LÍNGUA PORTUGUESA I. Professora Me. Juliana Carla Barbieri. GRADUAÇÃO Unicesumar

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1 LÍNGUA PORTUGUESA I Professora Me. Juliana Carla Barbieri GRADUAÇÃO Unicesumar

2 Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; BARBIERI, Juliana Carla. Língua Portuguesa I. Juliana Carla Barbieri. (Reimpressão revista e atualizada) Maringá-Pr.: UniCesumar, p. Graduação - EaD. 1. Língua Portuguesa. 2. Estudos. 3. Fonética. 4. Fonologia. 5. EaD. I. Título. ISBN Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB CDD - 22 ed CIP - NBR AACR/2 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção Operacional de Ensino Kátia Coelho Direção de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Direção de Operações Chrystiano Mincoff Direção de Mercado Hilton Pereira Direção de Polos Próprios James Prestes Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida Direção de Relacionamento Alessandra Baron Gerência de Produção de Conteúdo Juliano de Souza Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Coordenador de Conteúdo Fabiane Carniel Design Educacional Camila Zaguini Silva Fernando Henrique Mendes Rossana Costa Giani Iconografia Amanda Peçanha dos Santos Ana Carolina Martins Prado Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa André Morais de Freitas Editoração André Morais de Freitas Revisão Textual Jaquelina Kutsunugi, Keren Pardini, Maria Fernanda Canova Vasconcelos, Nayara Valenciano, Rhaysa Ricci Correa e Susana Inácio Ilustração Robson Yuiti Saito

3 Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos farão grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada.

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5 Diretoria de Planejamento de Ensino Diretoria Operacional de Ensino Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): Os homens se educam juntos, na transformação do mundo. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo provocar uma aproximação entre você e o conteúdo, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica.

6 AUTOR Professora Me. Juliana Carla Barbieri Mestre em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (2010). Possui experiência em filologia, morfologia e sintaxe de línguas latina, grega e portuguesa. Desenvolveu pesquisas na área de Cultura Clássica (língua e literatura) com enfoque em tradução de trechos das Metamorfoses de Ovídio. Realizou também pesquisas na área de Descrição Linguística com enfoque em sintaxe de perscpectiva discursivo-funcional: Hengeveld (1996; 1998) e Hengeveld e Mackenzie (2008). Atua, principalmente, no estudo dos usos da morfossintaxe da língua portuguesa (arcaíca e atual).

7 APRESENTAÇÃO LÍNGUA PORTUGUESA I SEJA BEM-VINDO(A)! Caro(a) aluno(a), é com grande satisfação que, por meio deste livro, apresento a você importantes reflexões acerca da Língua Portuguesa. Espero que esta leitura constitua também um convite a novas reflexões e, ao mesmo tempo, lhe ofereça subsídios capazes de lhe direcionar na busca de novos posicionamentos frente aos desafios suscitados por essa disciplina, tão importante para o processo de formação do docente. O estudo da Língua Portuguesa proposto neste material procura reunir as abordagens tradicionais e novas perspectivas de análise linguística. Nessa perspectiva, buscar-se-á analisar aspectos referentes à fonética, à fonologia, à prosódia, à morfologia derivacional, bem como à morfologia inflexional a partir do viés tradicional - dadas as valiosas contribuições para a descrição do português - com vistas ao alcance de uma análise mais funcional, que contemple situações reais de interação comunicativa. Tais situações, por seu turno, acabam por indicar uma série de incoerências e limitações das abordagens canônicas, o que, por conseguinte, justifica uma análise mais coerente e exaustiva dos fenômenos linguísticos em descrição. Por outro lado, o estudo desses mesmos fenômenos suscitará também questões de natureza sintática, semântica e pragmática (que serão estudadas nos livros subsequentes), uma vez que os diferentes níveis de análise linguística não são estanques, mas, interagindo entre si, acabam protagonizando um processo de determinação recíproca. Com relação à forma de organização, o presente material didático está disposto em cinco unidades. Na primeira, discutem-se questões referentes à fonética e à fonologia, tais como o aparelho fonador, a produção da fala, os processos de formação dos sons e a fonação, de modo a relacioná-los, posteriormente, à prosódia e, por conseguinte, às convenções da escrita. Na segunda unidade, definem-se os conceitos tradicionais, bem como as novas propostas de análise para o estudo dos constituintes, genericamente denominados morfemas, responsáveis pela estruturação das palavras. Na terceira unidade, analisam-se os desdobramentos das relações desses mesmos constituintes, por meio dos processos de formação de palavras cuja análise apresenta perspectiva bifronte: a derivação e a composição. Na quarta unidade, estudam-se os aspectos referentes à morfologia inflexional, com enfoque nas chamadas categorias variáveis, das quais fazem parte o verbo, o substantivo, o adjetivo, o pronome, o artigo e o numeral. Na quinta e última unidade, o foco recai sobre as categorias invariáveis das quais fazem parte a preposição, a conjunção, o advérbio e a interjeição, cujo status de categoria tem sido frequentemente questionado com o avanço das últimas pesquisas.

8 APRESENTAÇÃO Ao final de cada unidade há algumas propostas de atividades com o objetivo de promover a reflexão linguística, sem, no entanto, limitar o processo a uma simples rotulação à luz da nomenclatura gramatical, para que, assim, você possa expandir seus conhecimentos na observação de diferentes usos linguísticos e em diferentes contextos. No mais, procure refletir sobre os assuntos discutidos e, sempre que possível, anotar suas dúvidas. Além disso, não deixe de realizar as atividades de autoestudo, pois elas serão fundamentais para a compreensão dos conteúdos estudados. Desde já desejo a você uma boa leitura e ótimos estudos.

9 SUMÁRIO 09 UNIDADE I FONÉTICA, FONOLOGIA E PROSÓDIA 15 Introdução 16 Os Sons da Linguagem Humana: Fonética 26 Fonologia e Prosódia 28 Convenções de Escrita da Língua Portuguesa 37 Considerações Finais UNIDADE II MORFOLOGIA: CONCEITOS E CATEGORIAS 45 Introdução 46 Morfema e Morfe 48 Morfema Zero 49 Alomorfe 50 O Morfema e a Palavra 58 Considerações Finais

10 SUMÁRIO UNIDADE III MORFOLOGIA DERIVACIONAL: OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS 63 Introdução 65 Derivação 69 Composição 75 Considerações Finais UNIDADE IV MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS 81 Introdução 82 Morfologia Inflexional: as Categorias de Palavras Variáveis 82 Verbo 83 Aspectos Morfológicos, Sintáticos e Semânticos 84 Conjugação 92 Substantivo 94 A Questão das Flexões 97 Adjetivo 98 A Questão as Flexões 100 Pronome 107 Artigo 109 Numeral 112 Considerações Finais

11 SUMÁRIO 11 UNIDADE V MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS INVARIÁVEIS 117 Introdução 118 A Junção 118 Preposição 123 Conjunção 136 Advérbio 141 Considerações Finais 145 CONCLUSÃO 146 GABARITO 155 REFERÊNCIAS

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13 Professora Me. Juliana Carla Barbieri FONÉTICA, FONOLOGIA E PROSÓDIA UNIDADE I Objetivos de Aprendizagem Conceituar a Fonética e a Fonologia. Identificar o processo de produção dos sons, sejam eles vogais ou consoantes. Analisar as relações entre a fonologia e o sistema prosódico do português. Estudar as convenções de escrita da Língua Portuguesa. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: Os sons da linguagem humana: fonética e fonologia Consoantes Lugar de articulação Articuladores Modo de articulação Vozeamento Vogais Processo de formação Nasalização Fonologia e prosódia Fonemas As relações entre os sistemas fonológico e ortográfico

14 Convenções de escrita da língua portuguesa Acentos gráficos A formação e a divisão silábica Ditongos, tritongos e hiatos Estrutura silábica do português

15 15 INTRODUÇÃO A preocupação com os sons das línguas naturais e, por extensão, da língua portuguesa remonta há séculos, sobretudo pela estreita relação entre esses mesmos sons e suas representações gráficas. Essa questão se torna ainda mais evidente no âmbito escolar, onde professores e alunos têm se esforçado continuamente para superar os verdadeiros desafios de ordem fono-ortográfica que perpassam o processo de aquisição da escrita e da leitura. Diante da relevância do assunto, principalmente no diz respeito ao processo de ensino-aprendizagem, ao longo desta unidade você estudará os conceitos referentes à ciência da Fonética e da Fonologia, representantes dos estudos concernentes aos sons da linguagem humana. Assim, primeiramente, o material apresentará uma breve explicação sobre os traços distintivos que separam a Fonética da Fonologia. Terminada essa primeira etapa, passaremos, então, ao estudo das Consoantes no que diz respeito à produção dos sons que lhes são próprios. Para tanto, você estudará os principais aspectos referentes ao chamado Lugar de articulação, bem como aos articuladores propriamente ditos e aos modos de articulação. Na sequência, passaremos ao estudo das Vogais que seguirá, de modo geral, a mesma metodologia utilizada para o estudo das consoantes. Analisaremos, por exemplo, a posição da língua na formação das vogais e a questão da nasalização. Esse estudo está relacionado ao que lhe é imediatamente sucedâneo, ou seja, o que leva em consideração a relação entre o sistema fonológico e o ortográfico da Língua Portuguesa. Surgem, nesse afã, as noções de fone e fonema e suas implicações para a escrita. Você verificará também por que não há correspondência total entre os sons da fala e as representações escritas e, por conseguinte, fará uma análise detalhada das convenções de escrita adotadas para o Português. Apresentaremos também as relações entre o sistema fonológico e as convenções de acentuação, de modo a exemplificar como a escrita procura reproduzir, o mais fiel possível, nuances de sons para as quais não há letras específicas. Ao final, trataremos dos padrões das sílabas em português, desde sua definição até o registro das ocorrências possíveis. Introdução

16 I OS SONS DA LINGUAGEM HUMANA: FONÉTICA A fonética e a fonologia são duas áreas da linguística cujos principais objetos de estudo são os sons da fala. Embora ambas analisem esses sons, elas o fazem de maneira diferente. Traçar uma linha divisória é, por vezes, uma tarefa complexa, visto que, muitas vezes, os conceitos de fonética e fonologia estão entrelaçados. Entretanto, há algumas características que possibilitam diferenciá-las: A fonética trabalha os constituintes do discurso segmentados no nível mais profundo, quando ainda estão desprovidos de significado; em outras palavras, a fonética trata da natureza física da produção e da percepção dos sons da fala, os quais são denominados fones. Assim, a fonética tem por objetivo descrever a formação dos sons da linguagem humana no aparelho fonador, sua transmissão, sua recepção e decodificação. A respeito de sua fundação, Mattoso Câmara (1977, p. 52) diz o seguinte: Criou-se assim a disciplina da fonética em bases objetivas e sólidas, mas quase exclusivamente articulatórias, ou motoras, isto é, focalizando os movimentos dos órgãos fonadores e não a impressão acústica. Estabeleceu-se com isso uma grande objetividade, que podemos chamar naturalística porque se procurava depreender o fenômeno natural da produção do som. Para isso desenvolveu-se uma técnica baseada num grande apuro auditivo: uma vez ouvido o som, o foneticista passa a reproduzi-lo e analisa introspectivamente os movimentos que tem de fazer para consegui-lo. A fonologia se preocupa com a maneira como os sons da linguagem humana se organizam dentro de uma língua, classificando-os em unidades capazes de distinguir significados, chamadas fonemas. Unidade mínima da fonética: fone. Unidade mínima da fonologia: fonema. Vejamos, agora, algumas características gerais dos sons da linguagem humana: FONÉTICA, FONOLOGIA E PROSÓDIA

17 17 CONSOANTES Um fone é classificado como consoante quando em sua articulação ocorre uma obstrução, total ou parcial, em um ou vários pontos do conduto vocal. Se a obstrução do aparelho fonador é total, são produzidas as chamadas plosivas: durante a sua articulação, o ar primeiramente é retido e depois liberado repentinamente, o que causa uma pequena explosão. pato, bola, tatu, dado, casa, gato Se a obstrução do aparelho fonador é parcial, gerando um grande impedimento à passagem do ar pela boca, é produzida fricção, resultando nas fricativas. sol, faca, bolha, vaso, terra Quando se descreve as consoantes, é preciso levar em conta algumas características: 1. o lugar onde ocorre o estreitamento ou a obstrução (lugar de articulação); 2. o órgão móvel responsável pelo estreitamento ou pela obstrução (articulador); 3. o tipo de formação do estreitamento e de abertura da obstrução (modo de articulação); 4. o vozeamento. Vejamos agora uma imagem do aparelho fonador e, em seguida, uma imagem da glote: Os Sons da Linguagem Humana: Fonética

18 I Arcada alveolar Palato duro Palato mole Fonte: autor Lábio Dentes Lábio Língua Maxilar inferior Epiglote Úvula Laringe Faringe Cordas vocais a. Cartilagem tiroide b. Cartilagem cricoide c. Cartilagens aritenoides d. Cordas vocais Fonte: elaborado pela autora Imagem esquemática da glote Fonte: < FONÉTICA, FONOLOGIA E PROSÓDIA

19 19 Vejamos com mais detalhes os processos de formação das consoantes: LUGAR DE ARTICULAÇÃO Cada consoante possui um lugar exato em que ocorre o seu estreitamento ou a sua obstrução máxima, e que é denominado lugar de articulação. A mandíbula superior é a parte fixa do aparelho fonador, sendo um local importante para a formação dos sons. Vejamos os lugares de articulação dos fonemas do português: a. Bilabial: as consoantes bilabiais são formadas pela interação entre o lábio superior e o inferior. Como exemplos, temos a nasal [m] e as plosivas [p] e [b]: moda, tema, pipa, papo, bala, boliche b. Lábio-dental: consoantes lábio-dentais são articuladas pela interação entre o lábio inferior e os dentes incisivos superiores. As fricativas [f] e [v] são exemplos de consoantes lábio-dentais: alfafa, fofo, vento, viver c. Alveolar: as consoantes alveolares são produzidas com a parte anterior da língua em contato ou próxima aos alvéolos dos dentes incisivos superiores. Como exemplos, temos a consoante nasal [n], as plosivas [t] e [d], as fricativas [s] e [z], o tepe [r] e a aproximante lateral [l]: nada, nojo, tempo, teto, dia, dedo, saci, arara, areia, lado, tela d. Palato-alveolar: as consoantes palato-alveolares são formadas por uma constrição na região imediatamente posterior aos alvéolos dentais. Como exemplos, temos as consoantes [ ] e [Ȝ]: chá, xisto, veja, gênio e. Palatal: as consoantes palatais são articuladas com a parte central da língua pressionada contra o palato duro, criando uma forte constrição. Exemplos são a consoante nasal [n], a aproximante [j] e a aproximante lateral [λ]: cozinha, pamonha, pai, feijão, palhaço, lhama Os Sons da Linguagem Humana: Fonética

20 I f. Velar: as consoantes velares são produzidas com a parte posterior da língua (também conhecida como dorso da língua) contra o palato mole (também conhecido como véu palatino). Como exemplo, citam-se a consoante nasal [ŋ] e as plosivas [k] e [g]: tem, tanga, colo, boca, gato, fogo g. Glotal: as consoantes glotais são articuladas com a glote. Como exemplo, temos a fricativa [h]: terra, rato ARTICULADORES Os articuladores são os órgãos fonadores que produzem as consoantes, processo esse que é realizado pela interação entre os articuladores superiores (lábio superior, incisivos superiores, alvéolos superiores, as diferentes zonas do palato duro, as diferentes zonas do palato mole, a úvula e parede faringal) e os articuladores inferiores (lábio inferior, ponta da língua, diferentes zonas do dorso da língua, raiz da língua, epiglote e glote). Os órgãos articuladores intervêm na passagem do ar que vem da laringe e, por meio dos seus movimentos, alteram a forma das cavidades de ressonância, conferindo às consoantes o seu timbre característico. Vejamos, na sequência, uma explicação mais detalhada dos diferentes órgãos articuladores: a. Labial: os lábios inferiores e a língua desempenham um importante papel nos processos de estreitamento e de obstrução do aparelho fonador. Os lábios inferiores, em conjunto com os lábios superiores, provocam uma obstrução, formando as oclusivas bilabiais [p] e [b]. Os lábios inferiores, juntamente com os dentes superiores, provocam um estreitamento do aparelho fonador, produzindo as fricativas lábio-dentais [v] e [f]: ponto, tipo, bola, beber, vida, dever, ficar, folha b. Coronal: a parte anterior da língua, ao se mover contra a parte superior da cavidade bucal, forma as consoantes coronais. Como exemplos, citamse as consoantes [n], [t], [d], [s], [z], [ ], [Ȝ], [ſ] e [l]: nove, tudo, dez, cem, zunir, chá, já, caro, litro FONÉTICA, FONOLOGIA E PROSÓDIA

21 21 c. Dorsal: as consoantes formadas com a parte posterior da língua contra o palato são denominadas dorsais. Como exemplos, temos as consoantes [k] e [g]: queijo, vaca, gol, mago MODO DE ARTICULAÇÃO O modo de articulação é a forma como as consoantes são articuladas. Algumas são realizadas com um impedimento da passagem do ar, outras com a soltura abrupta do ar retido, e ainda outras, pela modificação do caminho pelo qual o ar passa. Para um mesmo lugar de articulação, pode haver vários modos de articulação e, deste modo, podem existir várias consoantes homorgânicas, ou seja, consoantes formadas num mesmo lugar de articulação. Os modos de articulação se dividem em dois grandes grupos: a. Obstruentes: no caso das consoantes obstruentes, há um forte obstáculo à passagem do ar pelo aparelho fonador durante a sua articulação. Fazem parte deste grupo as plosivas e as fricativas. Uma característica importante deste grupo é o fato de seus componentes poderem ser surdos ou sonoros. Há, a seguir, explicações sobre os modos de articulação das consoantes que pertencem a este grupo: Oclusivas: as consoantes oclusivas são formadas por um bloqueio completo do ar que sai dos pulmões, que é abruptamente liberado, ocasionando uma pequena explosão. Devido a essa característica, as oclusivas são também chamadas de plosivas. Exemplos de consoantes classificadas como oclusivas são [p], [t], [k], [b], [d] e [g]: pato, tio, comer, bola, dia, gato Fricativas: as consoantes fricativas são formadas por meio de um estreitamento da cavidade bucal ou da glote, o que provoca fricção quando o ar passa. Do mesmo modo como ocorre com as oclusivas, a formação das fricativas pode ocorrer em diversos lugares de articulação: dentais [f], [v], alveolares [s], [z], pós-alveolares [ ], [Ȝ] e a glotal [h]: fato, vida, sapo, dez, chiado, desejo, roupa Os Sons da Linguagem Humana: Fonética

22 I b. Soantes: o termo soante designa os sons produzidos sem ou com pouquíssima obstrução do aparelho fonador. Uma característica comum a este grupo é o caráter sonoro dos sons que dele fazem parte. Além das vogais, as nasais, as aproximantes, as vibrantes, os tepes ou flepes e as fricativas laterais são agrupadas às soantes. A seguir, serão dadas breves explicações dos modos de articulação deste grupo: Nasais: as consoantes nasais são formadas pela obstrução da cavidade bucal, o que ocorre devido ao abaixamento do véu palatino, obrigando o ar a passar pela cavidade nasal. Como exemplos, temos as consoantes [m] e [n]: medo, nadar Aproximantes: classificam-se como aproximantes as consoantes que não se articulam dentro da área vocálica, mas que não apresentam fricção, o que se deve ao fato de a constrição necessária à sua formação ser menor do que o necessário para causar turbulência à passagem do ar fonatório e consequente produção de fricção. Como exemplos, podemos citar as consoantes [j] e [w]: pai, meu Observação: Na escrita, as consoantes aproximantes [j] e [w] são representadas por /i/ e /u/, respectivamente. Vibrantes: as consoantes vibrantes são produzidas por batidas rápidas da ponta da língua contra os alvéolos. Como exemplo, temos a consoante [r]: rato, terra Observação: Esta consoante representa a variante do /r/ comumente empregado no Sul do Brasil. Tepes ou flepes: os tepes, ou também flepes, são formados por um único toque rápido de algum órgão de articulação em alguma parte fixa do aparelho fonador. Temos, como exemplo, a consoante [r]: areia, arara Aproximantes laterais: as fricativas laterais são produzidas pela passagem do ar de forma quase livre pelas cavidades em ambos os lados da boca, praticamente não havendo fricção. Por este motivo, a sua articulação assemelha-se à articulação das vogais, sendo, portanto, classificadas FONÉTICA, FONOLOGIA E PROSÓDIA

23 23 como aproximantes laterais. Como exemplos, podemos citar as consoantes [l] e [r]: lado, telha Africadas: as africadas constituem um segmento consonantal complexo, apresentando, em sua parte inicial, um bloqueio completo à passagem do ar, e na parte final de sua articulação, apresentam uma obstrução que produz fricção. Para que um som seja considerado uma africada, e não apenas uma sequência de oclusiva mais fricativa, a articulação de ambas as partes deve ser homorgânica, ou seja, elas devem ocorrer no mesmo lugar de articulação. Como exemplos, temos as africadas [ts], [dz], [t ], [dȝ]: pizza, dzeta, tchau, adjacente Vozeamento As consoantes podem ser produzidas com ou sem a vibração das cordas vocais. Podemos dividi-las, portanto, em dois tipos: a. Sonoras: são as consoantes produzidas com a vibração das cordas vocais. Como exemplos, temos as consoantes [b], [v], [d], [n], [g], [Ȝ] e [l]: beber, favo, dia, nada, gato, jornal, ler b. Surdas: são as consoantes produzidas sem a vibração das cordas vocais. Citem-se, como exemplos, as consoantes [p], [f], [s], [ ], [k]: parte, fazer, soda, chá, querer Vejamos, agora, uma tabela com as consoantes do português brasileiro: BILABIAL LÁBIO- DENTAL ALVEOLAR PÓS- ALVEOLAR PALATAL VELAR GLOTAL Nasal m n nh ng Plosiva p b t d k g Fricativa f v ch j rr Aproximante i u Vibrante Tepe ou flepe Aproximante lateral Fonte: elaborado pela autora rr r l lh Os Sons da Linguagem Humana: Fonética

24 I VOGAIS As vogais são formadas sem um fechamento ou sem uma obstrução da passagem do ar pelo aparelho fonador. Desta forma, o ar flui livremente dos pulmões até para fora da boca. Durante esse processo, o som produzido na laringe é radicalmente modificado pela posição dos órgãos de articulação na cavidade bucal. O principal responsável por isso é a posição da língua. Na sequência, trataremos desse assunto. Processo de formação A qualidade vocálica é definida pela posição em que o dorso da língua está situado. O dorso da língua é o órgão de articulação primário. Portanto, as vogais pertencem aos sons dorsais. Também desempenha um papel importante na formação das vogais o movimento da língua, que pode ocorrer na horizontal (para frente e para trás) e na vertical (para cima e para baixo). Se, na formação da vogal, a língua é elevada contra a mandíbula superior, ela é denominada fechada ou alta. Às vogais fechadas pertencem, por exemplo, o [i] de (vi) e o [u] de (lua). Se a língua é abaixada com e contra a mandíbula inferior, a boca se abre. Produz-se, nesse processo, uma vogal aberta ou baixa, como o [a] de (nada). Se a língua se move para frente na cavidade bucal, tem-se uma vogal anterior. Às vogais anteriores pertencem, por exemplo, o [i] de (vida). O [i] é a vogal mais fechada e articulada na parte mais anterior da cavidade bucal. Se a língua estiver na parte mais anterior da boca, e ela estiver entreaberta (abertura média), será formada a vogal [ε] de (céu). Se estiver um pouco mais fechada, é formada a vogal [e] de (pessoa). Movendo a língua para trás, e deixando-a numa posição alta, produz-se uma vogal posterior e fechada, como o [u] em (lua). Se se mantém a língua nessa posição e se a abaixa um pouco, produz-se a vogal [o] de (nome). Para formar a vogal [ ] da palavra (pó) é necessário que a boca esteja entreaberta, e a língua continue na mesma posição. FONÉTICA, FONOLOGIA E PROSÓDIA

25 25 Vejamos, agora, uma tabela que mostra as vogais do português: ANTERIOR POSTERIOR Fechada i u Semifechada ê ô Semiaberta é ó Aberta a Fonte: elaborado pela autora Nasalização No caso das vogais que descrevemos até agora, o ar sai apenas pela boca, pelo fato de a cavidade nasal estar fechada durante a sua produção. No entanto, com o abaixamento do véu palatino, as vias nasais se abrem, permitindo a passagem de parte do ar, que sai pelas narinas. As vogais formadas com o véu palatino abaixado são denominadas nasais. Mattoso Câmara (1977, p. 62), a respeito desse assunto, diz que a ressonância nasal, determinada pelo abaixamento do véu palatino, altera fundamentalmente o efeito da oclusão oral, pois a compensa com um abrimento nasal. Vejamos alguns exemplos: avião, fogões, muito, nunca, também As letras K, W e Y são consideradas consoantes ou vogais? No link abaixo, você encontrará um artigo que encerra uma discussão acerca dessas três letras que, normalmente, são ensinadas e aprendidas como consoantes. O texto nos explica que elas apresentam características que dizem respeito tanto ao primeiro quanto ao segundo grupo. Trata-se, com certeza, de uma excelente reflexão não apenas para sua formação, como também para sua atuação como futuro professor(a) de Letras. < letras-k-w-y-sao-consideradas-consoantes-ou-vogais shtml>. Os Sons da Linguagem Humana: Fonética

26 I FONOLOGIA E PROSÓDIA A fonologia tem por objetivo fazer uma interpretação das informações que a fonética oferece por meio da descrição dos sons da fala e aplicar os resultados ao estudo dos sons efetivamente utilizados na língua. Assim, em oposição à fonética, a fonologia descreve os sons como componentes de um sinal linguístico de forma incompleta, considerando apenas a sua função linguística, ou seja, ela desconsidera as diferenças na produção dos fonemas em determinados contextos, a diferença entre um som emitido por um homem e um som emitido por uma mulher, a influência da idade, dentre outros fatores. Assim, se na descrição de um som apenas as suas características funcionais forem levadas em conta, trata-se de um fonema; em oposição a ele estão os sons descritos de forma mais completa pela fonética, que são denominados fones. Os fonemas são, portanto, abstratos em relação aos fones, visto que apenas algumas de suas características são descritas. A seguir, trataremos de algumas distinções e descrições fonológicas fundamentais, tais como a oposição e o contraste, as convenções ortográficas da língua portuguesa, os padrões de acento e a estrutura da silábica. Fonemas Vimos que a fonologia se preocupa com a maneira como os sons se organizam dentro de uma língua, classificando-os em unidades capazes de distinguir significados, os quais são denominados fonemas. Essa distinção de significados ocorre por ser possível estabelecer uma relação de oposição entre eles. Assim, se forem substituídos por outros fonemas ou elididos, mudam o significado da palavra; nessas condições, diz-se que o fonema estabelece uma oposição distintiva: sala / vala / bala / gala / mala / fala / cala / rala / tala / ala A oposição distintiva permite obter uma mudança completa de significado. As qualidades funcionais dos fonemas compreendem, portanto, os conceitos de oposição e contraste: dentre as várias características dos sons, é possível distinguir algumas como sendo funcionais. Na língua portuguesa, uma distinção importante a ser feita ao se analisar as propriedades das obstruentes é a sua característica surda ou sonora. Essa FONÉTICA, FONOLOGIA E PROSÓDIA

27 27 oposição, em muitas palavras, serve para diferenciar palavras semelhantes, mas com significados diferentes: pode / bode; tata / data; chá / já. Obtêm-se, dessa maneira, os pares mínimos, cuja característica principal é a presença ou ausência do traço + sonoro em um de seus fonemas. Outro exemplo são as unidades distintivas /f/ e /v/ nas palavras em /faca/ e /vaca/: é possível conseguir significados totalmente distintos simplesmente permutando os fonemas. Entretanto, nem sempre é possível estabelecer oposição com a simples troca de fonemas: unidades como /s/ e / / podem, em algumas variantes da língua, não fazer qualquer distinção entre duas palavras: /seis/ [sejs] ou /seis/ [sej ] (variante carioca). Estes fonemas, que podem ser usados indistintamente num determinado contexto fonemático sem que ocorra alternância de valor semântico, são denominados alofones, e este fenômeno é chamado de alofonia. Ou seja, por não haver contraste entre as duas formas de pronúncia, a fonologia não concebe os dois sons como fonemas distintos; entende-os como uma unidade do ponto de vista funcional e examina as condições sob as quais se dá a alternância entre eles. Para definir a ocorrência desse fenômeno, é importante conhecer o contexto fonológico que cerca os fonemas. Se o fonema, numa de suas posições, apresenta realização diversa, sem alterar o significado, trata-se de um caso de alofonia. Vejamos alguns exemplos: dia / adiar /d/ é sempre pronunciado /dȝ/ antes de /i/ (/dȝia/, /adȝiar/), constituindo, portanto, um alofone de /d/. lua / ala / sal /l/ é realizado como /w/ somente quando está em posição final: (/lua/, /ala/, /saw/). Nesse caso, o fonema /w/ também constitui um alofone de /l/. Deve-se, no entanto, alertar que a alofonia entre dois fones é relativa, visto que, em certos contextos, dois fonemas podem não ser intercambiáveis. Antes de prosseguirmos, é necessário deixar claro que os conceitos de fonema e de letra não devem ser confundidos: o fonema é um conceito da língua como realização auditiva, e a letra é a representação gráfica, por vezes imprecisa, dos fonemas. Veja-se o caso das palavras coser / cozer, aço / asso, caçar / cassar, nas quais letras diferentes representam um mesmo fonema. Fonologia e Prosódia

28 I Também a respeito da transcrição fonêmica, quando esta é necessária, devem- -se colocar os fonemas entre barras: dia /dȝia/, tempo /tempʊ/, chá / a/. A transcrição fonética, por sua vez, é feita colocando-se os fonemas entre colchetes: dia [dȝia], tempo [tempʊ], chá [ a]. As relações entre os sistemas fonológico e ortográfico A Língua Portuguesa, como os demais idiomas que possuem representação gráfica, apresenta um sistema ortográfico que está intrinsecamente ligado ao fonológico. Assim, segundo o novo acordo ortográfico, dispomos de 26 letras para representar todos os sons de nossa língua e, por extensão, para a criação de novos vocábulos. Frequentemente, no entanto, além do alfabeto, é preciso fazer uso de alguns indicadores cuja função é indicar outro fonema (som) para uma mesma letra. É o que acontece, por exemplo, com o cedilha [ç], que representa o fonema /s/ antes das vogais [a, o, u]: [caçador; traço; açude] Além disso, é frequente também em nosso idioma o emprego do til (~) para a indicação de sons vocálicos nasalizados: [maçã; órfã] CONVENÇÕES DE ESCRITA DA LÍNGUA PORTUGUESA Como já afirmamos, a língua portuguesa apresenta um sistema ortográfico regulamentado que, por sua vez, vem sendo construído ao longo do tempo. Os critérios que determinam a escolha das letras que representarão os fonemas são diversos e podem ser alicerçados tanto na fonologia quanto na morfológica e, até mesmo, na etimologia (ciência que estuda a história, bem como a origem das palavras). Vejamos agora as convenções de escrita da língua portuguesa: FONÉTICA, FONOLOGIA E PROSÓDIA

29 29 CONSOANTES SÍMBOLO DO IPA LUGAR DE ARTICULAÇÃO ARTICULADOR MODO DE ARTICULAÇÃO VOZEAMENTO LETRA OU DÍGRAFO EXEMPLO [m] labial labial nasal sonora m mel [Ƞ] alveolar coronal nasal sonora n nada [ɲ] palatal dorsal nasal sonora nh ninho [ŋ] velar dorsal nasal sonora n antes de fricativa m final tanga [p] labial labial oclusiva surda p pato [b] labial labial oclusiva sonora b bode [t] alveolar coronal oclusiva surda t tudo [d] alveolar coronal oclusiva sonora d dedo [k] velar dorsal oclusiva surda c carro k qu antes de e e i tem kantiano querer [g] velar dorsal oclusiva sonora g gato gu antes de e e i guerra [f] dental labial fricativa surda f fogo [v] dental labial fricativa sonora v vida [s] alveolar coronal fricativa surda s soco ss xc sc ç c antes de e e i pássaro exceção descer canção cerca Convenções de Escrita da Língua Portuguesa

30 I [z] alveolar coronal fricativa sonora z azar x s entre vogais [ʃ] pós-alveolar coronal fricativa surda ch chá [Ȝ] pós-alveolar coronal fricativa sonora j já x g antes de e e i exame asa enxada gestão [h] glotal glotal fricativa surda rr terra r entre consoante e vogal [j] palatal dorsal aproximante sonora i vai [w] velar dorsal aproximante sonora u vau l final guelra [r] alveolar coronal vibrante sonora rr terra o w r entre consoante e vogal [ɾ] alveolar coronal tepe sonora r entre vogais [l] alveolar coronal lateral sonora l lata qual ao watt guelra areia [ʎ] palatal dorsal lateral sonora lh milho Fonte: elaborado pela autora FONÉTICA, FONOLOGIA E PROSÓDIA

31 31 VOGAIS SÍMBOLO DO IPA ABERTA - FECHADA ANTERIOR - POSTERIOR LETRA EXEMPLOS [i] fechada anterior i filha [u] fechada posterior u muda [Ʊ] quase fechada quase posterior o vidro [e] semifechada anterior e quem ê vê [o] semifechada posterior o poço [Ɛ] semiaberta anterior e alerta é pé [Ͻ] semiaberta posterior o poços ó só [ɐ] quase aberta central a plaina â campânula [a] aberta anterior a pá Fonte: elaborado pela autora Acentos gráficos Acentos gráficos são pequenos símbolos colocados sobre ou sob as letras para expressar uma modificação do som destas letras. No português, são usados os seguintes acentos gráficos: (acento agudo): indica a sílaba tônica quando colocado sobre as letras a, i, o: carcará, caí, caiapó. No caso das letras e e o, indica que elas devem ser pronunciadas com um timbre aberto: pé, pó. ` (acento grave): indica a crase da preposição a com o artigo a ou com o pronome demonstrativo aquele: Vou a+a escola. à Vou à escola. ^ (acento circunflexo): é colocado sobre as letras a, e e o, e indica, além da tonicidade, timbre fechado: campânula, pêssego, pôr. ~ (til): indica a pronúncia nasalizada das vogais a e o: avião, sertão, aviões, sertões. Convenções de Escrita da Língua Portuguesa

32 I A formação e a divisão silábica A sílaba é uma unidade de pronúncia maior do que um fonema e menor que um morfema, sendo constituída por uma sequência de sons, cuja ordem é determinada por regras fonéticas. Para exemplificar, tomemos como exemplo a sílaba [cen]: todo falante percebe que esta sílaba é realizável no português, por exemplo, na palavra centro. Se trocarmos a ordem dos fones, formando outra sequência como [nce], a pronúncia desta sílaba torna-se difícil, se não impossível: tal sílaba é desprovida de significação, e não poderia, portanto, fazer parte do léxico da língua. Por meio deste exemplo, percebe-se que há regras de posicionamento dos fonemas de uma língua, ou seja, para formar as sílabas, os fonemas não podem ser agrupados aleatoriamente; eles devem seguir uma ordem pré-determinada. Toda sílaba apresenta um som, que é, de certa forma, a base para a pronúncia dos outros sons. Este som de base é denominado núcleo, e, na língua portuguesa, sempre é uma vogal: [sal], [do]. As consoantes, por sua vez, podem vir antes da vogal (CV), e apenas algumas delas depois da vogal (VC). Os fonemas que figuram nas extremidades das sílabas são chamados fonemas marginais ou assilabemas, e geralmente são consoantes. Antes de prosseguirmos, é importante que seja feita a distinção entre fonema e sílaba: o fonema constitui a unidade mínima da fonologia e não pode ser segmentado, não existindo, portanto, nível de análise inferior ao do fonema. A sílaba, por sua vez, pode ser formada por uma sequência de fonemas, podendo ou não apresentar significado isoladamente. Embora a classificação de sílaba possa, num primeiro momento, parecer bem estabelecida, Mattoso Câmara (1977, pp ) diz que: Não obstante este sentimento nítido e intuitivo de unidade silábica, tem sido um dos mais complexos problemas, nos estudos fonéticos, uma definição precisa e científica da sílaba. Dificultou-a, por outro lado, a circunstância de ainda não se ter feito rigorosamente, para a sílaba, uma distinção equivalente à que hoje se faz entre som da fala e fonema. Os debates têm, a rigor, apenas focalizado a sílaba como realização física, sem levar em conta a sílaba funcional, que o linguista russo Polivanov denominou silabema. FONÉTICA, FONOLOGIA E PROSÓDIA

33 33 A fim de verificar a constituição das sílabas pelos fonemas, analisemos agora algumas palavras: fonemas sílabas /s/ /Ͻ/; /l/ /o/ /ŋ/ /Ȝ/ /e/; /t/ /e/ /m/ /p/ /o/; /a/ /g/ /Ͻ/ /r/ /a/ só; lon-ge; tem-po; a-go-ra Em suma, pode-se dizer que todas as sílabas são pronunciáveis, mas nem todos os fonemas o são. Analisemos a palavra tempestade: FONEMAS PRONUNCIÁVEL IMPRONUNCIÁVEL SÍLABAS PRONUNCIÁVEL IMPRONUNCIÁVEL t x tem x e x pes x m x ta x p x de x e x s x t x a x d x e x Fonte: elaborado pela autora Nota-se, dessa maneira, que um dos critérios para que um conjunto de fonemas possa ser dividido de modo a formar uma sílaba é a sua pronunciabilidade. DITONGOS, TRITONGOS E HIATOS Ditongos Como vimos, o núcleo da sílaba, na língua portuguesa, sempre é uma vogal. No entanto, pode ocorrer que uma sílaba apresente dois fonemas com características vocálicas, sendo apenas um deles emitido com qualidade vocálica plena. Convenções de Escrita da Língua Portuguesa

34 I O outro fonema vocálico será produzido na forma de aproximante, geralmente /j/ (pai) ou /w/ (nau). Nesse caso, diz-se que a vogal está numa posição assilábica: em vez de constituir o núcleo da sílaba, ela constitui uma de suas margens, ocorrendo o que se denomina ditongo. Os fonemas que apresentam qualidade vocálica parcial são denominados semivogais, e se situam sempre na periferia da sílaba: se estão antes do núcleo, constituem ditongos crescentes, se estão depois do núcleo, constituem ditongos decrescentes. Vejamos alguns exemplos: a. Ditongos crescentes: RelógIO. b. Ditongos decrescentes: FEIjão; BEIjo. Tritongos De modo geral, denominamos tritongos o conjunto vocálico formado por três letras em que se apresenta a seguinte ordem: som semivocálico > som vocálico > som semivocálico, conforme o exemplo: ParagUAI. Hiatos Os hiatos representam as estruturas em que há um encontro vocálico, mas, em oposição ao que ocorre com os ditongos, esse mesmo encontro ocorre em sílabas separadas, ou seja, as vogais não ficam na mesma sílaba. Vejamos os exemplos a seguir: [Sa Ú de] [Sa Í da] Estrutura silábica do Português A tradição gramatical definiu a sílaba a partir da noção de unidade de organização rítmica de fala. Essa unidade, em português, diz respeito ao agrupamento que se faz em torno de um único movimento expiratório, bem como de uma vogal e, por isso, podemos afirmar que não há sílaba sem vogal. FONÉTICA, FONOLOGIA E PROSÓDIA

35 35 Embora essa definição tenha origem portuguesa, nos últimos anos, pesquisadores têm procurado pautar seus estudos também em aspectos de natureza prosódica, o que significa levar em consideração traços significativos referentes à fala. Vejamos agora as possibilidades de organização das sílabas da língua portuguesa. No quadro a seguir, C representa consoante; e V, vogal. FONEMAS ARRANJO EXEMPLOS 1 V a, o-co 2 CV só, ba-la SV ia-te VC ir, um VS oi, ei-xo 3 CCV pro-ble-ma, pra-to CSV ó-pio, ín-dio CVC faz, tes-te CVS vai, nau SVS uai VCC uns VSC eis 4 CCVC tras-te, brim CCVS plau-sí-vel, grou CSVS Pa-ra-guai CVCC cons-tar CVSC mais, meus 5 CCVSC com-prais CSVSC i-guais CSVSV u-ru-guaio Fonte: elaborado pela autora Convenções de Escrita da Língua Portuguesa

36 I Ditongos decrescentes: isso ainda existe? O texto, que está disponível no link a seguir, discute algumas alterações oriundas das pressões de uso, especificamente, da fala. Assim, o autor nos revela que, na linguagem coloquial e espontânea, o Português brasileiro tem eliminado a ocorrência dos chamados Ditongos decrescentes, como ocorre, por exemplo, com os vocábulos feijão, queijo e beijo, cujas pronúncias passaram a ser realizadas sem a presença da semivogal: fejão, quejo e bejo, respectivamente. O assunto é de suma importância, pois revela aos brasileiros a língua verdadeiramente falada no Brasil e, ao mesmo tempo, oferece ao futuro professor a oportunidade de refletir sobre questões inerentes ao trabalho docente. < Assista ao vídeo abaixo indicado, que trata sobre a formação da voz com enfoque nos aspectos fisiológicos. < Assista ao vídeo sobre as convenções ortográficas do Português e fonologia. Trata-se de uma videoaula em que se evidencia como as questões que dizem respeitos aos sons da linguagem humana se apresentam diante do nosso sistema ortográfico. < FONÉTICA, FONOLOGIA E PROSÓDIA

37 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, você estudou os principais conceitos referentes à Fonética e à Fonologia da Língua Portuguesa, além da correlação entre a fonologia e as convenções ortográficas. Pôde observar, com isso, a falta de correspondência, na maioria dos casos, entre os fonemas e as letras. Ademais, as tabelas ilustraram que uma letra pode representar vários fonemas. A relação entre fonologia, o sistema de acentuação e os padrões da sílaba também foram essenciais para sua formação não apenas como acadêmico(a), mas como futuro(a) profissional da educação, professor(a) de Letras. Esse fator se torna ainda mais importante diante do exercício da docência que, diariamente, suscita uma análise coerente dos processos de aprendizagem. Esses, por seu turno, vão desde a aquisição da escrita básica, até a elaboração e a composição de textos mais complexos, pois é justamente nesses contextos que as questões discutidas nesta unidade tomarão forma e ganharão corpo. Considerações Finais

38 1. O texto abaixo é um apanhado geral acerca do chamado aparelho fonador. Tomando como base o material didático, bem como a aula expositiva, complete os espaços em branco corretamente. Os sons da nossa fala resultam da ação de certos órgãos sobre a corrente de ar que vem dos. Esse ar, expelido dos por meio dos brônquios, penetra na traqueia e chega na e, ao encontrar a costuma encontrar o primeiro obstáculo à sua passagem. A glote, por sua vez, que fica na altura do chamado pomo-de-adão, é a abertura entre duas pregas musculares da parede superior da laringe, conhecidas pelo nome de. O fluxo de ar pode encontrar a fechada ou aberta, pelo fato de os bordos das estarem próximos ou distantes. Se a glote estiver fechada, o ar força a passagem por meio das retesadas, fazendo-as vibrar e produzir o som musical característico das articulações. 2. Responda às questões que seguem: a. Como é chamada a ciência natural que se ocupa com os fenômenos físico-acústicos? b. Apresente a definição de tritongo e, em seguida, dê, pelo menos, três exemplos de sua ocorrência em Língua Portuguesa. c. É possível afirmar que os pontos de articulação dental ou alveolar são distintivos em português? Justifique sua resposta. d. Com relação aos pontos de articulação alveolar ou palatal, é possível afirmar que são distintivos? Por quê? 3. Sobre as letras e os fonemas, responda: a. As letras são sempre uma representação exata da língua oral? Explique. b. Pronuncie as consoantes dos vocábulos seguintes e classifique-as quanto ao papel das cordas vocais: cacho, manta, sala.

39 39 4. Leia atentamente o poema abaixo, de Cecília Meireles: A bailarina Esta menina Tão pequenina Quer ser bailarina Não conhece nem dó nem ré Mas sabe ficar na ponta do pé Não conhece nem mi nem fá Mas inclina o corpo para lá e para cá Não conhece nem lá nem si Mas fecha os olhos e sorri Roda, roda, roda com os bracinhos no ar E não fica tonta nem sai do lugar Põe no cabelo uma estrela e um véu E diz que caiu do céu Esta menina Tão pequenina Quer ser bailarina Mas depois esquece todas as danças E também quer dormir como as outras crianças. a. Indique todas as consoantes, bem como as vogais com sons nasalizados que aparecem no poema. b. Os sons nasais que você indicou são surdos ou sonoros? Que dedução você tira disso? c. Explique a diferença de formação do som oral e do som nasal.

40 MATERIAL COMPLEMENTAR Iniciação à Fonética e à Fonologia Dinah Callou e Yonne Leite Editora: Zahar, 11ª Edição Sinopse: No primeiro capítulo, Leite e Callou trazem uma distinção entre fonética e fonologia, e destacam seus objetos de estudo. Assim, definem fonologia como o estudo dos sons (entidades físico-articuladoras isoladas), procurando descrever os sons e analisar suas particularidades acústicas e perspectivas. Já a fonologia estuda os sons do ponto de vista funcional como elemento que integra um sistema linguístico, mas ambas as disciplinas são interdependentes. Yonne e Dinah trazem informações de Baudovin de Courtenay que, em fins do século XIX, foi um dos primeiros a tentar distinguir de modo sistemático o estudo dos elementos de significação (os fonemas) daquelas que são resultados das realizações individuais dos falantes (fones, ou sons da fala). Esse estudo denominou-se fisiofonética. Segundo Ferdinand Saussure, a fonética é uma ciência histórica, analisa acontecimentos, transformações e se move no tempo; a fonologia se coloca fora do tempo, já que o mecanismo da articulação permanece sempre igual a si mesmo. Embora essa concepção esteja distinta das concepções atuais em relação aos termos abordados, Callou e Leite afirmam que a distinção entre fonética e fonologia só foi possível a partir do pensamento saussuriano, pelo uso das noções de língua e fala; forma e substância; sintagma e paradigma. É somente com os trabalhos dos componentes do círculo de Praga, no 1º Congresso Internacional de Linguística, que a fonologia se constituiu como um campo distinto da fonética, tendo um objeto próprio de estudo. Após a explanação feita sobre os conceitos e a história da fonética e da fonologia, tais linhas de estudo são apresentadas de forma separada, detalhada e bem exemplificada. Dinah e Yonne destacam três tópicos importantes da fonética, iniciando pela produção dos sons da linguagem humana, sobre a capacidade de falar, e desenvolvem o trabalho à luz da análise do modo como o que fazemos difere o homem dos outros animais. Para elas, falar é tão natural para os seres humanos como o olfato, o paladar, a visão, a audição. A linguagem é, porém, uma atividade primordialmente oral que também se diferencia dos sistemas simbólicos. As autoras afirmam que o sistema sonoro humano é produzido em um mecanismo fisiológico específico, chamado também de aparelho fonador, constituído pelos pulmões, pela laringe, pela faringe e pelas cavidades oral e nasal. Disponível em: < Resenha-Iniciacao-a-fonetica-e-a-a-fonologia-CALLOU- Dinah-LEITE-Yonne>. Acesso em: 03 mar

41 MATERIAL COMPLEMENTAR História da Língua Portuguesa Segismundo Spina Editora: Atelier Editorial Sinopse: O livro, de autoria do prof. Dr. Segismundo Spina, contém seis capítulos que apresentam o percurso histórico do século XII até o XX. A cada capítulo, o leitor terá acesso a textos comentados, a um vocabulário crítico, além de uma bibliografia ampla e comentada. Um dos pontos, talvez, mais positivos do livro diz respeito à questão dos apontamentos de cunho estilístico e cultural que, a um só tempo, enriquecem o texto, pois que apresentam valiosas contribuições e tornam a leitura deveras agradável e fluente. Ademais, as discussões acerca das distinções entre o português europeu e o brasileiro são de grande importância, sobretudo, para o estudo do que, de fato, constitui a língua falada no Brasil, ou ainda, da Língua brasileira. Tais traços se tornam ainda mais relevantes diante da estreita relação existente entre a descrição da Língua Portuguesa, seja ela falada no Brasil ou em Portugal, e as explicações apresentadas. Isso ocorre, sobretudo, porque alguns aspectos só podem ser devidamente apresentados mediante o estudo da evolução histórica. Nessa perspectiva, História da Língua Portuguesa deve ser entendida como uma obra capaz de proporcionar uma reflexão linguística de maneira bifronte: por meio da história, apresenta um panorama mais fiel ao português no presente. Fonte: elaborado pela autora Material Complementar

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43 Professora Me. Juliana Carla Barbieri MORFOLOGIA: CONCEITOS E CATEGORIAS UNIDADE II Objetivos de Aprendizagem Conceituar a noção de Morfema em oposição à de Morfe. Compreender a noção de Morfema Zero, bem como a de Alomorfe. Analisar aspectos concernentes ao Morfema em relação com a Palavra. Caracterizar os Afixos, o Radical e a Vogal temática. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: Morfema e morfe Morfema zero Alomorfe O morfema e a palavra Afixos Radical Vogal temática

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45 45 INTRODUÇÃO A Morfologia tem despertado a atenção de importantes pesquisadores nas últimas décadas. O advento da linguística moderna deitou novas luzes sobre essa área do conhecimento. Esses estudos têm apresentado contribuições não apenas para a análise das estruturas que compõem os vocábulos de uma língua numa dada sincronia ou para seus processos de formação, mas, de modo especial, para uma investigação mais exaustiva e coerente desses fenômenos. Nesta unidade, você estudará os conceitos tradicionais, bem como as novas propostas de análise para o estudo dos constituintes, genericamente denominados morfemas, responsáveis pela estruturação das palavras. Esses morfemas, por sua vez, podem ser subdivididos em lexicais e gramaticais: estes dizem respeito às desinências propriamente ditas, sejam elas nominais ou verbais; aqueles se relacionam ao que se convencionou denominar radical, ou ainda, o núcleo de significação da palavra. Muitas vezes ocorre, em Língua Portuguesa, o chamado Morfema zero, quando a ausência pode se tornar bastante significativa em alguns contextos. Veja, por exemplo, o caso da marcação do singular. Não há um morfema específico para que possamos identificá-lo, mas, apesar disso, a oposição com o morfema s nos indica que se trata de um termo singular. Além disso, a unidade apresenta também o conceito de Alomorfe, que diz respeito às diferentes formas assumidas por um mesmo morfema em diferentes contextos. Diante disso, torna-se necessária a distinção entre o Morfema e a Palavra que, embora sejam tomados como sinônimos, apresentam traços bastante característicos que os distinguem. Tal fato ganha ainda mais relevo se considerarmos que, enquanto as palavras são, geralmente, formas livres, os morfemas se caracterizam justamente por serem formas presas. Essa caracterização fica evidente em virtude de o Morfema poder ser analisado também sob a perspectiva das flexões, bem como dos afixos. Estes se ligam às palavras-base, formando, assim, novos vocábulos o que também justifica a denominação bastante recorrente de morfemas derivacionais; aquelas, ao contrário, indicam alterações de gênero e de número (no caso dos nomes) e de modo/ tempo, número/pessoa (no caso dos verbos). Introdução

46 II Ao final, a unidade trará também uma breve discussão sobre o que se entende por radical e raiz, sobretudo no que tange às suas particularidades, além de um estudo sobre a vogal temática. Na verdade, tanto o radical quanto a raiz trazem em si a significação básica dos vocábulos, porém ocorre que eles nem sempre coincidem, haja vista que a raiz pode ser, muitas vezes, mais antiga e estar, até mesmo, associada à origem do vocábulo. Quanto à vogal temática, importa destacar que a ela cabe a função de indicar a família ou grupo ao qual uma determinada palavra pertence. A partir dessa indicação, sabemos, por exemplo, qual deverá ser a conjugação de um verbo em particular, ou ainda, como se faz o plural ou o diminutivo de um nome (adjetivo ou substantivo). shutterstock MORFEMA E MORFE De uma forma resumida, pode- -se dizer que os morfemas são os elementos constitutivos do vocábulo. Os vocábulos, por sua vez, considerados como junção de morfemas, são unidades compostas. Os morfemas são, portanto, as unidades mínimas providas de significado. Os morfemas podem ser de dois tipos: a. Morfemas lexicais: relacionam-se à expressão da realidade biossocial por meio de palavras. Como exemplos, citem-se os morfemas lexicais temp- de tempo, beb- de beber e sab- de saber. Eles constituem, de certa maneira, o núcleo de significação de uma palavra. MORFOLOGIA: CONCEITOS E CATEGORIAS

47 47 b. Morfemas gramaticais: relacionam-se à representação formal de uma língua. Assim, o morfema gramatical o pode indicar o masculino singular em cachorro ou a primeira pessoa do singular do presente do indicativo em penso. A correspondência entre essas duas classes de morfemas pode nem sempre se apresentar de uma forma tão bem delimitada: podemos empregar morfemas lexicais para representar propriedades gramaticais, como o gênero: os pares homem / mulher e genro / nora expressam simplesmente gêneros diferentes do mesmo referente, mas isso é representado por meios lexicais, e não por meios gramaticais. Também podemos utilizar morfemas gramaticais para expressar noções lexicais: as palavras banco / banca não refletem meramente uma mudança de gênero, mas uma completa mudança de significado. A respeito dessa correspondência, por vezes precária, entre a função desempenhada e o uso real dos morfemas lexicais e gramaticais, Boas (1911, p. 25) afirma: Se toda a massa de conceitos, com todas as suas variantes, fosse expressa nas línguas por complexos de sons inteiramente heterogêneos e não relacionados entre si, surgiria a consequência de que ideias intimamente relacionadas não mostrariam a sua relação pela relação correspondente dos seus símbolos fonéticos. Os morfemas gramaticais apresentam, portanto, duas funções principais na língua: a. indicar simples classificações formais, como, por exemplo, as vogais temáticas dos verbos: falar / querer / dormir; b. estabelecer relações entre os vocábulos no interior das orações. Como as formas gramaticais apresentam funções bastante específicas, o seu inventário não é passível de alteração, ou seja, não é comum o acréscimo de formas a ele. Ao inventário das formas lexicais, por outro lado, podem ser adicionadas novas formas, o que é devido à pressão de uso: se na língua não há determinada expressão, é possível que seja criada ou adaptada uma palavra para preencher aquela lacuna. Apesar de geralmente ser usada a mesma palavra para designar morfema e morfe, é necessário estabelecer uma diferenciação entre estes dois conceitos. Morfema e Morfe

48 II O morfema é um elemento da língua que, por constituir uma unidade fonológica e semântica, não pode ser dividido em outros elementos. Ele é, na verdade, uma abstração que representa significados e possibilidades combinatórias, apresentando-se, geralmente, formalizado em fonemas, que se concretizam por meio de sons. Diferentemente da sílaba, que não apresenta um significado imanente, o morfema é pleno de significação; entretanto, morfemas e sílabas podem coincidir, provindo daí a dificuldade em se classificar as unidades mais elementares da língua. Como exemplo de morfema, cita-se a terminação - o, característica da primeira pessoa do singular do presente do indicativo e do masculino singular. Sabemos que há dois significados implícitos a este morfema, mas sem que ele esteja inserido num contexto fonemático, não saberemos a qual significado esta terminação alude. É por isso que se diz que o morfema é uma abstração. O morfe, por sua vez, é o fonema utilizado num contexto fonemático. Assim, pode-se estabelecer que o morfe só pode ser reconhecido e corretamente identificado em oposição a construções fonemáticas, a saber, outros morfes e sílabas. Em outras palavras, pode-se definir morfe como sendo o morfema utilizado de forma concreta. Usando o mesmo exemplo dado acima, a terminação o, mas desta vez usada em contextos específicos, saberemos a qual significado esta terminação alude: eu falo, o menino. No primeiro caso, trata-se do verbo na primeira pessoa do singular do presente do indicativo, e no segundo caso, do masculino singular. É por esse motivo que o morfe é considerado a realização concreta do morfema. MORFEMA ZERO Em muitos casos, o morfema não se realiza através de um fonema, mas existe e age no processo de significação, contrapondo-se a outros morfes: é essa atuação invisível que constitui o morfema zero. Podemos perceber a ocorrência desse fenômeno nas seguintes formas substantivas: mar e mares. Note-se que, no final da primeira forma, não há nada, enquanto na segunda forma aparece MORFOLOGIA: CONCEITOS E CATEGORIAS

49 49 a terminação es. É esse nada que é denominado morfema zero. Tanto o morfema quanto o morfema zero são conceitos interdependentes. Para a representação do morfema zero, usa-se o símbolo Ø: mar-ø. ALOMORFE Há morfemas que tomam diferentes formas de acordo com o contexto fonemático que os cerca. As formas que resultam dessa variação são chamadas de alomorfes. Podemos citar, como exemplo de alomorfe, o radical sab-, do verbo saber, que, quando se conjuga na primeira pessoa do singular do presente do indicativo, por exemplo, passa a apresentar a forma sei. Podemos perceber que, embora tenha havido uma perceptível transformação do morfema, não houve qualquer alteração em seu significado: sab- e sei representam o mesmo conceito, porém em contextos fonemáticos diferentes. Alomorfe

50 II A Morfologia na aula de Língua Portuguesa O ensino da Morfologia da Língua Portuguesa tem, muitas vezes, sido relegado a segundo plano nos ensinos Fundamental e Médio. Os manuais didáticos adotados em nossas escolas, frequentemente, prescindem de uma abordagem de cunho funcionalista, ou seja, que de fato leve em consideração as pressões de uso, bem como as ocorrências da língua efetivamente falada no Brasil. Assim, por exemplo, o estudo do Morfe, ou do Morfema, como vimos no início da unidade, precisa estar associado às situações reais de interação, pois que a definição teórica por si vai ao encontro das necessidades do(a) acadêmico(a), futuro(a) professor(a) de língua, que deve conhecer a fundo a estrutura do idioma por ele(a) lecionado. Para o estudante de ensino fundamental ou médio, no entanto, tal estudo pode não ser relevante se tomado apenas em seu caráter teórico. Caberá ao professor, então, desenvolver estratégias que lhe permitam ensinar o mesmo conteúdo de maneira dinâmica e, por isso, eficiente. Para tanto, textos de jornais, revistas, sites da internet, vídeos, ou mesmo trechos de filmes podem ser importantes instrumentos para o processo de ensino- -aprendizagem, pois que permitem que o conteúdo passe a ter significado à medida que se apresenta em estreita relação às questões inerentes ao dia a dia. Fonte: elaborada pela autora. O MORFEMA E A PALAVRA Vejamos agora de maneira mais detalhada a divisão dos morfemas nos dois tipos: morfemas lexicais, também denominados lexemas, e morfemas gramaticais, também denominados gramemas. Lexemas são unidades mórficas com um significado implícito, constituindo pressupostos para a ocorrência de prefixos e sufixos, estando eles, muitas vezes, relacionados a uma realidade extralinguística. Os lexemas podem ser formas livres, como sol, lua, céu, ou formas presas, como professor#a, vende#dor, roch#oso. MORFOLOGIA: CONCEITOS E CATEGORIAS

51 51 Pelo fato de poderem ocorrer diversos tipos de relações entre os lexemas e os afixos, é sempre possível acrescentar novas formas, que podem ser criadas ou emprestadas, e isto faz com que o inventário dos lexemas seja aberto. Os gramemas constituem um inventário fechado e estável, visto que seu número é reduzido e limitado. Por isso, novas formas dificilmente são incorporadas. Os gramemas, de acordo com a sua forma e o seu comportamento, podem ser classificados em palavras gramaticais e em formas presas. As palavras gramaticais, por sua vez, podem ser divididas em endofóricas e exofóricas. As palavras gramaticais endofóricas são aquelas que se referem sintaticamente ao elemento central do sintagma em que estão contidas. Como exemplos, temos o artigo definido, o pronome demonstrativo e o pronome possessivo: a casa, esta casa, minha casa. As palavras gramaticais exofóricas são aquelas que, além de exercerem uma função endofórica, referindo-se sintaticamente ao elemento central do sintagma que os contém, estabelecem uma relação deste sintagma com um elemento externo. Como exemplos, temos as preposições e as conjunções: anel [de ouro], água [com barro], eu venho, [mas ele não]. As formas presas, por sua vez, dividem-se em derivativas e em flexionais. As formas derivativas constituem a classe de morfemas considerados afixos, que servem para a formação de palavras. Os afixos podem se dividir em prefixos, afixos colocados antes da palavra a que se referem, e sufixos, afixos colocados após a palavra a que se referem. As formas presas aparecem nas desinências de substantivos e verbos, e são usadas para representar, dentre outras coisas, o singular e o plural, no caso dos substantivos, e os tempos, modos e formas verbais, no caso dos verbos. Afixos Modificam o sentido básico dos radicais a que se associam. São considerados morfemas derivacionais (por meio deles, o falante/escritor cria novos vocábulos a partir de um radical/base já existente caso de derivação) justamente porque trazem consigo uma significação. Vejamos os exemplos a seguir: O Morfema e a Palavra

52 II Casinha / livrinho: note que o afixo inho(a) agrega ao radical das palavras primitivas casa e livro a noção de diminutivo. Os afixos, ao mesmo tempo, distinguem-se das desinências, uma vez que estas podem ser entendidas como morfemas flexionais, ou seja, aqueles responsáveis por indicar as categorias de modo, tempo, aspecto, número e pessoa, em se tratando de verbos; e gênero e número, quando associados a nomes em geral (substantivos, adjetivos), bem como aos pronomes e numerais. Observe: Menino / Menina: nesse caso, a presença da desinência a desempenha o papel de indicar o gênero feminino, uma vez que o masculino é, normalmente, indicado em língua portuguesa pelo que denominamos desinência zero, ou morfema zero, pois sua constituição ocorre a partir da inexistência da indicação de feminino a. Segundo Henriques (2007, p. 18), existem, em nossa língua, dois tipos de afixos: os que se colocam antes do radical (prefixo), e os que se inserem após ele (sufixos). Estes se caracterizam não apenas por seu caráter derivacional, mas, sobretudo, por protagonizarem o processo de mudança categorial, ou seja, o acréscimo do sufixo, na grande maioria das vezes, implica a mudança da categoria de uma palavra. Assim, por exemplo, a partir do verbo ensinar, é possível criar o substantivo ensinamento, em função do acréscimo sufixal. A seguir, apresentamos uma tabela com os principais sufixos de língua portuguesa (formadores de nomes substantivos e adjetivos) conforme a ideia que exprimem e, em seguida, um exemplo para cada um: VALOR AUMENTATIVO EXEMPLO VALOR DIMINUTIVO EXEMPLO aça barcaça acho riacho aço estilhaço ebre casebre alhão brincalhão eco jornaleco anzil corpanzil ela janela ão chorão artelho elho aréu fogaréu ete lembrete arra bocarra amiguinho inho arrão homenzarrão chuvisco isco MORFOLOGIA: CONCEITOS E CATEGORIAS

53 53 astro medicastro engenhoca oca az cartaz gaiola ola ázio copázio cubículo ículo eirão vozeirão glóbulo ulo orra cabeçorra únculo furúnculo uça denuça úsculo crepúsculo Fonte: elaborado pela autora Os prefixos, por outro lado, apresentam uma significação mais acentuada e, portanto, perceptível, exceto nos casos em que o falante/escritor agrega simultaneamente à palavra base um prefixo e um sufixo. Isso ocorre, sobretudo, quando da formação de verbos a partir de substantivos, como é o caso de noite > anoitecer. Nesse caso, a significação do prefixo a torna-se vazia à medida que depende também do sufixo para, a posteriori, compor com ele um todo significativo. Além disso, ao se ligarem às bases ou às palavras primitivas, os prefixos tendem a manter a categoria original. Observe o exemplo: a partir do verbo ligar, é possível criar o verbo desligar, via acréscimo de prefixo. Nesse caso, tanto a palavra primitiva quanto a derivada pertencem à categoria verbal. Rocha (2003) elenca uma série de traços distintivos que caracterizam o prefixo: É uma sequência fônica recorrente; coloca-se à esquerda de uma palavra; tem como objetivo formar novas palavras, ou seja, a presença do prefixo caracteriza uma palavra derivada; apresenta uma identidade fonética, uma identidade semântica e uma identidade funcional; é sempre uma forma presa (p. 152). A seguir, apresentamos uma tabela com os principais prefixos de Língua Portuguesa, acompanhados de seus respectivos significados e exemplos. PREFIXOS SIGNIFICADO(S) EXEMPLO A, an afastamento, privação anônimo, amoral Ana inversão, mudança anagrama, anacrônico Anfi em redor, em torno anfiteatro, anfíbio Anti oposição, ação contrária antídoto, antipatia Apo afastamento, separação apoteose, apóstolo O Morfema e a Palavra

54 II arqui, arce superioridade, primazia arquiduque, arcebispo cata movimento para baixo catálogo, catarata di duplicidade ditongo, dilema dia através de, afastamento diálogo, diagonal dis dificuldade, privação disenteria, diafasia ec, ex movimento para fora eclipse, êxodo em, en posição interior encéfalo, embrião endo movimento para dentro endocarpo, endovenoso epi posição superior epiderme, epidemia eu eufemismo, euforia excelência, perfeição hemi metade, meio hemisfério hiper posição superior, excesso hemistíquio hipo posição inferior, escassez hipocrisia, hipótese meta mudança, sucessão metamorfose, metáfora para proximidade, semelhança paralelo, parasita peri periferia, período em torno de pro posição em frente prólogo, profeta pros adjunção, em adição a prosódia, prosélito proto início, começo protótipo, protomártir poli multiplicidade polissílabo, politeísmo sin, sim simultaneidade síntese, sinfonia tele distância, afastamento televisão, telepatia Fonte: elaborado pela autora Radical É o nome dado ao morfema que contém o significado básico da palavra e está presente em todas as formas em que uma dada palavra pode ser flexionada. Vejamos o exemplo a seguir: Em amo, amas, ama, amamos, amais, amam, formas do presente do indicativo, é possível identificar um morfema comum a todas as formas apresentadas, indicativas das diferentes pessoas do discurso. MORFOLOGIA: CONCEITOS E CATEGORIAS

55 55 Assim, a esses morfemas em destaque dá-se o nome de radical. Rocha (2003) explica que outra forma de identificarmos o radical de uma palavra é flexioná-la em gênero e número (em caso de nomes, pronomes e numerais), e em número, pessoa, modo, tempo e aspecto (no caso dos verbos). Há, no entanto, outro elemento mórfico cuja função assemelha-se à do radical, o que, consequentemente, suscita a uma distinção. Trata-se do morfema denominado raiz que, via de regra, pode se apresentar numa relação de equivalência. Segundo Henriques (2007, p. 17), há que se considerar em alguns casos uma questão diacrônica (estudo da língua ao longo do tempo) para a qual, num grupo de palavras da mesma família, como [triste, tristeza, tristonho, entristecer], é possível identificar o radical trist. No entanto, no caso de entristecer, evidencia-se a presença de um radical secundário, entristec. Deve-se considerar, portanto, o primeiro radical como raiz, uma vez que este traz em si a significação básica de todo o conjunto de palavras; enquanto ao segundo cabe a denominação de radical, em função de sua natureza sincrônica, ou seja, da consideração da significação da palavra no momento presente, desconsiderando sua evolução histórica. Apresentamos, a seguir, alguns exemplos de quatro grupos ou famílias de palavras e, em seguida, a raiz que lhes são próprias. Em alguns casos, raiz e radical estabelecem uma relação de equivalência, porque não há radical primário e secundário; em outros, porém, como em reestudar, embelezamento e subterrâneo, a distinção torna-se evidente, pois que mediante a raiz (radical primário) temos um radical secundário. TERRA ESTUDAR BELO QUEBRAR Terreiro Estudo Beleza Quebra Terraria Estudante Belezura Quebradeira Terreno Estudantil Embelezar Requebrar Térreo Estudável Embelezamento Quebrazinha Enterrar Reestudar Quebra-quebra Aterrar Quebra-mola Subterrâneo RAIZ: TERR- RAIZ: ESTUD- RAIZ: BEL- RAIZ: QUEBR Fonte: Rocha (1998, p. 103) O Morfema e a Palavra

56 II Vejamos, agora, algumas palavras e seus respectivos radicais: PALAVRA > RADICAL PALAVRA > RADICAL Terra Terr- Terreno(a) Terren- Teatro Teatr- Apalavrado Apalavrad- Menino Menin- Varrer Varr- Cozinheiro Cozinheir- Soltar Solt- Terreno(s) Terren- Embelezar Embelez- Estudante Estudant Esclarecer Esclarec- Belo Bel Estudioso Estúdios- Fonte: Rocha (1998, p. 103) Vogal temática Em nomes (substantivos e adjetivos) podemos observar a ocorrência de determinadas vogais que criam famílias de palavras. São as chamadas vogais temáticas. São entendidas também como fonemas vocálicos que se acrescentam a determinados radicais. Quando houver desinências associadas ao radical, a vogal temática será acrescentada antes delas. Uma vez associada a um determinado radical, a vogal temática passará a constituir o tema de um vocábulo, a partir do qual podemos inserir os afixos (elementos derivacionais) ou desinências (elementos flexionais). Esse elemento mórfico pode ser facilmente identificado, segundo Henriques (2007), na categoria verbal. Vejamos os exemplos Amar > Comer > Dirigir Observe que, ao radical de cada um dos verbos apresentados, alia-se a respectiva vogal temática. Assim, radical [am] + vogal temática [a] origina o tema [ama], a partir do qual torna--se possível flexioná-lo em número, pessoa, modo, tempo e aspecto. A identificação da vogal temática é de suma importância para a identificação do paradigma flexional de um determinado verbo. Em outras palavras, a vogal temática indica a conjugação a qual o verbo pertence e, por extensão, como deverá se flexionar. O verbo amar, por exemplo, apresenta vogal temática MORFOLOGIA: CONCEITOS E CATEGORIAS

57 57 a, e se distingue de comer, cuja vogal temática é e. Além disso, essa distinção fica ainda mais evidente quando flexionamos o verbo no tempo Pretérito Imperfeito do modo Indicativo. Vejamos os exemplos: [Amar] amava, amavas, amava, amávamos, amáveis, amavam. [Comer] comia, comias, comia, comíamos, comíeis, comiam. O verbo amar apresenta uma desinência diferente do verbo comer para indicar o referido tempo verbal. Essa diferença, por sua vez, decorre do fato de pertencerem eles a diferentes conjugações que, consequentemente, são determinadas pelas vogais temáticas. Por que ensinar morfologia? As considerações apresentadas nesta unidade estão para muito além da simples descrição da estrutura dos elementos que compõem a Língua Portuguesa. Trata-se, na verdade, de um estudo que nos deixa entrever os mecanismos de significação de nosso vocabulário. Isso fica ainda mais evidente quando percebemos a função do radical, da raiz, da vogal temática, ou das desinências, por exemplo, que, em conjunto, constituem o todo de cada palavra. Assim, cada um dos termos por nós utilizados apresenta várias noções que, por sua vez, são muito importantes tanto para o processo de escrita quanto para o de leitura. O desenvolvimento das habilidades comunicativas perpassa essas questões de forma muito mais contundente do que normalmente acredita a grande parte dos professores em exercício. A questão não é destacar o estudo da Morfologia em detrimento das práticas de escrita e leitura em si, mas antes é alertar para o fato de que, sem o amparo da descrição linguística, tais práticas, se tomadas de modo exclusivo, podem deixar lacunas na formação de nossos alunos. Fonte: elaborado pela autora. O Morfema e a Palavra

58 II Assista agora a um vídeo que aborda a definição da Morfologia, bem como sua função, o objetivo de estudo e seus desdobramentos. < Assista agora a um vídeo sobre a estrutura das palavras. Ao longo do material, você analisará cada um dos morfemas que podem constituir as palavras em português, assim como estudamos anteriormente. < CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, você estudou as estruturas que constituem os vocábulos em Língua Portuguesa. Para tanto, tomamos como ponto de partida a noção de Morfema e, em seguida, analisamos os diversos desdobramentos dessa nomenclatura, como as noções de afixo, de radical, de raiz e de vogal temática. Cada um desses morfemas apresenta uma função bastante particular não apenas com relação à estrutura, mas também e principalmente para a constituição dos sentidos dos vocábulos. A partir dos estudos feitos, então, podemos inferir que cada vocábulo é o resultado de uma complexa rede de inter-relações que protagonizam um jogo bastante intrincado, governado pelas regras da língua e, ao mesmo tempo, pelas necessidades comunicativas de seus falantes. Estudar as estruturas das palavras, nesse sentido, significa também compreender melhor o nosso idioma como um todo, em outras palavras, podemos afirmar que, por meio dessas análises, conseguimos identificar nuances no campo da leitura e da interpretação de textos quase imperceptíveis. Ademais, tais conhecimentos nos tornam, por assim dizer, as peças--chave na dialética da interação e, a um só tempo, senhores dos recursos inesgotáveis da linguagem humana. MORFOLOGIA: CONCEITOS E CATEGORIAS

59 59 1. A partir do material didático, bem como das aulas expositivas, explique qual é a diferença existente entre Morfema e Morfe. Dê, pelos menos, dois exemplos. 2. A noção de Morfema Zero é de suma importância para o estudo da Morfologia da Língua Portuguesa uma vez que, a partir dele, analisamse as questões referentes ao gênero da palavra (masculino e feminino), bem como ao número (singular e plural). Explique essa afirmação, relacionando à definição desse morfema feita no início desta unidade. 3. Estudamos que os afixos constituem dois grupos distintos: prefixos e sufixos. Explique quais são as semelhanças e as diferenças entre um e outro. 4. Analise atentamente os vocábulos a seguir e indique o(s) afixo(s) que eles apresentam: a. Entardecer: b. Refazer: c. Desejável: d. Computadorizado: e. Incompetente:

60 MATERIAL COMPLEMENTAR Formação e classes de palavras no português do Brasil Margarida Basílio Editora: Contexto, 2ª edição Sinopse:Por que algumas palavras caem no desuso enquanto outras surgem? Como formamos novas palavras? Há uma regularidade nessas formações? Por que algumas palavras são gramaticalizadas e passam a fazer parte da nossa língua e outras não? O léxico, para Margarida Basílio, é um sistema dinâmico, em contínua expansão, mas, ao mesmo tempo, apresenta estruturas rígidas e padrões determinados. Assim, a autora nos revela que as palavras não surgem ao acaso, antes, sua formação obedece a certas regras, pois, do contrário, seria impossível manter a eficiência da comunicação entre os indivíduos que falam determinado idioma. Trata-se para ela do chamado Sistema de economia linguística, sem o qual não conseguiríamos suportar a quantidade de novos vocábulos que surgiriam sem qualquer relação com outros já existentes. Neste livro, de maneira extremamente didática, Margarida Basílio disseca os padrões gerais e os principais processos de formação das palavras no português falado no Brasil. Uma obra indispensável para estudantes, professores e especialistas em Língua Portuguesa que, independente do grau de formação, estão em constante aprendizado. Fonte: elaborado pela autora Morfologia Claudio Cezar Henriques Editora: Campus Sinopse:Neste livro, Cláudio Cezar Henriques discorre sobre os aspectos lexicais e flexionais da Língua Portuguesa, de modo a elencar os conceitos básicos, indispensáveis para a análise desses fenômenos. Portanto, questões como estrutura, processos de formação e surgimento de novos vocábulos são o foco de atenção do autor. Além de apresentar explicações deveras pertinentes e claras, o livro traz também várias propostas de exercícios de reflexão que, com certeza, serão fundamentais para a melhor compreensão do fenômeno em questão. Fonte: elaborado pela autora

61 Professora Me. Juliana Carla Barbieri MORFOLOGIA DERIVACIONAL: OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS UNIDADE III Objetivos de Aprendizagem Analisar os processos de formação de palavras em Língua Portuguesa. Identificar a derivação e a composição como os principais processos de formação de palavras. Compreender cada uma das possibilidades de derivação e de composição. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: Derivação Derivação prefixal Derivação sufixal Derivação parassintética A questão da derivação regressiva A questão da derivação imprópria Composição Composição por justaposição Composição por aglutinação Outros casos

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63 63 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), o estudo dos Processos de Formação de Palavras está fundamentado nas teorias de Basílio (1991; 2004), Henriques (2007) e Rocha (1999), cujos trabalhos têm representado, em conjunto, avanços significativos na abordagem do assunto. Antes, no entanto, de nos atermos aos processos de formação de palavras propriamente ditos, é importante que façamos um questionamento a respeito do por que se formam novas palavras e quais os princípios pragmáticos que regem os processos de formação. Basílio (2004) define o léxico de uma língua como uma espécie de banco de dados previamente classificado, cuja função é a de fornecer unidades básicas para a formação de enunciados. No entanto, esse banco de dados não atenderá às necessidades comunicativas do falante, se estiver restringido a um número limitado e fechado de unidades lexicais. Isso se explica porque estamos continuamente produzindo e/ ou reproduzindo novos seres, novos objetos e relações, conforme explica a linguista. Por isso, precisamos de um sistema dinâmico, capaz de se expandir e se adequar às mais diversas situações de interação comunicativa. Essa expansão, por sua vez, é manifestada justamente por meio dos processos de formação de palavras. Assim, ao fornecer unidades de designação para novos objetos, por exemplo, como computador, xerox e global, o sistema linguístico já abre, a partir desses vocábulos, um leque de possibilidades de formação de outros novos, como computação, xerocar e globalização e, consequentemente, amplia as possibilidades de construção de enunciados. No entanto, a formação de palavras é inerente a uma série de regras internas e externas ao sistema linguístico que são, por vezes, padronizadas. Isso ocorre porque, em termos pragmáticos, procuramos o máximo de eficiência. Assim, podemos dizer que esses processos resultam na criação de novas palavras a partir de outras já existentes no léxico, ou seja, nosso banco de dados está em constante expansão e utiliza, sobretudo, material já disponível para evitar uma possível dependência exacerbada da memória e, ao mesmo tempo, possibilitar uma comunicação que seja eficiente. Como você pode observar, seria muito Introdução

64 III difícil para a memória, além de nada prático, captar e guardar formas diferentes para cada necessidade de usar palavras em diferentes contextos e situações. Uma vez esclarecida a forma como são formadas as palavras e quais os critérios levados em consideração na efetivação desse processo, resta ainda saber o porquê formamos novas palavras. A primeira razão é que criamos palavras novas, via de regra, com o intuito de utilizar o significado de uma palavra já existente num contexto que requer uma classe gramatical diferente. Basílio (1991, p. 91) explica da seguinte forma: Dizemos, por exemplo, que acrescentamos o sufixo ção ao verbo agilizar com o objetivo de torná-lo um substantivo. Esse seria, nas palavras da autora, um exemplo de um tipo de necessidade que nos leva a formar palavras: há a necessidade de se utilizar uma palavra de uma classe ou categoria lexical, como o verbo, por exemplo, em um contexto que exija um substantivo. No entanto, há casos em que o processo de formação não altera a classe de palavras. É o que ocorre, por exemplo, no caso dos diminutivos. Como esses diminutivos são utilizados com o intuito de adicionar ao significado de uma palavra uma referência à dimensão pequena, ou para indicar uma linguagem afetiva, e, em alguns casos, até mesmo pejorativa, o diminutivo sempre acompanha a classe da palavra base, conforme podemos observar com os exemplos: sapato / sapatinho; argumento / argumentozinho tanto no primeiro quanto no segundo exemplo, por meio da palavra base são formados substantivos. Além dos diminutivos, há também o caso das palavras formadas por prefixação, cujo processo também não altera a classe da palavra. Assim, o objetivo do falante ao formar palavras, seja por sufixação, no caso dos diminutivos, ou prefixação, é o de formar outra palavra, semanticamente relacionada, que apresente uma diferença semântica específica em relação à palavra-base. Observe: fazer > refazer; lembrar > relembrar. Portanto, caro(a) acadêmico(a) de Letras, ao longo de nossos estudos, você poderá observar que os processos de formação de palavras estão presentes em nosso dia a dia e são ferramentas essenciais para que consigamos sucesso nas mais diversas situações comunicativas. MORFOLOGIA DERIVACIONAL: OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

65 65 DERIVAÇÃO Rocha (2006) define o processo de derivação como a junção de um afixo (que pode ser um prefixo ou sufixo) a uma palavra-base para a formação de outra. Derivação prefixal Pode ser entendida como um processo de formação no qual um prefixo é acrescido a uma base já existente na língua. É o caso, por exemplo, das palavras: Refazer [re (prefixo) + fazer (base)] Pré-vestibular [pré (prefixo) + vestibular (base)] Decompor [de (prefixo) + compor (base)] Infiel [in (prefixo) + fiel (base)] Há alguns casos, no entanto, que trazem não apenas prefixos em sua forma presa (cuja função está associada a uma palavra-base), mas a vocábulos que têm funcionamento pleno na língua portuguesa. Veja, por exemplo, os prefixos sobre, com, contra e entre, que são formadores de palavras como sobrenatural, convivência, contramão e entrevisão. Esses prefixos podem, em outros contextos, funcionar normalmente como termos livres. Diante disso, Câmara Jr. (1964) defende que, nessas circunstâncias, estamos diante de casos de composição (que estudaremos mais adiante). Isso ocorre, sobretudo, porque para o autor devemos considerar a existências de duas bases, e não de um prefixo e uma base. Rocha (2003), no entanto, discorda desse ponto de vista e defende a ocorrência do fenômeno da derivação. Segundo ele, as palavras compostas têm como traço principal a presença de duas raízes ou mais, o que não ocorre com os termos sobre, com, contra e entre. Além disso, ao contrário do que postula Câmara Jr., o autor considera essas palavras não como formas livres que funcionam nos mais diversos contextos de forma independente, mas como formas que, não sendo presas, porque têm significação isolada da palavra-base, são dependentes. Em outras palavras, isso significa dizer que, embora tenham significação, esta está atrelada a outros vocábulos que passam a constituir, em conjunto, um todo funcional. Observe o exemplo a seguir: Derivação

66 III [Na aula, o professor falou sobre boas maneiras.] Nesse caso, o vocábulo sobre, cuja carga semântica remete à ideia de assunto, está relacionado tanto ao verbo falou quanto ao complemento boas maneiras, o que explica a definição. Derivação sufixal Ocorre, de modo geral, quando acrescentamos um afixo à direita de uma palavra-base, ou seja, um vocábulo já existente na língua. Normalmente, conforme estudamos na Unidade II, a derivação sufixal, tende a formar palavras de classes diferentes daquelas às quais pertencem as palavras primitivas: [Autorizar > autorização] [Leal > lealdade] No primeiro caso, o verbo (palavra primitiva) deu origem a um substantivo (palavra derivada). A mudança de categoria ocorre também no segundo exemplo em que a palavra primitiva (adjetivo) deu origem à palavra derivada (substantivo). Derivação parassintética A derivação parassintética é, tradicionalmente, definida como um processo de formação de palavras que consiste na adição simultânea tanto do prefixo, quanto do sufixo a uma base livre para a formação de outra palavra semanticamente relacionada. No entanto, a insuficiência do tratamento tradicional está justamente no fato de que o que realmente caracteriza a derivação parassintética não é, simplesmente, a presença ou, ainda, a ocorrência simultânea de prefixo e sufixo junto à palavra base, mas a estrutura de formação, que exige utilização simultânea de prefixo e sufixo no processo de formação. Por isso, não podemos considerar que todas as palavras que apresentam sufixo e prefixo tenham sido formadas via processo de derivação parassintética. Assim, enriquecer constitui um exemplo de formação por derivação parassintética, justamente porque o prefixo [em] e o sufixo (ecer) foram acrescentados simultaneamente. O mesmo não ocorre, por exemplo, com insensatez, formada em duas etapas de processo de derivação: prefixal e sufixal. MORFOLOGIA DERIVACIONAL: OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

67 67 Ademais, em casos de prefixação, identifica-se a ausência de significação dos prefixos, normalmente dotados de alta carga semântica, conforme estudamos na Unidade II. O processo de parassíntese forma, basicamente, verbos a partir do acréscimo de um prefixo e um sufixo à palavra-base, embora, muitas vezes, ocorra somente o acréscimo da terminação verbal (vogal temática + desinência de infinitivo) e não um sufixo propriamente dito. [Esquentar: (es + quente + ar)] Observe, agora, as ocorrências mais frequentes de parassíntese no Português do Brasil: VOCÁBULO PRIMITIVO PARASSÍNTESE VOCÁBULO PRIMITIVO PARASSÍNTESE Belo Embelezar Buraco Esburacar Bênção Abençoar Mole Amolecer Grande Engrandecer Noite Anoitecer Manhã Amanhecer Pálido Empalidecer Maldição Amaldiçoar Quente Esquentar Rijo Enrijecer Rico Enriquecer Louco Enlouquecer Sangue Ensanguentar Triste Entristecer Surdo Ensurdecer Velho Envelhecer Terra Enterrar Fonte: elaborado pela autora A questão da derivação regressiva A derivação regressiva caracteriza-se, basicamente, por formar uma nova palavra a partir da supressão de um elemento, ao invés do acréscimo, como acontecem nos demais casos de derivação. No entanto, essa definição, de orientação normativa e tradicional, confunde, muitas vezes, derivação com redução ou abreviação. Essa confusão pode ser explicada porque também temos uma palavra formada pela supressão de algum elemento da palavra derivante. Mas a diferença é que, nesses casos, a palavra formada é sinônima da palavra-base e é usada, muitas Derivação

68 III vezes, no sentido coloquial. É o que ocorre, por exemplo, com Sampa > São Paulo. O mesmo fenômeno, explica Basílio (1991), ocorre também na redução de formas compostas, quando uma das partes da composição passa a ser usada para corresponder ao todo: vídeo, por videocassete. Assim, pode-se observar, claramente, a redução ou abreviação do processo de derivação regressiva, pois que este não resulta numa palavra cujo significado é o mesmo da palavra derivante. Segundo Mesquita (1999), na maioria das vezes, o processo de derivação regressiva tende a formar substantivos abstratos que, por extensão, fazem referência ao nome de uma determinada ação e são, por isso, chamados de deverbais, ou seja, aqueles que surgiram a partir de um verbo. Observe a tabela abaixo: VERBO SUBSTANTIVO VERBO SUBSTANTIVO VERBO SUBSTANTIVO Abalar Abalo Enlaçar Enlace Recuar Recuo Afagar Afago Errar Erro Resgatar Resgate Alcançar Alcance Fugir Fuga Roubar Roubo Atacar Ataque Gritar Grito Sustentar Sustento Buscar Busca Jogar Jogo Trocar Troco, troca Castigar Castigo Laçar Laço Vender Venda Chorar Choro Levantar Levante Voar Voo Comprar Compra Perder Perda Debater Debate Pescar Pesca Fonte: Mesquita (1999, p. 134) A questão da derivação imprópria A chamada derivação imprópria é explicada, tradicionalmente, como um processo em que uma palavra de uma determinada classe gramatical é transposta para outra. Na verdade, a palavra mais apropriada para o fenômeno seria conversão. Podemos, assim, ter conversões de adjetivo para substantivo, como ocorre nos exemplos a seguir: [Os pobres precisam de ajuda.] MORFOLOGIA DERIVACIONAL: OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

69 69 Observe que a palavra pobre é um adjetivo, mas funciona como substantivo, constituindo, pois, o núcleo do sintagma nominal que constitui o sujeito da oração. Podem também ocorrer conversões de verbo para substantivo, como em: [O poder e o dever nos chamam.] Nesses casos, os verbos foram substantivados em função da anteposição do artigo. É comum também a conversão de adjetivo para advérbio: [Ele falou alto.] Observe, agora, os principais casos de derivação imprópria: VOCÁBULO PRIMITIVO (SIGNIFICADO) Burro: animal quadrúpede (substantivo comum). Oliveira: árvores baixas de tronco retorcido (substantivo comum). Jantar: designa o ato de se alimentar no período vespertino ou noturno (verbo). Belo: diz respeito à característica daquele/ daquilo que apresenta beleza (adjetivo). Fonte: elaborado pela autora DERIVAÇÃO IMPRÓPRIA (SIGNIFICADO) Burro: qualquer pessoa a quem se quer referir por sua inépcia (adjetivo) Oliveira: sobrenome de família (substantivo próprio). Jantar: precedido de artigo (o) indica o nome da ação (substantivo abstrato). Belo: precedido de artigo (o) indica um ser em si dotado de beleza (substantivo). COMPOSIÇÃO O processo de composição, por sua vez, caracteriza-se, sobretudo pela junção de uma base a outra para a formação de uma palavra. Por isso, frequentemente, dizse composta quando se quer referir a uma palavra que apresenta duas bases. Entenda-se aqui por base uma forma livre, na terminologia de Mattoso Câmara (2005), que pode ser genericamente entendida como uma palavra comum e que pode, por si só, constituir um enunciado. Composição

70 III Composição por justaposição Segundo Henriques (2007, p. 113), a composição se dá por justaposição, quando não há redução de nenhum dos elementos mórficos das palavras que se agrupam. Nesse sentido, podemos, então, citar como casos de ocorrência da chamada Composição por Justaposição as seguintes palavras: [beija-flor]; [pé-de-moleque]; [guarda-chuva]. Observe que, nos casos acima listados, o processo de composição manteve as palavras primitivas em seus aspectos morfológicos e fonéticos, e também semânticos. Ocorre que, em vez de se considerar cada palavra em separado, o falante passa a tomá-la como um todo funcional, pois que, agora, elas trazem em si uma única carga semântica. Para exemplificar, tomemos o vocábulo beija-flor. Tanto as estruturas morfológica e fonética continuam intactas, mas, em contrapartida, a carga semântica de beija (toque de algo ou alguém com os lábios) se uniu a de flor para fazer a referência a um pássaro conhecido, justamente, por apresentar um comportamento que evoca um beijo a uma flor. Portanto, o que está em jogo, a partir do processo de composição, é o todo, e não mais cada palavra individualmente. Composição por aglutinação Ao contrário da Justaposição, a Aglutinação ocorre quando há perdas morfológicas e fonológicas. [Aguardente > água + ardente]; [Lobisomem > lobo + homem]. MORFOLOGIA DERIVACIONAL: OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

71 71 Afinal, por que formamos novas palavras? Formar novas palavras é uma capacidade própria dos falantes de um determinado idioma. As regras de formação, sejam elas referentes à derivação ou à composição, fazem parte da gramática internalizada e, por isso, podem ser utilizadas sempre que necessário. Frequentemente, criamos novas palavras que podem passar a constituir o léxico da Língua Portuguesa. Tudo dependerá da aplicabilidade ou não de um determinado termo, em função das necessidades comunicativas suscitadas num contexto de comunicação específico ou geral. Assim, por exemplo, é importante que entendamos que palavras como digitalização ganharam espaço e repercussão porque são extremamente funcionais na atual conjuntura em que os avanços tecnológicos têm papel de destaque em boa parte das funções que desempenhamos todos os dias. Em contrapartida, o vocábulo imexível, cunhado por um político há alguns anos, não teve a mesma aceitação, pois que seu emprego, possivelmente, não foi ao encontro das necessidades dos falantes. Reflexões como essas, se levadas ao contexto escolar de forma lúdica e interativa, podem contribuir para a desmistificação da Língua Portuguesa como idioma inacessível, pois que nossos alunos, antes meros espectadores e reprodutores de um conjunto de regras que determinam o bom uso do idioma, passarão a atores e autores dessa língua sobre a qual devem ter total autonomia. Fonte: elaborado pela autora. Outros casos Além dos processos básicos derivação e composição já estudados, faremos, agora, o estudo de outros processos de formação de palavras não tão produtivos, mas igualmente importantes na língua portuguesa. O primeiro desses casos é a chamada Abreviação. Trata-se, de modo geral, da redução de uma palavra longa, com o intuito de se facilitar tanto a escrita quanto a pronúncia: [Moto > motocicleta]; [Eletro > eletrocardiograma]. Composição

72 III Veja, a seguir, os principais casos de Abreviação do Português do Brasil: ABREVIAURA SIGNIFICADO ABREVIAURA SIGNIFICADO Autom. Automóvel Fem. Feminino Biogr. Biografia Gram. Gramática Bot. Botânica Hab. Habitante Bras. Brasil Ir. Irmão Cia. Companhia Ltda. Limitada Cód. Código Lóg. Lógica Dep. Departamento Med. Medicina Dic. Dicionário Nac. Nacional Elem. Emento Pág. Página Eng. Engenheiro Prof. Professor Etc. Fac. Fonte: elaborado pela autora Do latim [et cetera]: e outras coisas Faculdade Sto(a). Santo O segundo diz respeito às siglas, processo no qual se utiliza a primeira letra de cada palavra que compõe um determinado nome ou expressão. [USP > Universidade de São Paulo]; [ONU > Organização das Nações Unidas]. As Siglas e as Abreviaturas também podem ser classificadas como processos de formação de palavras: são, na verdade, palavras formadas pelas iniciais de um sintagma que, nas palavras de Henriques (2007, p. 138), remetem a um significado que pode ter cunho institucional (ISS: Imposto sobre serviço). Também devem ser consideradas siglas, segundo o autor, palavras resultantes de alguns morfemas que constituem os vocábulos (Detran: Departamento de Trânsito). Veja, a seguir, as principais siglas do Português do Brasil: MORFOLOGIA DERIVACIONAL: OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

73 73 SIGLAS SIGNIFICADO ABI Associação Brasileira de Imprensa ABL Associação Brasileira de Letras A. C. Antes de Cristo A/C Aos cuidados de AL Alagoas AM Amazonas AP Amapá BA Bahia BNH Banco Nacional de Habitação BR Brasil CBF Comissão Brasileira de Futebol CEP Código de Endereço Postal CPF Cadastro de Pessoa Física DNER Departamento Nacional de Estradas e Rodagem ES Espírito Santo EUA Estados Unidos da América FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FAB Força Aérea Brasileira GO Goiás MG Minas Gerais MS Mato Grosso MT Mato Grosso do Sul ONU Organização das Nações Unidas PE Pernambuco RJ Rio de Janeiro RN Rio Grande do Norte SE Sergipe SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial TO Tocantins Fonte: elaborado pela autora Composição

74 III Finalmente, constitui um mecanismo formador de vocábulos os chamados Neologismos, que nada mais são do que criações, ou seja, palavras novas que ainda não estão dicionarizadas. Dentro dessa acepção está a noção de estrangeirismo, muito recorrente no Português do Brasil. Nesses casos, os falantes passam a usar, em língua portuguesa, palavras advindas de outros idiomas, como ocorre em scanner e show. Há, além disso, ocorrências em que o estrangeirismo ganha inclusive ortografia portuguesa, como a palavra estresse, do inglês stress. Estrangeirismos no português: Cheeseburguer ou Pão com carne moída prensada e queijo? O estrangeirismo ganhou, definitivamente, seu lugar de destaque no Português brasileiro. Seja na fala ou na escrita, palavras ou expressões oriundas, na maioria dos casos, do inglês se fazem presentes nos mais diversos estabelecimentos comerciais e/ou industriais, na linguagem computacional e na comunicação via internet. O professor de língua portuguesa, por sua vez, deve estar a par dessas mudanças, principalmente, porque elas estão e estarão presentes na sala de aula. O texto indicado no link abaixo constitui, assim, uma importante ferramenta de reflexão a você, acadêmico(a) de Letras. < Assista ao vídeo abaixo que trata dos processos de formação de palavras. < Assista ao vídeo abaixo sobre a introdução de estrangeirismos no Português do Brasil. < MORFOLOGIA DERIVACIONAL: OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

75 75 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo desta unidade você estudou os processos de formação de palavras em português e, por meio deles, constatou a importância desses mecanismos no que diz respeito às necessidades comunicativas dos falantes. Essas necessidades, por sua vez, funcionam como força-motriz para a criação de novos vocábulos e, ao mesmo tempo, para o descarte de outros. Por meio dessas considerações, podemos, então, inferir que a língua portuguesa é extremamente dinâmica e está, justamente por isso, em constante transformação. Em função disso, podemos constatar também que sua gramática é emergente, pois que estruturas hoje inexistentes podem ser criadas e incluídas no grandioso arcabouço de vocábulos portugueses; em contrapartida, alguns termos, que já não são produtivos em função, sobretudo, do contexto, podem cair no desuso e passar a constituir o que chamamos de arcaísmo. Assim, entram em cena os processos de formação de palavras que, embora nos apresentem como um grande leque de possibilidades, também limitam essas mesmas possibilidades por meio das regras internas da língua que permitem, por exemplo, a derivação prefixal com acréscimo do afixo [a] em anormal, mas rejeita o morfema [des], o que torna impossível a forma desnormal. Tal fato nos remete a duas observações: a primeira diz respeito ao fato de que a negação pode ser feita com diferentes prefixos em português, como [in (infeliz > não feliz), a (anormal > não normal), des (desligado > não ligado)]. Dentre os principais processos, você estudou o de Derivação e o de Composição. Este diz respeito à junção de duas formas já existentes na Língua, a partir das quais o falante agrega uma nova carga semântica. Aquele trata dos processos conhecidos pelo aproveitamento de uma base à qual, geralmente, podem ser agregados prefixos, sufixos, ou mesmo ambos simultaneamente. Além de casos de derivação por regressão ou por conversão, menos produtivos, mas também importantes. Ao final, o foco se voltou para os processos secundários de formação de palavras: as siglas, as abreviaturas e os neologismos. Nesse momento, você pode analisar e refletir sobre os mecanismos que os governam, bem como sobre sua produtividade e aplicabilidade no português do Brasil. Considerações Finais

76 1. Imagine a seguinte situação: você adora encontrar os amigos e, para isso, faz frequentemente vários convites como o apresentado a seguir: Quer ir dançar? Vamos comigo a uma danceteria? a. Utilizando essas mesmas formas, como seria o seu convite se vocês fossem passear e lanchar? b. Que palavras podem ter a mesma terminação? c. Quais não seguem a mesma terminação? 2. Segundo Basílio (2004), os processos de formação de palavras ganham especial atenção à medida que, graças a eles, o falante pode acionar a chamada economia linguística, uma vez que pode criar novas palavras a partir das já existentes. Quais são os dois processos mais recorrentes e produtivos em Português? Explique, detalhadamente, no que consiste cada um deles. 3. As siglas e as abreviaturas são muito utilizadas, sobretudo, por instituições públicas. Qual seria, sob o ponto de vista da dinamicidade da língua, a função desses dois processos? 4. Explique o que se entende por Neologismo e apresente, pelo menos, dois exemplos.

77 MATERIAL COMPLEMENTAR Estruturas Morfológicas do Português Luiz Carlos de Assis Rocha Editora: UFMG, 1 edição Sinopse: O estudo da morfologia, ao contrário do que se observa em ouros campos da linguística, não teve um tratamento uniforme e constante, sobretudo no que tange aos processos de formação de novas palavras na língua. As gramáticas e os manuais bem refletem esse fato: abandonando o sentimento etimológico que os norteava, passaram a guiar-se por uma visão estritamente historicista. Em algum momento, não obstante o avanço do estruturalismo, a morfologia deixou de acompanhar o ritmo de desenvolvimento de outros ramos linguísticos, como a fonologia, a sintaxe e a semântica. Ainda que a abordagem dos temas morfológicos se mantenha quase inalterada em obras de cunho didático, o assunto tem sido, há algum tempo, o campo de interesse de pesquisadores, manifestado em trabalhos expressivos que questionavam o posicionamento da gramática tradicional. O estudo da língua não convém, numa atitude iconoclasta, derrubar teorias e métodos dessa gramática tradicional, mesmo porque ela deve ser considerada em relação à época de seu surgimento e ao material disponível de então. Cabe-lhe, entretanto, refletir à luz de novos fundamentos teóricos, sobre sua validade, tanto no que diz respeito a conceitos, quanto à prática, apontando lacunas e impressões e, se possível, equacionando problemas. É nesse sentido que se constrói a obra do Professor Luiz Carlos Rocha. Numa abordagem gerativa, fundamentando-se em bibliografia atualizada e pertinente, o autor nos faz repensar as estruturas morfológicas do Português, de modo especial os processos de formação de palavras, esse campo admirável e fascinante do léxico. Esta não é a primeira pesquisa empreendida por ele no campo da morfologia, já que o assunto foi tema de sua dissertação de Mestrado, bem como de sua tese de doutorado. A ampla experiência didática do Professor Luiz Carlos Rocha assegura-lhe a possibilidade de apresentar, com clareza e competência, esta nova obra que será, sem dúvida, um excelente apoio para os estudiosos do Português. Fonte: ELEAZARO, Clara Grimaldi. In: ROCHA, Luiz Carlos de Assis. Estruturas morfológicas do português. Belo Horizonte: ed. UFMG, Material Complementar

78 MATERIAL COMPLEMENTAR Neologismos de Língua Inglesa Martha Steinberg Editora: Nova Alexandria, 8ª edição Sinopse: Uma obra dirigida a estudantes, viajantes e ao leitor que deseja se aperfeiçoar na língua inglesa. Valendo-se de exemplos concretos recolhidos do dia a dia, Martha Steinberg realiza uma completa e detalhada análise sobre a formação dos neologismos da língua inglesa, explicando os tipos de combinação e derivação que deram origem aos novos vocábulos e oferecendo o significado em português de cada um deles. Disponível em: < livro/ neologismos-de-lingua-inglesa>. Acesso em: 10 mar

79 Professora Me. Juliana Carla Barbieri MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS UNIDADE IV Objetivos de Aprendizagem Promover uma reflexão abrangente e exaustiva acerca dos fenômenos que a perspectiva tradicional intitulou classes de palavras variáveis. Analisar, em separado, cada uma dessas classes de modo a identificar os traços morfológicos, sintáticos e semânticos nelas presentes. Relacionar esses mesmos traços à questão do uso e/ou aplicabilidade às mais diversas situações de interação social. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: Verbo Aspectos morfológicos, sintáticos e semânticos Conjugação Flexão número-pessoal Voz Tempo Modo Aspecto Substantivo Aspectos morfológicos, sintáticos e semânticos A questão das flexões A questão do grau

80 Adjetivo Aspectos morfológicos, sintáticos e semânticos A questão das flexões A questão do grau Pronome Aspectos morfológicos, sintáticos e semânticos Pronomes pessoais Pronomes demonstrativos Pronomes possessivos Pronomes interrogativos Pronomes indefinidos Pronomes relativos Pronomes reflexivos Artigo Aspectos morfológicos, sintáticos e semânticos A questão das flexões Numeral Aspectos morfológicos, sintáticos e semânticos A questão das flexões

81 81 INTRODUÇÃO Nesta unidade, você estudará a primeira parte da chamada Morfologia Inflexional, ou seja, a parte da Morfologia que trata das classes de palavras, de suas flexões ou da ausência delas. Primeiramente, estudaremos os vocábulos variáveis, assim denominados por conta de seu caráter flexional. Esse caráter se apresentará de duas formas: por meio da classe verbal, em que identificaremos as flexões de número, pessoa, modo e tempo; ou pelas classes dos nomes (substantivos e adjetivos), bem como daquelas que se flexionam como eles, ou seja, em número e gênero, como é o caso do pronome, do artigo e do numeral. Dentre todos os vocábulos variáveis da Língua Portuguesa, o Verbo é, talvez, o que apresenta maior complexidade e, ao mesmo tempo, mais discussões levantadas dada a diversidade de classificações apresentadas nos manuais gramaticais. A primeira questão sobre a qual se discorrerá diz respeito à definição dessa classe palavra que indica ação, estado ou fenômeno natural. Ora, uma análise mais atenta já evidencia a necessidade de uma revisão do tratamento dado ao verbo: há outras palavras em português, não necessariamente verbos, que podem, de forma análoga, indicar ação, estado ou fenômeno natural. Ao longo de nossos estudos, você será convidado(a) a analisar esses vocábulos à luz de três critérios de análise: o morfológico, sintático e o semântico. Essa proposta nos oferecerá elementos que, com certeza, nos permitirão identificar o verbo em oposição a outras classes de palavras. Terminada essa primeira etapa, passaremos, então, ao estudo dos Substantivos, bem como dos Adjetivos, de modo a identificar suas características principais a partir de exemplos que tomam como referência a língua em uso. Nesse ínterim, discutiremos a questão da flexão, bem como da incoerência de se considerar o grau como uma simples variação indicativa de tamanho ou dimensão. Ao final, trataremos da classe dos Pronomes cuja função está para muito além de, simplesmente, substituir os nomes (substantivos). Tal definição se torna insuficiente à medida que observamos o pronome desempenhando papéis referenciais, como a indicação de pessoa do discurso, tempo e lugar a partir da perspectiva do falante. Ademais, algumas características morfológicas também serão colocadas em relevo, sobretudo no que diz respeito ao gênero dos pronomes. Introdução

82 IV Estes, assim como os nomes, podem assumir a forma masculina (não marcada) e a feminina (marcada), mas se diferenciam por apresentarem resquícios do latim ao indicarem também o gênero neutro, empregado com sentido pejorativo, ou para fazer remissão a objetos em geral, principalmente se desconhecidos do falante. A classe dos Artigos e dos Numerais será também a mesma perspectiva e procurará apresentar as implicações semânticas advindas de seu uso nas mais diversas situações de interação social. MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS A primeira tentativa de distribuição dos vocábulos em classes fundamentais foi feita, pela primeira vez, pelo gramático alexandrino Dionísio da Trácia. Sua classificação foi adotada com pequenas modificações para o latim e, posteriormente, passou para as línguas europeias modernas, e com o português não foi diferente. No entanto, a crítica que se deve fazer a esse modelo diz respeito à heterogeneidade com relação aos critérios adotados para essa classificação: ora, leva-se em consideração apenas o critério semântico, ora o morfológico e ora o sintático. A primeira classificação a ser analisada será o Verbo. VERBO O verbo é a palavra mais importante do discurso, porque é a partir dele que se forma o predicado e, em alguns casos, pode concentrar em si toda a informação, quando, por exemplo, deixa de referi-la a um sujeito, como ocorre com os chamados verbos impessoais. Além dos padrões de conjugações, o verbo MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS

83 83 apresenta-se também em suas formas ditas nominais (infinitivo, gerúndio e particípio), assim denominadas por não apresentarem as flexões que, normalmente, caracterizam a classe verbal. Tradicionalmente, o infinitivo é concebido como o nome do verbo, ou seja, sua forma inicial, como amar; o gerúndio pode ser entendido como a forma responsável pela indicação de um processo. Assim, por exemplo, em cantando, temos a noção de uma ação que não se realiza de modo pontual, estanque, mas gradual e contínuo. O particípio ocorre frequentemente nos períodos com voz passiva com o verbo auxiliar ser/estar, mas, de modo geral, pode funcionar também com função adjetiva, atribuindo características ao núcleo substantivo de uma oração, como ocorre em: João é muito querido. ASPECTOS MORFOLÓGICOS, SINTÁTICOS E SEMÂNTICOS Tradicionalmente, o verbo é definido como a palavra que denota AÇÃO, ESTADO ou FENÔMENO DA NATUREZA. É importante destacar, porém, que essa classificação baseia- -se unicamente no critério semântico e, por isso, pouco serve à identificação de um verbo em um contexto real de uso. Consequentemente, haverá o risco de se classificar como verbos substantivos que também denotam ação (luta, combate ou corrida), ou fenômeno (chuva, trovão, relâmpago), bem como adjetivos que podem indicar estado (cansado, preocupado, triste). Por isso, além dos traços semânticos, é preciso analisar também os morfológicos e pragmáticos. Assim, o verbo deve ser entendido como a palavra que pode apresentar variações quanto a seis categorias diferentes: pessoa, número, tempo, modo e aspecto. Aspectos Morfológicos, Sintáticos e Semânticos

84 IV CONJUGAÇÃO As conjugações verbais em português obedecem a certo padrão de regularidade: a maioria dos verbos pode ser conjugada segundo um parâmetro específico que, por sua vez, é determinado a partir da vogal temática indicada na forma verbal. Assim, por exemplo, verbos como amar, estudar e falar seguem o paradigma da chamada 1ª Conjugação, pois que apresentam a vogal temática a. Ao passo que os verbos comer, ler e crer flexionam-se segundo o paradigma da 2ª conjugação, por conta da vogal temática e; e as formas dormir, dirigir e corrigir respeitam o padrão de flexão da chamada 3ª conjugação, pois que apresentam a vogal temática i. Há, no entanto, alguns casos em português de verbos como por, depor e compor que podem gerar algumas dúvidas, sobretudo porque, a priori, eles parecem não se enquadrar aos padrões de conjugação do português. Ocorre que tais verbos são, tradicionalmente, analisados à luz da chamada 2ª conjugação em função de sua origem: o verbo pôr é o resultado evolutivo do verbo ponere, do latim, por exemplo. Observe que, em sua forma clássica, o verbo apresentava vogal temática e, o que, consequentemente, acabou por direcionar as análises dos gramáticos de língua portuguesa no sentido de considerá-lo um verbo de 2ª conjugação. Por extensão, os verbos dele derivados têm recebido o mesmo tratamento. Embora a maioria dos verbos siga um padrão regular de conjugação, há alguns casos que dele destoam. São os chamados verbos irregulares, anômalos e defectivos. Ao contrário dos verbos regulares, que não apresentam qualquer alteração no radical ao serem conjugados, os verbos irregulares se caracterizam, justamente, por uma alteração significativa no radical. É o caso do verbo fazer, cujo radical se modifica quando da flexão modo-temporal e número-pessoal. Assim, o radical faz transforma-se em faç, ou far (faço, farei). Os verbos anômalos são raros em português e dizem respeito às formas que sofrem alteração plena em sua estrutura. Tal fenômeno ocorre, por exemplo, com o verbo ser. No presente do indicativo, ainda podemos observar certa regularidade no que diz respeito ao radical (sou, és, é, somos, sois, são). Em outros tempos, no entanto, o verbo pode assumir formas completamente distintas, como ocorre, por exemplo, com o pretérito imperfeito (era, eras, era, éramos, éreis, eram). MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS

85 85 Já os verbos defectivos são assim denominados por apresentarem, segundo a expressão comumente empregada, certos defeitos de conjugação. Isso ocorre porque alguns verbos não apresentam a possibilidade de conjugação para todas as pessoas do discurso (eu, tu, ele, nós, vós, eles). Na verdade, essa falha ou ausência se dá por conta do traço semântico, ou seja, do sentido mesmo da forma verbal. Observe o verbo chover: a inexistência de uma forma para a primeira pessoa (singular ou plural) ou segunda (singular e plural) nos deixa entrever a impossibilidade de se fazer tal conjugação, não pela falta de uma forma que nos permita tal realização linguística, mas porque não há qualquer relação lógica e coerente para que tenhamos, por exemplo, a forma eu chovo. Verbos como esse foram classificados pela tradição gramatical como impessoais justamente por apresentarem conjugação apenas na 3ª pessoa, ou melhor, na não pessoa. Flexão número-pessoal A flexão de pessoa tem sido identificada e definida em função do papel do sujeito na oração. As gramáticas tradicionais denominam 1ª pessoa quando o sujeito é aquele que fala; 2ª quando é aquele com quem se fala; e 3ª para aquele de quem se fala. A flexão de número refere-se à quantidade de sujeitos envolvidos no processo expresso pelo verbo. Assim, quando há um único sujeito, diz-se que o número é singular, quando há dois ou mais, plural. Em português, as flexões de pessoa e número acumulam-se em um único morfema: trata-se do sufixo número-pessoa que tradicionalmente era chamado desinência número-pessoal. Estudos recentes, entretanto, têm questionado a legitimidade da chamada 3ª pessoa como pessoa do discurso. Esse questionamento parte da observação de que o ele exclui-se da relação estabelecida entre eu e tu, pois apresenta um enunciado sobre alguém ou algo, o que leva à conclusão de que a terceira pessoa exprime, na verdade, a não pessoa, ou seja, a forma não pessoal da flexão verbal. Prova disso é o fato de que a terceira pessoa do singular não tem desinência, ou melhor, apresenta desinência zero. Com relação à flexão de número, há certo consenso no reconhecimento da existência de um plural verdadeiro somente na terceira pessoa. Assim, a distinção Conjugação

86 IV tradicional entre singular e plural deve ser feita a partir do critério que distingue a pessoa estrita (singular) e a pessoa amplificada (plural). Como a unicidade do eu contradiz a possibilidade de uma pluralização, pois não pode haver vários eu concebidos por aquele que fala, nós não é uma junção de objetos idênticos, mas do eu aliado a outros. É importante destacar, no entanto, que no que diz respeito à estrutura linguística propriamente dita, há uma identificação mórfica (sufixo número- -pessoal) para a pessoa do falante (eu); a pessoa do ouvinte (tu) e para a não pessoa (ele). Voz A categoria da Voz, para a perspectiva tradicional, pode ser definida segundo o papel que o sujeito desempenha no enunciado da frase. Assim, se o sujeito é o agente, fala-se em voz ativa; se é paciente, voz passiva; se o sujeito é, ao mesmo tempo, agente e paciente, ocorre, então, a voz reflexiva; e, nos casos em que há dois sujeitos que são, simultaneamente, agente e paciente, tem-se a voz reflexiva recíproca. Outro aspecto importante a ser observado é que essa categoria não apresenta um morfema específico para sua caracterização. Sua identificação faz-se, normalmente, pela presença ou ausência de determinados elementos linguísticos como verbos auxiliares, pronomes apassivadores ou pessoais reflexivos e desinências. Câmara Jr. (2005) chama a atenção para o fato de que, na voz ativa, o processo verbal é concebido como uma atividade, uma ação de um sujeito de quem (pelo menos no nível da representação linguística) parte o processo. Para ele, a essência da voz passiva é o realce do processo ativo, em detrimento do agente que pode ser omitido ou, às vezes, incluído no predicado, como ocorre nos seguintes exemplos: [O presidente foi assassinado]; [O presidente foi assassinado por um grupo terrorista]. Na voz reflexiva, o sujeito pratica e sofre a ação, o que demonstra uma participação intensa do sujeito no processo verbal, como ocorre com a oração: [Eu me feri]. MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS

87 87 Na voz reflexiva recíproca, há mais de um sujeito envolvido no processo, recebendo ou sofrendo a ação e, ao mesmo tempo, praticando-a. Por isso, a categoria de voz deve ser entendida a partir das relações que se estabelecem entre o sujeito e o predicado. Embora, de qualquer forma, quem determina a estrutura do enunciado a ser comunicado, fazendo sobressair este ou aquele elemento é o falante, o sujeito da enunciação. Tempo A categoria tempo tem sido analisada como aquela cujo papel é o de situar o momento da ocorrência de um fato expresso pelo verbo (presente, passado ou futuro). O problema dessa definição é que ela exclui da concepção de tempo aquilo que lhe é essencial: o ponto de referência para a percepção do que é presente, passado ou futuro, ou seja, o momento do processo de enunciação. Assim, essa categoria deve ser entendida como aquela que marca, na língua, por meio de morfemas, a posição que os fatos referidos ocupam no tempo, tomando como ponto de partida o ponto dêitico da enunciação. Para uma explicação mais clara acerca do que seja esse ponto dêitico da enunciação, pode-se imaginar uma reta cronológica, ou ainda, uma linha do tempo na qual se marca o momento da enunciação por meio de um ponto, o NUNC (do latim, agora) em que se situa o falante. Uma vez determinado o NUNC no qual se encontra o falante, pode-se situar o fato como anterior, posterior ou simultâneo a esse ponto. A língua portuguesa apresenta diversos meios de expressar os vários pontos dessa linha do tempo, pois não só podemos expressar o presente, o passado e o futuro, ou seja, o que ocorre no momento em que o falante produz o enunciado, o que ocorreu ou ocorrerá em momento anterior ou posterior àquele em que o falante produz o enunciado, mas também outros pontos em que se subdividem no passado e no futuro (que em português são chamados de relativos, como o mais-que-perfeito). Um tempo relativo se caracteriza por recorrer a não apenas um ponto de referência, o ponto dêitico da enunciação, o NUNC, mas também por levar em consideração outro ponto da linha de tempo que precede ou é posterior ao momento da enunciação. Conjugação

88 IV O tempo mais-que-perfeito, por exemplo, designa um tempo relativo porque toma como ponto de referência o momento da enunciação e, ao mesmo tempo, outro ponto da linha do tempo, anterior ao da enunciação para situar um fato em um ponto ainda mais anterior. Assim, por exemplo, quando um falante produz uma frase como: [Quando você chegou, eu já tinha terminado a tarefa]. Ele se refere a dois pontos do passado em relação ao momento da enunciação. Em outras palavras, trata-se de alguém, num determinado momento, o NUNC, fazendo referência a dois fatos (chegar e terminar) que ocorreram em momentos anteriores ao da enunciação, sendo que o fato expresso por terminar é anterior (portanto, pretérito mais-que-perfeito) ao expresso por chegar (pretérito perfeito). Em português, é possível também marcar se o fato referido é válido para todos os tempos, como ocorre com as verdades científicas e com os axiomas filosóficos e religiosos. Nesses casos, o português costuma empregar a forma tradicionalmente rotulada de presente do indicativo: [O homem é mortal]; [A força da gravidade atrai os corpos]. Com relação ao passado e ao futuro, esses dois tempos exprimem fases ou épocas mais próximas ou mais remotas em relação ao momento da fala. No caso do passado, especificamente, há, no modo indicativo, o pretérito mais-que-perfeito, que é anterior ao pretérito perfeito, e o imperfeito que, embora localizado no passado, indica que o processo expresso pelo verbo não foi definitivamente concluído, deixando aberta a possibilidade de um prolongamento. Se por um lado o passado diz respeito à enunciação de fatos anteriores ao momento da fala, por outro o futuro marca um momento posterior. Há, no modo indicativo, basicamente dois futuros: o futuro do presente e o futuro do pretérito. O emprego do futuro do presente revela uma espécie de certeza do falante em relação à realização posterior do fato enunciado. Por outro lado, o futuro do pretérito indica um futuro para uma situação passada hipotética, e envolve características temporais e modais. Temporais porque representam o futuro de um passado que é posterior a uma ação passada e, ao mesmo tempo, anterior MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS

89 89 ao momento da enunciação. Modais, porque o futuro do pretérito indica uma condição, uma expressão de hipótese e até de irrealidade. No modo subjuntivo, consideram-se, basicamente, três tempos: presente, passado e futuro. O futuro traz em si noções temporais, mas a predominância é de noções modais, pois se tratam de uma convergência entre o futuro do indicativo (de onde vêm as noções temporais) e o preterido perfeito do subjuntivo (noções modais). O passado, por sua vez, tem valor essencialmente modal. Embora a tradição o considere como Pretérito do Subjuntivo, a ideia que veicula é a de um futuro intemporal. Para exemplificar, observe os dois períodos seguintes: [Se eu tivesse dinheiro, iria à Itália]; [Se eu tiver dinheiro, irei à Itália]. No primeiro período, a forma verbal da oração principal está vinculada a uma condição expressa na oração subordinada, que exclui, em princípio, a concretização dos dois processos verbais conjugados no período. Por isso, é possível interpretar o enunciado da seguinte forma: [Não tenho dinheiro agora e jamais terei]. Consequentemente, jamais irei à Itália. No segundo período, também há uma espécie de condição expressa na oração subordinada, porém, o fato de ir à Itália continua logicamente possível, quer dizer, a formulação da oração principal, isolada, é passível de realização. Assim, chega-se à seguinte interpretação: não significa que nunca irei à Itália, mas que AGORA não tenho dinheiro, porém, minha ida à Itália é perfeitamente possível. Quanto ao presente, ao contrário do que a gramática tradicional postula, em termos TEMPORAIS não se pode distinguir o presente do futuro, no modo subjuntivo, pois o presente do subjuntivo traz consigo uma significação que remete a uma ação futura. É o que nos mostram outros dois exemplos: [Vou esperar que alguém fique]; [Vou esperar que venha amanhã]. Conjugação

90 IV Não há uma oposição temporal clara entre as formas verbais das orações principais (futuro: vou esperar) e as que ocorrem nas orações subordinadas (presente do subjuntivo: fique e acreditem). Isso ocorre porque todas se referem a um momento posterior ao da fala (ao futuro) e, consequentemente, põem em evidência o fato de que, no subjuntivo, as noções temporais não são precisas. Modo O modo expressa a maneira como o processo expresso pelo verbo é executado. Os modos (em português: indicativo, subjuntivo e imperativo) indicam certas atitudes da mente do falante com respeito ao conteúdo da oração. No entanto, deve-se observar que, em alguns casos, a escolha do modo é determinada simplesmente pela estrutura sintática da frase: [Quero que ele venha]. O subjuntivo nada diz a respeito da atitude do falante no que se refere ao conteúdo da oração, por isso o modo funciona mais como uma categoria sintática do que propriamente nocional. O modo indicativo traduz um fato, uma realidade. É usado em orações independentes e principais. Pode também aparecer em cláusulas relativas (orações adjetivas) e adverbiais (temporais, causais). O modo subjuntivo é tradicionalmente entendido como o modo da dúvida, da imaginação. O fato expresso por ele pode ou não ser realizado por depender de alguma condição, ou seja, pode ser desejável ou possível. O modo imperativo é mais nocional do que os outros, porque expressa, principalmente, o desejo do falante até o ponto em que este quer influenciar o comportamento do ouvinte. O imperativo é, portanto, um pedido, que vai desde o mais estrito comando até a mais humilde prece. É importante destacar, no entanto, que a categoria modo assim interpretada com base na divisão em três modos deixa de apresentar outras noções modais não identificáveis no sufixo modo-temporal. Na verdade, essa categoria é muito mais ampla e engloba, além dos modos (identificáveis por um sufixo modo-temporal), várias noções relacionadas à atitude do falante: certeza, dúvida, MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS

91 91 possibilidade, desejo, ordem, impossibilidade, necessidade, obrigatoriedade, hipótese, probabilidade, volição, afirmação, negação, interrogação etc. Aspecto O aspecto pode ser entendido como a categoria verbal que define o processo expresso pelo verbo como concluso ou inconcluso. Essa categoria nos permite reconhecer a atitude do sujeito falante em relação ao processo, baseada fundamentalmente na dualidade perfectividade / imperfectividade. O perfectivo é caracterizado por apresentar a situação como completa, isto é, em sua totalidade. O todo da situação é apresentado como um todo único. Não há tentativa de dividir a situação em suas fases de desenvolvimento. É como se a situação fosse vista de fora, em sua globalidade. O imperfectivo, ao contrário, é caracterizado por apresentar a situação como incompleta, isto é, não temos o todo da situação e, por isso, normalmente, ela é apresentada em suas fases de desenvolvimento. Veja no quadro a seguir o modelo de conjugação do verbo regular cantar, no qual identificam-se os três modos estudados, bem como os respectivos tempos verbais referentes a cada um deles. PRESENTE PRETÉRITO IMPERFEITO MODO INDICATIVO PRETÉRITO PRETÉRITO PERFEITO MAIS-QUE- PERFEITO FUTURO DO PRESENTE FUTURO DO PRETÉRITO Eu canto Eu cantava Eu cantei Eu cantara Eu cantarei Eu cantaria Tu cantas Tu cantavas Tu cantaste Tu cantaras Tu cantarás Tu cantarias Ele canta Ele cantava Ele cantou Ele cantara Ele cantará Ele cantaria Nós cantamos Nós cantávamos Nós cantamos Nós cantáramos Nós cantaremos Nós cantaríamos Vós cantais Vós cantáveis Vós cantastes Vós cantáreis Vós cantareis Vós cantaríeis Eles cantam Eles cantavam Eles cantaram Eles cantaram Eles cantarão Eles cantariam Conjugação

92 IV PRESENTE (Que) Eu cante (Que) Tu cantes (Que) Ele cante (Que) Nós cantemos (Que) Vós canteis (Que) Eles cantem MODO SUBJUNTIVO PRETÉRITO IMPERFEITO (Se) Eu cantasse (Se) Tu cantasses (Se) Ele cantasse (Se) Nós cantássemos (Se) Vós cantásseis (Se) Eles cantassem FUTURO DO PRESENTE (Quando) Eu cantar (Quando) Tu cantares (Quando) Ele cantar (Quando) Nós cantarmos (Quando) Vós cantardes (Quando) Eles cantarem MODO IMPERATIVO AFIRMATIVO - - Canta tu Cante ele Cantemos nós Cantei vós Cantem eles NEGATIVO (Não) cantes tu (Não) cante você (Não) cantemos nós (Não) canteis vós (Não) cantem eles FORMAS NOMINAIS: Gerúndio: cantando / Particípio: cantado / Infinitivo impessoal: cantar SUBSTANTIVO ASPECTOS MORFOLÓGICOS, SINTÁTICOS E SEMÂNTICOS A gramática tradicional limita-se em definir o substantivo como palavra que designa ou nomeia os seres, independentemente de suas ocorrências no enunciado. Em outras palavras, os substantivos podem ser definidos como nomes ou designações de entidades cognitivas ou culturais que possuem certas propriedades categorizadas no mundo extralinguístico. Podemos observar, no entanto, que tal definição leva em conta somente o critério semântico e prescinde, pois, de uma análise mais ampla. Neves (2000) afirma que essa definição tradicional diz respeito à propriedade que tem o substantivo comum de descrever em traços gerais a classe MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS

93 93 de entidades à qual pertence o seu referente, e de colocar, portanto, dentro de uma determinada classe qualquer elemento denominado por esse substantivo. Na verdade, todo e qualquer substantivo comum permite uma interpretação do referente pautada pela descrição da classe a que ele pertence. É o que ocorre, por exemplo, com o substantivo comum GATO: ele nomeia, em princípio, um indivíduo da classe animal, classe que tem as suas propriedades definitórias conforme os exemplos dos enunciados a seguir: a) Como Maria Helena de Moura Neves resposta, o GATO voltou a miar dentro da caixa; b) Em uma determinada foto deverá aparecer Armando embaixo de uma escada ao lado de um GATO preto. Em cada um dos enunciados, o substantivo tem um referente diferente, mas todos os elementos designados como GATO estão descritos com os traços que a classe dos gatos possui. Isso ocorre, exatamente, porque o que um substantivo comum faz é uma categorização (o estabelecimento de um tipo, rotulando a categoria estabelecida e definindo o conjunto de propriedades que a identifica). Em termos sintáticos, é importante observarmos que os substantivos comuns ocorrem nos enunciados como núcleos de sintagmas, que podem ser preposicionados ou não. Os substantivos próprios, ao contrário, não são nomes que se aplicam, em geral, a qualquer elemento de uma classe. Esses substantivos fazem uma designação individual dos elementos a que se referem, ou ainda, identificam um referente único com identidade distinta dos demais referentes. Além disso, normalmente, os substantivos próprios constituem sozinhos um sintagma nominal, e quando, em alguns casos, há elementos acompanhando um substantivo próprio, em geral, esses elementos podem ser dispensados sem que esse substantivo deixe de ter o mesmo estatuto de sintagma nominal, considerando o aspecto sintático. Do ponto de vista morfológico, o substantivo pode ser dividido em: quadriformes (como é o caso de menino, menina, meninos, meninas), biformes (livro, Substantivo

94 IV livros; animal, animais) e uniformes (lápis, férias), conforme apresentem quatro, duas ou apenas uma forma de flexão. Assim, é importante lembrar que, quando se afirma que um substantivo é quadriforme, não significa que existem quatro formas de um substantivo, mas apenas uma, que é flexionada em gênero (masculino e feminino) e em número (singular e plural). Igualmente, os substantivos biformes não são duas formas de um substantivo, mas sua forma flexionada em número (singular e plural). Os substantivos uniformes, por sua vez, são assim denominados por não apresentarem flexão. Por isso, um substantivo como LÁPIS funciona isolado e inalterado para indicar a flexão de número, que varia conforme o artigo ou qualquer outro determinante que o acompanhe. O mesmo ocorre com certos substantivos uniformes quanto à variação de gênero. É o caso, por exemplo, do substantivo ARTISTA, cujo gênero também varia conforme o artigo ou qualquer outro determinante que o acompanhe. A QUESTÃO DAS FLEXÕES No que diz respeito à flexão em número (dos substantivos biformes) e em número e gênero (dos substantivos quadriformes), pode-se dizer que a flexão para o feminino é feita com o acréscimo da desinência de gênero feminino a, enquanto a forma masculina é a forma não marcada, ou seja, apresenta morfema Ø. Nessa flexão, pode ou não ocorrer a elisão da vogal temática. Nos substantivos lobo, loba; mestre, mestra, ocorre a elisão da vogal temática, no caso do substantivo cantor, cantora, por exemplo, ocorre apenas o acréscimo da desinência de gênero feminino. Para Câmara Jr. (2005), além do gênero masculino, o número singular também é não marcado. Tal proposta é uma tentativa de sanar os problemas encontrados na gramática tradicional, principalmente no que diz respeito ao gênero, já que nela se ensina que o masculino apresenta a desinência o e o feminino, a MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS

95 95 desinência a. Essa teoria baseia-se no fato de que muitos dos nomes masculinos terminam em o e fazem um feminino em a. No entanto, um olhar mais atento nos mostra que essa postura pode gerar muitas exceções, como os nomes terminados em e (mestre) e a (poeta) que são masculinos, além de nomes que apresentam femininos com sufixos, como poeta > poetisa, ou ainda com nomes diferentes homem > mulher, ou até mesmo outros onde não encontramos qualquer flexão para diferenciar masculino e feminino. No caso de homem > mulher, particularmente, a gramática tradicional procura explicar o fenômeno por meio do que consagrou-se denominar HETERONÍMIA que ocorre, justamente, quando certos pares opositivos dão-se por meio de palavra diferentes. De acordo com essa teoria, o substantivo mulher é simplesmente apresentado como o feminino de homem. Quando, na verdade, o correto seria dizer que o substantivo mulher é sempre feminino, enquanto que o outro substantivo, a ele semanticamente relacionado, é sempre do gênero masculino. Com isso, pode-se constatar que não há oposição morfológica, já que os nomes não se assemelham, mas uma oposição semântica: é o sentido que se opõe, não o nome. Muitos autores procuram apontar tais pares opositivos pela presença de sufixo, como ocorre com poeta > poetisa, abade > abadessa. Na verdade, seguindo ainda a teoria de Mattoso Câmara, é possível afirmar que o que há são substantivos masculinos e outros, a eles semanticamente relacionados, femininos. Tal teoria estende-se também a casos em que o sufixo derivacional se restringe a um substantivo de um determinado gênero e outro sufixo, ou a ausência de sufixo em forma nominal não derivada só se aplica ao mesmo substantivo em outro gênero. Assim, IMPERADOR se caracteriza não flexionalmente pelo sufixo derivacional triz. Da mesma forma, GALINHA é um diminutivo de GALO, que passa a designar as fêmeas em geral da espécie galo, como perdigão é um aumentativo limitado aos machos da perdiz. Portanto, dizer que triz, inha ou ao, nesses casos, são flexões de gênero é confundir flexão com derivação. Se dizemos que mulher é feminino, enquanto homem, semanticamente equivalente, é masculino, o mesmo podemos afirmar dos chamados substantivos EPICENOS. Dizer, por exemplo, que COBRA é do gênero feminino e que para designar o sexo devemos empregar as palavras MACHO e FÊMEA, é uma afirmação incoerente, pois a COBRA MACHO ou a COBRA FÊMEA sempre A Questão das Flexões

96 IV será do sexo feminino, mesmo que designemos sexos diferentes, pois temos o artigo a diante desse substantivo. Nesses casos, deve-se distinguir as noções de gênero e sexo, pois quando se fala em gênero, tem-se uma perspectiva gramatical, e sexo, uma nocional. Outra incoerência da tradição gramatical é a distinção entre os chamados substantivos SOBRECOMUNS (empregados para nome de pessoas) e os EPICENOS (para animais), uma vez que se tem o mesmo fenômeno: substantivos que apresentam apenas um gênero em virtude do artigo. Assim temos, por um lado, A COBRA, O JACARÉ (substantivos de um só gênero), e por outro, A CRIANÇA, A TESTEMUNHA, A VÍTIMA, O CÔNJUGE (também substantivos de um só gênero). Nesse caso, basta-nos remeter à etimologia do substantivo EPICENO que, em grego, significava SOBRECOMUM, o que comprova a confusão da tradição gramatical. Finalmente, temos o substantivo chamado COMUM-DE-DOIS, porque precisa de adjuntos para definir o gênero: o/a artista; o/a pianista. Assim, após esclarecidas as confusões entre gênero e sexo, podemos propor uma divisão mais simples e coerente: 1. Nomes substantivos de gênero único: a rosa, a flor, a tribo, o planeta. 2. Nomes de 2 gêneros sem flexão: o/a artista, o/a intérprete, o/a mártir. 3. Nomes substantivos de 2 gêneros, com uma flexão redundante: o lobo, a loba, o mestre, a mestra, o autor, a autora. A teoria de Mattoso Câmara defende que a verdadeira marca de gênero em português dá-se por meio do artigo. Porque, mesmo havendo desinência de gênero nos nomes, ele (o gênero) já vem marcado no artigo. A QUESTÃO DO GRAU O grau dos substantivos se divide em aumentativo e diminutivo. Em ambos os casos, há, pelo menos, duas possibilidades de formação: a junção de sufixos ou o emprego de determinantes que modifiquem o conteúdo semântico com o acréscimo de noções de grandeza ou pequenez. Com a junção de sufixos, temos um processo morfológico, porém derivacional e não flexional como ensina a MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS

97 97 gramática tradicional. Em vez de casa, por exemplo, se anexarmos sufixos, teremos casinha ou casarão. Se em vez de anexarmos sufixos, empregarmos adjetivos, teremos um processo puramente sintático, pois a forma do substantivo permanece sem nenhuma alteração. Assim, para casa, usamos o adjetivo grande ou pequena, sem que a palavra sofra flexão, embora expresse a noção de grau aumentativo ou diminutivo. ADJETIVO ASPECTOS MORFOLÓGICOS, SINTÁTICOS E SEMÂNTICOS Consoante às características morfológicas dos substantivos, os adjetivos também podem ser quadriformes (bonito, bonita, bonitos, bonitas), biformes (grande, grandes) e uniformes (simples). Sintaticamente, o adjetivo é responsável por desempenhar as funções relativas aos determinantes, ou seja, às palavras e/ou sintagmas responsáveis pela predicação. Isso significa que os adjetivos (e também locuções adjetivas) podem funcionar como adjunto adnominal, predicativo do sujeito ou predicativo do objeto, conforme estudaremos mais adiante, no livro de Língua Portuguesa II. No âmbito semântico, cabe ainda ressaltar que cabe ao adjetivo o papel de qualificar, caracterizar o substantivo, bem como o pronome substantivo. Observe os exemplos a seguir: a. João é aplicado aos estudos. b. Ele é aplicado aos estudos. Em (a), temos a ocorrência do adjetivo aplicado qualificando o substantivo João; em (b) ocorre, pois, que o mesmo adjetivo caracteriza o pronome substantivo ele, assim denominado justamente porque, nesse contexto, assume o papel do substantivo sintaticamente, como núcleo do sintagma nominal. Adjetivo

98 IV Essa qualificação / caracterização pode ser tanto de cunho explicativo quanto restritivo. Na verdade, em função dos contextos, os adjetivos podem atribuir um traço inerente ao substantivo a que se refere, o que justifica sua função explicativa, ou apresentar uma característica individual, única, conforme indicam os exemplos a seguir: a. O homem, racional, não deveria fazer guerras. b. O homem valoroso conquista seus objetivos. Veja que, em (a), o adjetivo racional diz respeito à natureza humana em si e, portanto, se aplica, de modo geral, a toda e qualquer pessoa; já em (b) ocorre fenômeno diverso, pois que o adjetivo valoroso restringe, delimita a referência a uma determinada categoria dentro do universo humano, daí a noção de restrição ou delimitação. A QUESTÃO AS FLEXÕES Há algumas diferenças formais entre os substantivos e os adjetivos, pois os adjetivos estão quase que exclusivamente distribuídos nos temas em o e em e, sendo que os de tema em e como grande, feliz(es), não apresentam flexão de feminino, enquanto que os de tema em o (corajoso, corajosa) apresentam o feminino em a. Essa diferença fica ainda mais nítida nos nomes de sufixo derivacional ês : quando são empregados como adjetivos não têm flexão de gênero, como ocorre com homem cortês, mulher cortês, mas apresentam essa flexão os nomes que tanto servem como substantivos quanto adjetivos, como é o caso de português / portuguesa (substantivo: habitante de Portugal / adjetivo: livro português / comida portuguesa, em que português é determinante, respectivamente de livro e comida). Nesse exemplo, cortês é sempre adjetivo, e, portanto, não se flexiona, mas português pode ser adjetivo ou substantivo, o que justifica a flexão. MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS

99 99 Além disso, o gênero é um traço inerente ao substantivo, e não ao adjetivo, porque este tem seu gênero condicionado ao do substantivo que acompanha. A QUESTÃO DO GRAU O grau dos adjetivos se dá da mesma forma que o dos substantivos, com o acréscimo de que os adjetivos apresentam os graus comparativo e superlativo, sempre mediante processos derivacionais (quando se acrescenta sufixo) ou de natureza sintática. Já o comparativo pode ser de igualdade, de inferioridade ou superioridade. Mas, em qualquer caso, o adjetivo deixa de sofrer a alteração mórfica, e não, portanto, flexão. A questão do gênero nos Ensinos Fundamental e Médio Uma das questões talvez mais recorrentes em livros didáticos seja a diversidade de critérios para se considerar o gênero, principalmente, dos substantivos. No latim clássico, o gênero dos nomes era determinado pelo sexo, o que explica a existência de três gêneros: o masculino, o feminino e o neutro. Assim, palavras que faziam referência a seres do sexo masculino apresentavam gênero masculino; palavras indicativas de seres femininos tinham gênero feminino; e objetos, lugares ou seres inanimados em geral compunham os vocábulos do gênero neutro. Com o advento da Língua Portuguesa, o gênero neutro passou a marcar apenas os pronomes demonstrativos. Por isso, seres masculinos, femininos e neutros passaram a ser analisados sob o viés dos gêneros masculino e feminino apenas. Logo, se torna evidente que as noções de sexo e gênero não podem ser tomadas como sinônimos em Português. Nesse ínterim, fica evidente o papel do professor que, consciente de sua função formador, deve orientar seus alunos para a incoerência do tratamento dado a esse fenômeno por muitos livros didáticos, de modo que o estudo do gênero não constitua mera reprodução de conceitos, muitas vezes incoerentes e/ou insuficientes. Fonte: elaborado pela autora. A Questão as Flexões

100 IV PRONOME ASPECTOS MORFOLÓGICOS, SINTÁTICOS E SEMÂNTICOS Tradicionalmente, o pronome é considerado o elemento que substitui o nome, o substantivo. Essa definição está veiculada à etimologia da palavra PRONOME, do latim PRONOMEN, formada pela junção da preposição PRO mais o substantivo NOMEN, que significa em lugar do nome, e faz referência somente a seu caráter semântico. De fato, em muitas circunstâncias, os pronomes atuam como substantivos, substituindo, portanto, nomes e exercendo função anafórica. No entanto, em termos sintáticos, os pronomes são utilizados também para indicar e/ou para apontar (função dêitica). Os pronomes pessoais, por exemplo, ganham significado em função da relação estabelecida com as duas pessoas do discurso: o falante e o ouvinte. Quando dizemos, por exemplo: Pedro estuda muito; tu, Antonio, não trabalhas; ele viaja, o pronome ele, da terceira oração (ele viaja) pode, perfeitamente, substituir o nome Pedro da primeira (Pedro estuda muito / Ele estuda muito). O mesmo não acontece com o pronome tu da segunda, porque não é apenas o substituto do nome Antonio, mas tem a função principal de indicar que Antonio é a pessoa a quem me dirijo. Da mesma forma, em outras orações como: Eu, Eduardo, estudo e tu, Emilio, não trabalhas, os pronomes eu e tu não têm a única função de substituir os nomes Eduardo e Emílio, mas, além disso, funcionam para indicar que Eduardo é quem fala e Emílio é a pessoa quem ele se dirige. O que distingue, porém, os pronomes dos nomes de maneira geral são três noções morfológicas: A primeira delas é a noção de pessoa gramatical. Assim, pode-se situar a referência do pronome no âmbito do falante (primeira pessoa), no do ouvinte (segunda pessoa) ou fora da alçada dos dois interlocutores (terceira pessoa). Em português, o falante pode indicar que está associando a si outra ou outras pessoas (primeira pessoa do plural, como define a gramática tradicional, ou quarta pessoa, teoria defendida pelo linguista Mattoso Câmara), ou que está se dirigindo a mais de um ouvinte (segunda pessoa do plural, ou quinta pessoa), ou ainda, MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS

101 101 que a referência se faz em relação à terceira pessoa do plural ou sexta pessoa. É justamente esta noção de pessoa gramatical que caracteriza os pronomes ditos pessoais, quer no seu emprego substantivo (quando efetivamente substituem um nome), quer no seu emprego adjetivo (quando costumam receber a denominação de possessivos). A mesma noção é também fundamental nos três pronomes demonstrativos este, que indica a posição junto ao falante; esse, que indica a posição junto ao ouvinte; e aquele que indica a posição à parte dos interlocutores. Além disso, outro aspecto importante é que a noção de pessoa gramatical não se realiza por meio de flexão, mas, lexicalmente, por meio de vocábulos distintos, conforme indicam os pronomes: eu, tu, ele / este, esse, aquele. A segunda noção própria dos pronomes é a existência, em alguns casos, do gênero neutro, representado pelas formas isto, isso e aquilo, que desempenham função substantiva quando a referência é a coisas inanimadas. Já em outros, há formas específicas para os seres humanos, como ALGUÉM, NINGUÉM e OUTREM. A terceira noção que distingue os pronomes dos nomes em português é a categoria que podemos chamar de a categoria dos casos, herança dos casos latinos. Os pronomes pessoais, de emprego substantivo, distinguem uma forma reta (nominativa, no latim) para a função de sujeito, e uma ou duas formas oblíquas (casos acusativo e dativo no latim), servindo de complemento verbal (objetos direto e indireto), como em falou-me, viu-me, disse-lhe. Feitas as considerações gerais sobre os pronomes, sobretudo os pronomes pessoais, bem como os critérios que os distinguem dos nomes (substantivos e adjetivos), passa-se, agora, ao estudo detalhado de cada uma das suas subclassificações: PRONOMES PESSOAIS Os pronomes pessoais são aqueles que desempenham o papel das chamadas pessoas do discurso tanto nas formas singular, quanto nas formas plural. Esses pronomes se dividem em duas categorias: os pronomes pessoais do caso reto, e os pronomes pessoais do caso oblíquo. Os primeiros dizem respeito às formas eu, tu (você), ele, nós (a gente), vós (vocês) e eles, responsáveis pelas indicações das 1ª, 2ª e 3ª pessoas, respectivamente. Pronome

102 IV Sintaticamente, sempre desempenham a função de sujeito oracional: [Eu estudei muito para a prova]. [Tu estudaste muito para a prova]. [Ele estudou muito para a prova]. [Nós estudamos muito para a prova]. [Vós estudastes muito para a prova]. [Eles estudaram muito para a prova]. Os segundos chamados oblíquos desempenham, sintaticamente, a função de complementos verbais (objeto direto e indireto), bem como de adjuntos adverbiais (indicadores de circunstâncias por excelência). São subdivididos em dois grupos: os átonos e os tônicos: Os pronomes oblíquos átonos nunca vêm precedidos por preposição, ao passo que os tônicos sempre são precedidos por preposição. São eles: 1ª pessoa (singular): [me, mim, comigo]. 2ª pessoa (singular): [te, ti, contigo]. 3ª pessoa (singular): [se, si, consigo, o, a, lhe]. 1ª pessoa (plural): [nos, conosco]. 2ª pessoa (plural): [vos, convosco]. 3ª pessoa (plural): [se, si, consigo, os, as, lhes]. A seguir, apresentamos esses mesmos pronomes em suas formas átonas e tônicas, seguidas dos respectivos exemplos. Os pronomes oblíquos átonos são: me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes. [Sentei-me imediatamente quando senti que havia sofrido queda de pressão]. [Olhei-te com profunda atenção, pois sabia que precisavas de ajuda]. [Sentir-se bem é um dos maiores objetivos do homem moderno]. [Vejo-o sempre pela janela do carro; o menino de rua parece me pedir tudo, menos esmola]. MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS

103 103 [Não a visitarei no próximo final de semana por falta de tempo]. [O vendedor entregou-lhe as chaves do carro novo]. [Importa-nos que tenhamos paciência para enfrentar as dificuldades]. [Gostaríamos de vos elogiar, mas, infelizmente, o resultado dos trabalhos nos mostra o contrário]. [Os poemas de Vinícius de Moraes? Conheço-os todos]. [Encontrei minhas amigas no passeio da escola. Vi-as logo que entrei no ônibus]. Os pronomes tônicos são: mim, comigo, ti, contigo, ele, ela, nós, conosco, vós, convosco, eles, elas. [Não há mais nada entre mim e você]. [Os padrinhos irão comigo até a igreja]. [Trouxeram flores para ti e me pediram que deixasse este cartão contigo]. [Ele ou ela assumirá a chefia]. [Nós estaremos atentos a tudo o que for dito no julgamento]. [Na dúvida, ele decidiu viajar conosco]. [Vós estais preparados e tendes convosco todo o conhecimento necessário]. [Tanto eles quanto elas são a favor da lei contra o aborto]. PRONOMES DEMONSTRATIVOS Esses pronomes têm a função primeira de situar uma pessoa ou coisa no espaço ou no tempo, indicando-lhes a posição. Assim, usa-se ESTE, ESTA, ISTO para indicar aquilo que está próximo da primeira pessoa (quem fala) e para referir-se a um tempo presente, como ocorre com as orações a seguir: [Este livro é meu]. [Esta é minha filha Ana]. [Isto é um giz]. Pronome

104 IV [Neste momento, está havendo uma reunião no Congresso]. Usa-se ESSE, ESSA, ISSO para indicar que se está próximo da pessoa com quem se fala, a segunda pessoa do discurso, e para referir-se a um tempo passado ou futuro próximos, como demonstram os exemplos seguintes: [Essa aí é sua carteira, João?] O pronome indica proximidade entre o objeto e o interlocutor. [Nessa próxima semana, viajaremos a negócio] O pronome indica um futuro próximo. Usa-se AQUELE, AQUELA, AQUILO para indicar algo ou alguém, ou ainda, algum tempo distante dos interlocutores e próximo da terceira pessoa, a pessoa de quem se fala. Observem os exemplos: [Aquele carro que está lá é meu] Denota que o objeto referido tanto está longe do locutor quanto do interlocutor. [João viveu nos anos 40. Naquele tempo, brincava-se a valer] O pronome indica distância temporal entre o locutor e o fato referido. Além dessas funções, os demonstrativos, possuem também funções textuais. Por isso quando, em uma oração, vierem duas ou três pessoas ou coisas e a intenção é a de aludir discriminadamente a elas, usa-se ESTE, ESTA, ISTO para o que está em primeiro lugar. Observem os exemplos: [José e Maria são irmãos; esta trabalha e estuda, aquele nada faz]. [Luísa e Ana Maria são amigas; aquela tem nome simples, e esta, composto]. [Brasília, Rio e São Paulo são cidades importantes; aquela é a capital administrativa do Brasil; essa, capital turística, e esta é a capital industrial]. Os pronomes demonstrativos também podem estabelecer relações entre as partes do discurso, ou seja, podem relacionar aquilo que já foi dito em uma frase ou em um texto com o que ainda se vai dizer. É o que ocorre, por exemplo, com os períodos a seguir: [Meu argumento é este: o investimento em educação só faz sentido quando produz cidadãos críticos]. MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS

105 105 [O investimento em educação só faz sentido quando produz cidadãos críticos. Esse é o meu argumento]. ESTE se refere ao que ainda vai ser dito; ESSE se refere ao que já foi dito. PRONOMES POSSSESSIVOS São responsáveis por estabelecer uma relação entre os seres e conceitos e as pessoas gramaticais: meu(s), minha(s), teu(s), tua(s), seu(s), sua(s), nosso(s), nossa(s), vosso(s), vossa(s). Assim, temos exemplos como: meu carro está na garagem, suas malas estão prontas. PRONOMES INTERROGATIVOS São pronomes indefinidos em uma situação de interrogação, como nos mostram os seguintes exemplos: [Quem chegou?]. [Quantos vieram?]. [Qual é o seu nome?]. [Que é isso?]. PRONOMES INDEFINIDOS Referem-se ao nome de uma maneira vaga, imprecisa, indeterminada. Alguns são variáveis, outros invariáveis. São os seguintes: quem, tudo, nada, alguém, ninguém, algum, alguma, nenhum, nenhuma, todo(s), toda(s), quanto(s), cada, outro(s), outra(s), qualquer. PRONOMES RELATIVOS São aqueles que se referem a um termo da oração anterior, introduzem uma oração subordinada e exercem uma função sintática nessa oração. Observe a seguir cada um dos pronomes relativos, seus respectivos valores e empregos. QUE: é o pronome relativo básico, é usado como referência a pessoas ou coisas: Pronome

106 IV [Os operários que fizeram greve foram demitidos] Veja que o pronome QUE retomou o termo da oração anterior operários, introduziu uma oração subordinada adjetiva restritiva e, ao mesmo tempo, exerceu a função sintática de sujeito nessa oração. QUAL: esse pronome pode substituir o relativo QUE, além de também ser usado como referência a pessoas ou a coisas, mas varia em número e gênero: [Os operários os quais fizeram greve foram demitidos]. QUEM: só é empregado como referência a pessoas: [Esta é a pessoa a quem obedeço]. CUJO: esse pronome é, ao mesmo tempo, relativo e possessivo, e equivale, em termos de sentido, a DO QUAL, DE QUEM, DE QUE. É empregado para indicar posse e concorda com a coisa possuída em gênero e número, mas não admite a posposição de artigos, por isso são inadequadas expressões como: CUJO O, CUJA A. Sintaticamente, esse pronome exerce a função de Adjunto Adnominal restritivo. [Este é o professor cuja filha foi hospitalizada]. QUANTO: é o pronome relativo que tem por antecedentes os pronomes indefinidos tudo, todos, todas, que podem ser omitidos, daí o valor também indefinido, como podemos observar no exemplo: [Em tudo quanto olhei não encontrei beleza]. ONDE: normalmente, esse pronome desempenha a função sintática de adjunto adverbial e significa o lugar em que, no qual. Por isso, alguns estudiosos chegam a considerá-lo como advérbio relativo. Observem os exemplos: [Sob o mar sem ondas, onde enfim se descansa]. [A rua onde moro é movimentada]. MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS

107 107 PRONOMES REFLEXIVOS Esses pronomes dizem respeito às formas oblíquas me, nos, te, vos e se. Além de exercerem, sintaticamente, a função de complemento verbal, bem como de adjunto adverbial, eles podem fazer referência a ações que, uma vez praticadas pelo sujeito, recaem sobre ele. Observe os exemplos a seguir: [Eu me penteio antes de ir à escola]. [Nós nos penteamos antes de ir à escola]. ARTIGO [Tu te penteastes antes de ir à escola]. [Vós vos penteais antes de ir à escola]. [Maria se penteou antes de ir à escola]. ASPECTOS MORFOLÓGICOS, SINTÁTICOS E SEMÂNTICOS Neves (2000) classifica o artigo como aquele cujo papel fundamental é o de fazer a referenciação textual, sem, no entanto, nomear ou denominar como o fazem os substantivos. De acordo com a estudiosa, essas palavras são fóricas (do latim fero: levar, trazer) porque remetem, em termos de sentido, por isso, semânticos, a algum outro elemento. Essa função, a da referenciação, é importante para o uso da língua, principalmente por viabilizar a remissão textual: no texto, fala-se de pessoas e coisas que participam dos eventos, e as palavras fóricas são aquelas que fazem referência justamente a esses participantes. Podemos exemplificar o fato afirmando que, durante o exercício da linguagem, o falante usa frequentemente termos que fazem referência a outros termos do próprio texto para assim tecer a teia do texto. Tradicionalmente, os artigos são agrupados em duas categorias distintas: a dos chamados artigos definidos, e a dos artigos indefinidos. Artigo

108 IV De um modo geral, os artigos definidos determinam um substantivo comum particularizando um indivíduo dentre os demais indivíduos da mesma espécie: [Não demorou muito e teve a má sorte de conhecer um guia de cego: O GAROTO metia--se nas multidões levando o homem]. A partir desse exemplo, podemos concluir que o artigo é capaz de transformar um nome classificador (denominador) em um nome identificador: [Voz de criança]. [Voz da criança]. No primeiro exemplo, a ausência do artigo traz a ideia de generalização, ou seja, a voz que é própria da fase infantil; no segundo, ao contrário, o artigo definido a indica que se trata de uma criança em particular. Embora os artigos definidos tenham a função de particularizar um indivíduo, isso não significa que eles não possam ter um uso que se pode entender como genérico. Observe o exemplo: [Nem sempre O médico está à cabeceira do doente]. Nesse caso, o artigo definido (O) foi empregado para fazer referência à classe médica em geral. Nesse sentido, em termos sintáticos, a função do artigo definido pode ser entendida a partir de duas perspectivas: a primeira diz respeito à determinação, e a segunda, à substantivação. No primeiro caso, o artigo definido é tido como simples determinante do substantivo. No segundo, quando precede outros vocábulos que não são substantivos, é responsável por defini-los como substantivo. Os artigos indefinidos diferem-se dos definidos porque são palavras não fóricas, isto é, não possuem função referencial e, por isso, não remetem a outro elemento. Esses artigos são empregados antes de substantivos quando a intenção é a de não apontar ou indicar a pessoa ou coisa simplesmente por referência, nem na situação, nem no texto. Assim, o artigo indefinido antepõe-se, no sintagma nominal, a uma pessoa ou coisa, simplesmente em razão da classe particular a qual ela pertence. Observe os exemplos: [Meu pai uma vez viu UM índio e pensou que fosse UM japonês fantasiado]. [UMA tarde, no cinema, verifiquei que UMA criança esperava alguém]. Portanto, o artigo indefinido tem como emprego prototípico a introdução MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS

109 109 de um referente que, na sequência, poderá ser retomado por qualquer palavra FÓRICA, especialmente, pelo artigo definido, como é o caso da oração a seguir: [Enquanto caminhava pelas ruas, UMA senhora me parou, ficou me olhando, sem dizer uma palavra. A senhora queria apenas que eu a notasse]. A QUESTÃO DAS FLEXÕES Com relação às flexões, nos artigos, elas seguem a forma regular, ou seja, acrescenta-se A para indicar o gênero feminino dos indefinidos, e o morfema S para o número plural. Assim como nos substantivos e nos adjetivos, a ausência do morfema de gênero e número indicam, respectivamente, masculino e singular. A flexão dos artigos definidos, por sua vez, se faz mediante a substituição da forma O, indicativa de masculino, pela forma A, referente ao feminino. A indicação de número é feita de forma análoga a dos artigos indefinidos. NUMERAL ASPECTOS MORFOLÓGICOS, SINTÁTICOS E SEMÂNTICOS Semanticamente, numeral é a palavra que designa a quantidade de seres (numeral cardinal) ou a posição que um ser ocupa numa série (numeral ordinal). A classe do numeral apresenta também o numeral multiplicativo (indica uma quantidade multiplicada do mesmo ser: Aquela rua agora tem mão dupla? ) e o numeral fracionário: Comemos dois terços da pizza. Sintaticamente, numeral tanto pode funcionar como núcleo do sintagma nominal quanto elemento adjunto adnominal. Observe: [Três irmãos foram resgatados durante um deslizamento de terra]. [O treze é, normalmente, considerado o número do azar]. No primeiro caso, o numeral três funciona como adjunto adnominal, ou ainda, caracterizador do núcleo irmãos; no segundo, ao contrário, o numeral treze é, Numeral

110 IV por si, o núcleo do sintagma, ou melhor, o núcleo do sujeito. Morfologicamente, o numeral pode apresentar flexão de gênero (dois, duas, primeiro, primeira) e número (primeiros, primeiras). A QUESTÃO DAS FLEXÕES Como já é sabido, os numerais apresentam algumas peculiaridades, dentre elas, o fato de serem passíveis de flexão. Portanto, atendo-nos a elas, verificaremos a seguir alguns pressupostos dignos de nota, a começar pelos numerais cardinais: Esses numerais, normalmente, são invariáveis, ou seja, não sofrem flexão. Observe: [Mudei-me para esta cidade há dez anos]. [Recebemos uma encomenda de cinquenta camisetas para o próximo mês]. Há, no entanto, algumas exceções: os cardinais um e dois, bem como as centenas, a partir de duzentos, podem ser flexionadas em gênero. Veja: [Para a cerimônia de casamento, foram convidadas, aproximadamente, quatrocentas pessoas]. [A professora apresentou duas questões difíceis, mas conseguimos resolver apenas uma]. Com relação aos numerais ordinais, a flexão ocorre, normalmente, tanto em gênero quanto em número. [Os primeiros colocados no concurso serão convocados no próximo mês]. [As primeiras posições ganharão prêmios excelentes]. Os numerais multiplicativos, por sua vez, sofrem flexão se empregados como adjetivos, caso contrário, ou seja, quando empregados na função de substantivo, permanecem invariáveis, exceto no caso do numeral dupla, que pode sofrer flexão de número. Observe os exemplos: Função de adjetivo: [O aluno demonstrou duplas habilidades durante as olimpíadas da escola]. Função de substantivo: [João, depois que terminou a faculdade, passou a MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS

111 111 ganhar o triplo do que ganhava antes]. Finalmente, com relação aos números fracionários, podemos destacar que eles devem concordar em número com os números cardinais que imediatamente os antecedem. [Foram feitas apenas dois terços das atividades propostas]. A IMPORTÂNCIA DO LATIM PARA O ESTUDO DA LÍNGUA PORTUGUESA Num primeiro momento, o Latim pode nos parecer uma língua morta, empregada exclusivamente pela Igreja Católica, que dela faz uso em seus mais diversos documentos oficiais, ou, ainda, como a língua das ciências. Um fato, porém, merece destaque, porque está intimamente ligado ao estudo, à análise e à compreensão dos mais diversos fenômenos inerentes à Língua Portuguesa. Portanto, conhecer um pouco desse idioma, ou de sua história, nos auxilia na compreensão de nosso idioma e, por extensão, de nossa prática docente. Isso ocorre, sobretudo, porque muitas explicações e questionamentos (inclusive de nossos alunos) só poderão ser respondidos a partir de uma referência direta ao latim. Nesse afã, o link a seguir faz remissão a um artigo que põe em relevo questões que dizem respeito ao estudioso de Língua Portuguesa e, de modo mais genérico, a todo falante desse idioma, dadas suas origens latinas. < Assista ao vídeo abaixo sobre as classes de palavras em português, suas particularidades e funcionamento no português do Brasil. < Assista ao vídeo abaixo que trata sobre a classe dos numerais em português, as relações de sentido, bem como suas flexões. < Numeral

112 IV CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo desta Unidade, estudamos as classes de palavras variáveis que, em português, se referem àquelas cujos vocábulos sofrem flexão de número, pessoa, modo e tempo (verbo) e de número e gênero (nomes em geral, bem como pronomes, artigos e numerais). Primeiramente, identificamos a classe dos verbos como a única a ser conjugada e, por extensão, sofrer as flexões supracitadas. Além disso, foi possível observar sua complexidade como elemento nuclear da estruturação sintática, em torno do qual gravitam os demais elementos. Sobre os substantivos e os adjetivos, destacamos, principalmente, a problemática de se considerar o grau como flexão, haja vista que, ao empregarmos o grau, estamos, muitas vezes, realizando um processo derivacional. Isso ocorre porque o falante acaba por criar uma nova palavra, às vezes com significação que em muito se distancia daquela que faz parte da palavra-base, como é o caso de caminho > caminhão, por exemplo. O estudo dos pronomes foi pautado nas diversas funções que estes podem assumir na língua. Identificamos, assim, o caráter dêitico, a partir do qual podemos determinar o emprego de um ou outro pronome, conforme a perspectiva do falante. Encerramos nossos trabalhos com a análise detalhada dos Artigos e dos Numerais que desempenham importante papel na construção dos sentidos do texto. MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS VARIÁVEIS

113 Dentre as classes de palavras variáveis, uma das mais complexas é, sem dúvida, a dos verbos. Tradicionalmente, essa classe é definida a partir do critério semântico, segundo o qual se trata de palavras que podem indicar ação, estado ou fenômeno natural. Essa definição, entretanto, pode levar o estudioso a classificar como verbo o substantivo chuva e o adjetivo doente, que expressam fenômeno natural e estado, respectivamente. A partir dessas considerações, qual é a definição mais adequada dessa classe de palavras? Justifique sua resposta. 2. Os pronomes, mais do que simplesmente substituir nomes ou substantivos no âmbito oracional, apresentam a função, podem indicar noções de espaço e tempo. Explique essa afirmação a partir das discussões apresentadas no material. 3. Os artigos são responsáveis pela identificação do gênero dos substantivos em geral, bem como por atribuir a qualquer outra classe de palavras a função substantiva (derivação imprópria). Essas, no entanto, não são as únicas atribuições dos artigos. Explique qual é a sua importância no que diz respeito à referenciação, bem como ao processo de individualização de alguém ou algo. 4. Os numerais podem ser analisados segundo as quatro categorias em que estão organizados. Quais são essas categorias? Como funciona o sistema de flexão em cada uma delas?

114 MATERIAL COMPLEMENTAR A vertente grega da Gramática Tradicional Maria Helena de Moura Neves Editora: Uniesp, 1ª edição Sinopse: Esta é uma versão revisada do livro A vertente grega da gramática tradicional, de 1987, esgotado há muitos anos, título ao qual se acrescenta agora o subtítulo Uma visão do pensamento grego sobre a linguagem, que torna mais transparente o conteúdo da obra. Reedição que surge num momento de efervescência das bases do ensino de gramática, discussão essencialmente centrada nas críticas à gramática tradicional, que muitas vezes remontam à emergência da disciplina gramatical na Grécia, e que, em geral, são nascidas de um desconhecimento das condições em que a disciplina surgiu. Essas condições é que são tratadas neste livro. Disponível em: < html?id=htnkpew8onqc>. Acesso em: 03 abr Teoria Linguística Maria Tereza Camargo Biderman Editora: Ltc, 1ª edição Sinopse: Teoria Linguística destina-se aos estudantes de Letras, assim como aos interessados na linguagem humana e nas línguas naturais. O foco principal da obra é uma teoria lexical, discutindo-se a problemática da palavra nos vários tipos de línguas faladas e escritas no mundo. Trata ainda das classes de palavras em português, assunto muito controverso ao longo da história de nossa língua. O livro discute ainda o uso do computador na pesquisa linguística, ferramenta que veio revolucionar o estudo da linguagem humana e sobretudo a produção de dicionários. Disponível em: < Acesso em: 03 abr

115 Professora Me. Juliana Carla Barbieri MORFOLOGIA INFLEXIONAL: AS CATEGORIAS DE PALAVRAS INVARIÁVEIS UNIDADE V Objetivos de Aprendizagem Promover uma reflexão abrangente e exaustiva acerca dos fenômenos que a perspectiva tradicional intitulou classes de palavras invariáveis. Analisar, em separado, cada uma dessas classes de modo a identificar os traços morfológicos, sintáticos e semânticos nelas presentes. Relacionar esses mesmos traços à questão do uso e/ou aplicabilidade às mais diversas situações de interação social. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: A junção Preposição Aspectos morfológicos, sintáticos e semânticos Conjunção Aspectos sintáticos e semânticos Advérbio Aspectos sintáticos e semânticos A questão da interjeição

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117 117 INTRODUÇÃO Nesta unidade, você estudará a parte da Morfologia que trata das classes de palavras invariáveis, ou seja, aquelas que não sofrem flexão de gênero, nem sequer de número. Assim, estudaremos as particularidades das Preposições, das Conjunções, dos Advérbios e das Interjeições, de modo a evidenciar não apenas as definições que têm sido apresentadas pela tradição gramatical, mas, de modo especial, suas aplicações nas mais diversas situações de interação comunicativa. Para tanto, nossas análises serão subsidiadas por autores como Maria Helena de Moura Neves e Joaquim Mattoso Camara Júnior que, ao trabalharem a linguagem à luz de um enfoque funcionalista, oferecem valiosas contribuições para o estudo dessas classes de palavras tratadas, de modo geral, com simplicidade e um único critério de análise. Primeiramente, estudaremos as classes responsáveis pela junção, ou seja, as Preposições e as Conjunções. Interessa-nos, nesse momento, destacar a importância de uma descrição que esteja para além da rotulação ou do registro de ocorrências, muitas vezes artificiais (criados exclusivamente para constituírem exemplos), ou ainda, extraídos da literatura clássica. As discussões levantadas acerca dessas classes serão alicerçadas a partir de ocorrências da linguagem em uso, o que, por extensão, nos dará subsídios para um estudo mais complexo e coerente com a língua que, de fato, utilizamos em nosso cotidiano. Ademais, abordaremos, nesta unidade, o Advérbio, bem como a Interjeição. Tais classes têm recebido pouca ou nenhuma atenção dos estudiosos, dada a riqueza e a complexidade que apresentam, diante, por exemplo, de ocorrências reais da língua em uso. Com relação à classe do Advérbio, procuraremos também evidenciar a insuficiência do tratamento tradicional que se limita a classificá-lo como palavra responsável por modificar o sentido do verbo, do adjetivo ou de outro advérbio. Na verdade, você observará que, em alguns casos, ele pode indicar um juízo de valor do próprio falante e, assim, modificar o direcionamento dado a toda uma oração, período ou porção maior do texto no momento mesmo da leitura. Introdução

118 V À classe da Interjeição seguem considerações sobre o traço distintivo que lhe é próprio: constituir, sozinha, o que podemos definir como palavra-frase pelo fato de comportar em si uma significação completa. A JUNÇÃO Passaremos, agora, ao estudo das classes de palavras responsáveis pela junção e pela conexão textual: a preposição e a conjunção. Nosso estudo terá como base a teoria da Gramática de Usos da Prof. Maria Helena de Moura Neves (2003). PREPOSIÇÃO ASPECTOS MORFOLÓGICOS, SINTÁTICOS E SEMÂNTICOS Em linhas gerais, podemos definir a preposição, morfologicamente, como uma palavra invariável (ou seja, não varia em número nem em gênero). Sintaticamente, sua função é a de ligar dois termos (duas palavras) e estabelecer uma relação de subordinação entre eles. São elas: a, ante, até, com, contra, de (do, da), desde, para (pra), perante, por, sem, sob, sobre, trás* (essa preposição trás não é mais usada isoladamente, mas aparece quase sempre na locução por trás de ). Semanticamente, uma mesma preposição pode estabelecer diferentes significados entre os termos. Neves (2000) afirma que a preposição a pode funcionar como introdutora de complemento verbal, como ocorre em: (Júlia se dirigiu à sala de espera), do complemento de um adjetivo, como é o caso do exemplo: [O alimento é necessário à existência do homem]. MORFOLOGIA INFLEXIONAL:

119 119 Pode também introduzir o complemento de um substantivo, como é o caso do exemplo a seguir: [Nós vemos a função do jornal da televisão em termos de oferecer um guia ao público para os acontecimentos do dia]. A preposição até funciona, frequentemente, como introdutora de complementos de verbos locativos, como em: [As águas vinham até os seus pés]. Além dessa função, essa preposição pode estabelecer diversas relações semânticas que incluem noções de: Lugar: [Seguiu-a até a uma mangueira enorme]. Tempo: [Tenho até hoje a lembrança daquele acidente]. Limite numérico: [Esse produto pode custar até quatro vezes mais, dependendo da região]. A preposição com também funciona, frequentemente, como introdutor de um complemento verbal. Observem alguns exemplos: [Ladrões brigam com ladrões e se matam]. A ideia vinculada a esse exemplo é a de confronto, disputa, ou ainda, de oposição. [Chocou-se o ar noturno com o corpo quente]. Nesse caso, a ideia transmitida refere-se a choque, atingimento ou aproximação. [Fundiam-se seus gritos com as vozes das moças]. Observe que a preposição, nesse caso, indica ideia de junção, união ou aproximação. A preposição contra também funciona como complemento verbal indicando ataque ou investida, como em: [Aqui, a polícia nunca atirou contra ninguém]. Essa preposição pode também complementar substantivo: [Para justificar a demissão, citaram a necessidade de medidas contra os abusos de poder]. Preposição

120 V A preposição de também funciona no sistema de transitividade, introduzindo complementos verbais. Esse complemento pode se referir ao ponto de origem, ponto de partida, ponto inicial de referência, de experiência ou mudança. Essa preposição, como complemento verbal, pode estabelecer várias relações semânticas, dentre as quais destacaremos as seguintes: a. Relação de afastamento: [Convém que o Senhor não se afaste desta cidade]. b. De saída ou partida: [Eu saía de um relacionamento e entrava em outro]. c. Separação ou desligamento: [O diretor fez questão de dissociar a queda nas vendas de sua ausência]. A preposição em também funciona, frequentemente, como complemento adverbal indicando o processo, a atividade ou a situação que é expressa pelo verbo. É o que ocorre, por exemplo, nos períodos a seguir: [Jurema engajara-se na milícia apostólica]. [Novamente, meu amigo me colocou numa situação complicada]. A preposição entre introduz complemento verbal ou nominal indicando uma relação de reciprocidade entre dois argumentos coordenados ou condensados numa forma indicadora de pluralidade. Como introdutora de complemento verbal pode estabelecer, dentre outras, as seguintes relações semânticas de interação, como ocorre no período seguinte: [Os professores conversaram ENTRE si]. A preposição para pode introduzir um complemento verbo, de adjetivo e de substantivo: [Toda a sua solidão fica marcada enquanto ele caminha para a porta]. [A empresa destacou-se pela criação de uma estrutura voltada para o planejamento estratégico]. [Vemos apenas um privilégio para o exercício dos cargos públicos]. Da mesma forma, a preposição por pode introduzir complementos verbais e nominais (para substantivos e adjetivos). Como introdutora de complementos MORFOLOGIA INFLEXIONAL:

121 121 verbais, a preposição POR pode indicar cuidado ou zelo como em: [Meu pai ficou na porta, velando PELO padrão moral de sua estirpe]. Ao introduzir um complemento de adjetivo, essa preposição pode expressar as seguintes relações semânticas: a. Responsabilidade: [Sentia-me responsável por seu fracasso]. b. Interesse: [Os meninos iam ficando cada vez mais interessados pelas coisas da lavoura]. Como introdutora de um complemento de um substantivo, pode estabelecer relações de respeito ou falta de: [Não tinha consideração por ele]. Junto aos sintagmas adverbiais, essa preposição pode indicar, mais frequentemente, as seguintes relações semânticas: De lugar: [Muitos de nós andamos por avenidas muito movimentadas]. De tempo, aproximado ou indeterminado: [E quando você aparece? Por esses dias?]. Causa ou motivo: [Agradeço, de mesmo modo, ao Excelentíssimo Senhor Presidente pela extraordinária honra que nos dá]. Modo: [Pode-se começar a resolver o problema por identificação dos dados]. A preposição sob funciona como complemento locativo e pode estabelecer as seguintes relações semânticas: Circunscrição: [Sob essa nova perspectiva, a pesquisa tomará outros rumos]. Submissão, dependência ou subordinação: [O réu tremia, por saber que estava sob a sentença do juiz]. Modo: [Qualquer dificuldade só pode ser enfrentada sob inspiração de uma virtude moral]. Preposição

122 V Causa: [Se encontra líderes que resistam, combata-os sob alegação de antipatriotas]. Condição: [Não se deve ficar na dependência de um único investimento, sob o risco de ser soterrado pela evolução do tempo]. A preposição ante funciona como introdutora de sintagmas adverbiais e estabelecem, de acordo Neves (2000), relações semânticas de circunstanciação. Podendo, assim, indicar lugar e causa. Observe os exemplos a seguir: [Muitas vezes, sonhei com vivências da infância e, com nitidez, apareciam ante mim as pessoas com quem convivi]. [A vida de ambos os assaltados esteve por um fio, ante a insensatez suicida de um deles]. A preposição após funciona também com introdutora de sintagmas adverbiais e suas relações semânticas indicam subsequência, ou ainda, aquilo que vem em seguida, conforme nos mostram enunciados: [Uns após outros receberam o atendimento do médico]. [Dia após dia, aquela doença foi evoluindo até levar à morte]. A preposição desde estabelece relações semânticas junto a adjuntos adverbiais que podem indicar: Tempo: [O almoço estava secando na panela desde as onze]. Lugar: [O subúrbio, desde o início até o final, se achava submetido a blackout]. Condição: [Acho que toda mulher deve lutar pela igualdade, desde que isso não signifique o abandono de sua condição de mulher]. Causa: [Desde que nos preocupamos com a educação integral, podemos optar por práticas pedagógicas diversas]. A preposição perante também funciona como introdutora de adjuntos adverbiais. Nesses casos, a relação semântica que se estabelece é a de fronteira ou relação simples espacial de copresença entre dois elementos: MORFOLOGIA INFLEXIONAL:

123 123 [Naquele instante os noivos entraram no salão, perante o grande bolo iluminado]. [O trabalho foi elogiado perante a turma como dos melhores]. A preposição sem, no sintagma adverbial, indica privação ou ausência. Pode introduzir adjuntos adverbiais: De modo: [Sem olhar para o cliente, o médico contava o dinheiro na gaveta]. De condição: [Sem ela, você não faz nada]. Essa preposição aparece frequentemente em expressões fixas, como as seguintes: sem que; sem mais; sem mais ou menos; sem mais nada e sem essa. CONJUNÇÃO ASPECTOS MORFOLÓGICOS SINTÁTICOS E SEMÂNTICOS Morfologicamente, a conjunção é a palavra que liga orações ou dois termos de mesma função sintática dentro de uma mesma oração. Sintaticamente, pode estabelecer relação de coordenação ou de subordinação. Semanticamente, podese dizer que, ao ligar orações, as conjunções estabelecem uma relação de sentido entre a primeira oração e a seguinte. Ex: Meu vizinho diz que é rico, mas vive pedindo dinheiro emprestado (relação adversativa, ou seja, de contraste). As conjunções podem, entre outras funções, estabelecer as relações de: a. Adição: [Ele falava e eu ficava ouvindo]. b. Adversidade: [Pedro é distraído, mas competente]. c. Alternância: [Ou você estuda, ou você trabalha] (no âmbito da coordenação). Conjunção

124 V As gramáticas tradicionais, no entanto, costumam indicar também a relação de explicação e conclusão no âmbito na coordenação. Na verdade, o que ocorre é que tanto a explicação quanto a conclusão estão numa relação de causa e consequência e, por isso, têm sido estudadas e analisadas, atualmente, no âmbito das construções adverbiais, as tradicionalmente denominadas orações subordinadas adverbiais. Assim, dentre as adverbiais, as conjunções apresentam as seguintes relações semânticas: a. Tempo: [Quando cheguei, o telefone tocou]. b. Causa: [Não saí porque choveu]. c. Consequência: [A professora falou tanto que ficou rouca]. d. Condição: [Se chover, não sairei de casa]. e. Concessão: [Embora ferido, o soldado continua lutando]. f. Comparação: [Maria chorava como um bebê]. g. Conformidade: [Segundo se diz, aparece no filme mais um atirador]. h. Proporcionalidade: [Nas pedras reconstituídas aparecem estrias que se intersectam em várias direções conforme podem ser observadas]. Observe que uma mesma conjunção pode indicar e/ou estabelecer várias relações semânticas. Analisaremos, primeiramente, cada uma das conjunções coordenadas que podem ser entendidas como aquelas que só ocorrem entre segmentos do mesmo estatuto sintático, ou seja, sintagmas, orações ou enunciados. A conjunção coordenativa E indica, a priori, uma relação de adição entre segmentos coordenados, observe o exemplo: [Ana e o marido fizeram os exames necessários e constataram que o problema era dela.] De acordo com Neves (2000), esse fato prova que a conjunção E é mais neutra semanticamente do que as outras. MORFOLOGIA INFLEXIONAL:

125 125 Além disso, é importante destacar que essa relação mais neutra pode também ocorrer entre segmentos coordenados que mantêm uma relação semântica de contraste, como o que ocorre com o período a seguir: [Trabalhava muito e não conseguia pagar as contas]. Ou, ainda, entre segmentos que estabelecem entre si uma relação de causa-consequência, como ocorre com o período: [O antigo proprietário morreu e seus herdeiros perderam todos os seus bens]. A conjunção NEM, da mesma forma que a conjunção e, indica, a princípio, uma relação de adição entre os segmentos coordenados, com a diferença de que o conectivo NEM adiciona segmentos negativos ou privativos. Observem os exemplos: [Os detetives não acharam o rastro dos assassinos, nem explicações para o crime]. [Não me arrisco, nem arrisco você]. Diferentemente do E, no entanto, o NEM pode ocorrer já no primeiro dos dois ou mais sintagmas negativos, observe: [Nem a virtude nem a modéstia contribuíram para a minha defesa naquele difícil transe]. A conjunção MAS, por sua vez, frequentemente marca uma relação de desigualdade entre os segmentos coordenados, e, por isso, seu emprego limita-se a no máximo dois segmentos, conforme nos mostram os exemplos: [Vocês servem mal, mas a comida é muito boa]. [Eu estava no quarto, mas não consegui dormir, pois estava sem sono]. Observem que o terceiro segmento já é introduzido pela conjunção pois, tradicionalmente denominada explicativa. Além do valor semântico tradicionalmente já apresentado, o de contraposição, o MAS pode assumir também a função de estabelecer relações de compensação e adição. Observe: Conjunção

126 V [Tinha de resignar-se a tolerar, durante algumas horas, a presença do cunhado, seu olhar irônico, as indiscretas perguntas que não deixaria de fazer, mas havia o sobrinho, com quem poderia conversar]. O segundo período (mas havia o sobrinho, com quem poderia conversar) equivale a dizer (mas, em compensação, havia o menino, com quem poderia conversar). Além dessas funções, a conjunção MAS é frequentemente usada para tomada de turno, principalmente em se tratando da língua falada. Nesses casos, só ocorre no início do enunciado, que corresponde ao início de outro turno de fala, obedecendo, portanto, a determinações de ordem pragmática, ou seja, do contexto em que ocorre. Observe a seguinte ocorrência: [- Na verdade, eu me recuso a continuar a defender um cliente que se recusa a me contar toda a verdade. Mas você o conheceu há uma semana!]. Observe que o MAS, nesse caso, não funciona como elemento adversativo, não indica compensação, nem tampouco adição. Ele é empregado simplesmente para tomada de turno que indicará, posteriormente, uma objeção à informação dada no turno anterior. Finalmente, a conjunção OU marca, a princípio, disjunção ou alternância entre o elemento coordenado no qual ocorre e o elemento anterior. Nesse sentido, uma construção coordenada com OU pode indicar uma disjunção inclusiva, que ocorre quando os elementos se somam, como em: [Não se trata de semelhança física, mas a forma de pensar, a maneira ou o jeito de dizer alguma coisa são muito parecidos com os do marido]. Ou uma disjunção exclusiva, quando os elementos se excluem: [Nós somos educados, ou somos hipócritas]. Passaremos, agora, ao estudo das conjunções subordinativas, a começar pelas temporais. A conjunção prototípica para indicar tempo, em português, é QUANDO. No entanto, outras conjunções ou locuções conjuntivas podem também expressar a noção de tempo. São elas: Enquanto: [José apresentou-se ao delegado enquanto este registrava a queixa]. MORFOLOGIA INFLEXIONAL:

127 127 Apenas: [Casara-se muito jovem, quase uma criança, apenas completara dezesseis anos e o noivo vinte]. Mal: [Mal deu a volta na estrada, os pensamentos ruins já voltaram a o atormentar]. Antes que: [O tempo termina antes que João consiga concluir a prova]. Depois que: [Aqui é a minha casa, e será aqui que você ficará depois que nos casarmos]. Logo que: [Logo que ela saiu, voltei a ler a revista]. Assim que: [Prometi ir vê-lo assim que voltasse de viagem]. Sempre que: [Sempre que chegava, falava de seu sofrimento]. Até que: [Aquele seria seu novo trabalho, até que conseguisse reaver sua empresa]. Desde que: [Desde que te vi, percebi algo semelhante entre ti e teus pais]. Quanto às relações de sentido, as conjunções temporais podem indicar: Simultaneidade: [Enquanto conversava, continuava a fazer seu trabalho]. Não simultaneidade: [Antes que eu tivesse chance de resposta, já fui condenado]. Além disso, a noção de tempo pode também estar atrelada à de causa: [O professor mudou de conversa quando alguém perguntou sobre sua vida pessoal]. Observe que a conjunção quando, nesse caso, poderia ser substituída sem prejuízo semântico pela conjunção prototípica porque : [O professor mudou de conversa porque alguém perguntou pelas dicas da prova]. E também à noção de condição. Observe: [Ficamos satisfeitos quando podemos voltar para casa]. Conjunção

128 V Nesse caso, poderíamos, também, trocar a conjunção quando pela prototípica condicional se. Assim, teríamos: [Ficamos satisfeitos se podemos voltar para casa]. E à notação de adversidade: [Muitos de nós nos preocupamos com o espírito, enquanto outros valorizam a matéria]. Nesse caso, poderíamos dizer: [Muitos de nós nos preocupamos com o espírito, mas outros valorizam a matéria]. As conjunções causais são apresentadas de maneira sucinta e simplificada pela tradição gramatical. De acordo com essa perspectiva, as principais conjunções denotadoras de causa são: porque, pois e como; e as locuções conjuntivas : visto que, uma vez que. A abordagem funcionalista, no entanto, acrescenta as conjunções porquanto e que: [O empresário, inclusive, está tendo grandes prejuízos porquanto teve problemas com o quadro de funcionários]. [Fique atento, que já vamos dar início à sessão]. E, entre as locuções conjuntivas, acrescenta: Já que: [Não sabia se a construção sairia a contento já que os recursos não foram suficientes]. Uma vez que: [A estrutura do prédio está toda comprometida, uma vez que a análise dos engenheiros constatou que os alicerces cederam]. Dado que: [Dado que o valor do combustível foi reajustado, muitos têm optado por transportes alternativos]. Desde que: [Desde que assumiu o cargo, deve ter conhecimento sobre os assuntos dos quais deverá tratar]. MORFOLOGIA INFLEXIONAL:

129 129 Visto que: [A internet é uma faca de dois gumes, visto que apresenta todos os tipos de informação possíveis]. Visto como: [A separação das turmas era necessária, visto como, para que houvesse bom rendimento, necessário seria uma diminuição no número de alunos]. Pois que: [O consumo tem aumentado significativamente entre os brasileiros, pois que as condições de pagamento têm sido facilitadas]. Tanto mais que: [Quanto ao convite para o lançamento do livro, julgamos necessário levá-lo pessoalmente, tanto mais que nossos convidados residiam nas proximidades]. As conjunções condicionais podem ser representadas pela conjunção prototípica SE: [Se eu fizer o que me pedem, faltarei com meu compromisso ético]. Além dessa, os conectivos que podem indicar condição são: Caso: [Caso cheguem mais convidados, avisarei a cozinheira]. Que: [Você não pode ver perfume que não corra logo para cheirar]. Observe que, empregando-se a conjunção prototípica, teríamos a seguinte oração: [Você não pode ver perfume, se não correr logo para cheirar]. Assim como as conjunções temporais e causais, as condicionais podem aparecer em forma composta, constituindo, assim, o que tradicionalmente convencionouse denominar locução conjuntiva. Essas locuções, por sua vez, normalmente, são constituídas com o elemento que no final. São elas: Desde que: [Desde que nos preparemos para o futuro, deveremos esperar o melhor]. Contanto que: [Contanto que tivesse saúde, os demais problemas pouco importavam para Antônio]. Uma vez que: [Os operários entraram em greve, uma vez que as condições de trabalho em nada melhoraram]. Conjunção

130 V A menos que: [A menos que o idoso mantenha uma vida produtiva e participante, será excluído pela sociedade e, muitas vezes, pela família]. Sem que: [Os pacientes não serão atendidos sem que estejam munidos da carteirinha do plano de saúde]. Salvo se: [Os produtos não poderão ser exportados, salvo se houver prévio acordo entre os países]. Exceto se: [O acerto será devidamente feito com os funcionários, exceto se houver problemas referentes à falta e/ou ao cumprimento do aviso prévio]. Outro fator importante a ser destacado sobre as conjunções condicionais é que elas podem trazer, junto com a noção de condicionalidade, a de tempo, por exemplo, conforme já estudamos no item dedicado às conjunções temporais. As conjunções concessivas são genericamente representadas pela conjunção prototípica EMBORA: [As pessoas mais abastadas parecem mais felizes, embora, muitas vezes, não sejam]. Além do embora, a conjunção CONQUANTO também pode estabelecer a mesma relação de sentido: [Conquanto sofresse discriminações pela condição de imigrante, concordou que suas atitudes não eram adequadas]. Interessante é, pois, constatar que essas construções têm sido enquadradas, juntamente com as adversativas, no âmbito nas conexões contrastivas. Em muitos dos enunciados concessivos, torna-se evidente essa noção ao fazer-se uma comparação com enunciados adversativos em paralelo. Observe: [Embora fosse sempre um homem silencioso, o seu silêncio, agora, era mais denso e triste. /Era sempre um homem silencioso, mas o seu silêncio, agora, era mais denso e triste]. No entanto, é preciso atentar para o fato de que, se por um lado, essa comparação entre relações concessivas e adversativas é perfeitamente possível e evidente MORFOLOGIA INFLEXIONAL:

131 131 em muitos enunciados, conforme nos comprova o exemplo acima, é necessário, por outro lado, observar a relação dessas conjunções concessivas com as causais e as condicionais. As concessivas, causais e condicionais podem expressar uma noção de causa num sentido mais amplo e, ao mesmo tempo, há nuances das noções condicionais, pois que são explicáveis em dependência de satisfação ou necessidade de determinadas situações. As conjunções finais podem ser entendidas como aquelas que introduzem uma expressão ou oração que indica finalidade ou o propósito que motiva o evento expresso na oração principal. São representadas, em linhas gerais, pela locução PARA QUE: [O governo precisa investir, urgentemente, na educação básica para que não sejam necessárias cotas para o ingresso nas universidades]. Outra locução conjuntiva que pode expressar a mesma relação semântica é A FIM DE QUE: [Mandarei meu funcionário arear a placa, a fim de que a homenagem se renove]. No entanto, a locução PARA QUE pode ser utilizada para introduzir uma interrogação, o que não ocorre com A FIM DE QUE. Além disso, as locuções DE MODO QUE e DE MANEIRA QUE podem também indicar finalidade, mas trazem em si nuances da relação modal. Observe: [Vamos mobilizar o povo para a importância da educação de qualidade, de modo que ele tenha plena consciência de seus direitos]. As conjunções comparativas se caracterizam, sob o ponto de vista sintático, por manter a independência entre dois elementos, e, sob o ponto de semântico, por um estabelecimento de um cotejo entre esses elementos. É possível observar certa proximidade entre as comparativas e as aditivas, uma vez que em ambas, o sujeito pode ser comum aos dois sintagmas verbais. [Maria chora tanto quanto ri]. Sintaticamente, no entanto, devemos lembrar que as aditivas ocorrem entre Conjunção

132 V orações coordenadas (ou paratáticas, usando uma expressão da gramática funcionalista), enquanto as comparativas ocorrem entre orações interdependentes (ou hipotáticas), semelhante, então, às demais orações adverbiais. As conjunções consecutivas indicam o efeito ou o resultado ligado a um evento principal: [Bebi tanto que acabei me cortando com uma garrafa quebrada]. Ou a um elemento que está na oração principal: [Júlia ficou tão triste e desanimada que logo percebeu: havia chegado a uma situação limite]. Esses mesmos efeitos de sentido, porém, podem também ser expressos no âmbito da coordenação, o que explica o porquê de a gramática tradicional classificar, dentre as conjunções coordenadas, as chamadas conclusivas. As conjunções conformativas podem ser representadas pela conjunção prototípica CONFORME: [Francisco ligou para o escritório do amigo, conforme tinham combinado]. Além dessa conjunção, a relação de conformidade pode se fazer também por meio das conjunções: Consoante: [Variando as condições da escola, consoante os recursos enviados pelo governo]. Segundo: [Segundo se diz, o filme é um dos melhores do ano]. Como: [Como se verá, o nosso trabalho é de grande importância no cenário científico]. As conjunções proporcionais indicam uma proporção entre o que é expresso na oração principal e o que é expresso na proporcional. Podem ser genericamente representadas pela locução À PROPORÇÃO QUE: [À proporção que os dias iam passando, a preocupação da família aumentava]. O mesmo sentido pode ser estabelecido também com a locução À MEDIDA QUE: O calor aumentava À MEDIDA QUE a manhã avançava. MORFOLOGIA INFLEXIONAL:

133 133 A origem dos juntivos: preposição e conjunção A tradição gramatical delegou aos vocábulos com função juntiva duas classificações distintas: as preposições e as conjunções. Essa distinção tem origem já na antiguidade clássica, a partir dos estudos das denominadas partes orationis. Talvez o maior expoente desse período tenha sido Dionísio da Trácia (séc. II a. C), que definiu as preposições como parte do discurso que se coloca antes de outras palavras no domínio da composição ou da sintaxe ; e as conjunções como parte do discurso que funciona como elemento de ligação e que ajuda na interpretação do enunciado. Neves (2002) explica que, para Dionísio, a conjunção é definida como a palavra que liga com ordenação o pensamento e revela os vazios de expressão. Nessa definição, continua a linguista, o autor remete a Aristóteles sobre a condição não significativa da conjunção. Apolônio Díscolo (séc. I d. C), no entanto, em sua obra intitulada Da sintaxe, discorda de Dionísio e afirma que as conjunções têm significado autônomo e também que elas adquirem significado a partir das relações que estabelecem. Assim, a conjunção não apenas significa, mas cossignifica. São oito as classificações dadas por Dionísio e, posteriormente, mantidas por Apolônio Díscolo às conjunções. Dessas oito classificações, quatro fazem parte dos nossos manuais gramaticais, são elas: a) Copulativas (symplektikói): responsáveis por ligar orações estabelecendo entre elas uma relação de adição (as tradicionalmente chamadas conjunções aditivas). b) Disjuntivas (diazeuktikói): relacionam orações, excluindo uma ideia das outras (trata- -se das conjunções alternativas). c) Conclusivas (syllogistikói): responsáveis por introduzir a conclusão e a compreensão de demonstrações ou afirmações, muito frequentes na oratória. d) Causais (aitiologikói): apresentam a causa da oração anterior. Essa classificação foi mantida por Varrão (séc. I a.c), o primeiro gramático latino do qual se tem notícia, em sua obra De língua latina. Segundo Matos e Silva (1989), muitos dos estudos realizados durante a Idade Média sobre o assunto seguiam a vertente clássica, ou seja, a greco-latina. Durante esse período, desenvolveram-se estudos que objetivavam alcançar uma descrição mais detalhada e completa do latim, língua de prestígio, então dominante da Europa. Desses estudos, originaram-se as classificações dos juntivos, sobretudo das conjunções que são o alicerce da tradição gramatical em língua portuguesa. Almeida (2001) apresenta um quadro geral das conjunções latinas, dividindo-as em dois grupos: as coordenativas e as subordinativas (distingue, dentre as subordinativas, as integrantes, empregadas nas orações subordinadas substantivas, e as circunstanciais, recorrentes nas construções do Consecutio temporum, o que, em português, corresponde às tradicionais conjunções ou perífrases conjuncionais que introduzem orações adverbiais).

134 De acordo com a classificação do autor, pode-se apresentar o seguinte resultado: Conjunções coordenativas Conjunções coordenativas Copulativas: [Em latim: Et, ac, que, atque; nec, neque]. [Em português: Nem, e não]. Conjunções coordenativas Disjuntivas: [Em latim: Aut, vel, sive]. [Em português: Ou; ora... ora; quer... quer]. Conjunções coordenativas Adversativas: [Em latim: At, ast, sed, autem, tamen]. [Em português: Mas, porém, contudo]. Conjunções coordenativas Demonstrativas ou Explicativas: [Em latim: Nam, namque, enim, quia]. [Em português: Pois, porque]. Conjunções coordenativas Conclusivas: [Em latim: Ergo, itaque]. [Em português: Portanto, por isso, logo]. Conjunções subordinativas Conjunções subordinativas Integrantes: [Em latim: Ut, quod, que]. [Em português: Que]. Conjunções subordinativas Condicionais: [Em latim: Si, se]. [Em português: Se, contanto que]. Conjunções subordinativas Concessivas: [Em latim: Quamquam, quamvis, ut]. [Em português: Embora, ainda que]. Conjunções subordinativas Causais: [Em latim: Nam, namque, enim, quia].

135 135 [Em português: Porque, visto que, já que]. Conjunções subordinativas Temporais: [Em latim: Quam, dum]. [Em português: Quando, enquanto]. Conjunções subordinativas Comparativas: [Em latim: Sicut, atque]. [Em português: Assim como, como]. A partir do século XVI, com a publicação das gramáticas de João de Barros e Fernão de Oliveira, essa teoria foi adaptada para o português, mas manteve-se, praticamente, fiel aos moldes greco-latinos: às preposições atribuiu-se a função de conectar palavras; enquanto às conjunções, a função de relacionar orações ou palavras de mesmo estatuto sintático. A obra João de Barros, publicada na primeira metade do século XVI, ao lado da Gramática de Fernão de Oliveira, foi uma das primeiras a tentar uma descrição gramatical da língua portuguesa. Para tanto, o principal modelo utilizado pelos autores foi o da gramática latina. Com relação à gramática elaborada por João de Barros, em particular, esta se limita a descrever as preposições a partir da noção de caso: genitivo (de), dativo (a, para), acusativo (diante, por etc.) e ablativo (com, sem, em); as conjunções, por sua vez, são apresentadas a par dos estudos sobre sintaxe, e enumeradas em duas categorias: a copulativa e a disjuntiva, mas ressalta a existência de inúmeras outras. Referências ALMEIDA, N. M. Gramática Latina. 29. ed. São Paulo: Saraiva, NEVES, M. H. M. A gramática: história, teoria e análise, ensino. São Paulo: Editora Unesp, Fonte: elaborado pela autora

136 V ADVÉRBIO ASPECTOS MORFOLÓGICOS, SINTÁTICOS E SEMÂNTICOS A definição tradicional do advérbio, como a palavra invariável que modifica o verbo, o adjetivo ou outro advérbio, advém dos modelos das gramáticas grega e latina. No entanto, nos últimos anos, esse modelo tem sido alvo de discussões de vários linguistas que questionam a validade do mesmo. Isso ocorre porque, na gramática tradicional, os advérbios constituem uma classe muito heterogênea. O linguista Potier já dizia que se incluíram sob a rubrica advérbios todas as palavras com as quais não se sabia o que fazer. Estudiosos como Maria Tereza Biderman, por exemplo, apontam a insuficiência do tratamento tradicional mostrando que, se levarmos em consideração apenas o critério sintático, poderemos constatar que o advérbio, além de modificar o verbo, o adjetivo ou outro advérbio, pode modificar o sentido de outras palavras, como os pronomes indefinidos, como podemos observar com um exemplo extraído do Livro Fogo Morto de José Lins do Rego, em que se diz: [O engenho se arrastava na safra de quase nada]. Os advérbios modificam também os numerais como acontece com enunciado: [Foram noticiadas mais de vinte mortes]. Os nomes substantivos: [O então presidente estava todos os dias nos jornais]. As preposições: [Isto aconteceu bem antes do pôr-do-sol]. Além, é claro, das conjunções: [Eu saí justamente quando eles chegaram]. Sob o ponto de vista semântico, o advérbio exprime uma avaliação da forma e do conteúdo do enunciado. O fato, por exemplo, de o advérbio poder situar-se MORFOLOGIA INFLEXIONAL:

137 137 em diversas posições dentro de uma oração comprova essa afirmação, pois possibilita a criação de sentidos diversos. No que diz respeito ao aspecto morfológico, o advérbio apresenta características diversificadas, dada sua heterogeneidade, conforme foi mencionado acima. A maioria dos advérbios admite variação de grau que pode apresentar três categorias de comparação: superioridade, igualdade e inferioridade e, também, dois tipos de intensificação no grau superlativo, embora seja invariável quanto a todos os demais aspectos. Retomando cada uma das subclassificações dadas aos advérbios nas gramáticas normativas, devemos analisá-las destacando, de modo especial, o que as distingue umas das outras. Assim temos, num primeiro momento, os chamados advérbios de modo que constituem a mais numerosa de todas as classes adverbiais, o que se justifica pelo fato de que tal classe deriva-se, geralmente, de adjetivos e, por se aproximar da classe nominal, os advérbios de modo são muito produtivos. A seguir, nos são apresentados os Advérbios de tempo que podem indicar a sucessão temporal do discurso, a sucessão temporal em relação à pessoa do locutor, além, é claro, de indicar o instante. Os advérbios de intensidade são, como o próprio nome o diz, responsáveis pelo processo de intensificação do discurso. Além dessas categorias, a linguista cita, ainda, os chamados advérbios de afirmação, negação, dúvida e lugar. Joaquim Mattoso Câmara Júnior Advérbio

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