TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Jundiaí, em que é agravante OSCARLINDO PEREIRA DUTRA, é agravado DAE S/A - ÁGUA E ESGOTO. ACORDAM, em 12ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Não conheceram do recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores EDSON FERREIRA (Presidente) e J. M. RIBEIRO DE PAULA., 19 de julho de 2017 OSVALDO DE OLIVEIRA RELATOR Assinatura Eletrônica

2 VOTO N.º COMARCA: JUNDIAÍ AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º AGRAVANTE: OSCARLINDO PEREIRA DUTRA AGRAVADA: DAE S/A - ÁGUA E ESGOTO INTERESSADOS: MARIA JOSÉ LÓBILE E PEDRO DEL POIO Juiz de Primeira Instância: Márcio Estevan Fernandes AGRAVO DE INSTRUMENTO DESAPROPRIAÇÃO Decisão judicial que define os parâmetros para o levantamento prévio do valor depositado nos autos, após realização de perícia definitiva Pedido para que se considere como válido o primeiro laudo pericial, invalidando o atual ou, alternativamente, que se determine a realização de nova perícia para que se chegue a uma justa indenização, nomeandose um terceiro perito que tenha especialidade em Engenharia Civil ou em Engenharia Agrônoma A decisão impugnada não está relacionada nas hipóteses do artigo do Novo Código de Processo Civil Rol taxativo (numerus clausus) que deve ser observado Exegese da doutrina e da jurisprudência desta Corte de Justiça Recurso não conhecido. Trata-se de agravo de instrumento interposto em face da decisão interlocutória de fls. 20/22, proferida nos autos da ação desapropriatória, segundo a qual o valor da justa indenização à época da avaliação provisória deveria ser de R$ ,89, nos termos do laudo definitivo. Dessa forma, deve ser expedido, em favor do interessado, mandado compreensivo de 40% desse total, além da atualização. O desapropriado faz jus a 80% do valor apurado no laudo, mas houve determinação de retenção, em favor da exesposa, de 50% do que ele vier a fazer jus. Logo, o réu pode levantar, por ora, 40% do valor de R$ ,89, ou seja, R$ ,55, com atualização desde o depósito (1.º de junho de 2010). Agravo de Instrumento n.º Jundiaí - VOTO N.º /10

3 Sustenta o agravante que, na ação desapropriatória, impugnou o laudo pericial pelo fato de que não traduz o valor real do imóvel expropriado, além de ser incoerente, contraditório e arbitrário. Todavia, o Magistrado o acolheu totalmente, muito embora impugnado tanto pelo agravante como pela terceira interessada, apontando, de forma uníssona, as incorreções dos critérios adotados para avaliação a que se chegou, contrariando as informações buscadas pelo próprio perito para a realização do seu mister. Não houve avaliação in loco. Foram utilizadas duas pesquisas de preço atual, uma com variação entre R$ 30,00 e R$ 50,00, e outra com variação entre R$ 75,00 e R$ 120,00 para o valor do metro quadrado do imóvel de ,07 m 2 em discussão. O Expert optou pelo valor mais baixo, com o objetivo único de desvalorizar o imóvel. No mínimo, deveria partir de uma média dos valores obtidos na sua pesquisa. O laudo atual aponta uma suposta supervalorização do imóvel na avaliação anterior, justificando que nele continha pavimentação, sarjetas, gás encanado e que o solo era seco e bom para construções, o que não é verdade, pois, em primeiro lugar, não consta tais afirmativas no primeiro laudo; em segundo lugar, porque o primeiro perito utilizou, para avaliação do imóvel, os critérios contidos na NBR , que trata de imóveis rurais. Houve equívoco, já que se trata de imóvel rural que se encontra em zoneamento urbano e, ao contrário disso, para fazer a pesquisa nas imobiliárias, o perito buscou preços para áreas situadas em zona rural. Por ocasião do primeiro laudo, efetivado em 2009, o imóvel, embora rural, já se encontrava em área de zoneamento urbano com melhoramentos públicos. Portanto, o valor da justa indenização, atualizado até abril de 2017, é de R$ ,90 (que era R$ ,92 em dezembro de 2009, pelo IGPM), e não o valor considerado pelo juízo a quo na decisão ora impugnada. Requer a reforma do decisum para o fim de se considerar Agravo de Instrumento n.º Jundiaí - VOTO N.º /10

4 como válido o primeiro laudo pericial, invalidando o laudo atual ou, alternativamente, que se determine a realização de nova perícia para que se chegue a uma justa indenização, nomeando-se outro perito que tenha especialidade em Engenharia Civil ou em Engenharia Agrônoma para tal encargo (fls. 01/05). É o relatório. Inicialmente, procede-se ao julgamento a despeito de intimação da agravada para resposta, à inexistência de qualquer óbice de natureza instrumental civil para a adoção desta providência em sede de decisão recursal. Ademais, tal medida também é recomendável em plena consonância com os princípios de economia e celeridade processuais. Por fim, observa-se inexistir qualquer prejuízo à recorrida em se procedendo na forma exposta. O agravante impugna o laudo definitivo elaborado na ação de desapropriação, o qual reduziu o valor do imóvel expropriado, de R$ , conforme apuração efetivada no laudo provisório (fls. 69), para R$ ,89 (fls. 84). Requer que se considere como válido o primeiro laudo pericial, invalidando o atual ou, alternativamente, que se determine a realização de nova perícia para que se chegue a uma justa indenização, nomeando-se outro perito que tenha especialidade em Engenharia Civil ou em Engenharia Agrônoma. No entanto, não é possível o conhecimento do presente recurso. verbis: Dispõe o artigo do Novo Código de Processo Civil, in Artigo Cabe agravo de instrumento contra as decisões Agravo de Instrumento n.º Jundiaí - VOTO N.º /10

5 interlocutórias que versarem sobre: I - tutelas provisórias; II - mérito do processo; III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem; IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica; V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; VI - exibição ou posse de documento ou coisa; VII - exclusão de litisconsorte; VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do artigo 373, 1.º; XII - (VETADO); XIII - outros casos expressamente referidos em lei. Parágrafo único Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de Agravo de Instrumento n.º Jundiaí - VOTO N.º /10

6 execução e no processo de inventário. Ora, a decisão judicial que define os parâmetros para o levantamento prévio do valor depositado em sede de ação desapropriatória não se insere no rol taxativo mencionado acima, motivo pelo qual não pode ser atacada pela via do agravo de instrumento, como fez o expropriado. Não restam dúvidas de que a relação do artigo seja, de fato, taxativa. A propósito, esclarece a doutrina acerca da nova legislação: 3. Agravo de instrumento em hipóteses taxativas (numerus clausus). O dispositivo comentado prevê, em numerus clausus, os casos em que a decisão interlocutória pode ser impugnada pelo recurso de agravo de instrumento. As interlocutórias que não se encontram no rol do CPC 1015 não são recorríveis pelo agravo, mas sim como preliminar de razões ou contrarrazões de apelação (CPC º). Pode-se dizer que o sistema abarca o princípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias como regra. Não se trata de irrecorribilidade da interlocutória que não se encontra no rol do CPC 1015, mas de recorribilidade diferida, exercitável em futura e eventual apelação (razões ou contrarrazões). Entretanto, se a interlocutória tiver potencialidade de causar imediato gravame de difícil ou impossível reparação, de tal sorte que não se possa esperar seja exercida a pretensão recursal como preliminar da apelação, pode ser, desde logo, submetida ao exame do tribunal competente para conhecer da apelação, pelo exercimento do mandado de segurança e da correição parcial (in Nélson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery, Comentários ao Código de Processo Agravo de Instrumento n.º Jundiaí - VOTO N.º /10

7 Civil, 2.ª tiragem., RT, 2015, p ). Art : 1a. O rol deste art é taxativo: se a decisão interlocutória está arrolada nos incisos ou no ún., contra ela cabe agravo de instrumento; se não está listada, não cabe. Quando incabível o agravo de instrumento, cabe ao interessado, em regra, impugnar a decisão interlocutória ulteriormente, por ocasião da apelação ou das contrarrazões de apelação (v. art º). Todavia, não se descarta o cabimento de mandado de segurança contra decisão interlocutória lesiva de direito líquido e certo, quando existente risco de dano grave ou de difícil reparação (in Theotônio Negrão et alii, Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, 47.ª ed. atual. e reform. : Saraiva, 2016, p. 933). O Código de 1973 impunha como regra a interposição de agravo retido contra as decisões interlocutórias, admitindo a modalidade de instrumento apenas quando a decisão fosse suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação era recebida (art. 522 do CPC/1973). A orientação do novo Código de Processo Civil foi diversa, na medida em que enumerou um rol taxativo de decisões que serão impugnadas por meio de agravo de instrumento. Aquelas que não constam dessa lista ou de outros dispositivos esparsos no Código deverão ser questionadas em sede de preliminar de apelação ou contrarrazões de apelação (in Humberto Theodoro Júnior, Curso de Direito Processual Civil Agravo de Instrumento n.º Jundiaí - VOTO N.º /10

8 Teoria Geral do Direito Processual Civil, Processo de Conhecimento e Procedimento Comum, volume III, 47.ª edição rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p ). Ademais, no Decreto-Lei n.º 3.365/41, que dispõe sobre as desapropriações por utilidade pública, não há norma específica que permite a utilização da via recursal eleita pelo agravante. O entendimento desta Corte de Justiça não discrepa: AGRAVO DE INSTRUMENTO Ação de desapropriação Questionamento de decisão que saneou a ação e indeferiu novos levantamentos de valores pela expropriada em razão de divergência na apuração do montante indenizatório Não cabimento Hipótese não prevista no rol taxativo do art do novo CPC Recurso não conhecido. (Agravo de Instrumento n.º Paraibuna 1.ª Câmara de Direito Público Rel. Luís Francisco Aguilar Cortez j ); AGRAVO DE INSTRUMENTO Irresignação contra decisão pela qual foi indeferido pedido de realização de segunda perícia e de produção de prova oral Matéria não prevista no artigo do CPC/2015 Rol taxativo Impossibilidade de interposição de agravo de instrumento Precedentes deste Eg. Tribunal Não conhecimento do recurso. (Agravo de Instrumento n.º São Pedro 6.ª Câmara de Direito Público Rel. Maria Olívia Alves j ); Decisão que indeferiu o pedido de nulidade do laudo prévio nos autos da ação de desapropriação. Ausência de previsão da hipótese no art do Novo CPC Rol taxativo Recurso não conhecido. (Agravo de Instrumento n.º ª Câmara de Direito Público Rel. José Luiz Gavião de Almeida j ); AGRAVO DE INSTRUMENTO. ATO JUDICIAL Agravo de Instrumento n.º Jundiaí - VOTO N.º /10

9 IMPUGNADO. LIMITAÇÃO DE LEVANTAMENTO DE VALORES EM DESAPROPRIAÇÃO. A decisão impugnada não se enquadra em nenhuma das hipóteses do rol contido no art do NCPC. Ausência de norma específica sobre a recorribilidade das interlocutórias na ação de desapropriação. O Novo CPC estipula, em numerus clausus, o rol de situações que desafiam a impugnação por intermédio de agravo, relegando para o recurso de apelação ou para as respectivas contrarrazões uma forma de impugnação diferida das decisões interlocutórias. RECURSO NÃO CONHECIDO. (Agravo de Instrumento n.º Guarulhos 9.ª Câmara de Direito Público Rel. José Maria Câmara Júnior j ). Este Relator já teve oportunidade de expressar seu convencimento sobre a matéria: AGRAVO DE INSTRUMENTO. 1. Ação de desapropriação Implantação da linha 06 laranja do Metrô Decisão que declara encerrada a instrução Pedido de realização de nova perícia, com elaboração de laudo desempatador Ato judicial impugnado que não está relacionado nas hipóteses do artigo do novo Código de Processo Civil Rol taxativo (numerus clausus) que deve ser observado Exegese da doutrina e da jurisprudência deste E. Tribunal de Justiça. 2. Recurso não conhecido. (Agravo de Instrumento n.º ª Câmara de Direito Público Rel. Osvaldo de Oliveira j , V.U.). Por conseguinte, não se encontrando a decisão recorrida no rol taxativo do artigo do Novo Código de Processo Civil, considera-se inadmissível o presente agravo de instrumento. Ficam as partes notificadas de que, na hipótese de oposição de embargos declaratórios, o processamento e o respectivo julgamento ocorrerão por meio virtual. Agravo de Instrumento n.º Jundiaí - VOTO N.º /10

10 Diante do exposto, não se conhece do recurso. OSVALDO DE OLIVEIRA Relator... Agravo de Instrumento n.º Jundiaí - VOTO N.º /10