MATEMÁTICA DE FORMA LÚDICA: TRABALHANDO COM A CAIXA DE JOGOS

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1 MATEMÁTICA DE FORMA LÚDICA: TRABALHANDO COM A CAIXA DE JOGOS Adriane Regina Bravo Mendes Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo professoraadriane.pnaic@gmail.com Suseli de Paula Vissicaro Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo svissicaro@gmail.com Resumo: O presente trabalho tem por objetivo relatar uma proposta de trabalho lúdica com a Matemática através da caixa de jogos que foi realizada com uma turma do 1 ano do Ciclo Inicial numa escola da Prefeitura de São Bernardo do Campo bem como com professoras alfabetizadoras na formação em Alfabetização Matemática no PNAIC em As ações desta proposta estavam inseridas no eixo Números e Operações visando o trabalho com o Sistema de Numeração Decimal. Alguns jogos foram apresentados e com estratégias diferenciadas e intervenções pertinentes o trabalho com a Matemática aconteceu de forma lúdica e significativa. Palavras-chave: Matemática, Jogos, Alfabetização Matemática. 1. Introdução Em 2014 o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) trouxe a formação em Alfabetização Matemática com o objetivo de ser entendida como um instrumento para a leitura do mundo, uma perspectiva que supera a simples decodificação dos números e a resolução das quatro operações básicas (BRASIL, 2014). A formação contava com oito cadernos envolvendo temas como: Organização do Trabalho Pedagógico, Quantificação, Registros e Agrupamentos, Construção do Sistema de Numeração Decimal, Operações na Resolução de Problemas, Geometria, Grandezas e Medidas, Educação Estatística e Saberes Matemáticos e Outros Campos do Saber. Desde 2013 já atuava como Orientadora de Estudos e em 2014 tive o privilégio de orientar a formação de 24 professoras alfabetizadoras do 1º ano do Ciclo Inicial em São Bernardo do Campo. No total erámos mais de 40 orientadoras e aproximadamente 600 professores alfabetizadores. 1

2 A formação, que foi rica em trocas de experiências e construções coletivas do saber, proporcionou, dentre outras coisas, uma reflexão bem apurada sobre a prática em sala de aula: o que e como venho trabalhando a Matemática com meus alunos numa perspectiva de letramento? Durante a formação foi possível observar a dificuldade que muitos professores demonstraram em fazer de fato a Alfabetização Matemática acontecer em sala de aula. Cabe aqui trazer o que o PACTO entende por Alfabetização Matemática: A dimensão matemática da alfabetização na perspectiva do letramento, ou melhor, a Alfabetização Matemática como entendendo aqui o conjunto das contribuições da Educação Matemática no Ciclo de Alfabetização para a promoção da apropriação pelos aprendizes de práticas sociais de leitura e escrita de diversos tipos de textos, práticas de leitura e escrita do mundo não se restringe ao ensino do sistema de numeração e das quatro operações aritméticas fundamentais. A Alfabetização Matemática que se propõe, por se preocupar com as diversificadas práticas de leitura e escrita que envolvem as crianças e com as quais as crianças se envolvem no contexto escolar e fora dele, refere-se ao trabalho pedagógico que contempla as relações com o espaço e as formas, processos de medição, registro e uso das medidas, bem como estratégias de produção, reunião, organização, registro, divulgação, leitura e análise de informações, mobilizando procedimentos de identificação e isolamento de atributos, comparação, classificação e ordenação. (BRASIL,2014, p.31) A partir dessa definição e rumando para esse Norte que a formação se desencadeou trazendo em seu eixo maior a reflexão da prática a partir de questionamentos de como tornar o ensino de Matemática mais significativo, mais lúdico e mais interativo. A ludicidade na Matemática já vem sendo discutida e analisada há um bom tempo. Smole em seu livro A Matemática na Educação Infantil traz que: Podemos dizer que o jogo serve como meio de exploração e invenção, reduz a consequência os erros e dos fracassos da criança, permitindo que ela desenvolva sua iniciativa, sua autoconfiança, sua autonomia. No fundo, o jogo é uma atividade séria que não tem consequência frustrante para a criança. (SMOLE, 1996, p. 138) Levar o jogo para sala de aula como estratégia de trabalho era algo que envolveria tanto alunos quanto professores. De acordo com Kishimoto: A capacidade lúdica do professor é um processo que precisa ser pacientemente trabalhada. Ela não é imediatamente alcançada. O professor que, não gostando de brincar, esforça-se por fazê-lo, normalmente assume postura artificial facilmente identificada pelos alunos. (KISHIMOTO, 1998, p. 122) 2

3 Nesta perspectiva, o jogo torna-se conteúdo assumido, com a finalidade de desenvolver habilidades de resolução de problemas, possibilitando ao aluno a oportunidade de estabelecer planos de ação para atingir determinados objetivos [...] (KISHIMOTO, 2000, pp ) Pensando dessa maneira a formação ganharia muito mais sentido se revertesse concretamente para a prática na sala de aula. Durante o trabalho como Orientadora de Estudos eu estava com uma turma do 1º ano do Ciclo Inicial e foi enriquecedor, tanto para meu trabalho no processo de ensino quanto na formação das professoras, poder mostrar, com exemplos reais, o quanto a Matemática pode se apresentar de formas diferentes, diversificadas e cheia de significados para os alunos. Uma das práticas que mais proporcionou questões, oportunidades e crescimento foi o trabalho com Jogos em sala de aula. O caderno de Jogos do PNAIC traz que: De acordo com nossos pressupostos, compreendemos que o jogo em sala de aula não pode ser visto como um mero passatempo. Por esse motivo, com vistas a auxiliar o trabalho pedagógico e ampliar as potencialidades do uso de jogos no desenvolvimento dos conceitos matemáticos, uma série de considerações são necessárias, em particular as que tratam do papel do professor. (BRASIL,2014 p.5) As discussões giraram em torno da importância de uma atividade de jogo bem planejada que prevê espaço, material, tempo e boas intervenções; as questões inerentes ao jogo como movimentação, barulho, competitividade e estar atentas as boas oportunidades de socialização e tematização. Enfim, os encaminhamentos tomados mostraram que trabalhar com jogos nas aulas de matemática é uma excelente ferramenta estratégica de apoio ao processo de aprendizagem. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN s), as atividades com jogos representam um importante recurso pedagógico, já que: Os jogos constituem uma forma interessante de propor problemas, pois permitem que estes sejam apresentados de modo atrativo e favorecem a criatividade na elaboração de estratégias de resolução e busca de soluções. Propiciam a simulação de situações problema que exigem soluções vivas e imediatas, o que estimula o planejamento das ações. (MEC, 1998: p.47) A ideia primordial do meu processo como Orientadora de Estudos era demonstrar com a prática em minha sala de aula o quanto o trabalho com essa ferramenta era positiva. Montei então para minha turma de alunos a Caixa de Jogos e a Caixa Matemática. 3

4 A Caixa Matemática é uma proposta do PNAIC no trabalho com o Sistema de Numeração Decimal (SND): Na Alfabetização Matemática, a compreensão da estrutura do sistema decimal e posicional deve ser uma construção da criança: o aluno vai incorporando tais estruturas como propriedades plenas de significados, à medida em que forem mobilizadas por ele em situações lúdicas. Assim, é fundamental, nessas construções, a ação das crianças sobre seus materiais em situações de quantificação, de forma a seguir certa organização colocada pelo professor, apoiada nas estruturas fundamentais do agrupamento (sempre de dez) e do posicionamento dos números. A importância de colocar os alunos nesta situação de imersos num ambiente de letramento matemático nos leva a indicar que, para iniciar o processo de aprofundar os conhecimentos do SND, é importante organizar materiais que estejam disponíveis para cada aluno sempre que necessário. (BRASIL,2014, p.19) 2. A Caixa de Jogos e a Caixa Matemática A Caixa Matemática foi elaborada a partir das sugestões contidas no material do PNAIC com ideias de outras experiências em sala de aula. Para minha turma do 1º ano e para a formação foi construída uma Caixa Matemática, apesar do material propor que cada aluno tenha a sua caixa, mas contamos sempre com problemas de verba e aquisição de material. Optei por uma única caixa para a turma. Sugestão PNAIC Caixa elaborada para a formação A caixa após ser apresentada para a turma de alunos ficava sempre num lugar de fácil acesso para que os alunos usassem seu material quando percebessem a necessidade de um 4

5 apoio concreto. No começo há de se ter uma constante prática de intervenção do professor quanto a esse uso até que os alunos se apropriem do seu conteúdo. O material da Caixa Matemática contribuiu muito para o trabalho com contagem, sequência numérica e para as situações problema no campo aditivo. Já na formação a Caixa Matemática foi discutida, repensada e muitas professoras alfabetizadoras a levaram para suas salas de aula. Caixas Matemáticas A caixa de Jogos veio das sugestões que o Pacto traz no Encarte de Jogos que faz parte do caderno Jogos na Alfabetização Matemática. O caderno propõe que todo jogo tenha planejamento nas diferentes etapas: Iniciando o Jogo, Durante o Jogo e Depois do Jogo. Mas muito mais que as sugestões do caderno a caixa se constituiu a partir das sugestões das professoras alfabetizadoras que trouxeram suas experiências e práticas de anos anteriores. Alguns jogos trabalhados foram: Cubra e descubra Jogo das tampinhas 5

6 Tapetinho Pintando o sete De grão em grão Jogo das Mãozinhas Os jogos foram vivenciados pelas professoras alfabetizadoras que ao jogarem puderam debater e questionar sobre intervenções e melhores estratégias do uso do jogo em sala de aula. Com a turma de 1 ano os jogos foram apresentados aos poucos sempre para um grupo pequeno de alunos que depois eram desafiados a ensinar outros a jogar. No segundo semestre de 2014 todos os alunos já conheciam e sabiam jogar com autonomia os jogos oportunizados pela Caixa. 3. Considerações finais A formação mostrou o quanto a experiência com a área de Matemática foi traumatizante para a maioria das professoras alfabetizadoras enquanto alunas: muita coisa para memorizar, muito exercício para realizar, muita técnica para exercer. A Matemática não foi significativa e a pergunta ficou no ar: Vou usar isso para quê? Quando? 6

7 Enquanto professoras, preocupadas com sua prática, procuraram uma formação que antes de tudo as fizesse repensar suas metodologias e estratégias pois a Matemática poderia sim ser significativa e prazerosa. Foi primoroso poder acompanhar de perto o que uma formação bem construída e planejada pode proporcionar a um grupo de professoras dispostas a quebrar paradigmas e a fazer diferença na vida de seus alunos. Meus alunos foram a prova disso: aprenderam Matemática enquanto brincaram! 4. Agradecimentos Agradeço as minhas parceiras e professoras alfabetizadoras da turma de 2014 por oportunizarem tanto conhecimento, tanta troca e tanto envolvimento em prol da aprendizagem de seus alunos. Vocês demonstraram que o professor não pode parar no tempo, mas que precisa constantemente rever sua prática, aperfeiçoá-la e se transformar. Agradeço aos meus alunos de ontem e hoje que com seus saberes me constroem diariamente numa professora melhor e por me darem a oportunidade de aprender enquanto ensino. 5. Referências BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: Apresentação. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: Construção do Sistema de Numeração Decimal. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: Jogos na Alfabetização matemática. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB,

8 BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: Encartes. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, KISHIMOTO, T. M. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira, Jogo, brinquedo, brincadeiras e a educação. 4ª Ed. São Paulo, Editora Cortez: MEC Ministério da Educação Secretaria de Educação Fundamental - PCN s Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, SMOLE, Kátia Cristina Stocco. A Matemática na Educação Infantil. A teoria das inteligências múltiplas na prática escolar. Porto Alegre, Editora Artes Médicas:

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