CONSTITUIÇÃO DA ESCOLARIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE ORLÂNDIA ENTRE 1914 A 1946
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- Moisés de Santarém Monsanto
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1 CONSTITUIÇÃO DA ESCOLARIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE ORLÂNDIA ENTRE 1914 A 1946 Maria Paula Giraldes Introdução A preocupação central deste trabalho é a realização de um estudo sobre a constituição da escolarização no município de Orlândia, interior do estado de São Paulo, tendo como objeto o Grupo Escolar de Orlândia atual Escola Estadual Coronel Francisco Orlando, entre os anos de 1914 a Essa escola localizada na cidade de Orlândia, interior de São Paulo, teria sido a primeira escola primaria pública do município e funcionou entre os anos de 1914 a O objetivo central é analisar os modos pelos quais esta escola foi criada e as alterações sofridas ao longo do período proposto. A principal justificativa para o desenvolvimento deste projeto é a ausência de estudos sobre a escolarização no município de Orlândia. Situada na zona de ligação entre Ribeirão Preto (polo cafeeiro) e o triângulo mineiro, a região foi cortada por uma das companhias férreas mais importantes do estado. Além disso, a escola teria sido a primeira escola primária pública, como parte do projeto de urbanização do fundador da localidade. O momento de criação desta instituição é de profunda crise da escolarização mundial, provocada pela 1 a Grande Guerra e de altos índices de analfabetismo no país. A partir de 1917 o debate em torno do analfabetismo se intensifica no estado, sobretudo através da grande imprensa, e uma reforma educacional se torna eminente. A Reforma Sampaio Doria, de 1920, tem por intenção enfrentar o analfabetismo e é um marco da Escola no Brasil. Várias outras reformas educacionais atravessam o período em foco, culminado com a Lei Orgânica do Ensino do Ensino Primário, de âmbito federal, publicada em Esta investigação toma como objeto uma instituição específica com o intuito de analisar, ainda, os impactos das reformas na escola pública primária paulista. O recorte definido para este trabalho inicia-se em 1914, ano da instalação da escola e segue, preliminarmente, até 1946, ano de publicação da Lei Orgânica do Ensino Primário, que tenta dar um caráter geral ao ensino primário no país. 1667
2 Aspectos Históricos da Educação no Brasil: de 1914 a 1946 Desde que o ensino e a aprendizagem passaram a serem planejados e formalizados no Brasil, eles sofreram muitas transformações. Este capítulo apresenta algumas transformações ocorridas entre os períodos de 1914 a 1946, enquanto contextualização histórica acerca do período de funcionamento da unidade escolar objeto de estudo desse trabalho. A Educação no Brasil de 1914 a 1946 Diversas foram às reformas pedagógicas ocorridas desde o Período Colonial no Brasil, entretanto, tais reformas não foram suficientes para que os problemas educacionais fossem resolvidos. Observa-se assim, que a educação tradicional manteve-se durante este período como consequência do modelo socioeconômico, tão pouco alterado com o advento da República. Nas palavras de Azevedo (1953, p.134): Do ponto de vista cultural e pedagógico, a República foi uma revolução que abortou e que, contentando-se com a mudança do regime, não teve o pensamento ou a decisão de realizar uma transformação radical no sistema de ensino para provocar uma renovação intelectual das elites culturais e políticas, necessárias às novas instituições democráticas. Com o fim da Primeira Guerra Mundial ( ), um surto de nacionalismo conquistou boa parte dos intelectuais brasileiros, o que refletiu em novos parâmetros que objetivavam o desenvolvimento do país e da educação. Assim, no final da década de 1910 o Brasil foi marcado por um relativo crescimento industrial e urbanização da sociedade, o que significou novas pressões em favor da escolarização (SILVA, 2014). É nesse contexto que se tem um entusiasmo pela educação, o que fez surgir ligas contra o analfabetismo como meio de divulgação de suas pretensões. Dentre estas estão: Liga de Defesa Nacional (1916) e Liga Nacionalista do Brasil (1917), ambas fundadas por intelectuais, médicos e indústrias com o intuito de erradicar o analfabetismo. O objetivo dessas ligas era na verdade o aumento do contingente eleitoral (o voto do analfabeto era proibido). Os líderes dessas ligas entendiam que o analfabetismo contribuía para a perpetuação das oligarquias. Assim sendo, esse movimento era fomentada por intelectuais ligados a nascente burguesia e pela classe média urbana (SILVA, 2014). Em face dessa conjuntura sócio-política, Ribeiro (1993, p.18), menciona que: Concretamente, houve certa ampliação no ensino secundário, mas ela só ocorreu no ensino particular. No ensino público houve um pequeno aumento 1668
3 no pessoal docente e uma diminuição nas escolas e matrículas. A elite governante, tendo conhecimento do baixo nível das escolas oficiais e desejando que seus filhos estudassem em níveis elevados, incentivava as escolas particulares. Numa sociedade agrícola onde os meios de produção eram elementares, só a elite dominante necessitava ser letrada. O governo não se interessava em ampliar a rede secundária, pois a economia não exigia nível médio. A elite, tendo o poder aquisitivo nas mãos, matriculava seus filhos nas escolas particulares, com finalidade de que atingissem o nível superior para serem os futuros administradores do país. Sendo assim, a estrutura educacional não foi alterada neste período. Foi na década de 1920 que um novo movimento ganha força: o otimismo pedagógico. Essa época foi marcada por acontecimentos históricos importantes, os quais influenciaram a cultura e os costumes locais; o que afetou o campo educacional. Nesse contexto, o Movimento Ideológico da Escola Nova chegou aos Estados Unidos indo de encontro aos ideias do movimento de otimismo pedagógico; que por sua vez, tronou-se um veículo divulgador, principalmente através de um ciclo de reformas educacionais estatais levadas adiante pelos jovens intelectuais (GHIRALDELLI JÚNIOR. 2003). Considerando essa conjuntura social, Meirelles (2013, p.1) ressalta que: A ideia de uma Educação para todos só ganhou força na década de Nesse período, se destacaram os pioneiros da Escola Nova - Anísio Teixeira ( ), Fernando de Azevedo ( ), Lourenço Filho ( ) e outros -, que defendiam a escola pública e laica, igualitária e sem privilégios. É importante salientar que na década de 1920 houve um declínio das oligarquias, com um impulso à industrialização; o que fortaleceu a classe burguesa. Com a queda da oligarquia e a ascensão da burguesia industrial, diversos movimentos (a saber: as revoluções, o Tenentismo, o Partido Comunista, a Semana de Arte Moderna, as linhas de pensamento filosófico dos escolanovistas e dos católicos), passaram a ser incorporados à educação, influenciando toda a organização escolar neste período (RIBEIRO, 1993). Sobre essas mudanças, Meirelles (2013, p.1), ressalta que: O estopim das mudanças foi a Reforma Sampaio Dória, em São Paulo, em 1920, que leva o nome do então diretor-geral da Instrução Pública do estado, Antônio de Sampaio Dória ( ). Preocupado com o fato de metade da população de 7 a 12 anos estar fora da escola e com um baixo orçamento, ele propôs uma etapa inicial de dois anos (equivalente ao começo do Ensino Fundamental atual), gratuita e obrigatória. Foi um período conturbado, em que educadores lideraram reformas no Ceará, no Paraná, no Rio Grande do Norte, na Bahia, em Minas Gerais, no Distrito Federal e em Pernambuco. Essas reformas alteraram a instrução pública em aspectos como a ampliação da rede de escolas e a reformulação curricular (SAVIANI, 2004, MEIRELLES, 2013). 1669
4 Neste contexto histórico, surge um movimento de cunho pedagógico, a Escola Nova. Veremos, pela primeira vez, educadores de profissão que denunciam o analfabetismo e outros problemas da educação. O escolanovismo vai buscar na Europa suas origens, onde já no século anterior uma sociedade industrializada se preocupava com a individualidade do aluno. No Brasil, os pioneiros da Escola Nova defendem o ensino leigo, universal, gratuito e obrigatório, as reorganizações do sistema escolar sem o questionamento do capitalismo dependente enfatizam a importância do Estado na educação e desta na reconstrução nacional (RIBEIRO, 1993, p.18). Os escolanovistas cresciam cada vez mais e se preparavam para a publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932, no governo de Getúlio Vargas ( ) (MEIRELLES, 2013). A defesa da Educação pública, gratuita e laica ganhou força no país em 1932, com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova Seus 26 signatários - entre eles Lourenço Filho ( ) e Anísio Teixeira ( ) - combatiam a escola restrita à elite e ligada à religião. Os anseios se justificavam. Afinal, em 1920 o analfabetismo atingia 80% (CAMILO, 2013, p.1). É importante destacar que de 1920 a 1929, foram várias as reformas educacionais estaduais a nível primário: a de Lourenço Filho (no Ceará, em 1923); a de Anísio Teixeira (na Bahia, em 1925); a de Francisco Campos e Mário Casassanta (em Minas Gerais, no ano de 1927); a de Fernando Azevedo (no então Distrito Federal, em 1928); e a de Carneiro Leão (em Pernambuco, também em 1928) (RIBEIRO, 1993). De acordo com Nagle (1974), ao contrário do relatado pela história do escolanovismo em outros países, no Brasil o escolanovismo surgiu, primeiro, como processo de especulação ou de teorização sobre a escolarização, para depois impregnar as instituições escolares (NAGLE, 1974, p.241) Assim sendo, conforme menciona Kulesza (2002), a compreensão do escolanovismo prescinde da investigação de seu relacionamento com o vasto movimento de modernização da sociedade brasileira, deslanchado por volta de Nagle (1974) elucida que uma característica inegável do escolanovismo no Brasil é sua dependência das iniciativas educacionais a cargo do poder público. Entretanto, há de ressaltar que, tais iniciativas, quase que totalmente, estavam vinculadas à formação do professor primário e, portanto, deram-se no âmbito da Escola Normal. Constata-se assim que o escolanovismo centrava a aprendizagem na criança, a qual, notadamente após a República, deveria ser educada na escola pública por professores formados pelo Estado em Escolas Normais tendo em vista a sociedade moderna. Sobre essa questão, Kulesza (2001, p.6) elucida que: 1670
5 Como, pela tradição legislativa brasileira, o ensino primário (e também a formação de professores primários) estava a cargo dos diversos estados, a introdução de inovações educacionais esteve sempre sujeita às peculiaridades locais. Se nos abstrairmos do alcance, da profundidade, da extensão, da continuidade, em suma, da efetiva realização das novas ideias nessas escolas, podemos dizer que as Escolas Normais foram, desde 1870 até meados da década de 30, o campo de experimentação e difusão por excelência da renovação educacional no Brasil. No final dos anos 1920, o Entusiasmo pela Educação e o Otimismo Pedagógico se completam e se chocam, desdobrando-se pela sociedade civil através das Conferências Brasileiras de Educação, promovidas pela Associação Brasileira de Educação (ABE). O nascimento da ABE retirou do Congresso Nacional o monopólio da discussão educacional, colaborando assim para o afloramento das contradições internas tanto do Entusiasmo quanto do Otimismo (SILVA, 2014). Sobre esses movimentos e suas consequências no cenário educacional desse período, Ribeiro (1993, p.20) ressalta: Nestas reformas, a Educação é totalmente desvinculada do contexto histórico, mas se acredita que ela é um fator determinante na mudança social, além de as reformas citadas serem regionais e restringirem-se ao curso Primário, já que nos planos Médio e Superior as ideias não chegam a alterar a organização e funcionamento nestes níveis, ainda que houvesse a defesa da organização universitária. Na década seguinte a essas reformas o Brasil presenciou o conflito entre 2 grupos de classe dominante: a oligarquia cafeeira e a burguesia industrial. Esse conflito culminou com o fim da República Velha e a tomada do poder por Getúlio Vargas, caracterizando a queda do setor agrário, comercial e exportador brasileiro (RIBEIRO, 1993). Nesse mesmo período, a crise de 1929, gerada pela queda da Bolsa de Nova York, desencadeou o desgaste da economia cafeeira e, também, do revezamento entre Minas Gerais e São Paulo no poder, a conhecida República do café com leite. Neste contexto surge uma tendência de pensamento que se contrapõe à dos pioneiros da Escola Nova, o pensamento conservador católico; que tinha como objetivo impedir as inovações propostas pelos escolanovistas (CAMILO, 2013). Nas palavras de Ribeiro (1993, p.21): A ideologia católica tem sua história montada nos séculos em que a Igreja dominava as relações sociais e vê o desmoronamento das instituições vigentes como consequência do afastamento do homem de Deus. Na educação, os conservadores católicos tem uma filosofia pedagógica coerente com a visão cristã de mundo, defendendo um ensino religioso para a 1671
6 formação cristã e vendo a criança como objeto central da educação; defendia a educação em separado, diferenciada para cada sexo. No ano de 1930, o Brasil entra no modelo capitalista de produção a partir de investimentos realizados no mercado interno e na produção industrial. Em face dessa conjuntura, surgiu a necessidade de uma mão-de-obra especializada e para tal era preciso investir na educação. Foi então, que no ano de 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e, em 1931, o governo provisório sancionou decretos organizando o ensino secundário e as universidades brasileiras ainda inexistentes. Estes Decretos ficaram conhecidos como "Reforma Francisco Campos" (SILVA, 2014). Sobre esse momento histórico, Ribeiro (1993, p.21) menciona: Em 1930, é criado o Ministério da Educação e Saúde, cuja pasta é ocupada por Francisco Campos. A reforma do secundário teve o mérito de dar-lhe organicidade, estabelecendo definitivamente o currículo seriado, a frequência obrigatória, dois ciclos, um fundamental de cinco anos e outro complementar de dois anos, e a exigência de habilitação neles para ingresso no curso superior. Entretanto, a situação política confusa neste início de década, a insatisfação das massas e o descontentamento de setores políticos, levam o governo federal a não tomar medidas imediatas para uma organização de plano de governo. Como consequência dessa demora, surgiu o descontentamento por parte dos educadores que participaram das reformas na década de 1920, os quais assinam, em 1932, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (RIBEIRO, 1993). Podemos identificar quatro grupos de destaque na construção de um Novo Brasil. Por um lado tínhamos os Liberais, intelectuais que sonhavam com a construção de um País de bases urbano-industriais democráticas, escorandose nas teses gerais da Pedagogia Nova. Eram os intelectuais que nos anos 20, formularam as reformas educacionais e nos anos 30 publicaram o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), propondo novas bases pedagógicas e a reformulação política educacional (SILVA, 2014, p.1). Observa-se, assim, que no período que compreende os anos de 1931 a 1937 (período denominado de "Conflito de Ideias"), têm-se de um lado os católicos e de outro os pioneiros - ambos defendendo os princípios fundamentais que deveriam orientar a educação no país. Na Constituição de 1934, observa-se a existência de um capítulo à Educação, atribuindo à União, a competência privativa de traçar as diretrizes educacionais do país. Nesse período são criados os Conselhos Nacional e Estaduais de Educação, ocorre a determinação de um mínimo de verbas a serem aplicadas para o ensino, tem-se o reconhecimento da Educação 1672
7 como direito de todos, a obrigatoriedade do ensino primário, bem como a assistência social e bolsas de estudo aos alunos (RIBEIRO, 1993). Nesse contexto, congressos, seminários e conferências foram realizados (CURY, 1986). As divergências na área de educação, porém, são apenas parte do conflito de ideias que acirravam os ânimos das facções da classe dominante que procurava seus próprios interesses. Podemos dizer que num determinado ponto, confunde-se as reivindicações educacionais com interesses políticos. Getúlio Vargas vai aproveitar muito bem este antagonismo para solidificar-se no poder, a partir do que, procura atender tanto um quanto outro grupo (RIBEIRO, 1993, p.21). Ribeiro (1993), ressalta que ao se fazer uma análise do texto da Constituição de 1934 muitos pontos contraditórios podem ser observados, uma vez que, as diretrizes estabelecidas davam margem a interpretações dúbias devido à falta de clareza e objetividade. Esse clima ideologicamente rico em debates durou apenas até 1937, quando foi instituído o Estado Novo por Getúlio Vargas, um período marcado por forte ditadura com repressão aos cidadãos e o Estado de Sítio (SILVA, 2014). O interesse da Carta de 1937 não era obrigar o Estado a dar uma educação geral e gratuita para a população. Pelo contrário, a intenção era manter esse dualismo: Os ricos estudariam nos sistemas públicos ou privados e os pobres, sem acesso a esses sistemas, estudariam nas escolas profissionalizantes. Assim, o artigo 129 prevê como primeiro dever do Estado à sustentação do ensino pré-vocacional e profissionalizante destinado às classes mais baixas (SILVA, 2014, p.1). Esta fase foi caracterizada pelos reflexos da crise do café, pelo processo de urbanização e intensa repressão às manifestações populares. A influência dos escolanovistas foi marcante, e a ação de educadores como Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira, trouxe para a realidade educacional brasileira, ideias e técnicas pedagógicas dos Estados Unidos, representadas pela filosofia educacional de John Dewey. Todavia, a realidade brasileira era totalmente adversa da realidade americana ou européia (RIBEIRO, 1993). Durante o Estado Novo, com o aumento das verbas destinadas à Educação, houve uma tentativa de se traçar uma política educacional de âmbito nacional. Sobre essa questão, Ribeiro (1993, p.23) menciona que: Criaram-se órgãos como o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (1937), o Instituto Nacional do Cinema Educativo (1937), o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (1938) e o Serviço Nacional de Radiofusão Educativa (1939).Com o desenvolvimento industrial, havia a necessidade de uma formação mínima ao operariado, e de maneira rápida e prática. Assim foi criado o SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - através do Decreto-Lei no 4048, de 22 de Janeiro de 1942, com finalidade de ministrar um sistema de ensino paralelo ao sistema oficial. O 1673
8 SENAI era dirigido pela Confederação Nacional das Indústrias e mantido pelas contribuições das empresas a ela filiadas. No ano de 1942, tem-se a Reforma Capanema, cuja ideologia era voltada para o patriotismo e o nacionalismo, difundindo disciplina e ordem através dos cursos de moral e civismo e de educação militar para os alunos do sexo masculino nas escolas secundárias (SILVA, 2014). Nesse contexto, conforme aponta Ribeiro (1993, p.23): O ensino secundário passou a ser ministrado em dois ciclos de quatro e três anos. Os primeiros quatro anos correspondiam ao curso ginasial e os três últimos ao curso colegial, que apresentava duas opções: o clássico e o científico. O ensino continuou a ter caráter humanístico, enciclopédico e aristocrático, e os cursos clássico e científico não apresentavam diferenças substanciais, a ponto de serem consideradas opções diferentes. Havia ainda o ensino industrial e o comercial. Contudo, as reformas educacionais desse período não apresentaram mudanças essenciais em relação à reforma de Francisco Campos. No caso da Reforma Capanema, esta representou uma simples reafirmação de muitos pontos da reforma de Francisco Campos e um recuo a alguns dos princípios proclamados pelo Manifesto dos Pioneiros (RIBEIRO, 1993). Sobre os decretos sancionados nesse período, Silva (2014) destaca o Decreto-lei n , de 30 de janeiro de 1942 (que organizou o ensino industrial); Decreto-lei n , de 22 de janeiro de 1942 (que instituiu o SENAI); Decreto-lei n de 9 de abril de 1942 (que organizou o ensino secundário em dois ciclos: o ginasial, com quatro anos, e o colegial, com três anos); e o Decreto-lei n.6.141, de 28 de dezembro de 1943 (que reformou o ensino comercial). Em relação ao contexto social desse período, no ano de 1945, Getúlio Vargas é derrubado do poder e o Brasil passa por um período democrático, quando eleições livres são realizadas e o general Eurico Gaspar Dutra é efeito presidente da República. De acordo com Ribeiro (1993, p.24): Neste período, o ensino primário, que desde 1827, com a reforma de Cunha Barbosa, não recebia atenção do Governo Federal, sofreu uma reestruturação através de decreto-lei chamado Lei Orgânica do Ensino Primário, que "renovava" aqueles princípios estabelecidos pelos pioneiros no seu manifesto de Também o Ensino Normal, que até então era alçada dos estados, foi centralizado através da Lei Orgânica do Ensino Normal. Em 1946, já no fim do Estado Novo e durante o Governo Provisório, a Lei Orgânica do Ensino Primário organizou esse nível de ensino com diretrizes gerais, que continuou a ser de 1674
9 responsabilidade dos estados (Decreto-lei n , de 02 de janeiro de 1946). Quanto ao ensino primário supletivo (com duração de dois anos), passou a ser destinado a adolescentes a partir dos 13 anos e adultos. A legislação de ensino organizou também o ensino normal (Decreto-lei 8.530, de 02 de janeiro de 1946), e o ensino agrícola (Decreto-lei n de 20 de agosto de 1946), criando o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) (Decreto-lei n e 8.622, de 10 de janeiro de 1946) (SILVA, 2014). A partir desse panorama histórico, objetivou-se contextualizar o período em que a Escola Primária Coronel Francisco Orlando, situada no município de Orlândia, no interior do estado de São Paulo esteve em funcionamento. Referências CAMILO, C. Era Vargas: profusão de ideias Disponível em: < Acesso em: 28 fev CURY, C. R. J. Ideologia e educação brasileira: católicos X liberais. São Paulo: Cortez & Autores Associados, GHIRALDELLI JÚNIOR, P. História da educação. São Paulo: Cortez, KULESZA, W. A. Genealogia da Escola Nova no Brasil Disponível em: < Acesso em: 12 mar MEIRELLES, E. Primeira República: um período de reformas Disponível em: < Acesso em: 26 fev NAGLE, J. Educação e sociedade na Primeira República. São Paulo: EPU; Rio de Janeiro: FENAME, RIBEIRO, M. L. S. História da educação brasileira: a organização escolar. 3.ed. São Paulo: Morais, RIBEIRO, P. R. M. História da educação escolar no Brasil: notas para uma reflexão. Paidéia, Ribeirão Preto, n.4, p.15-30, jul./1993. Disponível em: < Acesso em: 19 mar SAVIANI, D. A escola pública brasileira no longo século XX ( ) Disponível em:< Acesso em: 03 mar
10 SCACHETTI, A. L. História da educação no Brasil Disponível em: < Acesso em: 01 mar SILVA, R. Educação Disponível em: < Acesso em: 12 mar
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