TEORIA DOS ATOS DE FALA. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 1
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- Martim Castilhos Salazar
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1 TEORIA DOS ATOS DE FALA BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 1
2 Condições de verdade Sentenças declarativas: (1) O João saiu da sala. A sentença é V sse: João saiu da sala. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 2
3 Sentenças imperativas: (2) João, saia da sala! A sentença é V sse:??? BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 3
4 Sentenças interrogativas: (3) O João saiu da sala? A sentença é V sse:??? BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 4
5 Frege: sentenças têm conteúdo e força Sentença Conteúdo Força (1) João saiu da sala João sair da sala Afirmação (2) João, saia da sala! João sair da sala Ordem/pedido (3) João saiu da sala? João sair da sala Pergunta BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 5
6 Teoria dos Atos de Fala Capturar a força das sentenças Pressuposto: linguagem para i. descrever eventos ou estados de coisas no mundo; e/ou ii. produzir ações específicas. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 6
7 Descrição ou produção? Benett (Gazeta do Povo, 30 set. 2013) BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 7
8 Austin (1962): três atos LOCUTIVO ILOCUTIVO Proferimento de uma sentença Intenção do proferimento (ordenar, interrogar, avisar...) PERLOCUTIVO Ações que se obtêm com o proferimento BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 8
9 Contexto: O filho tem que fazer o dever de casa, mas não larga do videogame. Então, a mãe diz: (4) Vou desligar o videogame. LOCUTIVO Proferimento Vou desligar o videogame ILOCUTIVO Intenção Ameaçar/ordenar PERLOCUTIVO Ações obtidas O filho faz o dever BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 9
10 Contexto: A família vai sair. O jovem esqueceu o videogame desligado. Todo mundo já saiu, mas a mãe diz: (4) Vou desligar o videogame. LOCUTIVO Proferimento Vou desligar o videogame ILOCUTIVO Intenção Aviso/pedido PERLOCUTIVO Ações obtidas Que esperem por ela BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 10
11 Kempson (1977) O falante profere sentenças com um significado (ato locutivo), com uma determinada força (ilocutivo), para atingir um objetivo (perlocutivo). BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 11
12 (4) Vou desligar o videogame. Austin Kempson LOCUTIVO Proferimento Significado Vou desligar o videogame ILOCUTIVO Intenção Força Aviso/pedido PERLOCUTIVO Ações obtidas Objetivo Que esperem por ela BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 12
13 Proferimentos performativos Perlocução já na locução (5) Prometo que não chegarei atrasado. (6) Você está demitido. (7) Aceito que você entre no grupo. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 13
14 (5) Prometo que não chegarei atrasado. LOCUTIVO Significado Prometo que não chegarei atrasado ILOCUTIVO Força Promessa PERLOCUTIVO Objetivo Prometer que não chegará atrasado BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 14
15 (5) Prometo que não chegarei atrasado. (8) Ele prometeu que não chegaria atrasado (5) (8) Proferimento performativo Presente Primeira pessoa Descrição de um proferimento performativo Passado Terceira pessoa BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 15
16 Há uma série de ações que se fazem com a linguagem: Ofender Desculpar Autorizar Proibir Nomear Sentenciar Solicitar etc. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 16
17 Casos de terceira pessoa (6) Você está demitido. (9) O João está proibido de entrar. Algo em comum entre elas? BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 17
18 Condições de felicidade/adequação Por que a senhora da limpeza não pode dizer no Congresso: Declaro aberta a sessão? Por que o Renan não pode dizer o mesmo na praia? Por que não pode fazer isso no meio da sessão? BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 18
19 (5) Prometo que não chegarei atrasado. (6) Você está demitido. (7) Aceito que você entre no grupo. (9) O João está proibido de entrar. Quem diz? Tem autoridade? Para quem diz? É submisso? Onde diz? O local adequado? Quando diz? O momento é adequado? Como diz? Usou as palavras corretas? BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 19
20 Fato pouco discutido (condições de adequação) É difícil pensar um contexto em que as sentenças a seguir sejam boas. (9) #John está sendo brasileiro. (10) #Quando o João é grande, ele é infeliz. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 20
21 (9) John está sendo brasileiro. Imagine que John atravessando fora da faixa, ou dando um jeitinho num problema... (10) Quando o João é grande, ele é infeliz. No livro que estou lendo, sempre que tem lua cheia, o João fica grande e, nesses momentos, é infeliz. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 21
22 Atividades 1. Como o caso do STF exemplifica o que se discute sobre atos de fala? Bate-boca encerra sessão em que STF rejeitou embargos de Roberto Jefferson Discussão entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski foi o motivo do encerramento intempestivo da sessão em que os ministros rejeitaram todos os embargos de declaração opostos por Roberto Jefferson, Simone Vasconcelos, Romeu Queiroz 15 de agosto de h 57 Valmar Hupsel Filho - O Estado de S. Paulo BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 22
23 As cenas de discussões acaloradas entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski que marcaram a primeira fase do julgamento da ação penal 470 o processo do mensalão voltaram a se repetir nesta quinta-feira, 15, na segunda sessão de julgamento dos embargos declaratórios apresentados pelas defesas dos 25 condenados. O bate-boca foi o motivo do encerramento intempestivo da sessão em que os ministros rejeitaram todos os embargos de declaração opostos por Roberto Jefferson, Simone Vasconcelos, Romeu Queiroz. Na discussão, Joaquim Barbosa chegou a afirmar que Lewandowski estava fazendo "chicana". "Vossa excelência está acusando um ministro de estar fazendo chicana? Peço que se retrate agora", retrucou Lewandowski. Barbosa disse que não se retrataria e declarou encerrada a sessão. O bate-boca teve início no momento em que os ministros analisavam os embargos opostos pelo ex-deputado Bispo Rodrigues. Lewandowski questionou o fato de haver contradição entre a metodologia aplicada pelo relator e a pena imposta. "Vossa excelência está querendo reabrir uma discussão que já foi definida em voto unânime", retrucou Barbosa. O assunto ficará para a próxima sessão, marcada para a próxima quarta-feira, 21, quando os ministros retomarão a discussão do ponto onde pararam. (...) Disponível em: < Acesso em BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 23
24 2. Apresente os atos de fala que devem estar envolvidos na cena a seguir. Figura 1 - Marchesini - Gazeta do Povo (15 maio 2014) BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 24
25 3. Apresente os atos de fala do texto a seguir, levando em conta as condições de adequação. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 25
26 IMPLICATURAS (11) A: Você deu o dinheiro para Maria? B: Estou esperando ela chegar. = Não dei o dinheiro para Maria. De onde vem essa inferência? BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 26
27 Paul Grice Princípio de Cooperação os falantes tendem a ser cooperativos; as falas devem contribuir para o diálogo pleno. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 27
28 Máximas de Grice QUALIDADE Diga o que é verdadeiro e nada falso (ou que possa ser). BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 28
29 QUANTIDADE Diga o quanto foi requisitado, nem mais, nem menos. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 29
30 RELEVÂNCIA Seja relevante: não fuja do tópico do assunto. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 30
31 MODO Seja ordenado, claro e evite ambiguidade. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 31
32 (11) A: Você deu o dinheiro para Maria? B: Estou esperando ela chegar. A resposta de B não é relevante, foge do tópico da conversa. Essa fuga tem um objetivo na interação linguística. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 32
33 Ferir uma máxima gera uma implicatura. As implicaturas se relacionam com o nosso conhecimento completo de mundo, i.e., com o contexto (pragmática) que está envolvido na interpretação de um texto. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 33
34 (12) A: O João comprou o carro do Pedro? B: Então, rapaz, o João foi lá pra fazer o negócio, ofereceu a moto em troca, disse que queria parcelar, mas o Pedro ficou meio assim. = Não comprou. A resposta de B fere a máxima da quantidade. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 34
35 A implicatura depende dos falantes. (13) A: Esqueci minha caneta na sala. B: Que pena! C: Eu pego pra você! BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 35
36 Implicaturas são facilmente canceláveis (29) A: Você vai à festa hoje à noite? B: Puxa, tô com uma gripe danada. A: Então, você não vai? implicatura B: Ah, eu vou assim mesmo! cancelamento BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 36
37 Ambiguidade contextual (pragmática) (30) A: Não posso nem ouvir falar em chocolate. B: Por quê? A : Porque eu adoro. A : Porque eu detesto. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 37
38 Exercícios 1. Explique o humor da tira a seguir por meio das máximas (e o princípio de cooperação). BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 38
39 2. De que forma a máxima da verdade está relacionada com a tira a seguir? BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 39
40 3. Você é chamado no departamento pessoal e o diretor diz o seguinte: Por questão de ajuste financeiro, você foi afastado do quadro de colaboradores da empresa. Explique a situação embasando suas ideias no que foi discutido até aqui. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 40
41 4. Como você explica a seguinte anedota? A: Eu conheço uma moça que não pode ouvir essa música. B: Ela se emociona? A: Não, ela é surda mesmo. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 41
42 5. DESAFIO Explique como as Máximas de Grice estão diretamente relacionadas com as propostas de produções de texto na escola e processos seletivos. BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 42
43 6. De Ilari (2003) BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 43
44 BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 44
45 BERTUCCI, R. (2016) - Semântica e Pragmática Atos de fala e princípio de cooperação 45
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