor, com a revogação do Código Civil individualista de 1916, com a elaboração de um futuro Código de Processos Coletivos e com diversos outros estatutos que celebram o interesse público primário. Recurso especial provido "." (fls. 915/916). seguintes ementas, verbis: Foram opostos embargos de declaração, rejeitados nos termos das "PROCESSUAL CIVIL - ALEGADA OMISSÃO NO ACÓRDÃO EMBARGADO AUSÊNCIA DE VÍCIO NO JULGADO INCONFORMAÇÃO COM A TESE ADOTADA PELA SEGUNDA TURMA. Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 18/11/2010 Página 2 de 6

3 1. A embargante alega a existência de omissões no julgado, ao fundamento de que seus argumentos não foram apreciados, e que, caso o fossem, teriam levado a uma conclusão diferente da que foi tomada pela Segunda Turma. 2. O que se observa, na verdade, é que a embargante não se conforma com a tese vencedora, buscando efeitos modificativos com a oposição destes embargos declaratórios, para que a controvérsia seja reexaminada. 3. O juiz não fica obrigado a manifestar-se sobre todas as alegações das partes, nem a ater-se aos fundamentos indicados por elas ou a responder, um a um, a todos os seus argumentos, quando já encontrou motivo suficiente para fundamentar a decisão, o que de fato ocorreu. 4. Ademais, a omissão, contradição e obscuridade suscetíveis de serem afastadas por meio de embargos declaratórios são as contidas entre os próprios termos do dispositivo ou entre a fundamentação e a conclusão do acórdão embargado, o que não ocorre neste caso. Embargos de declaração rejeitados." (fl. 975). "AUSÊNCIA DE QUALQUER UM DOS VÍCIOS ELENCADOS NO ART. 535 DO CPC PRETENSÃO DE REDISCUSSÃO DA MATÉRIA IMPOSSIBILIDADE DE EFEITOS INFRINGENTES CARÁTER PROTELATÓRIO APLICAÇÃO DA MULTA PREVISTA NO ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. 1. Conforme consignado no acórdão embargado, não foi só a Lei n /98 que restou violada, mas também o art. 20, I, II e IV, e art. 21, IV e V, da Lei n /94. Portanto, a questão que foi colocada à apreciação da Segunda Turma foi devidamente apreciada, não havendo que se falar em omissão ou contradição no julgado. 2. A embargante, inconformada, busca, com a oposição destes embargos declaratórios, ver reexaminada e decidida a controvérsia de acordo com sua tese. 3. A inteligência do art. 535 do CPC é no sentido de que a contradição, omissão ou obscuridade, porventura existentes, só ocorre entre os termos do próprio acórdão, ou seja, entre a ementa e o voto, entre o voto e o relatório etc, o que não ocorreu no presente caso. 4. O caráter manifestamente protelatório dos embargos de declaração enseja a aplicação de multa à embargante, no importe de 1% (um por cento) sobre o valor da causa, com base no art. 538, parágrafo único, do Código de Processo Civil, sendo que referido percentual tem efeito pedagógico, não punitivo. Embargos de declaração rejeitados com aplicação de Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 18/11/2010 Página 3 de 6

4 multa no importe de 1% (um por cento) sobre o valor da causa." (fl. 1022). Nas razões do presente recurso (fls. 1029/1073), alega o recorrente, preliminarmente, a existência de repercussão geral e, no mérito, violação direta ao art. 5º, inciso XVIII e ofensa indireta ao art. 174, 2, da Constituição Federal. Sustenta que "a decisão recorrida empresta juridicidade à franca interferência estatal numa relação interna, vinculando sócios de uma cooperativa e a própria sociedade " (fl. 1044) e que a presença da cláusula de exclusividade nos estatutos das cooperativas médicas "não é idônea para falsear a concorrência no mercado de serviços de saúde, pois neste comparecem as cooperativas médicas e outras organizações, que prestam serviços relativos à medicina". Assevera, ainda, que ao desautorizar o papel do cooperativismo no sentido de combater intermediações, o v. acórdão recorrido afrontou indiretamente o disposto no art. 174, 2, da Constituição Federal. Busca, em suma, o provimento do recurso extraordinário e o restabelecimento do acórdão do e. Tribunal Regional Federal da 4 Região. Contrarrazões apresentadas às fls. 1080/1092. É o relatório. Decido. O reconhecimento da alegada violação aos dispositivos constitucionais indicados demandaria, necessariamente, o exame de normas infraconstitucionais aplicáveis ao caso, o que configuraria, se existente, situação de ofensa meramente reflexa à Constituição Federal. Transcrevo, por oportuno, o teor da r. decisão proferida no mesmo sentido pelo Pretório Excelso: "Trata-se de recurso extraordinário interposto contra acórdão que considerou válida sanção imposta pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica CADE à UNIMED CAMPINAS COOPERATIVA DE TRABALHO MEDICO, ora recorrente, em razão de seu estatuto social conter cláusula de exclusividade, contrariamente ao Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 18/11/2010 Página 4 de 6

5 que dispõe a Lei 9.656/98. Neste RE, fundado no art. 102, III, a, da Constituição Federal, alegou-se, em suma, ofensa aos arts. 5º, II e XVIII, e 174, 2º, da mesma Carta. Preliminarmente, verifico não ser necessário examinar a existência de repercussão geral das questões constitucionais em debate. É que, nos termos do art. 323, primeira parte, do Regimento Interno do STF, redação dada pela Emenda Regimental 21/2007, a verificação da ocorrência de repercussão geral apenas se dará 'quando não for o caso de inadmissibilidade do recurso por outra razão'. Nestes autos, há outros fundamentos suficientes para a inadmissibilidade do recurso extraordinário. A pretensão recursal não merece prosperar. Como tem consignado o Tribunal, por meio da Súmula 282, é inadmissível o recurso extraordinário se a questão constitucional suscitada não tiver sido apreciada no acórdão recorrido. Ademais, não opostos embargos declaratórios para suprir a omissão, é inviável o recurso, a teor da Súmula 356 do STF. Além disso, para se chegar ao exame da alegada ofensa à Constituição, faz-se necessário analisar as normas infraconstitucionais pertinentes ao caso (Leis 5.764/71, 8.884/94 e 9.656/98). Assim, a ofensa à Constituição, acaso ocorrente, seria indireta, o que inviabiliza o extraordinário. Por fim, observa-se que, com a negativa de provimento pelo STJ, ao agravo de instrumento interposto contra a decisão que inadmitiu o recurso especial (Ag /DF, com trânsito em julgado em 27/10/2009), tornaram-se definitivos os fundamentos infraconstitucionais que amparam o acórdão recorrido (Súmula 283 do STF). Isso posto, nego seguimento ao recurso (CPC, art. 557, caput). Publique-se. Brasília, 1º de fevereiro de Ministro RICARDO LEWANDOWSKI - Relator " (RE , Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de 06/04/2010). Destarte, de acordo com o entendimento jurisprudencial do e. Supremo Tribunal Federal, a alegação de ofensa indireta à Constituição Federal não enseja a abertura do contencioso constitucional. Neste sentido: "RECURSO. Extraordinário. Inadmissibilidade. Interposição contra decisão interlocutória. Retenção nos autos. Reiteração. Falta. Pedido de processamento imediato. Decisão agravada. Reconsideração. Sendo o pedido de processamento imediato do recurso extraordinário, não deve inadmitido por falta de reiteração. 2. RECURSO. Extraordinário. Interposição contra decisão interlocutória. Retenção nos autos. Processamento imediato. Inadmissibilidade. Dano irreparável. Inexistência. Precedentes. Agravo Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 18/11/2010 Página 5 de 6

6 não provido. É inadmissível processamento imediato de recurso extraordinário retido na forma do art. 542, 3º, do Código de Processo Civil, quando manifesta a inviabilidade jurídica do mesmo extraordinário. 3. RECURSO. Extraordinário. Inadmissibilidade. Alegação de ofensa ao art. 5º, LV, da Constituição Federal. Ofensa constitucional indireta. Decisão mantida. Agravo regimental não provido. Não cabe recurso extraordinário que tenha por objeto alegação de ofensa que, irradiando-se de má interpretação, aplicação, ou, até, de inobservância de normas infraconstitucionais, seria apenas indireta à Constituição da República " (AI AgR/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Cezar Peluso, DJe 10/10/2007). Ante o exposto, não admito o recurso extraordinário. P. e I. Brasília (DF), 08 de novembro de MINISTRO FELIX FISCHER Vice-Presidente Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 18/11/2010 Página 6 de 6