MODELOS DE DEMOCRACIA SOB A ÓTICA DE JÜRGEN HABERMAS
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- Letícia Borges Caiado
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1 MODELOS DE DEMOCRACIA SOB A ÓTICA DE JÜRGEN HABERMAS Izimar Dalboni Cunha* Resumo De acordo com Habermas, a sociedade moderna é um modelo de sociedade complexa que se divide entre o mundo da vida, relacionado às atividades cotidianas e os sistemas sociais, destacando entre esses sistemas a economia e a política. O direito moderno atua como instrumento de integração social, sendo capaz de conduzir a um processo legislativo fruto da opinião e da vontade discursiva dos cidadãos, o que viria a fortalecer a democracia, através do modelo procedimentalista de democracia, fundado numa política deliberativa, colocando-o como um modelo inovador no mundo pós-metafísico, ao lado dos outros dois modelos clássicos: o modelo liberal e modelo republicano. Após a análise dos três modelos, busca-se verificar se há possibilidade de adoção plena do modelo procedimentalista de democracia no Estado brasileiro. Palavras-chave: Habermas, Direito, Democracia, Sociedade moderna *Mestre em Direito pela Universidade Estácio de Sá. Especialista em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Estácio de Sá. Especialista em Direito Constitucional pela Universidade Estácio de Sá. Especialista em Língua Portuguesa pela Faculdade de Filosofia Santa Doroteia. Licenciatura Plena em Letras pela Faculdade de Filosofia Santa Doroteia. Bacharel em Direito pela Universidade Estácio de Sá. Habilitada pela Ordem dos Advogados do Brasil em Professora TP aprovada em processo seletivo na Universidade Estácio de Sá para a disciplina Direito Processual Penal. Professora da graduação da Universidade Estácio de Sá - campus Nova Friburgo, nos cursos de Direito. Orientadora de Projeto de Iniciação Científica.
2 Introdução Jürgen Habermas, filósofo e sociólogo alemão, principal representante da segunda geração da Escola de Frankfurt, em sua obra Direito e Democracia: entre facticidade e validade, volume I, assevera que a modernidade, ao transpor os conceitos aristotélicos para premissas da filosofia do sujeito, (...) produziu um desenraizamento da razão prática, desligando-a de suas encarnações nas formas de vida culturais e nas ordens da vida política, criando o conceito de razão prática como uma faculdade subjetiva (HABERMAS, 2012, p. 17). De acordo com o autor alemão: [...] as sociedades modernas tornaram-se tão complexas, ao ponto de essas duas figuras de pensamento - a de uma sociedade centrada no Estado e a da sociedade composta de indivíduos - não poderem mais ser utilizadas indistintamente. A própria teoria marxista da sociedade convencera-se da necessidade de renunciar a uma teoria normativa do Estado. Aqui, no entanto, a razão prática deixa seus vestígios filosófico-históricos no conceito de uma sociedade que se administra democraticamente a si mesma, na qual o poder burocrático do Estado deve fundir-se com a economia capitalista. (HABERMAS, 2012, Vol. I, p.17/8). Habermas resgata a tradição racionalista, propondo uma auto compreensão do Estado Democrático de Direito pelo processo do agir comunicativo que atribui às forças ilocucionárias da linguagem orientada ao entendimento a função importante da coordenação da ação, deslocando a construção da normatividade jurídica do idealismo teleológico ou finalístico (filosofia da subjetividade) para uma materialidade de ações comunicativas (filosofia intersubjetiva). (HABERMAS, 2012, v. I, p. 25). Para o autor alemão, o direito moderno atua como instrumento de integração social, sendo capaz de conduzir a um processo legislativo fruto da opinião e da vontade discursiva dos cidadãos, o que viria a fortalecer a democracia. Sob esse ângulo, estaria se garantindo tanto a legalidade como a legitimidade do direito. Esta última, a legitimidade, no pensamento moderno, traz a garantia dos direitos humanos e da soberania popular, proporcionando aos cidadãos uma maior autonomia e participação nas decisões deliberativas de sua comunidade. Desse modo, Habermas traz uma concepção de um modelo procedimentalista de democracia com intuito de legitimar o Estado Democrático de Direito, fundado numa política deliberativa, colocando-o como um modelo inovador no mundo pós-metafísico, ao lado dos outros dois modelos clássicos: o modelo liberal e modelo republicano.
3 O que se busca averiguar é se, num país como o Brasil, de democracia tardia, é possível a adoção de um modelo procedimentalista de democracia. Os Três Modelos de Democracia Habermas entende que os modelos liberal e republicano, sob o ponto de vista dos conceitos de cidadão do Estado e de acordo com a natureza do processo político de formação da vontade, são polêmicos se contrapostos e desenvolve uma terceira concepção, a procedimentalista ou, como ele a denomina, política deliberativa. 1. O Modelo Liberal Versus O Modelo Republicano De acordo com Habermas, é na compreensão que cabe ao processo democrático que reside a diferença entre o modelo liberal e o republicano. No modelo liberal, o processo democrático tem por tarefa a programação do Estado voltado ao interesse da sociedade, ou seja: A política, sob essa perspectiva, e no sentido de formação política da vontade dos cidadãos, tem a função de congregar e impor interesses sociais em particular mediante um aparato estatal já especializado no uso administrativo do poder político para fins coletivos (HABERMAS, 2002, p. 270) A política, no enfoque da concepção republicana, não possui essa função mediadora, já que a política é essencial para o processo de coletivização social, pois na concepção republicana é dado um significado estratégico à opinião pública, tanto em seu caráter político quanto à sociedade civil. Segundo Habermas (2002, p. 270), a política é concebida como: Forma de reflexão sobre um contexto de vida ético. Ela constitui o médium em que os integrantes de comunidades solidárias surgidas de forma natural se conscientizam de sua independência mútua e, como cidadãos, dão forma e prosseguimento às relações preexistentes de reconhecimento mútuo, transformando-as de forma voluntária e consciente em uma associação de jurisconsortes livres e iguais. Com isso, a arquitetônica liberal do Estado e da sociedade sofre uma mudança importante. Ao lado da instância hierárquica reguladora do poder soberano estatal e da instância reguladora descentralizada do mercado, ou seja, ao lado do poder administrativo e dos interesses próprios, surge também a solidariedade como terceira fonte de integração social. (Grifos do autor)
4 Esses enfoques distintos geram diversas consequências. A primeira delas se refere às concepções de cidadão do Estado. Sob a ótica liberal, o status de cidadão é determinado de acordo com os direitos individuais de que dispõem em face do Estado e dos demais cidadãos, ou seja, os cidadãos são portadores de direitos subjetivos e contam com a defesa do Estado em prol de seus próprios interesses, desde que dentro dos limites impostos pela lei. Esses direitos subjetivos servem, por outro lado, como defesa contra as intervenções estatais que extrapolem a intervenção prevista em lei. Os direitos subjetivos, nessa concepção, são vistos como direitos negativos, as pessoas de direito estão livres de coações externas se agirem dentro dos limites do espaço de ação alternativo. Sob a ótica republicana, o status de cidadão não é dado pelas liberdades negativas, mas sim pelos direitos de cidadania, de participação e comunicação políticas, que são direitos positivos, significando que esses direitos não garantem liberdade em relação à coação externa, mas trazem a garantia da participação em uma práxis comum, por meio de cujo exercício os cidadãos [...] tornam-se sujeitos politicamente responsáveis de uma comunidade de pessoas livres e iguais (HABERMAS, 2002, p. 272). Dessa polêmica do sujeito como portador de direitos subjetivos, surge a controvérsia sobre o conceito de direito. A ordem jurídica, no prisma liberal, constrói-se a partir dos direitos subjetivos, enquanto que no enfoque republicano prevalece o teor objetivo desses mesmos direitos. Habermas, ancorado no pensamento de F.I. Michelman, esclarece que: Para os republicanos os direitos nada são, em última instância, senão determinações da vontade política prevalecente; para os liberais, por sua vez, alguns direitos estão sempre embasados em um direito supremo da razão ou revelação transpolíticas... Em uma visão republicana, um objetivo da comunidade, o bem comum, consiste substancialmente no sucesso de seu esforço político por definir, estabelecer, tornar efetivo e manter vigente o conjunto de direitos (ou leis, para ser menos tendencioso) mais adequados às condições e costumes dessa comunidade; por outro lado, em uma visão liberal contrastante, a lei jurídica maior proporciona as estruturas transcendentais e as limitações de poder necessárias para que o esforço pluralista por cumprir interesses diversos e conflitos possa continuar concorrendo de forma tão satisfatória quanto possível. (HABERMAS, 2002, p. 274) Por fim, esses diferentes aportes sobre o papel do cidadão e do direito expressam um dissenso enraizado de forma profunda sobre a natureza do processo político.
5 A política liberal, segundo Habermas (2002, p. 275), é determinada pela concorrência entre agentes coletivos agindo estrategicamente e pela manutenção ou conquista de posições de poder. O sucesso, nesta concepção de política, é dado de acordo coma concorrência dos cidadãos tanto em relação a pessoas como a programas, que se quantifica a partir dos números de votos, pois é através do voto que os eleitores manifestam suas preferências. Os eleitores, portanto, licenciam o acesso a posições de poder, uma vez que os partidos políticos lutam em uma mesma atitude que se orienta pela busca do sucesso. Na política republicana há uma dependência do poder administrativo em relação ao comunicativo, decorrente do processo de formação da vontade e opinião pública. Assim, a política republicana não tem como paradigma o mercado, mas sim a interlocução entre os cidadãos. Nesse sentido, ocorre uma menor centralização do poder administrativo e estatal, em prol da capacidade comunicativa dos cidadãos. para ele: Habermas considera como positivo esse aspecto da concepção republicana, porque O embate de opiniões ocorrido na arena política tem força legitimadora não apenas no sentido de uma autorização para que se ocupem posições de poder; mais que isso, o discurso político ocorrido continuamente também apresenta força vinculativa diante desse tipo de dominação política. O poder administrativo só pode ser aplicado com base em políticas e no limite das leis que nascem do processo democrático. (HABERMAS, 2002, p ) Para Habermas, o modelo republicano tem como vantagem, no sentido radicalmente democrático, o fato de se firmar de uma auto-organização da sociedade pelos cidadãos em acordo mútuo por via comunicativa e remeter os fins coletivos tão somente a um deal [uma negociação] entre interesses particulares opostos. (HABERMAS, 2002, p. 276) Por outro lado entende que esse modelo, por ser bastante idealista, tornando o processo democrático dependente das virtudes dos cidadãos em prol do bem comum, traz uma desvantagem, entendendo que o erro reside em uma condução estritamente ética dos discursos políticos (HABERMAS, 2002, p. 276). 2. O Modelo Procedimentalista Após a análise dos dois modelos de democracia: o liberalismo, centrado no indivíduo e o republicano, centrado na comunidade ética, Habermas propõe um terceiro
6 modelo de democracia baseado nas condições de comunicação sob as quais o processo político supõe-se capaz de alcançar resultados racionais, justamente por cumprir- se, em todo seu alcance, de modo deliberativo (HABERMAS, 2002, p. 277). Para Habermas, o modelo procedimentalistas e impõe como método de reconhecimento linguístico de todas as etapas comunicativas envolvidas num consenso qualquer por todos os envolvidos no processo. De acordo com Silva (2011, p. 24): A figura procedimental se traduz como um princípio comunicativo no qual as condições analíticas da questão do direito podem ser questionadas quanto à sua validade e constituição, alcançando o nível do esclarecimento dos pressupostos lingüísticos envolvidos no processo cultural de formação do direito, resgatando um déficit histórico das sociedades modernas. Ou seja, Habermas mostra como certo princípio comunicativo pode ser resgatado no âmbito da política legislativa, capaz de racionalizar os processos formativos em que o direito passa a acontecer. De acordo com Oliveira (2004, p. 61) o êxito da política deliberativa, sob a ótica procedimentalista, irá depender da institucionalização dos procedimentos e das condições de comunicação correspondentes e não da ação coletiva dos cidadãos: O problema, pois, acerca do fundamento, deslocado, agora, para a pergunta de uma emergência da legitimidade através da legalidade, é reconstruído procedimentalmente, enquanto institucionalização jurídica das condições comunicativas sob as quais o próprio Direito seria legitimamente produzido e, no contexto de uma sociedade complexa, todos os afetados pelas normas jurídicas poderiam, em princípio, ser considerados co-autores dessas mesmas normas. (OLIVEIRA, 2004, p. 61) A fim de sustentar sua teoria, Habermas discute, como se vê a seguir, o modo como se realiza o processo democrático, entendendo ser possível uma assimilação de elementos dos modelos tradicionais. Para Habermas, sob o prisma liberal, o processo democrático se realiza exclusivamente na forma de compromissos de interesses. (HABERMAS, 2011, v.ii, p. 19). Entende o autor que essas regras que formam o compromisso devem proporcionar uma equidade nos resultados, devendo ser fundamentadas nos direitos fundamentais liberais. A formação democrática da vontade na visão republicana se realiza na forma de um auto-entendimento ético-político, onde o conteúdo da deliberação deve o respaldo entre
7 os sujeitos privados, a ser exercitado pelas vias culturais (HABERMAS, 2011, v. II, p. 19). No entender de Habermas, aplicando-se a teoria do discurso é possível uma assimilação de elementos tanto da teoria liberal como da comunitarista, que podem ser integrados no conceito de um procedimento ideal para se deliberar e tomar decisões. Há, nesse processo democrático, o estabelecimento de um liame interno entre considerações de caráter pragmático, compromissos, discursos de justiça e de autoentendimento, que fornecem o suporte à ideia de que é possível alcançar resultados racionais e equitativos. Na teoria habermasiana, o alicerce para uma conceitualização normativa da sociedade e do Estado é dado pelo modo, através do qual, se descreve o processo democrático. Diferente da visão republicana que parte do princípio de que a formação política da vontade e da opinião dos sujeitos privados constitui o medium, pelo qual se constitui uma sociedade politicamente estruturada- a chamada societas civilis, pois através da prática da autodeterminação política das pessoas privadas, a comunidade tem consciência de si mesma e sobre si mesma produz efeitos, através de uma vontade coletiva. Por seu turno, na democracia liberá-la separação polêmica entre a sociedade e o aparelho estatal aparentemente não pode ser eliminada, sendo apenas superada, pois: Nervo do modelo liberal não consiste na autodeterminação democrática das pessoas que deliberam, e sim, na normatização constitucional e democrática de uma sociedade econômica, a qual deve garantir um bem comum apolítico, através da satisfação das expectativas de felicidade de pessoas privadas em condições de produzir. (HABERMAS, 2011, v. II, pp ) A teoria do discurso, que embasa o modelo procedimentalista, atribui ao processo democrático conotações, de caráter normativo, mais fortes do que no modelo liberal, porém mais fracas que no modelo republicano, ao tomar e articular elementos dos dois modelos de forma nova e distinta, entendendo que os direitos fundamentais e os princípios do Estado de Direito são uma resposta consequente à questão de como institucionalizar os exigentes processos comunicativos do processo democrático (HABERMAS, 1995, p. 47). A teoria do discurso, segundo Habermas (1995, p ), dispensa por completo as figuras de pensamento da filosofia da consciência, inclinadas por um lado a atribuir a prática da autodeterminação dos cidadãos a um sujeito social global, sendo a cidadania considerada como um ator coletivo que reflete o todo e age por ele e, por outro lado, ao
8 referir o império impessoal das leis a sujeitos particulares competidores entre si, e, ao fazer isso, conta com a intersubjetividade dos processos de entendimento realizados na forma institucionalizada das deliberações que ocorrem na rede comunicacional dos espaços públicos e nas instituições parlamentares. No modelo de democracia procedimentalista idealizado por Habermas há o pressuposto de uma imagem do Estado e da sociedade diferente da dos outros dois modelos tradicionais. Em contraste com a visão centrada no Estado, característica tanto do modelo liberal como do modelo republicano como guardião do mercado ou como institucionalização de uma comunidade ética - Habermas favorece uma imagem descentrada da sociedade. Considerações Finais Habermas introduz o seu modelo discursivo de democracia através de um contraste entre dois modelos tradicionais: o modelo liberal e o modelo republicano. O seu modelo de uma democracia procedimentalista pretende integralizaras características mais positivas dos dois modelos clássicos, estabelecendo um confronto com estes modelos através da articulação de alguns conceitos fundamentais da teoria política: cidadania, direito e natureza do processo político. O jus filósofo alemão refuta a ideia de dicotomia entre direitos humanos e democracia, pois aqueles não são um contrapeso a esta, mas sim um necessário pressuposto ao processo democrático, ou seja, a ideia de direitos humanos está ligada à ideia de democracia em decorrência da co-originariedade entre a autonomia pública e a privada. Habermas elenca as categorias de direitos que são insuscetíveis de violação pelo processo democrático por serem intrínsecos aos sujeitos de direito: (1) Direitos fundamentais que resultam da configuração politicamente autônoma do direito à maior medida possível de iguais liberdades subjetivas de ação. Esses direitos exigem como correlatos necessários: (2) Direitos fundamentais que resultam da configuração politicamente autônoma do status de um membro numa associação voluntária de parceiros do direito; (3) Direitos fundamentais que resultam imediatamente da possibilidade de postulação judicial de direitos e da configuração politicamente autônoma de proteção jurídica individual. (...) (4) Direitos fundamentais à participação, em igualdade de chances, em processos de formação da opinião e da vontade, nos quais os civis exercitam sua autonomia política e através dos quais eles criam direito legítimo. (...)
9 (5) Direitos fundamentais a condições de vida garantidas social, técnica e ecologicamente, na medida em que isso for necessário para um aproveitamento, em igualdade de chances, dos direitos elencados de (1) a (4). (HABAERMAS, 2012, v.i, p. 159) Dessa forma, o direito subjetivo somente pode ser assegurado por meio de um processo de auto legislação no qual os indivíduos tornam-se autores e destinatários dos seus direitos, o que lhes daria a autonomia: (...) os cidadãos só podem fazer um uso adequado de sua autonomia pública quando são independentes o bastante, em razão de uma autonomia privada que esteja equanimemente assegurada; mas também o fato de que só poderão chegar a uma regulamentação capaz de gerar consenso, se fizerem o uso adequado de sua autonomia política enquanto cidadãos. (...) (HABERMAS, 2002, p. 293) E aqui surge o questionamento: seria possível a adoção do modelo habermasiano de democracia em uma sociedade complexa, plural, de democracia tardia como a brasileira em que milhares de pessoas não possuem competência linguística capaz de lhes proporcionar autonomia e independência? Lênio Streck (2012, p. 86) entende que as teses procedimentalistas mantêm um certo distanciamento da realidade de países periféricos como o Brasil, pois o modelo procedimental dado a sua especificidade formal, encontra-se distante das condições de possibilidade para a elaboração de um projeto apto à construção de uma concepção substancial de democracia, em que a primazia (ainda) é a de proceder a inclusão social. Habermas não vê impeditivo para a adoção de seu modelo procedimentalista nas sociedades complexas, já que constrói sua teoria contrapondo o modelo liberal ao modelo republicano, em especial a linha comunitarista desenvolvida nos Estados Unidos. Num país como o Brasil em que a miséria, as desigualdades sociais ainda são gritantes, onde os cidadãos, em sua maioria, não dominam uma situação ideal de fala, leva a crer pela não possibilidade da adoção da teoria habermasiana de democracia, tendo em vista que ainda se faz necessária uma política voltada para o indivíduo, buscando assegurar os direitos subjetivos fundamentais que possibilitem sua inclusão social. Assim, pode-se dizer que o modelo liberal, dentre os três modelos analisados sob a ótica de Habermas, ainda é o ideal para a atual conjuntura da sociedade brasileira.
10 Referências HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre facticidade e validade. Volume I. 2 ed. Tradução: Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre facticidade e validade. Volume II. Tradução: Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, A inclusão do outro: estudos de teoria política. Trad. George Sperbe; Paulo Astor Soethe (UFPR). São Paulo: Loyola, Três Modelos Normativosde Democracia. In: Revista Lua Nova n. 36, Disponível em: em 10/06/2013. OLIVEIRA, Marcelo Andrade Cattoni de. Jurisdição e hermenêutica constitucional no estado democrático de direito: um ensaio de teoria da interpretação enquanto teoria discursiva da argumentação jurídica de aplicação. In: Jurisdição e Hermenêutica Constitucional. Belo Horizonte: Mandamentos, SILVA, Bartolomeu Leite da. Relações conceituais entre a ética do discurso e a teoria discursiva do direito em Jürgen Habermas. In: Pensando Revista de Filosofia Vol. 2, Nº 1, Disponível em: Acesso em 10/06/2013. STRECK, Lenio Luiz. Verdade e Consenso. 4 ed. 2 tir. São Paulo: Saraiva, E R
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