PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Osasco, em que são agravantes IRACY BARRETO DE SOUZA (ESPÓLIO), DELFINO DE SOUZA, ELENI DA SILVA, ELISÂNGELA CECÍLIA DA SILVA e ANTÔNIO LOURENÇO DE SOUZA, são agravados PALMIRA FELIZA QUELHAS DOS SANTOS e JOSÉ ROBERTO MARTINS. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 27ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores DAISE FAJARDO NOGUEIRA JACOT (Presidente) e MOURÃO NETO. São Paulo, 31 de agosto de Ana Catarina Strauch Relator Assinatura Eletrônica

2 Agravo de Instrumento nº: Agravantes: Espólio de Iracy Barreto de Souza e Outros Agravados: Palmira Feliza Quelhas dos Santos e Outro Juízo de 1º Inst.: 2º Vara Cível de Osasco Magistrada de 1º Inst.: Juliana Nishina de Azevedo VOTO Nº 8210 AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO DE EXECUÇÃO DE ALUGUÉIS E OUTROS ENCARGOS Espólio não comprovou a contento a hipossuficiência econômica. Benefícios da gratuidade corretamente indeferidos Utilização da Tabela IBAPE deve prevalecer em face dos dados da FIPE/ZAP no que diz respeito à avaliação de bem imóvel destinado à alienação judicial, por utilizar-se de critérios mais condizentes com o real valor do bem Decisão mantida RECURSO DESPROVIDO Vistos. Trata-se de AGRAVO DE INSTRUMENTO, com pedido de efeito suspensivo, interposto por Espólio de Iracy Barreto de Souza e Outros, nos autos da AÇÃO DE EXECUÇÃO DE ALUGUÉIS E OUTROS ENCARGOS que lhes movem Palmira Feliza Quelhas dos Santos e Outro, contra a decisão interlocutória que indeferiu aos executados os benefícios da Justiça Gratuita, bem como homologou o laudo de avaliação do imóvel penhorado, atribuindo-lhe o valor de R$ ,00. Inconformados, os executados agravam, pleiteando a gratuidade da Justiça e impugnando o laudo de avaliação do imóvel constrito nos autos, argumentando que se encontra subvalorizado. Assinalam que o correto seria a utilização dos fundamentos divulgados pela FIPE/ZAP, e não o critério previsto na Tabela IBAPE, tal como utilizado pelo perito nomeado pelo Juízo. Liminarmente, requereram a benesse da gratuidade e a suspensão do procedimento executivo. Esta Relatora concedeu parcialmente a liminar recursal, apenas e tão somente para sustar os atos tendentes à alienação do imóvel. No mais, foi Agravo de Instrumento nº Voto nº

3 determinado aos agravantes que comprovassem a situação de hipossuficiência econômica mediante a juntada de documentação pertinente (fls. 98/99). da CTPS do inventariante (fls. 104/107). Os agravantes, por sua vez, colacionaram apenas uma parte Não houve apresentação de contraminuta (fl. 108). Vieram os autos conclusos. É o relatório. Pois bem. O presente agravo de instrumento não comporta provimento. Com efeito, tem-se que a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso LXXIV, dispõe que a assistência jurídica integral e gratuita será prestada, pelo Estado, em favor daqueles que comprovarem insuficiência de recursos. Considerando-se esta premissa legal, atrelada aos preceitos dos arts. 98 e ss. do CPC e da Lei nº 1.060/50, na parte que não foi revogada, cabe ao Magistrado analisar as provas acostadas aos autos, de modo a concluir se são hábeis a demonstrar o preenchimento dos requisitos pessoais da parte que postula o benefício em questão. Contudo, a presunção que emerge da declaração de pobreza e do 3º do art. 99, do CPC/2015, é juris tantum, isto é, passível de ser elidida diante de prova em sentido contrário. Tal preceito é normativo, como bem delineado pelo 2º deste mesmo dispositivo legal: O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos. Agravo de Instrumento nº Voto nº

4 In casu, o conjunto probatório acostado aos autos (fls. 104/107) não corrobora a alegação de hipossuficiência do Espólio agravante (sequer serve para comprovar do próprio inventariante). A despeito da determinação desta Relatora, os agravantes se limitaram a trazer trecho mal copiado e incompleto da CTPS do Inventariante. Desta feita, elide-se a presunção de pobreza dos recorrentes, não se justificando, pois, a concessão da justiça gratuita. Noutro giro, no que concerne à impugnação dirigida à avaliação pericial do imóvel constrito nos autos, a r. decisão agravada também acertou em sua conclusão. Isto porque os agravantes intentam aplicar como parâmetro de avaliação os dados dispostos pela FIPE/ZAP, os quais conhecidamente não tratam de forma pormenorizada dos critérios e métodos utilizados para elaborar a conclusão necessária para a causa em apreço. Isto significa dizer que o critério utilizado pelo Perito Judicial (Tabela IBAPE) é o mais apropriado para a hipótese, pois ancorado em bases científicas que trazem maior exatidão à conclusão acerca do real valor do bem imóvel objeto do exame. funda nas mesmas bases, assim decidiu esta C. Câmara: Sobre o tema, em caso semelhante ao presente, mas que se APELAÇÃO. Locação de imóvel não residencial. Ação renovatória julgada procedente. Recurso somente da ré. Julgamento convertido em diligência para nova perícia com a adoção do método renda, encontrando valor bem superior ao fixado na r. sentença. Laudo pericial impugnado pela ré. Alegação de inexistência de elementos contemporâneos à data-base da avaliação; aplicação do IGP-M/FGV, índice de atualização monetária indevido ao invés do FIPE/ZAP e Agravo de Instrumento nº Voto nº

5 utilização como parâmetro de fator área, de imóveis com metragem inferior ao bem avaliado. Impugnações infundadas. Inviabilidade de obtenção de amostras contemporâneas. Defasagem dos paradigmas utilizados que não causou prejuízo à locatária, porquanto aplicados os critérios estabelecidos pelo IBAPE que leva em consideração todas as variáveis previstas na norma NBR Inaplicabilidade do índice FIPE ZAP para os fins de atualização monetária, pois ele não trata especificamente da localidade em questão e nem leva em consideração as particularidades do imóvel e nem o seu estado de conservação, singularidades essenciais à eficácia do resultado pericial. Elementos comparativos com metragens inferiores. Irrelevância. Fatores de homogeneização obtidos mediante cálculos com utilização de metodologia científica (item IBAPE). Adoção do valor do aluguel obtido no laudo oficial. Impugnação afastada. - Sucumbência. Impossibilidade de manutenção da condenação da ré. Valor fixado a título de aluguel que se distanciou daquele oferecido pela autora, mais próximo do proposto pela locadora. Aplicação do princípio da causalidade. Sucumbência invertida. Sentença modificada. RECURSO PROVIDO (Apelação n , Rel. Des. Sérgio Alfieri, julgado em 07/02/2017). Portanto, diante das peculiaridades do caso em tela, aliadas ao conjunto probatório acostado aos autos, tem-se que foi proferida com absoluto acerto a decisão de Primeiro Grau, devendo permanecer incólume, tal como lançada. RECURSO. Por esses fundamentos, NEGO PROVIMENTO AO ANA CATARINA STRAUCH Relatora (assinatura eletrônica) Agravo de Instrumento nº Voto nº