TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA GAB. DES. ROMERO MARCELO DA FONSECA OLIVEIRA ACÓRDÃO

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA GAB. DES. ROMERO MARCELO DA FONSECA OLIVEIRA ACÓRDÃO APELAÇÃO N. ORIGEM RELATOR APELANTE ADVOGADO APELADO ADVOGADO /002 : 16. Vara Cível da Comarca de João Pessoa : Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira : Severina Frazão de Albuquerque : Adegilson de Araújo Frazão : Robson Peregrino Montenegro e outros : Márcio Henrique Carvalho Garcia EMENTA. APELAÇÃO. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ESCRITU- RA PÚBLICA. PRELIMINAR. NULIDADE PROCESSUAL. IN- TERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. REJEIÇÃO. NEGÓ- CIO JURÍDICO. CONTRATO DE COMPRA E VENDA. SIMU- LAÇÃO INOCENTE. INTENÇÃO DE DOAÇÃO. DECLARA- ÇÃO DE VONTADE. CONFIRMAÇÃO EM JUÍZO. VALIDADE. AUSÊNCIA DE PREJUÍZOS A TERCEIROS. PROVIMENTO NEGADO. Respeitada a exigência legal para o Ministério Público apresentar manifestação nos autos, com abertura de vista, inexiste nulidade se o representante legal não intervém no processo, ou intervindo não apresenta parecer sobre o mérito da causa. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. VISTO, relatado e discutido o presente procedimento referente à Apelação n /002, figurando como partes Severina Frazão de Albuquerque contra Robson Peregrino Montenegro e outros. ACORDAM os eminentes Desembargadores integrantes da Egrégia Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, acompanhando o Relator, negar provimento ao Recurso. VOTO Severina Frazão de Albuquerque interpõe Apelação contra a Sentença proferida pelo Juízo da 16.' Vara Cível da Comarca de João Pessoa que, nos autos da Ação de Anulação de Escritura Pública de Compra e Venda com Pedido de Antecipação de Tutela por ela ajuizada contra Robson Peregrino Montenegro e outros, julgou improcedente o pedido inicial condenando-a ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios arbitrados em 20% sobre o valor da causa, observando o disposto no art. 12 da Lei 1.060/50. Nas razões, alega que comprovou nos autos a existência de simulação do negocio jurídico realizado pelos Apelados, que de comum acordo dissimularam uma compra e venda para realizar a doação do imóvel em que resid a Sra. Maria Namur. Aduz, que os Apelados buscaram, na verdade, uma o ae t garantir a transferência do patrimônio sem transgredirem a limitação legal de p d r 1 doa a Bel.Rovn

2 moradia sem reservar bens capazes de promover a necessidade de subsistência, na forma determinada no art. 548 do Código Civil, bem assim pela proteção dada pelo Estatuto do Idoso e a Constituição Federão às pessoas idosas. Assevera, que o ato de transmissão configura um excesso de perigo para a Sra. Namur, se esta ficar sem moradia caso o beneficiário da compra e venda simulada decida alienar o imóvel, existindo a necessidade de restabelecimento da liminar até final julgamento. No mais, o Juízo a quo se manteve omisso, embora tenha interposto Embargos de Declaração, quanto à alegação de erro sobre o objeto principal da declaração de vontade de concretização de um ato não pretendido pela Alienante. Por fim, alegou nulidade do julgado por falta de atuação do Ministério Público em primeira instância. Nas Contrarrazões, f. 257/263, Robson Peregrino Montenegro e Oliveiros Viegas de Oliveira Montenegro, alegaram que a Sra. Maria Namur de Araújo Dias, apesar de contar com 88 anos de idade, tinha a intenção de doar o imóvel residencial ao Oliveiros, filho do primeiro Apelado, o qual foi criado por ela desde o seu nascimento, considerando-o como um verdadeiro filho. Sustentaram que a Sra. Namur é pessoa lúcida conforme atestado nos documentos de f. 35/36, inexistindo fundamento para a nulidade da Escritura de Compra e Venda porque houve apenas uma "simulação inocente", sem prejuízos para terceiros, sendo perfeitamente aceitável tanto pela doutrina como pela jurisprudência, e o ato inquinado de nulidade cumpriu a finalidade da doação, no caso a intenção da alienante ao decidir transferir o seu bem para Oliveiros. Ao final, aduzem que a Sra. Namur não se casou e não teve filhos, logo inexistem herdeiros necessários que lhe impossibilite dispor da totalidade dos bens para doação, na forma do art. 496 do Código Civil, assim como não existe impedimento para alienação de bens de ascendente a descendente sem o consentimento dos demais descendentes ou do cônjuge, situação esta inexistente no caso concreto, pois a Apelante é apenas sobrinha da Apelada e esta goza de total capacidade psíquica e está plenamente saudável. A Procuradoria de Justiça, instada a se pronunciar, através do Parecer emitido pela Dra. Vanina Nóbrega de Freitas Dias Feitosa, f. 276/281, opinou pela manutenção da Sentença com o não provimento do Recurso. Entendeu a Representante da Procuradoria de Justiça que na simulação do negócio jurídico, embora em termos gerais se reconheça a nulidade absoluta do ato, subsiste a dissimulação, se válido for na substancia e na forma, nos termos do art. 167 do Código Civil, portanto, se as partes são capazes, a intenção da alienante era doar o bem, a doadora mostrou-se lúcida e no gozo das faculdades mentais, inexistindo prejuízos para terceiros, posto que a Apelada não possui herdeiros necessário, é plenamente válida a disposição de doar seu imóvel ao seu ente querido. É o relatório. Severina Frazão de Albuquerque ajuizou Ação de Anulação de Escritura Pública de Compra e Venda com Pedido de Antecipação de Tutela contra Robson Peregrino Montenegro e outro, com objetivo de ver anulada a Escritura de Compra e Venda do imóvel residencial da Sra. Maria Namur de Araújo Dias. Inicialmente, a ação foi promovida somente contra os dois promovidos indicados na inicial, tendo a A,Itora alegado que a alienação do apartamento 302, do Condomínio Residencial PortofiO, situado na Avenida Governador Argemiro de Figueiredo, n. 77, foi fruto de uma traw clps 'Demandados, pois o segundo réu não possuía renda, logo não teria como adquirir um/ imvei no valor de R$ ,00, conforme consta da Escritura de Compra e Venda, f. 13/1 4.

3 A Autora e os outros herdeiros, segundo afirmação na inicial, tomaram ciência da venda do imóvel pela própria Alienante, escriturada no dia 30/06/2004, no Cartório Monteiro da Franca, figurando como adquirente Oliveiros Viegas de Oliveira Montenegro, e só conseguiram a transação porque o primeiro demandado é procurador da Sra. Namur, inclusive pela sua idade avançada. Pela forma que tomaram conhecimento constataram que na transação a Sra. Namur não recebeu nenhuma quantia pelo apartamento, fato por ela confirmado, portanto, concluíram ter havido uma fraude, uma simulação na venda do imóvel. Por outro aspecto, o suposto adquirente agiu de má fé e vem externando a vontade de vender o imóvel, o qual constitui a residência da Alienante, vítima da farsa do procurador e do suposto comprador. Na Contestação, f. 25/34, aduziram a ilegitimidade da parte Autora para mover a Demanda, por não ser a Sra. Severina Frazão de Albuquerque herdeira de Maria Namur, e sim apenas uma sobrinha, bem assim prejudicial de prescrição, por ultrapassar mais de dois anos da escrituração do imóvel, estando prescrita a pretensão da Autora nos termos do art. 179 do Código Civil. No mérito, sustentaram que não é verdadeira a versão fantasiosa descrita na inicial, pois a iniciativa de doar o apartamento foi da então proprietária Sra. Namur, não tendo havido nenhuma trama por parte deles Contes,tantes. Reconheceram, na peça de defesa, não ter havido nenhum pagamento pelo imóvel e que só realizaram uma compra e venda por falta de orientação, porque acharam que seria apenas uma denominação legal do ato, o qual foi realizado sem intenção de fraudar qualquer pessoa. O processo foi sentenciado às f. 97/101, e no Acórdão que julgou o Recurso Apelatório, f. 188/194, foi reconhecido, de ofício, a nulidade da Decisão pela ausência de formação do litisconsórcio necessário com a Alienante. Com o retorno dos autos ao Juízo de origem, a Sra. Maria Namur de Araújo Dias apresentou Contestação ao processo, f. 200/201, dando-se por citada e contrariando a pretensão da Autora com impugnação de todas as afirmações de Severina Frazão de Albuquerque, exceto a de que Oliveiros Viegas de Oliveira Montenegro foi criado como um filho da Contestante, sendo esta a úncia verdadeira. Na peça de defesa, confessou não ter filhos e que não se casou, inclusive a livre intenção de doar o seu apartamento, reiterando todas as declarações feitas por ocasião do seu depoimento no processo da Ação Cautelar de Antecipação de Provas. Ao sentenciar, f. 28/29, o Juízo a quo entendeu que o caso trata de simulação inocente, ou seja, uma transferência de patrimônio sem causar prejuízo a terceiros, sendo válida pela declaração de vontade corresponde à intenção da parte, portanto, julgou improcedente o pedido de anulação da Escritura de Compra e Venda, dissimulada de doação, condenando a parte Autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios em 20% sobre o valor da causa, com observância do art. 12 da Lei 1.060/50. Preliminarmente, analiso a alegação de nulidade do processo por falta de atuação do Ministério Público. A Apelante alegou no Recurso a nulidade do processo porque o Ministério Público não se manifestou nos autos em primeira instância, e sendo a causa de interesse de idoso, nos termos dos arts. 75/77 do Estatuto do Idoso, Lei /2003, não poderia o Magistrado ter ignorado os dispositivos legais. Verifica-se à f. 221, a abertura de vista ao Representant o 1 Ministério Público, e no Parecer de f. 221v., entendeu o seu representante inexistir ye esse que justifique a intervenção do órgão ministerial. A nulidade por ausência de intervenção do Ministério rúblio i 94, Ruam çç

4 decorre da falta de oportunidade de oferecer manifestação no autos, contudo, essa exigência foi observada no caso concreto, inexistindo irregularidade processual. Assim, indefiro a preliminar de nulidade do processo. No mérito. É incontroverso nos autos a simulação realizada pelos Apelados ao efetivarem a compra e venda mascarando a real intenção da Sra. Namur de doar o imóvel ao Sr. Oliveiros, pois nos autos confirmaram a transferência com Escritura de Compra e Venda, sem pagamento, porque acreditaram ser a forma correta do negócio. Conforme alegação dos Apelados e reconhecimento na Sentença, trata-se de simulação inocente, reconhecida pela doutrina e jurisprudência como o negócio jurídico simulado que não causa prejuízos a terceiros, e pela declaração de vontade da Alienante verifica-se a nítida intenção doar o imóvel ao seu ente querido, no caso o Sr. Oliveiros, filho de Robson Peregrino Montenegro, pessoa que sempre o teve como filho. A Promovida Sra. Maria Namur goza de plena capacidade física e mental, estando plenamente válida a disposição do seu patrimônio. O Código Civil de 2002, diferentemente do anterior, deu tratamento diferenciado à simulação dos negócios jurídicos, tratando-a como ato nulo em seus art. 167 e 170, contudo, manteve o regramento jurídico da dissimulação, não sendo o caso de declarar a nulidade se foram observadas a validade da forma e a substância do ato: Art É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. Art Se, porém, o negócio jurídicomulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade. Portanto, se a declaração de vontade da Alienante corresponde à intenção de doar o imóvel, como veementemente confirmou em juízo, e a forma do instrumento confere legalmente a transferência da propriedade, válido é o negócio jurídico firmado pelas partes. No caso, inexiste erro na declaração de vontade de transmitir o bem questionado, pois a Sr. Namur confirmou no seu depoimento, f. 59, da Cautelar de Antecipação de Provas, o desejo de doar o apartamento a pessoa que o tem como filho, no caso o Sr. Oliveiros Viegas de Oliveira Montenegro. Por fim, a Apelante não conseguiu provar a suposta intenção dos Apelados de alienarem o imóvel, assim como não comprovou as agressões morais contra a Sra. Namur. Posto isso, conheço do Recurso, indefiro a preliminar e, no mérito, nego-lhe provimento, em harmonia com o Parecer da Procuradoria de Justiça. É o meu voto. Presidiu o julgamento, realizado na Sessão Ordinária desta Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba o Desembargador Romero Marcelo da Fonseca Oliveira, no dia 30 de novembro de 2010, conforme certidão de julgamento, dele participando, além deste rela)o os eminentes Desembargadores Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho e João les,á1a Silva. Presejlte a sessão, a Exma. Sra. Dra. Ana Cândida Espínola, Promotora de histiç Convocada./' te no T a João Pessoa-, de deze e'2010 s. Romero Mar e o ia Fonseca Oliveira Relator

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