A QUESTÃO COMPORTAMENTAL E A SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

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1 A QUESTÃO COMPORTAMENTAL E A SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO Autor: José Amaro Barcelos Lima Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro

2 RESUMO Esta contribuição técnica objetiva analisar a questão comportamental dos trabalhadores face às mudanças gerenciais introduzidas em uma organização e provenientes da gestão integrada de Saúde, Meio Ambiente e Segurança. A imposição de novas necessidades em conjunto com a implantação de novas regras, normas e leis, gera uma demanda sobre os trabalhadores antes inexistente. O projeto se desenvolve através do estudo de caso de uma empresa de energia elétrica e se propõe a analisar a interação entre os trabalhadores e estas novas diretrizes gerenciais e normativas. Nesta nova configuração, o comportamento dos trabalhadores tem se tornado uma importante fonte de estudos, pelas direções que imprime às pessoas nas suas decisões individuais e o quanto isto interfere nas relações interpessoais, entendendo-se que, naturalmente, as pessoas tendem a resistir àquilo que percebem como ameaça à forma mais rotineira de realização das tarefas. A análise será fundamentada na técnica de revisão de literatura em torno do Sistema de Gestão Integrado de Saúde, Meio Ambiente e Segurança, e na aplicação de questionários entre os trabalhadores da empresa.

3 INTRODUÇÃO A preocupação fundamental deste estudo é avaliar a percepção dos trabalhadores quanto à influência das mudanças organizacionais nos ambientes de trabalho, e de que forma o conhecimento adquirido durante o desenvolvimento de suas atividades profissionais, é considerado no momento da implantação dessas mudanças, como por exemplo, quando a organização resolve caminhar no sentido de obter a certificação com a adoção do Sistema de Gestão Integrada de Saúde, Meio Ambiente e Segurança Ocupacional. A importância de um sistema integrado de gestão é destacada pela necessidade de responder aos novos paradigmas da globalização e da crescente conscientização por produtos e processos que contribuam para uma melhoria na qualidade de vida da sociedade, respeito aos direitos humanos de uma maneira geral e critérios ambientais direcionados à sustentabilidade. Neste contexto o desempenho em SMS passou a representar um papel fundamental. Primeiro porque as organizações que ocupam um lugar de destaque em seu segmento de negócios e as que buscam ocupá-lo, já identificaram que o desempenho em SMS é decisivo para a rentabilidade da empresa por reduzir o risco de acidentes e impactos ao homem e ao meio ambiente, por promover a saúde e a satisfação da força de trabalho, por melhorar os resultados operacionais e por criar novas oportunidades de crescimento. E segundo, porque o crescente nível de conscientização e administração da sociedade tem imputado a estas organizações, requisitos legais cada vez mais rigorosos. Apesar de serem importantes todos os conceitos sobre as estruturas organizacionais e das técnicas e ferramentas empregadas na implementação de um SGI, nem sempre são suficientes para garantir o sucesso do projeto. Faz-se necessário, também, pensar nos recursos humanos, que talvez se constituam na parcela mais importante da organização, pelo que representam nas suas realizações. A participação das pessoas nas decisões da empresa, mais propriamente na contribuição de cada um para a consecução dos projetos, melhora o ambiente de trabalho e potencializa os resultados obtidos pela organização.

4 Um grande desafio colocado para as empresas é administrar as divergências que surgem nos ambientes de trabalho, provocadas pelo distanciamento entre tarefa prescrita e tarefa real. Há também ao longo da execução das tarefas, a presença inevitável de variações da ordem inicialmente prevista no planejamento, que exige do trabalhador, muitas das vezes, a utilização do seu conhecimento prático a fim de concluir a missão que lhe foi destinada. Esta é uma situação que traz para os trabalhadores um determinado incômodo mental, um certo dilema, entre executar o trabalho de forma segura ou cumprir com o previamente orientado, mas com a presença de riscos de acidentes. Além disto, segundo Moraes (2004), não se pode implementar um sistema de gestão de SMS sem entender o indivíduo na sua plenitude, identificar seus valores, ambições, ansiedades, motivações e frustrações. Portanto, para evoluir o nível de cultura é necessário mudar hábitos e comportamentos, pois a organização é composta por indivíduos que interagem de forma complexa, motivados por interesses diferentes. Certo é que a prevenção dos acidentes e das doenças ocupacionais constitui-se na principal via de acesso à mudança deste que se configura como um verdadeiro problema de saúde pública tanto para o Brasil, quanto para outros países do mundo: o acidente de trabalho. DESENVOLVIMENTO Trabalhar integradamente as questões relacionadas à saúde e à segurança do trabalhador e ao meio ambiente, é um passo fundamental para se desenvolver novas abordagens teórico-metodológicas que possibilitem avançar nos processos de análise e de intervenção sobre as situações e eventos de riscos que são colocados para trabalhadores, populações vizinhas às indústrias e o ambiente como um todo. No atual contexto social, a conservação do ambiente e a prevenção a acidentes ambientais e industriais são temas de importância e relevância acentuadas nos âmbitos legal, econômico e social. Este estudo de caso está situado dentro deste contexto, e pode ser entendido através das perguntas seguintes:

5 a) Como a empresa está utilizando as ferramentas de Gestão Integrada de Saúde, Meio Ambiente e Segurança (SMS), considerada uma evolução natural da gestão para reduzir os riscos? b) Qual a importância que a empresa está atribuindo ao sentido de percepção de riscos dos trabalhadores, ao implementar o SGI? c) Que estratégia está sendo utilizada pela organização que possui tarefas que apresentam distintos tipos de riscos, visando adequar as diferentes condições ambientais de trabalho, durante o processo de implementação e operacionalização do Sistema de Gestão Integrado SGI? d) Quais as mudanças nas relações trabalhistas geradas pela migração para uma gestão integrada, e que contribuição elas podem dar aos trabalhadores e à organização, para melhorar a segurança tríplice : da saúde, ambiental e industrial? e) Ao introduzir mudanças na organização do trabalho a empresa admitiu a participação das entidades de classe que representam os trabalhadores, na análise do novo ambiente laboral modificado? f) A organização estabelece alguma relação entre o fator humano e a ocorrência de eventos incidentais e acidentais? À luz do conhecimento produzido sobre o comportamento humano, é possível afirmar que aprender a comportar-se de forma preventiva pode ser um dos meios possíveis e eficazes de capacitar o trabalhador para prevenir lesões e doenças relativas ao trabalho, para si e para os colegas com os quais trabalha. Para que seja possível promover o ensino de comportamentos preventivos em segurança do trabalho, é necessário antes, compreender o que, efetivamente, precisa ser ensinado e aprendido, além da forma como isso pode ocorrer (Bley et al, 2006). Regra geral as organizações ignoram aqueles aspectos menos objetivos que atuam como causas de agravo à saúde e segurança dos trabalhadores e trabalhadoras. Não observam a influência perniciosa que determinadas mudanças organizacionais exercem sobre as pessoas, modificando o seu comportamento e interferindo na própria condução dos trabalhos. Nem sempre estas reações são identificadas com facilidade, até mesmo pelos trabalhadores e trabalhadoras. Mesmo para aquelas empresas que

6 criam as condições para detectar tais problemas, quando diagnosticam a situação já se deparam com um quadro de adoecimento grave dos empregados. As funções de Saúde, Meio Ambiente e Segurança (SMS) se destacam entre os novos valores inseridos pelas organizações, tornando-se práticas de gestão e passando a ser parte integrante do negócio estratégico das empresas. Com o advento da Norma Internacional ISO Sistema de Gestão Ambiental - e da OHSAS Occupational Health and Safety Assesment Series, as organizações puderam iniciar a implementação dos sistemas de gestão integrada de SMS. Este estudo tem como um dos principais objetivos, avaliar através de pesquisa exploratória e revisão de literatura, se os métodos adotados pelas organizações na implementação do SGI, incluem atitudes que consigam articular a objetividade das normas e procedimentos e os aspectos de individualidade, de modo a conduzir um processo de desenvolvimento pessoal/organizacional, preservando a segurança, a saúde e o ambiente natural. Independentemente do modelo adotado, um sistema de gestão, estruturado ou não, é fundamentado em princípios e materializado em práticas, como: - liderança; - comportamento ético; - decisão baseada em fatos; - participação e desenvolvimento das pessoas; - comprometimento; - melhoria contínua. A divulgação da política de um SGI junto com seus objetivos e metas possibilita a todos compartilhar a mesma compreensão a respeito do que a empresa representa como negócio, que caminho está trilhando como missão, com que tipo de visão quer sobreviver, e com que estratégias quer transformar essa visão em realidade. Analisando o SGI Bobsin (2005) esclarece que a organização deve entender que o processo de melhoria contínua de desempenho em SMS, à medida que são implementados os requisitos dos elementos do Sistema de Gestão de SMS na organização, os resultados iniciais de SMS apresentam ganhos significativos, ou seja,

7 melhoram o desempenho, mas à medida que se aproxima do benchmark, melhorar ainda mais o desempenho exige um esforço cada vez maior da organização conforme apresenta a Figura 1. Figura 1 Fonte: Gráfico empírico da Du Pont A implantação de um Sistema de Gestão Integrada atende às necessidades organizacionais que, na luta incessante pela sobrevivência, estão se desgastando para adequar-se às novas filosofias e tendências, às vezes sem observar esforços que podem ser economizados. Para tanto, deve-se considerar como ponto principal de um sistema de gestão integrado, o estabelecimento de uma estrutura que possibilite criar o conhecimento organizacional. Para aquelas organizações que possuem processos com grau de risco elevado, como uma empresa distribuidora de energia elétrica, a reputação é um ativo corporativo crítico que deve ser preservado a todo custo. Segundo Theobalde e Gilson et al (2006) essa reputação é construída, a partir de

8 bens intangíveis como confiança, credibilidade, qualidade, coerência, relacionamento e transparência, além dos tangíveis como investimento nas pessoas, diversidade e meio ambiente. Qualquer um desses ativos pode afetar tanto positivamente quanto negativamente o desempenho da organização. CONCLUSÃO Foi destinado um questionário contendo 25 perguntas a respeito da implantação do Sistema de Gestão Integrado de Saúde, Meio Ambiente e Segurança Ocupacional, a uma parcela dos empregados de diversos setores da empresa em estudo. Trata-se de uma pesquisa aplicada ainda em desenvolvimento, com o objetivo de gerar conhecimentos práticos direcionados à gestão integrada de SMS e relacionados com questões específicas das atividades pertinentes ao sistema elétrico e, também, avaliar as implicações oriundas das atitudes comportamentais dos empregados durante o processo de implementação do SGI. Do ponto de vista da obtenção de respostas às questões formuladas, constitui-se em uma pesquisa qualitativa ao desenvolver análise, comparação e interpretação de normas certificáveis, guias e sistemas de gestão integrada de saúde, meio ambiente e segurança ocupacional, além de contemplar dados e informações disponíveis na literatura especializada, não requerendo para o seu desenvolvimento, o uso de métodos e técnicas estatísticas. Com as respostas já recebidas de uma parcela dos trabalhadores consultados, tendo como base 25 perguntas relacionadas com a estrutura da organização e as estratégias utilizadas para implantação do sistema de gestão integrado, pode-se depreender o seguinte: a) há uma concordância de considerável número de trabalhadores, quanto ao fato da empresa ter incorporado ao SGI durante sua implantação, o conhecimento deles sobre os riscos existentes nas atividades; b) quanto à melhoria do ambiente de trabalho após a implementação do SGI, há um equilíbrio entre a não percepção por parte de alguns trabalhadores de ganhos e, por outro lado, igual número de entrevistados concordando com a melhoria;

9 c) há uma parcela significativa de trabalhadores que não concorda com a premissa de que o ambiente de trabalho é adequado considerando os aspectos tecnológicos, psicológicos e emocionais; d) não ficou muito evidente se os trabalhadores teriam alguma sugestão para melhoria do ambiente de trabalho que pudesse ser aproveitada no SGI; e) houve uma tendência clara da indiferença da maioria dos respondentes, quanto à presença dos sindicatos de classe atuando nas análises desenvolvidas para detectar causas de eventuais incidentes/acidentes nos locais de trabalho, em conjunto com a empresa. REFERÊNCIAS: ALEVATO, Hilda Maria Rodrigues. Trabalho e Neurose: enfrentando a tortura de um ambiente em crise. Rio de Janeiro: Quartet, BLEY, Juliana Zilli; TURBAY, Júlio César Ferri; JR, Odilon Cunha. Comportamento seguro a Psicologia da Segurança no Trabalho e a educação para a prevenção de doenças e acidentes. Santa Catarina: Editora Sol, BOBSIN, Marco Aurélio. Gestão de segurança, meio ambiente e saúde: proposta de estrutura de sistema e de avaliação de desempenho f. Dissertação (Mestrado em Sistemas de Gestão) Universidade Federal Fluminense, Niterói CERQUEIRA, Jorge P. Sistemas de gestão integrados: ISO 9001, NBR 16001, OHSAS 18001, AS 8000: conceitos e aplicações. Rio de Janeiro: Qualitymark, CHAMON, Edna Maria Querido de Oliveira; OLIVEIRA, Adriana Leônidas de; CAMARINI, Marco Antonio; TADEUCCI, Marilsa de Sá Rodrigues; INOCENTE, Nancy

10 Julieta. Gestão e comportamento humano nas organizações. Rio de Janeiro: Brasport, CLOT, Yves. A função psicológica do trabalho. Petrópolis, RJ: Vozes, DEJOURS, Christophe. O fator humano. Rio de Janeiro: Editora FGV, GELLER, E. Scott. Ten principles for achieving a total safety culture. Professional Safety, Disponível em Acesso em: Maio de MORAES, Gláucia T. Bardi de; PILATTI, Luiz Alberto; KOVALESKI, João Luiz. Acidentes de trabalho: fatores e influências comportamentais. XXV Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Porto Alegre, RS, Disponível em Acesso em: Dezembro de ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO-OIT. Gestión del riesgo en el médio laboral. Disponível em Acesso em: Abril de POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHADOR. Brasília, Disponível em Acesso em: setembro de THEOBALD, Roberto. Proposta de princípios conceituais para integração dos fatores humanos à gestão de SMS: o caso da indústria de petróleo e gás f. Dissertação (Mestrado em Sistemas de Gestão) Universidade Federal Fluminense, Niterói Disponível em Acesso em: Janeiro de 2008.