Legislação Trabalhista com ênfase na Reforma. O que está mudando?

Transcrição

1 Legislação Trabalhista com ênfase na Reforma O que está mudando?

2 A partir de 11 de Novembro de 2017 passam a vigorar as alterações na legislação trabalhista, através da Lei nº /2017 e MP 808/2017. Essas alterações são aplicáveis à todos os contratos de trabalho. Aos já existentes e aos que irão ser firmados após esta data. O que não pode ocorrer são reduções dos direitos garantidos na Constituição Federal de 1988, a exemplo da redução salarial. Com a Reforma Trabalhista temos alterações de conceitos e de princípios do Direito do Trabalho, a exemplo da efetiva retirada do princípio de proteção ao hipossuficiente e valorizando-se o negociado.

3 Conceitos: Reforma Trabalhista Empregador: Empresa individual ou coletiva; Profissionais liberais; Instituições de beneficência; Associações recreativas e outras instituições sem fins lucrativos, que admite trabalhadores como empregados. Será considerado empregador quando, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação de serviços. (art. 2º, CLT)

4 Grupo Econômico: Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, ou ainda quando, mesmo guardando cada uma sua autonomia, integrem grupo econômico, serão responsáveis solidariamente pelas obrigações decorrentes da relação de emprego. A novidade está no parágrafo 3º do Art. 2º da CLT, que busca elucidar o efetivo conceito de grupo: Não caracteriza grupo econômico a mera identidade de sócios, sendo necessárias, para a configuração do grupo, a demonstração do interesse integrado, a efetiva comunhão de interesses e a atuação conjunta das empresas dele integrantes.

5 Empregado: Toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário; Autonômo: Autônomo é todo aquele que exerce sua atividade profissional sem vínculo de emprego, por conta própria e com assunção de seus próprios riscos. A prestação de serviços é de forma eventual e não habitual. Embora o conceito seja este, com a Reforma Trabalhista, houve a inserção do art. 442-B da CLT, permitindo a contratação de autônomo, desde que cumpridas por este todas as formalidades legais, de forma contínua ou não, afastando a qualidade de empregado prevista no art. 3º da CLT. Assim, a única diferença entre o empregado celetista e o autônomo é a subordinação. (Art.442-B, CLT)

6 É vedada a celebração de cláusula de exclusividade no contrato do autônomo; Não caracteriza a qualidade de empregado o fato de o autônomo prestar serviços a apenas um tomador de serviços; O autônomo pode prestar serviços de qualquer natureza, seja para a atividade fim ou meio ; Fica garantida ao autônomo a possibilidade de recusa de realizar atividade demandada pelo contratante, garantida a aplicação de cláusula de penalidade prevista em contrato; (Art.442-B, CLT)

7 Responsabilidade do sucedido: O sócio retirante responde subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas de sociedade relativas ao período em que figurou como sócio, somente em ações ajuizadas até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, observada a seguinte ordem de preferência: 1) Empresa devedora; 2) Os sócios atuais; e 3) Os sócios retirantes. O sócio retirante responderá solidariamente com os demais quando ficar comprovada fraude na alteração societária decorrente da modificação do contrato. (Art.10-A, CLT)

8 Contrato de Trabalho: Negociado X Legislado Até o advento da Reforma Trabalhista, o negociado está limitado, por um princípio do Direito do Trabalho, à questões que envolvam a saúde e segurança do trabalhador, com destaque para jornada de trabalho. Após o início da vigência da Reforma Trabalhista em 11 de Novembro de 2017, as regras sobre duração do trabalho e intervalos não são mais consideradas normas de saúde, higiene e segurança do trabalho. Assim, as convenções e acordos coletivos podem negociar acerca da jornada de trabalho, observados os limites constitucionais. A CLT passa a elencar, em seus artigos 611-A, e 611-B, respectivamente, o que compete e o que não compete às convenções e acordos coletivos tratarem.

9 Home Office ou Teletrabalho Reforma Trabalhista Até o advento da Reforma, havia somente a previsão de que era possível o trabalho realizado em casa, e que a subordinação do empregado se caracteriza pelo uso de meios tecnológicos que permitam identificar a execução do trabalho. Com a Reforma, criou-se o Capítulo II-A, com 5 artigos que regulamentam esta modalidade de trabalho. Assim, no teletrabalho, os empregados: Não tem direito à horas extras; Fazem uso de tecnologia; Podem comparecer na sede do empregador, sem que este fato desconfigure a forma de contração; Custos com infra e equipamentos são ajustados em contrato; E o empregado, DEVE ser treinado e orientado em relação a acidentes e doenças do trabalho e assinar termo de responsabilidade comprometendo-se a seguir estas instruções. (Arts. 6; 62, III e 75, A a E, CLT).

10 Trabalho Intermitente É o trabalho, com subordinação, não contínuo, determinado em horas, dias ou meses, independente da atividade, exceto aeronautas (regidos por lei própria). Só ganha pelo trabalho/hora executado; Valor da hora deve respeitar o mínimo ou o valor daquele que recebe pela mesma função e no mesmo estabelecimento, intermitente ou não; O empregador deve avisar com 3 dias corridos de antecedência e o empregado deverá responder ao chamado em 24 horas, sendo presumida a recusa pelo seu silêncio; Devidos todos os direitos, 13º; férias; DSR; FGTS; INSS e anualmente o descanso de férias. (Arts. 443, 3º e 452-A, CLT)

11 Trabalho Intermitente Decorrido o prazo de um ano sem qualquer convocação do empregado pelo empregador, será considerado rescindido o contrato; Na rescisão do intermitente, saca-se até 80% do FGTS e não é permitido o ingresso no Seguro Desemprego. Será apurada média dos valores recebidos durante o contrato de trabalho para pagamento das verbas rescisórias; Aviso prévio será sempre indenizado; Até 31 de dezembro de 2020, o empregado registrado por prazo indeterminado demitido não poderá ser contratado pelo mesmo empregador pelo prazo de 18 meses contados da sua data de demissão. (Arts. 443, 3º e 452-A, CLT)

12 Uniforme: Não é mais considerado tempo à disposição do empregador, SALVO quando houver obrigatoriedade de realizar a troca na empresa. No art. 456-A, único, ficou determinado que a higienização do uniforme é de responsabilidade do trabalhador, salvo nas hipóteses em que forem necessários procedimentos ou produtos diferentes. Outras situações que a CLT veio regular: Práticas religiosas; Descanso; Lazer; Estudo; Alimentação; Atividades de relacionamento social; Higiene pessoal. (Art.4º, 2º, CLT)

13 Jornada de Trabalho: Reforma Trabalhista Horas in itinere : O tempo despendido pelo empregado, desde a sua residência até a efetiva ocupação do posto de trabalho e para seu retorno, NÃO é considerado como tempo à disposição do empregador, mesmo nos casos de difícil acesso e/ou com transporte fornecido pelo empregador. Importante observar a inserção da frase efetiva ocupação do posto de trabalho. Exemplos: Empresas em que a chegada até o efetivo posto de trabalho demandava bastante tempo, a exemplo das plataformas de petróleo; granjas /abatedouros. (Art.58, 2º, CLT).

14 Trabalho em Tempo Parcial Até a Reforma: Até 25 horas semanais; A vantagem é o salário proporcional e férias reduzidas e proporcionais à jornada. Entendimento judicial é que horas extras são incompatíveis com esta modalidade de contrato. A partir da Reforma: Até 30 horas semanais sem possibilidade de horas extras, ou 26 semanais, com a possibilidade de mais 6 horas extras. A vantagem continua sendo o salário proporcional. No entanto, as férias não são mais proporcionais, só que passa a ser admitida a venda de 1/3. (Art.58-A, CLT)

15 Acordo de prorrogação e compensação de jornada Antes da Reforma: Depois da Reforma: Pode ser ajustado via acordo individual ou norma coletiva, por exemplo, para suprimir o sábado semanalmente; Limite de até duas horas extras por dia e limite de jornada de 10 horas por dia; Pode ser feito acordo individual, escrito ou tácito, para compensação mensal; Continua o limite de até duas horas diárias como extras e 10 horas de jornada total. A principal vantagem é que, a partir da reforma, as horas extras habituais não invalidam as compensações e tampouco o banco de horas. (Art.59, caput, 1º e 6º, CLT)

16 Banco de Horas Antes da Reforma: Só pode ser ajustado através de norma coletiva e pelo prazo de 12 meses, no máximo; Caso descumprir-se o acordado, invalidado na íntegra toda a compensação e valores devido como horas extras. Depois da Reforma: Pode ser estipulado até mesmo por acordo individual, desde que o período máximo de compensação seja de 6 meses. (Art.59, 2º e 5º, CLT)

17 Jornada de Trabalho: Normatização da escala 12 x 36 Através de Convenção ou Acordo Coletivo, para cada 12 horas trabalhadas, são previstas 36 horas de descanso, observados ou indenizados os intervalos para repouso e alimentação. Somente às entidades atuantes no setor da saúde é que poderão estabelecer esta jornada através de acordo individual escrito. Deve observar o limite de 44 horas semanais, assim como os empregados com 8 horas diárias. Desvantagens: Não tem DSR; não tem prorrogação de adicional noturno; só ganha a hora noturna; intervalo intrajornada pode ser indenizado, trabalhando 12 horas direto. (Art.59-A, CLT)

18 Intervalo Intrajornada Até a Reforma: Para jornadas diárias superiores à 6 horas o intervalo mínimo é de 1 hora. A redução só é possível com autorização do Ministério do Trabalho. Não observando este intervalo, o pagamento devido é de uma hora extra com o respectivo adicional e com natureza salarial. A partir da Reforma: O intervalo pode ser reduzido para até 30 minutos, mediante CCT ou ACT. Caso o empregado não descanse o intervalo integralmente, terá direito à uma indenização correspondente aos minutos que deixou de descansar, com o respectivo acréscimo de 50%. (Art. 611-A, III, CLT)

19 Remuneração: Até a Reforma : Integram o salário não só a importância fixa estipulada, como também as comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens (quando ultrapassarem 50%) e abonos pagos pelo empregador. Reforma Trabalhista A partir da Reforma: Remuneração: Parte fixa estipulada; gratificações legais e de função e comissões. Deixa de ser considerada remuneração e não constituem base de incidências trabalhistas e previdenciárias as ajudas de custo, limitadas à 50%; auxílioalimentação (não pagas em dinheiro e com ou sem PAT); planos médicos e despesas hospitalares e os prêmios (bônus e abonos) pagos até duas vezes ao ano, em razão do desempenho pessoal do empregado. (art.457, 2º e 4º, CLT).

20 Gorjetas: Não é receita própria dos empregadores e será distribuída segundo os critérios de custeio e de rateio definidos em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho; Inexistindo previsão em convenção ou acordo, os critérios serão definidos em assembleia geral dos trabalhadores na forma do art. 612 da CLT; Empresas que cobram gorjeta deverão observar seu regime de tributação e seguir as regras do art. 457 da CLT.

21 Equiparação salarial Até a Reforma: Mesma função; Mesma localidade; Mesmo empregador; Trabalho de igual valor em até 2 anos; Plano de cargos e salários com homologação obrigatória pelo Ministério do Trabalho. Reforma Trabalhista A partir da Reforma: Mesma função; Mesmo estabelecimento! Mesmo empregador; Trabalho de igual valor 2 anos na função e 4 anos na empresa OU; Plano de cargos e salário que podem ser implantados por norma interna da empresa ou negociação coletiva. (Art.461, CLT)

22 Alterações contratuais: Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da clausula infringente desta garantia. O que mudou? Nada! Só foi inserida a previsão no 2º, de que se o ocupante de cargo de confiança for reconduzido à função anterior, deixará de receber a respectiva gratificação de função e esta não se incorporará ao seu salário. (Art.468, CLT)

23 Férias Até a Reforma: Após 12 meses, as férias de 30 dias só podem ser fracionadas como coletivas ou em casos excepcionais, um dos quais não pode ser inferior à 10 (dez ) dias. Reforma Trabalhista A partir da Reforma: Desde que haja concordância do empregado, as férias anuais poderão ser usufruídas em até 3 períodos, sendo que um deles não poderá ser inferior a quatorze dias e os demais não poderão ser inferiores a cinco dias. Vedado início (2) dois dias antes de DSR e feriado. Menores de 18 anos e maiores de 50 anos poderão fracionar suas férias. Extinção na redução dos dias para Trabalho a Tempo Parcial. (Art. 134, CLT)

24 Trabalho da Mulher Até a Reforma: Concessão de 15 minutos de intervalo antes do início de horas extras; A gestante só poderia exercer suas atividades em locais salubres. Reforma Trabalhista A partir da Reforma: Revogação do art.384 que trazia esta previsão; Durante o período em que estiver em local salubre, deixa de receber o adicional; Graus leve(10%) ou médio(20%), continua no local insalubre SOMENTE se, voluntariamente, apresentar atestado de saúde, emitido por médico de sua confiança, autorizando a permanência; Durante o período de lactação será afastada de atividades insalubres, desde que emitido atestado de médico de sua confiança; Os dois períodos para amamentação devem ser objeto de acordo individual. (Art.394-A e 396, CLT)

25 Extinção Contratual Até a Reforma: Obrigatória a homologação em sindicato da categoria ou Ministério do Trabalho (na ausência de sindicato)para contratos firmados por mais de um ano; Prazos de Pagamento: Primeiro dia útil após o término do AP trabalhado ou até o 10º dia no API. Reforma Trabalhista A partir da Reforma Deixa de ser obrigatória a homologação, bastando comunicar aos órgãos competentes e dar baixa na CTPS; Prazos de Pagamento: Até o 10º dia para APT ou API. A anotação da extinção do contrato na CTPS é documento hábil para requerer o seguro-desemprego e a movimentação da conta do FGTS, nas hipóteses cabíveis, desde que a comunicação aos órgãos competentes tenha sido feita. (Art.477, CLT)

26 Novidades sem previsão anterior na CLT: Dispensas Coletivas ou Plúrimas se equiparam às individuais e não dependem de qualquer pedido ou formalidade ao sindicato da categoria; PDVs Plano de Demissão Voluntária ou Incentivada, para dispensa individual, plúrima ou coletiva, previsto em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, enseja quitação plena e irrevogável dos direitos decorrentes da relação empregatícia, salvo disposição em contrário estipulada entre as partes. Justa causa para empregado motorista que perde a habilitação. (Arts. 477-A e 477-B e 482, alínea m, CLT)

27 Novidades sem previsão anterior na CLT: Rescisão por acordo entre as partes, em que são devidas as seguintes verbas: 50% do aviso prévio, se indenizado; 50% da multa do FGTS; Integralidade das demais verbas.; Nestes casos, o empregado saca até 80% do FGTS e NÃO se habilita para o seguro desemprego. (Art. 484-A, CLT)

28 Termo de quitação anual: Novidade na CLT! Restrição ao acesso à Justiça? É facultado a empregados e empregadores, na vigência ou não do contrato de emprego, firmar o termo de quitação anual de obrigações trabalhistas, perante o sindicato dos empregados da categoria. Neste termo serão discriminadas as obrigações de dar e fazer cumpridas mensalmente e dele constará a quitação anual dada pelo empregado, com eficácia liberatória das parcelas nele especificadas. (Art.507-B, CLT)

29 Arbitragem: Até o advento da Reforma Trabalhista, no âmbito das relações do Trabalho, a figura da Arbitragem só era prevista na CF para conflitos coletivos. Com a Reforma, é cabível: nos contratos individuais cuja remuneração seja superior a duas vezes o limite máximo do salário de contribuição do INSS, hoje, R$ ,62; mediante clausula compromissória de arbitragem, desde que por iniciativa do empregado ou mediante sua concordância. (Art. 444, CLT)

30 Contribuição Sindical Até a Reforma: Compulsória: Correspondente a um dia de trabalho de todo empregado; Para o empregador, um valor sobre o capital social, mediante tabela divulgada pelo sindicato. Haviam outras contribuições estabelecidas em convenção, de caráter voluntário. A partir da Reforma: Nenhuma contribuição sindical é obrigatória, seja ela para o sindicato dos trabalhadores ou empregadores; Previsão da necessidade de prévia e expressa autorização; (Arts. 578, 579, 582 e 583, CLT)

31 Multa por não registro CTPS Até a Reforma: Meio salário mínimo por empregado não registrado. A partir da Reforma: Multa no valor de R$ 3.000,00 por empregado não registrado, acrescido de igual valor em cada reincidência; ME e EPP, o valor é de R$ 800,00 por empregado; R$ 600,00 pela ausência de registro na ficha; livro ou registro eletrônico. (Art. 47 e 47-A, CLT)

32 Resumo da Reforma Trabalhista: Modifica-se o conceito de salário; Modificam-se paradigmas de jornada de trabalho; Regulamenta-se o trabalho em Home Office; Regulamenta-se o trabalho intermitente; Retira-se a obrigatoriedade de validação do Plano de Cargos e Salários pelo Ministério do Trabalho; Extingue-se a obrigatoriedade da contribuição sindical; Extingue-se a obrigatoriedade de homologação de rescisões; Possibilita que a JT homologue acordos extrajudiciais. Traz a previsão da quarentena de 18 meses para o empregado ser contratado como PJ; Modificações também no direito processual do trabalho.

33 Sobre a instrutora: Reforma Trabalhista Andréia Martins - Advogada especialista em legislação trabalhista e previdenciária; - Gerente de recursos humanos, atuando há 11 anos no mercado; - Consultora jurídica do grupo IOB por 7 anos; - Pós graduada em Processo do Trabalho pela FGV; - Palestrante na Oliveira Vallim Consultoria; -Palestrante na Apriorirh. Contatos: (41) andmartins1973@gmail.com