Narrativas de Professores Alfabetizadores sobre o PNAIC de Alfabetização Matemática: Desafios e Possibilidades

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1 Narrativas de Professores Alfabetizadores sobre o PNAIC de Alfabetização Matemática: Desafios e Possibilidades Edicléia Xavier da Costa 1 GD1 Educação Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental. O presente artigo é parte de uma pesquisa que se encontra em fase inicial, com o propósito de constituir fontes orais sobre o PNAIC de Alfabetização Matemática, por meio de relatos dos professores alfabetizadores que participaram da formação desse programa no ano de Este será desenvolvido utilizando como procedimento metodológico a Pesquisa Qualitativa, com abordagem da História Oral Temática. As reflexões realizadas pelos professores a respeito dessas fontes orais serão reorganizadas após o término das transcrições e textualizações. Palavras-chave: Alfabetização Matemática; PNAIC; Narrativas; História Oral. Introdução A Matemática é permeada por algumas crenças que influenciam, de maneira considerável, o ensino por parte do professor e a aprendizagem dos alunos. Ao procurar entender a relação existente entre a prática de sala de aula e as crenças dos professores que ensinam matemática, verificou-se que as concepções tidas por eles quanto à natureza da matemática, a aprendizagem e das habilidades de seus alunos influenciavam significativamente na prática pedagógica desses (THOMPSON, 1997). Além disso, de acordo com José Carlos Miguel (2005), muitas investigações feitas nas escolas têm mostrado que pouco se trabalha com Matemática, no início da escolarização, pois os professores priorizam o trabalho com a aquisição da leitura e da escrita. Com isso, a Alfabetização Matemática fica em segundo plano, e muitas vezes, é tratada de forma descontextualizada. Portanto, o desafio para a formação inicial do professor dos anos iniciais está, de acordo com Nacarato, Mengali e Passos (2009), em criar contextos para a apropriação dos fundamentos da matemática de forma integrada às questões pedagógicas. Em relação à formação continuada, essa deve centrar-se na superação de propostas de cursos pautados apenas em sugestões de abordagens práticas para a sala de aula, que pouco têm contribuído para a formação profissional docente. Nesse sentido, há de se pensar em uma formação que viabilize a compreensão dos conceitos teóricos articulados aos metodológicos. 1 Universidade Federal do Paraná, edicleiaxavier@ig.com.br, orientador: Dr. Carlos Roberto Vianna.

2 Nessa perspectiva, é objeto deste estudo a constituição de narrativas sobre o PNAIC de Alfabetização Matemática, a partir das falas de professores alfabetizadores do município de São José dos Pinhais, que participaram desse programa de formação. Neste estudo, pretende-se também: Verificar indícios das orientações do PNAIC de Matemática na prática de professores alfabetizadores. Perceber se os professores alfabetizadores passaram a adotar, em sala de aula, as orientações teóricas e práticas sugeridas pelo PNAIC. O PNAIC de Alfabetização Matemática O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa PNAIC é um compromisso formal estabelecido entre o governo federal com os estados e municípios brasileiros com objetivo de alfabetizar todos os alunos do ciclo de alfabetização até os 8 anos de idade, principalmente em Língua Portuguesa e em Matemática (BRASIL, 2012). Esse programa atua em quatro eixos fundamentais: Formação Continuada de Professores Alfabetizadores, Materiais Didáticos e Pedagógicos, Avaliações e Gestão, Controle e Mobilidade Social, responsabilizando todos os envolvidos. Nesse trabalho a abordagem do PNAIC será em relação à formação continuada de professores alfabetizadores que atuam nas redes públicas municipais de ensino. Essa formação é conduzida por professores Orientadores de Estudos, que recebem a formação por meio das Instituições de Ensino Superior (IES), através de professores formadores. Nos municípios, os orientadores de estudos é que são os multiplicadores desse programa. Em 2013, o PNAIC se voltou para Alfabetização e Linguagem, trabalhando detalhadamente com conceitos de Língua Portuguesa, para o Ciclo de Alfabetização. Enquanto que em 2014, o foco do PNAIC foi Alfabetização Matemática na perspectiva do Letramento, avançando para os conceitos da área de Matemática, sem desconsiderar a formação do ano anterior. No estado do Paraná (PR), as instituições responsáveis pelas formações dos orientadores de estudos são a Universidade Federal do Paraná, a qual o município de São José dos Pinhais está vinculado, a Universidade Estadual de Ponta Grossa e a Universidade Estadual de Maringá.

3 Durante o ano de 2014, foram trabalhados com os Orientadores de Estudos, 11 cadernos de formação com as seguintes temáticas: Organização do trabalho pedagógico; Quantificação, registros e agrupamentos; Construção do sistema de numeração decimal; Operações na resolução de problemas; Geometria; Grandezas e medidas; Educação estatística; Saberes matemáticos e outros campos do saber; Educação matemática no campo; Educação matemática inclusiva; Jogos na educação matemática. O PNAIC é um curso presencial de dois anos para os professores alfabetizadores, com carga horária de 120 horas por ano, com base no programa Pró-Letramento, cuja metodologia propõe estudos teóricos e atividades práticas para o Ciclo de Alfabetização. (BRASIL, 2013). Por ser tratar de um curso de longa duração, repassado por orientadores de estudos que são professores da rede local e que traz situações que proporcionam ao professor refletir e repensar sobre a sua própria prática, pretende-se ouvir o professor falar sobre suas experiências com o PNAIC, apontando avanços que o programa já proporcionou em relação ao processo de ensino e aprendizagem ou desafios que deverá superar. Breve Referencial Teórico Segundo Thompson (1997), em Matemática, as concepções de professores sobre o conteúdo e seu ensino influenciam consideravelmente em relação à eficiência do trabalho com essa área. Com isso, a formação inicial necessita reconstruir saberes matemáticos de futuros professores com objetivo de revisá-los e ampliá-los, em contextos exploratórios. Neste sentido, os processos de formação de professores têm como desafio valorizar o conhecimento do professor, levando-o a ressignificar permanentemente sua prática e seus saberes, considerando-os como sujeitos do conhecimento, atores que desenvolvem e possuem teorias, conhecimentos e saberes de sua própria ação (TARDIF, 2002). Entretanto, alguns cursos centrados em sugestões de novas abordagens para a sala de aula pouco têm contribuído para a formação profissional docente; é necessário que a prática dos professores seja objeto de discussão. As práticas pedagógicas que forem questionadas, refletidas e investigadas poderão contribuir para as mudanças de crenças e saberes dos professores (NACARATO; MENGALI & PASSOS, 2009).

4 Segundo Ponte (2002), a investigação sobre a própria prática, ajuda os professores a se tornarem protagonistas do processo de ensino, na medida em que participam da construção dos conhecimentos do trabalho docente e do patrimônio cultural do qual fazem parte. Além disso, uma investigação feita por Curi (2004), a respeito dos planos de ensino de universidades, constatou que os conhecimentos de Matemática são pouco enfatizados, mesmo no que se refere aos conteúdos que deverão ser ensinados, nos anos iniciais. Dentre os conhecimentos que os professores dos anos iniciais devem ter, destaco o conhecimento sobre como se dá o ensino de Alfabetização Matemática, na perspectiva do letramento, passando a discorrer sobre esse assunto. Segundo os Direitos de Aprendizagens, a alfabetização pode ser entendida sobre dois aspectos: no sentido stricto a partir da apropriação do Sistema de Escrita Alfabética e no sentido lato, a qual supõe os conhecimentos sobre as práticas, usos e funções da leitura e da escrita, o que implica o trabalho com todas as áreas curriculares. Dessa forma, a alfabetização, em sentido lato, se relaciona ao processo de letramento, envolvendo as vivências culturais mais amplas (BRASIL, 2012). Sobre essa ótica, definimos a alfabetização matemática, como a ação inicial de ler e escrever matemática, ou seja, de compreender e interpretar seus conteúdos básicos, bem como saber expressar-se através de sua linguagem específica. Como afirma Danyluk (1988), ser alfabetizado em matemática é entender o que se lê e escrever o que se entende a respeito das primeiras noções de aritmética, geometria e lógica. Porém, a Alfabetização Matemática, na perspectiva do Letramento, será entendida como o conjunto das contribuições da Educação Matemática no Ciclo de Alfabetização, para a promoção da apropriação pelos aprendizes de práticas sociais de leitura e escrita de diversos tipos de textos, práticas de leitura e escrita do mundo, não se restringindo ao ensino do Sistema de Numeração e das quatro operações aritméticas fundamentais, contemplando também relações com o espaço e forma, processos de medição, registro e uso de medidas, bem como estratégias de produção, leitura e análise de informações (BRASIL, 2012). Segundo Machado (1990), a Linguagem Matemática está totalmente interligada com a Língua Materna, por meio da oralidade, seja na interpretação e na representação da realidade, sendo assim, a escola não poderá trabalhá-las de maneira isolada, pois fora da

5 escola, nos deparamos com uma linguagem mista, em que elas aparecem articuladas entre si. No entanto, para estabelecer conexões entre a Linguagem Matemática com a Língua Materna, a Alfabetização Matemática deverá utilizar-se de um trabalho de comunicação, contextualização, leitura, escrita e, acima de tudo, do envolvimento do aluno na construção do conhecimento (MACHADO, 1990). Portanto, a visão que se propõe neste estudo pretende ir além da Alfabetização Matemática proposta por Danyluk (1988): procurará enfocar os aspectos sociais que envolvem a escrita matemática, incluindo as diversas possibilidades de representação, no mesmo caminho dos estudos na área de letramento. A discussão sobre as demandas e as responsabilidades do ensino de Matemática para a promoção da alfabetização, na perspectiva do Letramento é necessária, visto que o processo de alfabetização é complexo, surge assim, a importância da Formação Continuada dos Professores. De acordo com a proposta do PNAIC o professor alfabetizador deve ser tratado como um profissional em constante formação, não só na área de Língua Portuguesa, mas em todas que fazem parte do ciclo de alfabetização (1º, 2º e 3º anos), nesse caso, destaca-se a formação para o ensino de Matemática. Os princípios norteadores que constam no documento do PACTO, quanto à formação continuada, elencam-se em: a prática da reflexividade, a constituição da identidade profissional, a socialização, o engajamento e a colaboração. Princípios estes que norteiam um programa que objetiva cumprir um compromisso formal assumido entre Governo Federal, Estados, Municípios e sociedade, de assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas até os 8 anos de idade, ao final do 3º ano, do Ensino Fundamental. (BRASIL, 2012). Metodologia da Pesquisa A ação de pesquisar professores alfabetizadores, que participaram do PNAIC de Alfabetização Matemática, aponta para várias direções, dentre as quais enfocarei a reflexão sobre as práticas pedagógicas desses desenvolvidas nos anos iniciais.

6 A pesquisa proposta utilizará a abordagem qualitativa por meio da metodologia da História Oral. Segundo Garnica (2003), essa se utiliza de depoimentos orais recolhidos de pessoas escolhidas pelo pesquisador. Na pesquisa qualitativa, observa-se, diretamente, como cada indivíduo, grupo ou instituição experimenta concretamente a realidade, focando no objeto de estudo e não na quantificação dos dados. Sendo assim, a investigação das experiências de professores alfabetizadores envolverá diferentes aspectos ligados à vivência profissional, falas, argumentações e outros, que a tornam aptas para a realização de uma pesquisa qualitativa. Nessa, a História Oral terá o papel de constituir fontes a partir das narrativas dos professores entrevistados, além de apresentar um panorama sobre o PNAIC. Com isso, pretende-se realizar uma entrevista orientada por meio de palavras-chaves em que o professor alfabetizador falará livremente sobre o PNAIC podendo ou não se utilizar dessas, por meio de uma conversa com a entrevistadora. Posteriormente serão feitas a transcrição e a textualização das entrevistas. Assim, nada melhor do que ouvir o professor falar sobre a sua prática pedagógica, seus avanços e suas dificuldades. Nessa pesquisa, serão entrevistados até cinco professores, de escolas do município de São José dos Pinhais, que atuam há mais de seis anos preferencialmente no ciclo de alfabetização, que participaram do PACTO de Matemática, que participaram nos últimos três anos de cursos de formação Continuada de longa duração voltado para os anos iniciais, ou seja, participantes do Pró-letramento ou do PNAIC de Língua Portuguesa e do PNAIC de Matemática, por considerar que esse grupo já tem histórico de capacitações com longa duração e compreendem a importância da Formação Continuada, além de terem manifestado interesse e disposição para participar deste estudo. Dessa forma, objetiva-se saber as impressões que tais profissionais têm sobre o PNAIC e indícios desse na prática pedagógica deles. Para contextualizar o tema utilizarei registros do que vêm se mantendo presente no campo de pesquisa da Educação Matemática, em relação à formação do professor que ensina matemática nos anos iniciais: livros, dissertações, teses, artigos e demais pesquisas que tratem do tema em questão. Em síntese, nessa pesquisa buscarei compreensões e interpretações possibilitadas pelo estudo de documentos oficiais, pela literatura, através dos autores que pesquisam sobre o tema e pela fala dos docentes que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A busca

7 será pelas características essenciais que tratem sobre a formação continuada e prática de professores que ensinam Matemática nos anos iniciais. Considerações sobre o andamento da pesquisa A pesquisa encontra-se em fase inicial, porém já tem estabelecido o objeto de estudo. A pesquisadora encontra-se em fases de leituras dos materiais bibliográficos e tendo contato com a metodologia da História Oral. Posteriormente o projeto caminhará para a fase das entrevistas e depois para as transcrições e textualizações. Paralelo a isso, está sendo feito um levantamento de bibliografias sobre o uso de Narrativas de professores em sala de aula e sobre a Alfabetização Matemática na perspectiva do Letramento, conforme estabelecida no PNAIC. REFERÊNCIAS ARAÚJO, J.; BORBA, M.C. Pesquisa qualitativa em educação matemática: História Oral e Educação Matemática. 2ª Edição. Belo Horizonte: Autêntica, BRASIL. Secretaria da Educação Básica. Elementos conceituais e metodológicos para definição dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento do ciclo de alfabetização (1º, 2º e 3º anos) do ensino fundamental. Brasília: MEC, SEB, BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio á Gestão Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: Apresentação/ Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, CURI, E. Formação de professores polivalentes: uma análise de conhecimentos para ensinar Matemática e de crenças e atitudes que interferem na constituição desses conhecimentos f. Tese (Doutorado em Educação Matemática)- PUC-SP, São Paulo, DANYLUK, O. S. Um estudo sobre o significado da alfabetização matemática f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, FIORENTINI, D.; LORENZATO, S. Investigação em Educação Matemática: percursos teóricos e metodológicos. 1ª Edição. Campinas: Autores Associados, GARNICA, A. V. M. História Oral e Educação Matemática: do inventário à regulação. Zetetiké, Campinas, v.11, n.19, p. 9-55, jan/jun MACHADO, N. J. Matemática e Língua Materna: análise de uma impregnação mútua. 1ª Edição. São Paulo: Cortez, 1990.

8 NACARATO, A. M.; MENGALI, B. L.S.; PASSOS, C. L. B. A matemática nos anos iniciais do ensino fundamental: tecendo fios do ensinar e do aprender. 1ª Edição. Belo Horizonte: Autêntica, TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 1ª Edição. Petrópolis, RJ: Vozes, THOMPSON, A. G. A relação entre concepções de matemática e o ensino de matemática de professores na prática pedagógica. Zetetiké, Campinas, v.5. n. 8, p.11-44, jul./dez, 1997.