PROFESSOR INICIANTE: UMA ANÁLISE DE SUA FORMAÇÃO

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1 PROFESSOR INICIANTE: UMA ANÁLISE DE SUA FORMAÇÃO Mírian Xavier Juliana Andrekowisk Couto Mazini Giani Lopes Bergamo Missirian Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul Resumo: A constatação da complexidade da realidade profissional e a distância entre o ideal e o real leva o professor iniciante a vivenciar diferentes sentimentos quando ingressa na profissão docente. Durante esse período, denominado iniciação a docência, o professor enfrenta diversos problemas que podem definir o rumo de sua profissão. A inserção do futuro professor, ainda em formação inicial, na escola básica, pode amenizar as dificuldades do início de carreira. Dessa forma, o artigo pretende contribuir para a reflexão sobre o processo de iniciação a docência e como a formação inicial contribui para esse processo. Esta pesquisa, de abordagem qualitativa, utilizou questionário com questões discursivas como instrumento de coleta de dados, disponibilizado para alunos do quarto ano do curso de licenciatura em Ciências Biológicas de uma universidade pública de Mato Grosso do Sul, durante o mês de novembro de Os dados obtidos revelaram que as atividades de inserção na escola, realizadas durante a formação inicial, são permeadas pelos sentimentos de insegurança, angústia e solidão, mas também de satisfação, prazer e realização. Além disso, a indisciplina em sala de aula se configurou como o maior problema enfrentado pelos acadêmicos em processo de formação inicial. Evidenciamos, portanto, que a formação de professores deve acontecer em parceria com a escola, de forma que a inserção dos estudantes de licenciatura em seu futuro ambiente de trabalho possibilite a vivência da realidade da profissão, amenizando o impacto do início de carreira, pois a vivência em situações práticas, seguida de discussões e reflexões, pode oferecer suporte para o enfrentamento dos sentimentos, dilemas e dificuldades presentes no início da profissão docente. Palavras-chave: Aprendizagem da docência; Estágio; Formação de professores. Introdução O início da carreira docente é, geralmente, um período muito difícil, em que o professor iniciante se depara com situações da realidade escolar necessitando de conhecimentos que extrapolam sua formação inicial. Para Huberman (1995), o início da docência é um período de descoberta e sobrevivência. O período de descoberta relaciona-se com o entusiasmo inicial, já a sobrevivência está relacionada à complexidade da situação profissional, à distância entre os ideais e realidades cotidianas de uma sala de aula. Os dois aspectos são vividos em paralelo, mas, é o primeiro, o da descoberta, que permite suportar o segundo. 5305

2 2 Diante do conhecimento destes aspectos e das dificuldades desse período de iniciação, há a necessidade de pensar em medidas que atenuem os impactos causados. Neste sentido, os cursos de formação inicial por meio dos estágios supervisionados e do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) possibilitam ao futuro professor, através da vivência na escola básica, a construção de instrumentos para interpretar e analisar situações complexas e incertas com as quais vai se deparar em sala de aula, amenizando o impacto do início de carreira. Esta pesquisa, realizada com acadêmicos do curso de Ciências Biológicas de uma universidade pública de Mato Grosso do Sul, pretende contribuir para a reflexão sobre a iniciação a docência e como a formação inicial contribui nesse processo. Procedimentos Metodológicos A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário com questões discursivas, disponibilizado aos acadêmicos do quarto ano do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, em novembro de Os dados foram analisados conversando com o referencial teórico, buscando nas respostas, os aspectos presentes na teoria. Discussão e Resultados análise. Doze questionários (identificados por letras de A-L) foram devolvidos para Os resultados evidenciaram que os sentimentos envolvidos no início da prática docente são os mesmos descritos em Lima et al. (2007), ou seja, de sobrevivência e de descoberta. Os sentimentos relacionados à sobrevivência, tais como: ansiedade, medo, insegurança e solidão foram relatados por 75% dos acadêmicos. Dentre esse grupo, pouco mais da metade também falou naqueles relacionados à descoberta, como satisfação, entusiasmo e prazer, indicando que o aspecto da descoberta ampara o da sobrevivência durante as experiências de inserção na escola básica. "Insegurança - relacionada ao domínio de sala; Desafio - algo totalmente novo a ser desenvolvido; Satisfação - em poder compartilhar e ajudar a construir o aprendizado de outros." (Estudante E). "O primeiro sentimento foi o de ansiedade, mas com o tempo o sentimento foi de satisfação e realização" (Estudante J). 5306

3 Posto que o momento de sobrevivência é marcado por dificuldades, Veenman (1988 apud Lima et al., 2007) elenca algumas delas, dentre as quais estão a manutenção da disciplina, motivação e preocupação com a própria capacidade e competência. Dos doze questionários analisados, 75% menciona a indisciplina como o maior problema enfrentado. "Controlar a turma e fazer com que entendam o conteúdo, tendo que ser rígida muitas vezes." (Estudante I). "Domínio de sala. Infelizmente o professor tem que falar mais alto." (Estudante H). A partir das falas dos estudantes, foi possível perceber que a opção pela rigidez ou aumento da voz pareceu a mais viável. Zabalza (2003) defende que a solução para os problemas, enfrentados na prática do professor principiante, está vinculada a fatores dependentes da personalidade, da formação e da experiência de cada um e do tipo de recursos disponível, ou seja, a elaboração de uma solução para determinado problema da prática estará de acordo com a história de vida de cada profissional. Dessa forma, a maneira como o professor iniciante se posiciona diante das situações conflituosas o leva a reproduzir o modelo de prática docente com o qual conviveu durante a sua vida de estudante. Quando questionados sobre o sentimento de segurança para desenvolver os conteúdos na escola básica, apenas 33% dos acadêmicos mencionam que se sentem seguros em relação aos conteúdos de Ciências ou com relação à metodologia. "Em relação aos conteúdos sim, porém no quesito técnicas de aprendizagem não" (Estudante D). "Não totalmente. Prefiro realizar novas pesquisas para rever alguns conteúdos que não foram tão bem aprendidos" (Estudante J). Longhini (2008, p. 242) diz que um aspecto importante que afeta o desenvolvimento dos conteúdos é a "maneira como o docente é formado ou até mesmo a visão que possui sobre o que é Ciência e a atividade científica". Há uma concepção de que ensinar conteúdos científicos é transmitir conhecimentos prontos e, diante dessa concepção, o professor tem medo de não saber responder as perguntas. Nesta perspectiva, a influência da formação inicial assume relevante papel na (re)significação de contextos e práticas culturalmente definidas e defendidas por meio das interações (SANTOS et al.,2006), embora Quadros et al. (2005, p. 2) relatem que os cursos de licenciatura, ainda que trabalhem novas concepções de ensino, "nem sempre

4 têm conseguido que os seus egressos atuem de maneira diferente daquela que seus professores atuavam". Mas, Tancredi (2009, p. 27) diz que a prática "ensina muito e é uma poderosa fonte de aprendizagem para manter ou mudar o fazer" e que o professor aprende muito com a reflexão sobre aspectos suscitados por ela. Nas falas do grupo pesquisado foi possível perceber que 100% dos sujeitos afirmaram que durante as atividades de inserção na escola foram realizadas reflexões relacionadas a carreira docente, sobre o trabalho didático, o ambiente escolar e da significância da troca de experiências. 4 Considerações finais Diante dos depoimentos recolhidos, ainda que rasos devido às limitações do questionário como instrumento de coleta dos dados, fica evidente a importância da inserção dos estudantes de licenciatura em seu futuro ambiente de trabalho possibilitando a vivência da realidade da profissão e amenizando o impacto do início de carreira. Entretanto, esta inserção deve ser conduzida de forma orientada, estabelecendo uma relação entre teoria e prática. Referências HUBERMAN, Michaël. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA, António (coord). Vidas de professores. Porto/Portugal: Porto, p LIMA, Emília Freitas de; CORSI, Adriana Maria; MARIANO, André Luiz Sena; MONTEIRO, Hilda Maria; PIZZO, Silvia Vilhena; ROCHA, Gisele Antunes; SILVEIRA, Maria de Fátima Lopes. Sobrevivendo ao início da carreira docente e permanecendo nela. Como? Por quê? O que dizem alguns estudos. Revista Educação e Linguagem, n. 15, p , LONGHINI, Marcos Daniel. O conhecimento do conteúdo científico e a formação do professor das séries iniciais do ensino fundamental. Revista Investigações em Ensino de Ciências, v. 13, n. 2, p , Disponível em: < Acesso em: 05 nov QUADROS, Ana Luiza de; CARVALHO, Emerson; COELHO, Flávia dos Santos; SALVIANO, Luciana; GOMES, Maria Fernanda P. A.; MENDONÇA, Paula Cristina; BARBOSA, Rosemary Karla. Os professores que tivemos e a formação da nossa identidade como docentes: um encontro com nossa memória. Revista Ensaio, v. 7, n. 1, Disponível em: < Acesso em: 05 nov SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos; GAUCHE, Ricardo; MÓL, Gerson de Souza; SILVA, Roberto Ribeiro da; BAPTISTA, Joice de Aguiar. Formação de professores: uma proposta de pesquisa a partir da reflexão sobre a prática docente. Revista Ensaio, 5308

5 v. 8, n. 1, Disponível em: < Acesso em: 05 nov TANCREDI, Regina Maria Simões Puccinelli. Aprendizagem da docência e profissionalização: elementos para uma reflexão. São Carlos: UFSCar, ZABALZA, Miguel. Os dilemas práticos dos professores. Pátio Revista pedagógica, ano 7, n. 27,